Uma voz imponente e rouca ecoou por toda a casa, atravessando paredes e as portas reluzentes de vidro espalhadas pro toda a construção, não demorando muito para atingir o seu alvo em cheio. — Ethan!!! Você está atrasado. Rápido, não tenho o dia todo. — As falas do velho eram banhadas por uma impaciência que, normalmente, podia ser observada em pessoas mais jovens, já que, até certo ponto, a idade tinha o poder de conferir aos outros uma estranha calma e paciência. Mas com Oliver era diferente, se falasse “agora”, não aceitava desculpas, tinha que ser agora. Caso o neto, seja pelo motivo que for, não atenda o seu chamado de imediato, ele teria que ouvir o sermão do velho sobre responsabilidade, compromisso e respeito com os mais velhos. Por isso, sem pestanejar, Ethan correu até a varanda e pegou a mochila vermelha que levaria naquela viagem “onde tudo mudaria”.

Apesar de toda a urgência demonstrada anteriormente, o velho Kato não estava disposto a correr por entre as ruas que o levavam até os portões de Konoha. Na sua caminhada ao lado de Ethan, não demonstrou aquela mesma impaciência que acompanharam seu discurso, caminhava em um ritmo lento, quase parando. Se, de fato, estivesse querendo punir o neto pela demora, aquele certamente era o melhor jeito. Por sua vez, tudo o que Ethan podia fazer era seguir os passos de tartaruga do velho, quase pegando no sono. Por fim, depois do castigo silencioso, ambos encaravam a construção que dava boas-vindas àqueles que vinham se aventurar nos domínios da Folha.

Sair da vila, para alguns, era uma tarefa fácil e mundana, não dava trabalho algum. Mas por outro lado, os ninjas não tinham tal regalia, tinham que informar as suas intenções na cabine que ficava próxima ao portão. Sabendo disso, Oliver não demorou muito a sacar um pergaminho da sua mochila, onde o apresentaria para o guarda responsável por controlar quem entra e sai. Ver aquilo foi uma surpresa para Ethan, que até então desconhecia os detalhes por trás de tudo aquilo, mas o seu espanto genuíno veio quando um dos guardas desejou uma “boa missão” para o mais velho. Sem respostas o suficiente, pensava nos motivos que levariam um ninja aposentado a aceitar uma missão àquela altura do campeonato.

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A dupla, após passar pelos portões, seguiu floresta a dentro por alguns minutos, até que Oliver projetou o corpo na frente do neto, indicando que ele deveria parar.

— Veja bem — forçou a garganta com uma tosse seca, limpando-a. — As coisas acabaram não saindo de acordo com o planejado, e agora tenho que resolver alguns problemas em um lugar perto da onde você vai ficar. Mas não se engane, isso não quer dizer que vou pegar leve com você. Enfim, agora que você já é um homem, chegou o momento de assumir as suas responsabilidades com a nossa família. Por isso, vou força-lo até o limite, até você implorar por piedade, mas mesmo assim vou continuar. Então quando tudo isso acabar, você vai herdar a vontade dos seus antepassados, que lutaram arduamente para passar essas técnicas adiante.

— Sim, senhor. — Como se fosse a mesma criança de anos atrás, obediente, consentia com as palavras do avô.

— Agora vamos começar, não temos tempo a perder. Bom, como pude perceber ao longo dos anos, o seu Controle de Chakra é horrível, péssimo, deplorável, vergonhoso. Sabe o que eu acho sobre isso? Você fez isso de propósito. Mesmo de longe, eu via você se auto sabotar. Os seus motivos não importam agora, isto é fato, mas desse momento em diante, preciso que se esforce. Se por algum motivo não conseguir, está tudo acabado, você não tem mais o direito de ser o meu neto. Eu irie te renegar.

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As palavras de Oliver acertaram Ethan em cheio, como se uma flecha afiada obliterasse tudo em seu caminho e acertasse o seu peito, posteriormente causando uma dor alucinante. Com isso, foi impossível não ser invadido por algumas memórias há muito esquecidas. Mentalmente atestava cada palavra do velho sobre não aprender certas coisas de propósito. Quando criança, tudo que Ethan queria era ficar ao lado da mãe e brincar sozinho nos jardins de casa, mas à medida que melhorava, mais o avô queria monopolizar o seu tempo com aqueles treinos tediosos. Por isso, mesmo não vendo qualquer dificuldade naquelas tarefas, acabava não “aprendendo” nada. Para ele, os treinos eram, na verdade, um teatro, onde tomava o cuidado de limitar, e muito, o seu progresso.

— Como desejar. — Sem apresentar qualquer reclamação, Ethan levou a destra até o cabo da espada que estava suspensa na sua cintura. Depois, começaria banha-la com um fluxo constante de chakra puro (Chakra Nagashi), com a intensão de fazer com que a lâmina se tornasse mais resistente.

Então, não havendo mais assuntos pendentes, a dupla seguiu em silêncio pelos caminhos sinuosos que os levariam até o seu destino, permitindo que, vez ou outra, o som das folhas sendo pisoteadas interrompesse momentaneamente a quietude da viagem.

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Assim como havia dito que faria, Ethan deixaria que o seu chakra corresse por todo corpo da espada, a partir do cabo. Essa era a parte fácil. Mas o real desafio enfrentado por ele estava aquém daquela tarefa risória. Em condições normais, onde poderia se sentar e focar toda a atenção no controle de chakra, alguém tão talentoso como ele não teria muitos problemas, seria apenas uma questão de tempo até conseguir o que almejava. No entanto, fazer isso enquanto tinha que atingir altas velocidade (22 m/s) e contornar inúmeros obstáculos tornava as coisas mais interessantes. Pela primeira vez em anos, Ethan se esforçava verdadeiramente, já que dessa vez apenas o talento natural não poderia ajuda-lo nas atuais circunstâncias.

Enquanto saltava por entre os galhos das árvores, com a destra recostada sobre o cabo da espada, Ethan se lembrava de cada lição que teve na academia sobre o assunto. Naquele momento, tudo não passava de um quebra-cabeças. Conforme se agarrava a fragmentos avulsos de memórias, que até então não tinham uma utilidade muito clara, parecia que o seu pequeno jogo ganhava peças novas. Cada instrução, truque e conhecimento prévio proporcionavam novas combinações para serem exploradas, fazendo com que o final do arco-íris se aproximasse cada vez mais.

Nas várias horas seguintes, o cérebro do Jonin não parou de mentalizar as questões nem por um minuto sequer, se esforçando ao máximo para não perder o equilíbrio alcançado até aquele ponto. Por fim, os olhos de Ethan saltaram; ele finalmente sentia que os seus movimentos não estavam mais limitados. Depois de quase um dia inteiro correndo sem parar, finalmente canalizar chakra através da espada se tornou uma atividade quase involuntária, tão natural quanto o ato de respirar.

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