Estar no chão, lutando pela capacidade de permanecer consciente não era novidade para Ethan, na verdade, já tinha perdido a conta de quantas vezes travou aquela mesma batalha. Não importava onde estava e o que fazia, essa era a sua sina; ele era um guerreiro, um soldado, e como tal tinha que continuar lutando, superando todos os obstáculos pelo caminho. Apesar de nunca ter escolhido essa vida, nessa altura do campeonato, reclamar não mudaria nada, o seu corpo clamava pela sensação póstuma às batalhas. Ele era viciado naquela sensação única que, desde os seus 6 anos de idade, jamais seria capaz de esquecer. Um dia, inevitavelmente, acabaria conhecendo a morte, mas enquanto isso não acontecia, Ethan iria continuar se levantando e rumando para o próximo embate.

Mesmo sentindo o efeito de todos os ferimentos que acumulou nos dias anteriores, amargando o peso da sua imprudência, ainda assim Ethan não parava de pensar nas suas falhas, nos movimentos desperdiçados, no que poderia ter feito melhor. Cada detalhe contava, se quisesse continuar sendo melhor, caso quisesse continuar lutando. A morte era real, e uma hora ou outra o encontraria, mas enquanto isso não acontecia, o Jonin se esforçaria para fugir do único inimigo que não era capaz de vencer. Por isso, seguia em frente, buscando ser melhor, já que assim teria uma chance de se levantar mais uma vez e lutar.

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O caminho que Ethan trilhava não era pavimentado somente por glória e triunfo, muito pelo contrário, desde de novo conhecera o amargor da derrota. Havia presenciado o olhar de reprovação no rosto do avô mais vezes do que gostaria. Antes mesmo de aprender a dar os primeiros socos, já tinha aprendido a cair. Essa foi a primeira lição que aprendeu; se não estivesse disposto a sentir dor, não deveria lutar; se tinha medo de se cortar, não devia segurar uma espada. Além disso, aprendeu também a não desistir apesar das dificuldades, deveria seguir tentando até não ser capaz de continuar respirando. Segundo o seu avô, a derrota era inevitável, uma hora chegaria para todos; mas desistir, jamais. “Até mesmo aqueles que se afundaram em desonra devem seguir esse ideal, afinal de contas, não existe vergonha maior”, estas palavras acompanhariam Ethan por toda a sua vida.

A primeira derrota do garoto veio quando ainda era só uma criança, em um confronto amigável arquitetado por Oliver. Na ocasião, Ethan, com apenas 6 anos de idade, sem qualquer preparo, enfrentou um genin que havia acabado de se graduar na academia. Ele jamais teve uma chance de ganhar daquele garoto esguio, todo aquele teatro serviu justamente para ensina-lo a não aceitar a derrota. Foi nesse dia que Ethan jurou nunca mais perder, enquanto chorava rios de lágrimas por ter desapontado o avô. Poderia morrer, mas perder, não. Se não estava disposto a arriscar o que tinha de mais precioso, todas as suas promessas teriam sido em vão.

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Os anos seguintes, talvez os mais importantes, marcaram uma nova fase na vida de Ethan — na forma como via tudo ao seu redor, em como encarava toda pressão posta em seus ombros. Dos 6 anos de idade até se graduar na academia, ele tinha apenas dois objetivos: não desapontar o avô, sendo o “neto perfeito” para os propósitos do velho, e passar a maior quantidade de tempo com a mãe. Qualquer outra coisa além disso, era dispensável, ele conseguiria viver sem. Também foi nesse período que a sua admiração pela figura do avô se tornou uma devoção cega, estava obcecado em mostrar do que era capaz, que podia honrar o legado da família. Contudo, não fazia isso por capricho ou porque, de fato, buscava ser o melhor, mas, sim, para conseguir a aprovação do avô — a única forma de afeto que conhecia até então.

A mãe de Ethan, já naquela época, não estava muito bem, era acometida por uma tristeza incomensurável e não tinha forças para se livrar desse vórtice que insistia em puxa-la. Sendo assim, não poderia dar ao filho todo o seu amor, não conseguia acariciar a sua cabeça com gestos suaves e dizer que o amava mais do que qualquer outra coisa. Por isso, tudo o que Ethan tinha era o avô, alguém que só o reconheceria caso ele fosse forte, dedicado e jamais aceitasse os limites impostos a ele. Então, sem outras opções, Ethan lutou por cada migalha de amor e afeto do velho, sempre seguindo em frente, sempre em busca da próxima batalha, do próximo desafio.

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Quando Ethan começou a atuar naquela peça de mal gosto? Talvez nem ele mesmo soubesse responder à pergunta. Desde que se entendia por gente já fazia o que fazia, já tinha tomado partido naquilo. Então a melhor resposta para a questão é: sempre, sempre esteve atuando. Oliver queria alguém que se parecesse com ele, disciplinado, sem muitos dons naturais, mas que acabaria superando os obstáculos com esforço. Isso era o que esperava da criança que o acompanhava, porém, Ethan nunca foi verdadeiramente assim. Ele até podia ceder as vontades do velho, mas jamais seria aquela pessoa focada e que precisava se esforçar para alcançar os seus objetivos. Bastava querer e estava feito, tinha conseguido, com Ethan era assim. Justamente por isso, foi tão custoso se manter sob a tutela do avô, passando a maior parte do tempo tentando se sabotar para se encaixar naquele molde criado para si.

Os anos seguintes não foram diferentes, ambos continuavam se enganado. Enquanto Ethan se esforçava para não ser tão bom assim no que fazia, quase perdendo diversos combates amigáveis de propósito, Oliver se esforçava para lapidar aquele diamante bruto que nunca precisou de ajuda para brilhar.

Quando mãe de Ethan morreu, ela tratou de levar esse lado do filho com ela. A partir desse momento, Ethan já não se importava mais com o que Oliver pensava dele, afinal, já não era mais aquela criança desesperada por atenção. Por isso, ao sair de casa, ele buscou conhecer esse seu lado que sempre renegou, travando as próprias batalhas. Entretanto, tudo que encontrou pelo caminho foram os corpos sem vida dos seus opositores, que missão após missão insistiam em provar que Ethan ainda não estava pronto. As vitórias que conquistou em campo de batalha serviam para lembra-lo da sua incapacidade, homens conheceram a morte pelas suas mãos e era a sua culpa. Se fosse forte o bastante, poderia ter impedido aquilo, era o que pensava.

Era verdade que não era aquilo o que buscava com a sua jornada de autoconhecimento, mas agora, lutando pela dadiva de continuar consciente, ele percebia que só estava vivo por causa de todas as experiências ruins que o acompanharam durante a sua trajetória. Podia nunca ter desejado nada daquilo, de fato, mas estava feliz por ser capaz de continuar lutando.

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