Poucas pessoas no mundo poderiam desvendar aquele mistério que assolava os jardins da mansão Kato, e aqueles que podiam certamente faziam parte do problema. Ethan estava com as costas apoiadas no tronco de uma árvore centenária que ficava a alguns passos da varanda que ficava na lateral da casa, deixando os braços abraçassem a bainha que guardava a sua lâmina. O inverno finalmente havia chegado, mas dessa vez não trazia somente o ar gélido que deixava Ethan com um frio na espinha, agora aqueles mesmo ventos estavam carregados de responsabilidades. Assim como o avô certa vez disse, “o inverno da sua maioridade vai ser a primavera das suas habilidades. Escute, quando o dia chegar, nada vai ser como antes.”

Mais cedo naquela manhã, antes que Ethan tivesse a chance de abrir os olhos por conta própria, sentiu o seu cobertor ser arrancado à força. Era Oliver, o seu avô, anunciando que iria leva-lo para as montanhas. Mantendo um certo mistério nas suas palavras, orientou o neto, falando para que o mesmo levasse suprimentos e roupas para passar as próximas semanas longe. Por fim, com a mesma carranca de antes, arremessaria um objeto na cama, bem ao lado do garoto.

— Espero que ainda se lembre de como usá-la — antes de sair do quarto, disse.

Ethan, mesmo não estando completamente desperto, tateou a Shikomizue, sendo invadido por memórias de tempos longínquos. Por um breve momento, ele voltava a ter 7 anos de idade, maravilhado com a forma que o mais velho empunhava o objeto. Naquela época, quando começou a ser tutelado pelo avô nas artes ninja, tudo que podia fazer era lançar olhares admirados para o velho enquanto mantinha uma certa distância. A sensação de sentir o seu coração disparar ao ver Oliver girar a espada na canhota à medida que rasgava o ar ainda era vivida, já que foi nesse momento que decidiu que queria ser como ele. Queria conduzir a arma como em uma dança, com movimentos seriam suaves e performáticos.

Nos dias seguintes, o desejo do pequeno Ethan não tinha cedido, muito pelo contrário, não se aguentava de tanta ansiedade. Mas, assim como toda história, a dificuldade era tão presente quanto qualquer outro elemento. Isto, pois, teria que pedir a aprovação do avô, o que àquela altura parecia ser impossível. Por isso, não restava outra escolha para aquela criança sonhadora, precisava dar o seu próprio jeito. Então, a partir daquele dia, durante todas as madrugadas, Ethan roubava a espada para praticar.

No início, a maior dificuldade que aquela criança enfrentava era justamente o peso da arma. Ela ter quase o dobro do seu tamanha talvez fizesse alguma diferença, pensava. Mas ele não se daria por vencido, continuaria se esforçando todos os dias, acreditando que, talvez, as coisas melhorariam no dia seguinte. O plano não era perfeito, na verdade, bastou apenas 2 dias para Oliver descobrir o que o neto aprontava, mas mesmo assim o garoto continuava dando tudo de si. Estava empenhado, e nada nesse mundo podia apagar aquela chama que ascendia no seu peito e que era refletida pela lâmina.

Enquanto o jovem Ethan brincava com a arma, desvendando os seus segredos, uma figura estaria sempre seguindo os seus passos, garantindo que o menor não se machucasse. Entretanto, não era nada fácil ficar assistindo o neto brandir a espada com uma postura errada e não conseguindo segurar o cabo com toda a firmeza necessária. Para alguém como ele, que seguiu toda a vida em busca da perfeição, assistir alguém cometer tantos erros em um intervalo curto de tempo chegava a lhe causar dor física. No entanto, contento todos os impulsos que diziam para ele saltar dali e ir ajuda-lo, deu um voto de confiança para aquela criança, que diariamente apresentava sinais de melhora.

Os anos foram passando, e em algum momento a paixão pelo manuseio de espadas não se manteve o mesmo. Isso, por outro lado, não significava que Ethan deixaria por completo o hobbie, sempre que podia roubava a espada do quarto dos avós e ia até o jardim praticar um pouco.

Voltado aos dias atuais, um olhar reflexivo e uma expressão abatida tomaram conta do semblante do Jonin. Ele se lembrava da época em que sonhava em ter aquele objeto singular, sentindo um incomodo por finalmente tê-la. Por fim, limpando a grama da roupa, atendeu ao chamado do avô, que já estava pronto para partir.

Informações: