Nathaniel acordava cedo naquele dia, mas não tão cedo quanto aqueles que estavam organizando o casamento de Abraham e Ravenna no templo. Era algo que tinha surgido de repente, enquanto Nate estava passando pelo ritual do Caminho da Fênix. Assim que se levantou, foi direto para o banheiro tomar banho, vestindo suas roupas e caminhando em direção a cozinha junto com Kiara, sua fiel companheira, alimentando-se e esperando por todos os Garotos no bar, onde pegava um copo de whisky e enchia a metade. Havia descoberto coisas sobre os seus amigos que tinham deixado ele bastante pensativo, o levando a tomar uma decisão que afetaria a vida de todos. Um a um, o grupo foi chegando, e puxaram cadeiras, enquanto ele ficava sentado em frente ao piano, tocando algumas notas, e Kiara ficava deitada atrás dele.

[RIVER] ── Nós verr Orion, querr dizerr, Greed quando virr para cá, Petit Nate. Tem certeza que pode confiar nele? ── o rapaz loiro questionou.
[NATHANIEL] ── Ele teve a memória e as habilidades apagadas. Ele não fará mais mal a ninguém, e vai ficar trancafiado no porão do templo. ── garantiu, fumando o seu cigarro. ── Obrigado por terem vindo tão cedo. Em primeiro lugar, quero agradecer a todos por terem lutado por mim e por terem estado comigo esse tempo todo. Foi graças a vocês que venci o Orion. Dito isso, eu fiquei sabendo que, enquanto eu estive fora, vocês traçaram planos e sonhos que desejam realizar depois que tudo isso acabasse. ── de repente, todo mundo ficou tenso ali na sala, trocando olhares.
[REINA] ── Foi só uma conversa no meio de uma fogueira, não queremos fugir ou abandonar na- ── antes que a Hikari tentasse justificar, Nathaniel a interrompeu.
[NATHANIEL] ── Vocês tem todo o meu apoio. ── o bar ficou silencioso de repente. O Grey olhou para todos eles e lhes deu um sorriso. ── Os Garotos foi criado no passado com propósitos extremistas, mas Ryuuzaki deu um propósito diferente, o propósito dele, e depois foi a minha vez de fazer isso. Só que chegou a hora de vocês construirem as suas próprias histórias, onde vocês quiserem. Os Garotos já cumpriram com a sua missão em Konoha. Vocês estão livres agora.
[RIVER] ── Você terr certeza disso? ── ele traduziu os gestos de Kimiko.
[NATHANIEL] ── Eu tenho. Eu só tenho uma única condição. ── disse, olhando para todos. ── Eu não sei o que vão fazer ou para onde vocês vão, mas eu sei que nesse mundo existem pessoas que um dia foram como eu: sozinhos, oprimidos, depressivos, sem nenhum propósito de vida, mas com um potencial enorme. Essas pessoas são presas fáceis nas mãos de caras como Orion, Raiden ou Kiyoshi, e elas podem se tornar inimigas do povo. Por isso, encontrem essas pessoas, tirem elas da escuridão e dê a elas um propósito verdadeiro, aquele que nos uniu e nos trouxe até aqui, que é lutar pelos que não podem lutar. Repitam tudo aquilo que eu disse a vocês e ao povo de Konoha, e as treinem, tornem elas melhores. Façam tudo isso em segredo, até o momento em que a verdade se revelará sozinha. Vocês podem passar por dificuldades no caminho, mas lembrem-se: a única coisa que temos a perder numa revolução são as nossas correntes.
[AZARIAN] ── Nós faremos isso. Nós devemos isso a você. ── o homem negro acenou com a cabeça, e todos fizeram a mesma coisa.
[NATHANIEL] ── Espero receber cartas de vocês, pois eu enviarei muitas a todos. ── todos riram, e Nathaniel se permitiu sorrir para eles. ── Agora, se me dão licença, eu tenho que passar em um lugar antes da cerimônia.



[...] Pelas leis não escritas de Silvermoon, um Grey da Luz não pode se relacionar com um Grey das Trevas, de nenhuma forma, não conseguindo nem mesmo se suportar. Mas haviam aqueles que se destacavam da bolha social e dos dogmas de sua cultura e abraçavam uma nova forma de ver a vida, aprendendo mais sobre os dois caminhos do clã, tornando-se subversivos. Naquela tarde, Ravenna e Abraham escolheram o amor que sentiam um pelo outro acima do ódio que os dois lados do clã carregavam durante séculos. Muitos foram os convidados, alguns vindos de Silvermoon, outros de Konoha. Todos esperavam o momento em que Ravenna entraria na igreja, sendo conduzida por Erasmus, usando um vestido violeta, simbolizando os Greys das Trevas. Abraham, por sua vez, usava um terno escarlate, simbolizando os Greys da Luz. Nathaniel nunca imaginou que veria os dois se casando, muito menos que seria o cerimonialista.

[NATHANIEL] ── Estamos todos aqui para celebrarmos o amor de duas pessoas que escolheram ir contra todas as ideologias e leis que os cercam. Para os que aqui não sabem, Silvermoon rejeita o casamento de Greys da Luz e Greys das Trevas, e isso fará com que eles não sejam mais bem-vindos lá, assim como todos aqueles que apoiarem o relacionamento deles. Para os que não sabem, este é o primeiro casamento celebrado entre os dois lados do clã, mas eles não são os únicos. Meu pai era um Grey das Trevas, e minha mãe, uma Grey da Luz, e eles me ensinaram uma coisa extremamente valiosa: num mundo cheio de ódio e conspirações, o amor é o maior ato de revolução. Significa romper com os grilhões da solidão e do sofrimento, significa lutar todos os dias pela felicidade do outro. Nessa tarde, os oligarcas de Silvermoon estão sofrendo, porque Abraham e Ravenna estão prestes a se tornarem um. E haverá um dia em que não seremos mais do Caminho da Luz ou das Trevas… Todos nós seremos apenas Greys.




[...] Depois da cerimônia de casamento, todos curtiam a festa no templo, esperando ansiosamente pela apresentação musical de Nathaniel, que pedia para colocarem o seu piano no salão. Quando começava a tocar as notas, todos paravam para ouvi-lo, todos com um sorriso no rosto. A música era pedido dos noivos, que tinham escutado essa música no dia em que deram o primeiro beijo. Enquanto cantava, pensava no destino dos seus amigos.

Ele olhou para Abraham e Ravenna comprando uma casa em Konoha, com o irmão mais velho sendo readmitido na Polícia de Konoha, graças a influência do Sannin e de uma ajuda de B.A. Sabia bem que a primeira missão deles seria justamente prender Raiden em sua residência, o fazendo ele pagar por todos os crimes que ele cometeu. Imaginou também os jantares em família que daria em seu templo, junto com os novos irmãos e com a mãe e irmã do coração, e também com a família de B.A, incluindo mulher e filhos, além dos empregados da casa.


Olhou para Kimiko e River e imaginou eles saindo de Konoha e indo para a terra dos Hattori, o lar dos descendentes de Shion, onde adotariam uma criança, e talvez tivessem os seus próprios filhos. Também olhou para Reina e a imaginou em Eichenwalde com o seu marido, contando para o povo histórias sobre ele, uma vez que ele era visto como um herói no reino dos Hikaris.


Virou o seu rosto para Kamaitachi, e lembrou que ele tinha dito que tinha intenções de continuar viajando pelo mundo como um nômade, vivendo na natureza e colhendo dela os meios necessários para sobreviver, acenando para o mesmo enquanto cantava. Depois olhou para Azarian e Tadashi, que estavam determinados a seguirem com alguns moradores da comunidade de volta para Kirigakure no Sato, onde pretendiam se reestabelecer em uma das ilhas. Pelo que ficou sabendo, o jovem de Kumo havia conhecido uma garota que parecia ser legal.


Imaginou também Erasmus, Azrael, Masako e Anastasia chamando antigos membros vivos da Ordem da Fênix, para que voltassem a realizar reuniões secretas dentro de Silvermoon, principalmente pela revelação de que Nathaniel era filho de uma Grey da Luz e um Grey das Trevas. Olhou para Aretha, com o seu irmão mais novo e o seu pai, recém-libertado da prisão por descobrirem que ele tinha sido colocado em um Genjutsu para confessar um crime que não cometeu, lembrando que ela tinha revelado que estava de mudança para Iwagakure no Sato, onde tentaria recomeçar a sua vida com a sua família, e que tinha queimado o livro que escreveu sobre ele na sua frente. Não era bem o destino deles ficarem juntos.


Enquanto continuava a canção, também lembrou-se dos seus inimigos. Lembrou que Orion já não era mais Orion, e se chamava Greed, e passaria a maior parte do tempo no porão, sentado na escuridão, em silêncio. Imaginou Raiden na prisão, mas que ele não ficaria lá por muito tempo, pois com certeza suas conexões o tirariam de lá. Porém, Chiharu, Shinji e Seiki já não teriam a mesma sorte, sendo obrigados a viverem fugindo para não serem presos ou até mesmo mortos.

Deixando-os de lado, Nathaniel imaginou os seus pais biológicos, vivendo no submundo e felizes por toda a eternidade, brigando um com o outro eventualmente, mas sempre unidos, esperando pelo dia em que se encontrariam com os seus entes queridos naquele lugar.


[...] Todo mundo já tinha ido embora, indo para hotéis ou se alojando no próprio templo. Nathaniel continuava no salão, sentado em frente ao piano, observando a equipe de limpeza passando o esfregão no chão e limpando tudo, bebendo um pouco de whisky. Até mesmo Kiara já tinha ido para o quarto para ver televisão, pois adorava os programas de culinária que passavam naquele horário. Ele lia um pergaminho que Naomi tinha escrito para Rachel, revelando que estava de volta em Konoha, pois sua mãe havia perdido um braço num acidente e precisava de ajuda. Ficou encarando a carta por alguns segundos, e então lembrou-se do que Ashborn lhe disse.

Ele se levantou e saiu do templo sem avisar a ninguém, caminhando até a casa onde Naomi morava com a sua mãe. Chegando lá, a tia da moça revelou que ela tinha acabado de sair para uma palestra num bairro não muito longe dali. Descobrindo onde era, Nate rumou para o local usando toda a sua velocidade, ficando em um beco, ouvindo a pregação de um homem que falava bem alto dentro de uma casa.

[PREGADOR] ── Existe uma guerra acontecendo há muito tempo, entre o bem e o mal. Nós vemos pessoas esquisitas por aí, até mesmo do alto escalão de nossa vila, andando por aí pregando doutrinas sombrias e falando em romper com os padrões da sociedade. Deixa eu dizer uma coisa: nós precisamos desses padrões elevados de moral e de postura, porque são esses padrões que nos permitem viver em sociedade. Meu pai me ensinou os valores que eu carrego comigo até hoje e ensino aos meus filhos, os mesmos valores que o meu avô passou para o meu pai. Sem esses valores, o que nós seríamos? Honrar os nossos pais, amar a nossa pátria, respeitar nossos superiores, trabalhar duro, alcançar a prosperidade e cuidar da nossa família. É isso com que eles querem acabar? Pois se é isso que eles querem, nós devemos acabar com eles primeiro.

Ouvindo aquilo, Nathaniel teve certeza de que o que ouviu no submundo estava certo: uma guerra aconteceria no meio das sombrias, uma guerra diferente de todas as outras, pois não envolviam exército marchando para o campo de batalha para lutarem até a morte. Aquela era uma guerra pelas pessoas, para alcançar cada um e lhes dar um novo propósito. Foi com isso em mente que Nate viu Naomi com uma garota morena, conversando e quase entrando na casa, quando ele saiu da escuridão em passos lentos, ficando a cinco metros de distância, assustando aquela moça que não via a mais de cinco anos.

[NATHANIEL] ── Será que podemos conversar? ── ele perguntou, olhando para a moça. Ela estava diferente, com o rosto pálido. Naomi olhou para a amiga e acenou para ela, então ela entrou na casa, enquanto os dois ficavam ali. ── Rachel me contou o que houve com a sua mãe. Eu sinto muito.
[NAOMI] ── Ela vai ficar bem, eu acho. ── a mulher abraçou os próprios braços, olhando para o chão. ── O que você quer depois de tanto tempo, Nathaniel? Você conseguiu o que queria, não é? Você venceu. Virou o Sannin de Konoha, e eu uma mulher perdida, que não consegue se relacionar com ninguém por muito tempo. Foi pra isso que veio? Pra me ver derrotada?
[NATHANIEL] ── Não, não foi por isso. ── ele olhou lá para dentro. ── Eles não tem nada de bom para você, Naomi. Essas pessoas… Eles não são pessoas boas. Eles não estão do lado do povo.
[NAOMI] ── Isso é o que você diz. Mas eles me acolheram no momento em que eu mais precisei. Depois de todos esses anos, eu finalmente tenho pessoas com quem eu posso contar. E agora você vem, depois de anos me assistindo ser julgada por essa vila, me dizer que eles não são boas pessoas? Quem você pensa que é para falar deles? ── ela começou a falar mais alto, fazendo o pregador olhar a situação da janela. ── Você usou o seu ódio por mim e por todo o mundo para ficar mais forte, e depois que se tornou famoso, todos fomos perseguidos, até mesmo o seu irmão! Mas você o perdoou por tudo que ele fez, mas você nunca me deu o seu perdão! Só que agora eu não preciso mais dele, assim como você não precisou do meu a oito anos atrás! Agora não existe nada que você possa me oferecer, então some da minha vida ── ela virou as costas para o Grey e caminhou para a casa.
[NATHANIEL] ── Eu posso curar o braço da sua mãe. ── sua revelação fez com que ela parasse onde estava. Ela o fitou. ── Eles prometem muitas coisas, mas eles exigem muito em troca. Eles já pediram dinheiro para você, não é? ── ela não respondeu nada, mas o seu silêncio entregava tudo. ── O que mais eles pediram em troca, o que mais eles irão pedir? Essa gente só quer explorar os seus fiéis, de todas as formas. Eu irei curar a sua mãe, não importa o que você fizer, porque tenho poder para isso, mas se quiser me agradecer, existe somente uma coisa que eu pedirei em troca.
[NAOMI] ── O que?
[NATHANIEL] ── Que, de agora em diante, você ouça atentamente as minhas palavras e, quando chegar o momento certo, as repita para as pessoas. ── ele esticou a mão direita para ela. ── Eu peço que confie em mim, Naomi.

A mulher foi tomada por uma emoção que não cabia em seu peito. O olhar de Nathaniel era tudo o que ela precisava ver. Naomi então deu alguns passos e segurou a mão do Grey, e num ímpeto desesperado, ela abraçou o carteiro, pedindo perdão por tudo o que tinha feito ele passar. O Yonin, por sua vez, abraçou-a de volta, afagando as suas costas. Não tinha os mesmos sentimentos de 10 anos atrás, não a vendo mais daquela forma, mas como uma pessoa perdida que precisava ser resgatada. Olhou então para a janela daquela casa de reunião, vendo o pregador, um homem de quase cinquenta anos lhe encarando com raiva.

[NATHANIEL] ── Não se preocupe, Naomi… Você está segura agora. ── ele então devolveu o olhar para o pregador, fechando o rosto.

A guerra havia sido declarada.