Era uma manhã de primavera, Harikēn acordou num local que não era sua casa. Parou para pensar e não se lembrava como havia chegado naquele lugar. Viu paredes brancas, teto branco, não estava amarrado a nada. Primeiro pensou que tivesse sido sequestrado, mas olhando para a situação percebeu que ou estava cativo de alguém que tinha certeza que o Tokubetsu Jounin de cabelos pretos não seria capaz de fugir, ou ele não estava, de fato, cativo e a situação seria outra, o que uma ideia que causava mais estranheza ainda ao ninja da Vila Oculta da Areia.

Atento às movimentações, aos barulhos e burburinhos, não restava dúvidas para Harikēn, estava no hospital da Vila Oculta da Areia. Ele se sentia fraco, tonto, perdido no tempo e no espaço. Não sabia que dia era, não sabia como foi parar lá. Quando teve certeza de que estava num hospital, foi tentar se levantar, mas fraquejou e permaneceu deitado onde estava. Pouco tempo depois viu uma enfermeira e a chamou para entender o que tinha lhe ocorrido:

- Oi, bom dia, ou tarde, talvez noite? Não sei que horas são. Inclusive, que horas são?

- São nove da manhã

- Humm - Harikēn sentiu seu estômago roncar - Erm, desculpa perguntar, mas que horas que o café da manhã é servido aqui?

- O café da manhã é servido às sete horas da manhã

- Você acha que ainda dá para eu comer o meu desjejum? Estou morrendo de fome.

- Você não está morrendo.

- Tecnicamente, todos estamos desde que nascemos hehehe.

- Humpf, você está duas horas atraso, não temos o costume de servir comida velha para nossos pacientes

- Fazem vocês muito bem, imagino que servir comida velha em nada ajude no trabalho de vocês de deixar-nos na melhor forma possível. Mas, e o almoço? A que horas é servido?

- O almoço é servido ao meio dia.

- Desculpe a curiosidade, mas pode me dizer o que eu vou comer no meu almoço?

- Nada, você está de dieta zero. Se me der licença, tenho que cuidar dos outros pacientes da enfermaria, tenha um bom dia.

- Claro, saiba que seu trabalho é muito importante para todos nós, muito obrigado pelos seus cuidados.

“Que mulherzinha mais grossa, será que todas as enfermeiras são grossas desse jeito ou foi essa aí que acordou com o pé esquerdo? Eu sei que ajudar os doentes a cagar e mijar deve ser difícil de aturar mesmo, mas não precisa descontar em quem está bem… Eu estou bem, né? Tirando a fraqueza que eu senti agora a pouco… Inclusive, deixei meu estômago falar por mim, poderia ter perguntado pra essa grossa o motivo de eu estar aqui. O jeito vai ser encontrar um médico para esclarecer o motivo de eu ter dado entrada no hospital.”

Harikēn tentou levantar novamente e, novamente, sentiu a fraqueza e a tontura puxá-lo de volta para o colchão duro da cama do hospital. Não se lembrava da última vez que tinha se sentido assim, se é que algum dia tinha sentido esse tipo de sintomas. O que lhe restava fazer era esperar pela ronda dos médicos de plantão para saber o que estava acontecendo com sua saúde, o motivo das tonturas e fraquezas e, principalmente, o motivo de um ninja saudável estar internado.

Enquanto aguardava um médico que pudesse esclarecer suas dúvidas, Harikēn voltou sua atenção para os outros pacientes que se encontravam na enfermaria. Um homem gritava a plenos pulmões uma música estranhíssima, um outro rapaz mais novo falava coisas que não faziam muito sentido. Havia também um senhor que não falava nada, fazia nada, nem reclamar do homem cantando aos berros ele reclamava. Harikēn achou esquisito estar na mesma enfermaria que aqueles sujeitos, não entendia em que ala estava. Um quarto paciente veio falar com Harikēn:

- Acordou o belo adormecido, está melhor?

- Eu estou sim, só me sentindo um pouco tonto e fraco para levantar, mas de resto estou me sentindo ótimo, só esperando o doutor para me dar alta. Obrigado por perguntar. Sou Harikēn Hyūga e você? Quem é?

- Hyūga é? Que interessante, tinha ouvido dizer que eles tinham olhos brancos, engraçado.

“Será que ele tem algum tipo de daltonismo? Eu estou num hospital, não posso esperar muita coisa dos pacientes.”

- Não entendi muito bem o que tem de engraçado em ter os olhos brancos, mas tudo bem, é diferente mesmo. Mas você não me falou seu nome, como se chama?

- Pensei que você estivesse brincando, realmente não me reconhece?

- Olha, eu acordei meio tonto, então pode ser por isso que não estou te reconhecendo. Por favor, refresque minha memória.

- Sou eu, o Kazekage. - Harikēn fez uma cara peculiar, um misto de surpresa, estranhamento e incredulidade - Isso mesmo, sou Baldur Uzumaki, o Nidaime Kazekage.

“Esse cara não parece em nada com o Nidaime Kazekage, que porra que está acontecendo nesse hospital? Será que eu estou ficando louco?”

- Claro, Senhor Nidaime, desculpe não te reconhecer, mas não espere que alguém te reconheça usando Henge.

- Henge? O que é isso? É esse o nome dessa roupa?

- Não se preocupe com isso, você deve ter afazeres mais importantes.

- Tenho mesmo, passar bem.

“Mais um cara doidinho, além do que não para de gritar e o que não fala coisa com coisa. Agora, qual o motivo de eu estar junto com eles? Que diabos eu fiz para estar justamente aqui? Será que está sem vaga nas outras enfermarias e por isso que me colocaram aqui? Cadê a ronda, não tem um mísero médico para passar por aqui e me explicar por que caralhos eu estou aqui junto com esse bando de maluco? Esse hospital já foi melhor.”

Por não entender o motivo de estar na ala psiquiátrica do hospital, Harikēn foi ficando mais e mais inquieto com o passar do tempo. A cantoria do homem em mania passou de peculiar, para estranha até chegar ao ponto do Tokubetsu Jounin de cabelos pretos achá-la insuportável. Os papos do homem com delírio persecutório sobre estar sendo procurado foram de algo que talvez o ninja pudesse ajudar para querer balançá-lo e dizê-lo que ninguém estava interessado em alguém comum como ele. O homem que pensava ser o Nidaime Kazekage seguia agindo como se fosse alguém importante e isso também foi irritando o Mestre Ferreiro. Já o homem que estava catatônico, Harikēn tinha inveja por ele não ter reação alguma a todo a loucura que estava acontecendo ao seu redor.

Quando um médico finalmente apareceu naquela enfermaria, ele foi falar com um paciente de cada vez, acompanhado de um assistente. Foi de leito em leito conversando com os pacientes e, para o azar de Harikēn, ele acabou sendo o último a passar pelo check-up. Quando os profissionais foram conversar com o Tokubetsu Jounin de cabelos pretos, ele já não aguentava mais de ansiedade:

- Como foi sua noite, Harikēn?

- Não sei, não lembro. Só me lembro de acordar sentindo uma fraqueza e tontura desde que vem persistindo desde então.

- Entendo, vou providenciar um remédio para você se sentir melhor.

- Doutor, depois de medicado o senhor me dará alta, né? Não era para eu estar aqui, pelo menos não nessa enfermaria, se é que me entende.

- Você receberá alta quando estiver se sentindo 100% e, por ser menor de idade, só poderá receber alta quando um responsável vier te buscar também.

- Isso é realmente necessário? Acho difícil que minha mãe venha me buscar, ela é uma mulher muito ocupada, sabe?

- Ela é? Quem é a sua mãe?

- Já entendi, vocês acham que sou igual o cara que acha que é Baldur Uzumaki, nosso Nidaime Kazekage. Não é nada disso, a Dona Kashitsu só não costuma ter muito tempo pra mim mesmo…

- Realmente, é difícil para ela vir para cá com toda a questão de saúde dela.

- Como assim, que questão de saúde? O que aconteceu enquanto eu estava dormindo?

O médico começou a anotar no seu caderninho enquanto sussurrava o que escrevia:

- Paciente ainda não se recorda da situação de saúde que ele e sua família são acometidos geneticamente…

- É o que? O que que você falou sobre minha família?

- Não é nada, senhor Harikēn.

- Deixa eu ver esse seu caderninho.

- Pacientes não podem ter acesso a esse tipo de conteúdo.

- Senhor, com todo o respeito, eu não sou só um paciente, sou um Tokubetsu Jounin dessa Vila. Não digo isso como carteirada ou ameaça ao senhor, nunca passaria pela minha cabeça fazer algo desse tipo com alguém, ainda mais uma pessoa com uma profissão tão nobre. Digo isso pois faz parte do meu trabalho ter que lidar com situações de extremo estresse e toda sorte de desgraças. Pode ser franco comigo.

- Está certo. Qual seu nome completo?

- Harikēn Hyūga.

- No seu prontuário consta Harikēn Kaguya. O senhor é um Kaguya.

Quando ouviu essas palavras sua vida inteira passou pela sua mente. Lembrando de aprender sobre o shikotsumyaku com seus pais. Tudo ia fazendo mais sentido na cabeça de Harikēn e aos poucos o choque daquela revelação foi passando e ele foi digerindo a informação.

- Quando… Quando eu comecei a agir como se fosse Hyūga?

- Tem um tempinho.

- E como eu tinha a visão especial?

- Delírio visual. É muito, muito raro, a maioria das pessoas têm delírios sonoros apenas, mas pode acontecer, como foi seu caso.

- Tá certo. Eu sou um Kaguya.

Dizia isso tentando se convencer, Harikēn testou seus ossos e eles começaram a sair pela pele de seu braço direito.

- O senhor está vendo isso, né doutor? Não é outro delírio visual, né?

- Os seus ossos? Estou sim.

“Eu sou Harikēn Kaguya. Carai que dor no braço”

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