CHINOIKE YAMA
HP: 1350/1350; CH: 1450/1450;
ST: 00/06; SAKKI: 10/50

Eram 8:47 da manhã quando o corpo pericial entregou o cadáver a laboratório, no subsolo do prédio onde funcionava o departamento de Polícia de Iwagakure no Sato. O médico legista de plantão estava retornando do café da manhã ao se deparar com o corpo em um invólucro de plástico branco, fechado por um zíper, depositado sobre uma das estações de trabalho que ele mantinha na enorme sala de necropsia. Embora a causa da morte fosse óbvia, era esperado que ele determinasse quaisquer alterações por que aquele corpo tinha passado durante a vida; era um jovem desaparecido do vilarejo muitos anos antes, disseram. Por isso era importante que determinasse se ele fora comprometido, já que carregava uma kekkei genkai, uma valiosa arma no mundo ninja, ou mesmo outras alterações que pudessem determinar qual tinha sido seu paradeiro durante todos aqueles anos. Era um jovem adulto que viera ao mundo após uma gestação gemelar, e o outro ainda estava vivo, e bem.

Mas o doutor Noguchi tinha outras prioridades naquele dia, já que uma longa fila de corpos aguardava para receberem seus relatórios. O corpo, fresco, poderia esperar mais algumas horas até que ele fizesse seu exame.


Às 6:50 da noite, uma batida na porta da sala de necropsia ecoou pela longa extensão do lugar, com um eco. Hideyo Noguchi não costumava receber visitas ali embaixo, exceto quando precisavam que ele se apressasse em fornecer um laudo por algum motivo qualquer, mas esperava que não fosse aquilo novamente enquanto ia atender ao chamado de quem batia à porta — ele simplesmente odiava quando alguém ia cobrá-lo do seu trabalho que era feito sem qualquer assistência. Preciso fazer uma solicitação formal ao Tsuchikage-dono… Trabalhar sem um assistente é insalubre. Vou enlouquecer passando tanto tempo aqui, sozinho, pensava.
Para a sua surpresa, ele reconheceu imediatamente o rosto de quem batia a porta, além de recobrar detalhes daquela anatomia, que ele tinha visto sem qualquer tecido que o escondesse toda a extensão do corpo, idêntico, poucas horas antes. Se não tivesse sido informado de que o cadáver tinha um gêmeo, talvez aquela visão o tivesse provocado um sobressalto.

— Eu vim para servi-lo como assistente, doutor Noguchi.

— Tem algum documento que comprove, expressamente, que você foi direcionado para cá? — ele precisava ter cautela com quem ele permitia ter acesso ao lugar e aos corpos, além das informações que cada um ali continha.

Yama retirou um papel dobrado de um dos bolsos do seu colete e entregou às mãos do homem, que abriu e leu atentamente, certificando-se de que era mesmo um documento oficial. Depois, ele assentiu.

— Está bem, acredito em você. Contudo, o expediente acabou. Lamento, mas eu também tenho vida e família fora daqui. — O homem era maduro e falava em um tom imperioso de quem não admitiria qualquer protesto. Ao mesmo tempo, por baixo dos fios ralos de cabelo grisalho, ele se perguntava a razão daquele jovem ter sido enviado para servi-lo como assistente, logo depois da morte do seu próprio irmão, idêntico a ele. O trabalho com os cadáveres não o tinha feito insensível; qualquer resposta a que chegava era, no mínimo, mórbida. Mas se o vilarejo tinha enviado o garoto, ele aceitaria de bom grado a ajuda para desafogar o trabalho atrasado. Pegou seu jaleco e seus equipamentos de proteção, além de uma pasta muito pesada, contendo todo tipo de relatório. — Aqui, pegue. Como é mesmo seu nome? Não, espere. Não responda ainda. Use esses papéis para estudar os casos que temos, terá até amanhã de manhã. Você não vai se tornar um grande conhecedor, mas será o suficiente para se habituar com alguns termos. O básico, pelo menos. Dê uma boa olhada nos livros, também o ajudarão em alguma coisa, espero. As chaves ficarão com você, mas não faça nenhuma besteira. — Noguchi falava rápido, em uma torrente de informações que parecia não cessar. Era aparente como ele tinha pressa em ir embora dali. — Eu o vejo de manhã, não se atrase. Vamos começar pontualmente às oito horas.

Ao sair, ele bateu a porta numa batida, deixando Yama sozinho ali com os corpos, vários relatórios e alguns encadernados muito grossos sobre o mesa minúscula.

Ele começou pelos relatórios, atento à descrição das condições cadavéricas no momento da morte. Alguns estavam rígidos, mas outros tinham sido descritos como flácidos, mas o termo rigor mortis estava sempre presente quando as condições do cadáver eram apresentadas, e entendeu que era um termo usado para descrevê-las e indicar uma estimativa do tempo decorrido entre a morte e o achado do corpo. Depois, se ateve a termos como tendões, ligamentos, fáscias e ligamentos ósseos, e decidiu abrir um dos livros de anatomia que Toguchi tinha deixado para ele, e descobriu uma infinidade de termos novos, mas principalmente pôde observar em detalhes os músculos e órgãos posicionados sob a camada de pele. Origens e inserções determinavam o movimento, planos e eixos ajudavam a definir com clareza os deslocamentos de segmentos corporais e a descrever incisões, cortes e outras intervenções. Durante a noite, ele se preocupou em se acostumar aos termos básicos, como Toguchi tinha aconselhado a fazer.


— Você ainda está aí, é? Espero que tenha acordado cedo, e não passado a noite sem dormir.

— Eu passei a noite aqui, senhor. — Yama estava sobre a mesa, debruçado sobre algumas folhas de papel onde ele rascunhava algumas anotações pessoais em sua caligrafia de garranchos. Também tinha feito alguns desenhos para se lembrar das características principais de cada tipo de articulação, e a diferença entre as diferenças fibras musculares que compunham o músculo esquelético, o músculo liso e o cardíaco.

— Ah, é claro que passou. Espero que você não seja um daqueles malucos que é obcecado por morte, cadáveres ou coisa pior. — Ele adentrava o recinto como quem já estava acostumado com cada centímetro do lugar, observando atentamente a Yama por trás das lentes redondas de seus óculos.

— Não, eu vim até você para poder ajudar a encontrar mais informações do que aconteceu ao meu irmão durante todos esses anos. — Yama ainda estava sentado por trás da mesa, sem dar muita atenção a Toguchi. Apesar disso, sua postura tensa parecia denunciar a sobrecarga mental que o afligia.

— Eu bem sei da história de vocês, como deve imaginar. Só não espero que pense que terá qualquer envolvimento muito aprofundado com este caso, é claro. Você será apenas meu assistente durante alguns poucos dias, Yama.

— Sim, eu sei. Mas ainda quero ajudar a entender o que aconteceu com ele, se ele sofreu… Se ele ainda era capaz de me reconhecer quando eu o matei.

Aquela última frase causou um impacto inesperado no doutor Hideyo Noguchi — ele não tinha sido informado de que Yama tinha provocado a morte do outro. Suspirou. Normalmente aquele trabalho era monótono, sem grandes surpresas ou reviravoltas.

— Vamos lá, espero que tenha estudado bastante durante a madrugada. — Noguchi se limitou em dizer, usando poucas palavras. A bem da verdade, ele não se importava muito com toda aquela situação, mas apenas com o próprio trabalho. — Normalmente, eu mesmo sou quem registra os procedimentos e quem os realiza. Eu os direi em voz alta e você deve tomar nota de tudo. Nenhum detalhe pode ser omitido neste trabalho, entendeu?

— S-sim… — Havia bastante tempo desde que Yama não se via diante de alguém que o intimidasse daquela maneira, mas o estado mental que enfrentava desde os acontecimentos na construção eram recentes demais para ele superá-los.

Rapidamente, ele foi anotando tudo que o médico dizia. Incisões, suturas, reconstruções, remoções e extrações. Alguns objetos eram removidos, outras vezes fragmentos de pele, osso ou de vísceras eram metodicamente colocados em recipientes ou invólucros e devidamente etiquetados sob um número que ele também incluía em seus registros. Por vezes, era possível identificar lesões, envenenamento, causa do ferimento ou mesmo o inseto que causava algumas marcas, bem como os objetos usados para provocar algumas marcas. Demorou para aprender, mas conseguiu ligar as características a cada uma das evidências que se apresentavam. O corpo do irmão dele parecia não chegar nunca na ordem dos corpos colocados em fila, e ele não sabia se desejava que esse momento chegasse logo ou não… Mas enquanto seguiam o trabalho, ele aprendia mais. Variações anatômicas eram frequentes, e o tamanho dos ossos de homens e mulheres diferia notavelmente, percebeu.

— Vamos ver o trabalho que você fez aqui, hein. — Toguchi disse quando estavam prestes a iniciar a análise do corpo do seu irmão, Enma. — É, foi uma bela queda. — O corpo dele estava parcialmente esmagado, com as vísceras expostas pela parte posterior do tronco, projetadas através de uma massa disforme de ossos, sangue e tecido de vários sistemas do corpo. Não era um dos mais bem conservados que tinham visto. — Tem certeza de que quer continuar?

— Sim, tenho. — Yama não titubeou em responder, resoluto.

O corpo dele era idêntico ao seu próprio, em tamanho de cada membro e segmento. Até os pelos pareciam crescer exatamente da mesma forma e nos mesmos lugares. Estava ainda mais bem conservado do que Yama podia dizer de si próprio em algumas regiões, onde tinha marcas vísiveis de cicatrizes de tortura. Ao observar o dorso desnudo, teve uma lembrança de como ele mesmo se parecia antes de ser capturado pela mulher que removera parte de sua pele, deixando-o sangrar durante dias. Não tinha qualquer cirurgia recente ou passada, cicatriz ou contusão; a região esmagada era impossível de ser analisada, então foi um dos corpos em que menos demoraram. Toguchi finalizou observando as condições da arcada dentária.

— Ora, isto é interessante. — O homem de óculos disse em voz alta, como se Yama pudesse ver o mesmo que ele observava. Contudo, era impossível que dois olhassem ao mesmo tempo para a boca de Enma. Ele largou os objetos que usava sobre uma bandeja de instrumentação e foi buscar outro, bem mais afiado. Quando voltou, removeu um dente. — Reconhece? — Com uma pinça, ele mostrava a Yama a parte da raiz do dente, visível apenas ao extraí-lo. Era uma marca difícil de definir, uma que ele nunca tinha visto. Era o segundo molar superior direito.

— N-não… — Yama não sabia o que dizer nem o que esperar daquela descoberta. O que podia significar um símbolo como aquele, escondido sob um dente?

— Sente-se. — Toguchi apontava para uma cadeira qualquer. Yama não pensou, apenas obedeceu. — Agora, abra a boca. — Novamente, ele apenas o fez. Em sua imaginação, ele não poderia de Noguchi faria o que fez em seguida, extraindo o maldito segundo molar superior, a direita, de uma vez só. Ele gritou, enlouquecido pela dor, levando as duas mãos à boca por onde começava a escorrer sangue descontroladamente. — Você vai ficar bem, ninguém precisa de tantos dentes na boca se não for para caçar a própria comida. Logo para de sangrar. Agora, veja. — Entre a pinça, o dente de Yama exibia o mesmo símbolo. Era uma maldita coruja.

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