[ONE POST] Rank D ~ Crianças

O fato das crianças não saberem a razão de desejarem algo é conhecimento comum, no entanto, um mistério quase insondável, ainda que as areias do tempo se encontrem em peso na base da ampulheta, é o porquê de homens feitos arrastarem-se pelo mundo também como crianças, titubeando pelos cantos da terra, sem saber de onde vieram e para onde vão, não atribuindo fim algum às suas ações. Embora esta classe de homens fosse, para Yasunari, a mais desprezível e repugnante dentro do seu entendimento pífio do que era o mundo real, na medida em que o rapazola crescia um estranho sentimento de proximidade o assolava, como se aquele problema se esgueirasse em sua direção, o que, por mais averso que fosse, fazia brotar, de maneira quase escusa em seu coração, um pouco de compaixão por aquelas pessoas. Rompia, ao seu modo, o umbral que delimitava o fim da vida infante e o início da vida adulta e sabia que, em pouco tempo, teria de tomar uma decisão que daria um rumo ainda mais irrevogável para si. O que fazer da vida que nos foi dada por seja lá quem for? Estes eram os pensamentos que flutuavam em sua mente, naquele momento.

Sempre soubera o valor da paciência, contudo, numa intensidade inversamente proporcional, faltava-lhe o entendimento acerca da importância da fala, por isso, enquanto conservava-se numa distância de alguns passos, escutava com enfado o burburinho do grupo de crianças, sem dizer nada.
— Tio, me ensina a andar pelas paredes também! — Gritava um menino, no ápice dos seus cinco ou seis anos.
— Não peça ajuda a este fracote, vou me tornar Hokage um dia, espere até lá e eu te ensinarei direitinho. — Disse outro, um pouco mais velho, com os braços cruzados em postura imponente.
— Você é só um idiota, Hayato, cale a boquinha. — Uma voz feminina falou do fundo, formando em seguida uma algazarra ainda maior. Apesar de contrafeito, Yasunari não foi capaz de conter uma risada tímida. Depois que recobrou um pouco a seriedade que lhe restava, contou um total de seis crianças, já sabendo um modo de entretê-las. O grupo se encontrava numa área com alguns prédios, mas pouco movimento graças ao horário de começo de tarde. Um senhor, que trabalhava num restaurante daquela região, volta e meia saía para rua e pedia silêncio, como se interrompessem uma sesta sagrada. — Calem a boca, seus moleques! — Trovejava.
— Muito bem, muito bem! Vamos fazer o seguinte: vocês conhecem a brincadeira de esconde-esconde, certo? Vou me esconder em algum lugar por aqui e aquele que me encontrar primeiro ganhará um prêmio. Lembrem-se que um bom Shinobi precisa ser capaz de detectar as ameaças mesmo quando elas estão invisíveis. — Esperou o assentimento, e nisso movimentou-se com velocidade alucinante, usando um Shunshin inesperado com a finalidade de impressioná-los e desaparecer do campo de visão da turma.

***

A brincadeira foi capaz de quebrar um pouco a tensão e permitir que a hora se estendesse com mais facilidade. Ao fim da missão, Yasunari, que tinha sido detectado algumas vezes de propósito, deixou umas balinhas com cada uma das crianças e, após um outro supervisor aparecer para tomar liderança do grupo, retornou para seus afazeres cotidianos.