A escuridão já havia se estabelecido, com a lua brilhando como uma pérola solitária no céu noturno. Nezuko, com os ombros pesados de exaustão, acabara de sair de seu gabinete. O dia tinha sido longo e cansativo, cheio de tarefas e responsabilidades que pareciam intermináveis.

A papelada, uma montanha de documentos, relatórios e arquivos, estava atrasada. Cada folha era um lembrete do trabalho árduo que ainda estava por vir. Ela podia sentir o peso da tinta nas palavras não escritas, a pressão dos selos não carimbados. A mesa, geralmente impecável, estava agora afogada sob uma maré de papéis.

Com um suspiro profundo e cansado, Nezuko se levantou da cadeira, o estofado de couro chiando suavemente em protesto. Seu corpo estava pesado, como se cada osso estivesse feito de chumbo. O dia havia finalmente chegado ao fim. Ela olhou para trás, para o gabinete agora escuro, os papéis ainda espalhados na mesa, como soldados à espera do próximo dia de batalha.

Mas isso era uma preocupação para o amanhã. Agora, ela precisava descansar. Nezuko saiu do gabinete, o som de seus passos ecoando pelo corredor silencioso. Ela podia sentir o peso do dia se dissipando a cada passo que dava em direção ao descanso merecido. “Bem que eu podia dar uma passada no hospital antes de ir para casa”, pensou Nezuko, enquanto seus pés a levavam automaticamente para longe do prédio e pela rua. A ideia surgiu como um sussurro em sua mente, uma sugestão suave que se tornou mais forte a cada passo que dava.

A voz de Saiken, sempre presente, ecoou em sua mente, um tom brincalhão tingindo suas palavras. “Tem alguma coisa que te interessa lá, é?” Nezuko sorriu para si mesma, uma risada suave escapando de seus lábios. “Pior que tem mesmo”, ela respondeu, sua mente se enchendo com as lembranças da noite anterior. As imagens dançavam em sua mente. Saiken apenas riu em resposta, sua risada ressoando em sua mente antes de se dissipar em silêncio.

Em poucos minutos, Nezuko se encontrou em frente à porta do hospital. A porta estava aberta, convidando-a a entrar. Mas ela permaneceu do lado de fora, seu olhar varrendo o interior do prédio. Seus olhos se fixaram em Mizuki, que se aproximava da recepção. Ela se encostou no pequeno muro em frente a porta, observando Mizuki com um sorriso suave no rosto.

Mizuki estava ocupada com seus próprios afazeres e demorou alguns minutos para notar a presença da Hyuga, que a observava do lado de fora. No entanto, assim que seus olhos encontraram Nezuko, um sorriso se espalhou por seu rosto. Ela levantou a mão em um gesto amigável, pedindo que a esperasse. Assim que a Mizukage acenou a cabeça positivamente, a médica entrou em uma outra sala.

Depois de alguns minutos, a Otsutsuki reapareceu, agora sem o uniforme médico que antes usava. Ela havia trocado as vestes clínicas por roupas mais casuais, dando a ela uma aparência mais relaxada e acessível. Seu sorriso era radiante, iluminando seu rosto de uma maneira que fazia seus olhos brilharem. Ela se aproximou de Nezuko rapidamente, quase como se estivesse ansiosa para vê-la.

– O que faz aquim, Mizukage-sama? –Yoru Tanoshii a médica perguntou em tom de brincadeira.

– Tenho uns assuntos a tratar com você – a Mizukage respondeu sorrindo – vamos andando…– após terminar de falar, ela começou a andar em passos lentos.

– E que assuntos são esses? – Mizuki perguntou curiosa e logo começou a segui-la.

– Por sua culpa, hoje eu acordei morrendo de dor de cabeça – a Hyuga falava indignada, fazendo a mais nova começar a rir – você poderia ao menos ter me avisado né? Eu estaria preparada.

– Desculpa por não ter avisado – se desculpou ainda achando graça da situação – esqueci que não estava acostumada – enquanto andava, a Otsutsuki encarava a Hyuga – mas você só veio aqui pra falar disso?

– É… – as bochechas de Nezuko ficaram coradas com a lembrança da noite anterior – o que acha de sairmos novamente? Mas dessa vez sem ser para ver lutas…

– Ah, poxa! Eu tava achando que a gente ia trocar uns socos – enquanto falava, Mizuki dava alguns socos no ar e em seguida gargalhou.

– Você é muito boba – Nezuko sorriu enquanto a olhava – na verdade, vamos parar pra comer um Lamen agora?

– Encontro surpresa? – a Otsutsuki perguntou – adoro – sua voz estava animada – vamos sim, conheço um lugar muito bom.

Nezuko e Mizuki caminharam lado a lado, perdidas em uma conversa animada. As palavras fluíam entre elas com facilidade, tocando em tópicos aleatórios que variavam de trivialidades do dia a dia a pensamentos mais profundos. O som de suas risadas preenchia o ar, criando uma melodia agradável que acompanhava o ritmo de seus passos.

Após alguns minutos de caminhada, elas finalmente chegaram a uma pequena lanchonete. O lugar exalava um charme rústico, com suas paredes de tijolos aparentes e mesas de madeira. As luzes suaves penduradas no teto banhavam o ambiente com um brilho quente e acolhedor, criando um clima aconchegante que convidava os visitantes a se sentirem em casa.

O aroma de café recém-preparado e pães frescos enchia o ar, despertando os sentidos e prometendo uma refeição deliciosa. A atmosfera era tranquila, com o murmúrio suave de conversas e o som ocasional de talheres e pratos ecoando pelo espaço. Elas sentaram-se em uma mesa de apenas duas cadeiras, uma de frente para a outra.

– E então, o que achou do lugar? – Mizuki perguntou logo ao sentar.

– É aconchegante – Nezuko respondeu enquanto olhava em volta – parece antigo, mas ainda sim é bonito.

– Esse é o charme daqui – a Otsutsuki ofereceu um dos cardápios para a Mizukage enquanto ficava com o outro para poder olhar.

– Eu já sei o que vou querer, na verdade – a Hyuga respondeu após olhar o cardápio por poucos minutos.

– Nossa, que rápida – Mizuki ainda escolhia o sabor de seu Lamen, mas logo um deles chamou sua atenção – bom, também tenho minha escolha.

Com um aceno discreto e um sorriso amigável, Nezuko chamou a atenção da garçonete; uma jovem com um sorriso acolhedor e um avental limpo, notou o gesto de Nezuko quase que imediatamente. Ela se desvencilhou graciosamente de suas tarefas atuais e se dirigiu a Nezuko com passos rápidos, mas calmos.

– Mizukage-sama – a garçonete falou com respeito – Mizuki, você por aqui novamente? – ela perguntou com um sorriso no rosto – o que vão querer hoje?

– Sempre estarei aqui, o lámen de vocês é maravilhoso – Mizuki respondeu – E eu quero o de frutos do mar – falou enquanto colocava o cardápio de lado.

– Eu quero esse lámen de frango com caldo de shoyu – a Mizukage fez o pedido.

– E vão querer algo para beber? – perguntou enquanto terminava de anotar os pedidos.

– Queremos uma garrafa de saquê – a Otsutsuki respondeu antes que Nezuko negasse. A garçonete terminou de anotar o pedido e logo se retirou.

– Eu não quero ficar com dor de cabeça amanhã novamente – a Hyuuga reclamou.

– É só você beber pouco – a médica respondeu após rir.

Com os pedidos feitos, as duas continuaram sua conversa, rindo e compartilhando histórias enquanto esperavam a comida chegar. A atmosfera era leve e agradável, preenchida com a risada fácil e a camaradagem calorosa entre elas.

Após cerca de trinta minutos, a garçonete retornou à mesa de Nezuko e Mizuki, equilibrando habilmente uma bandeja pesada em suas mãos. Sobre a bandeja estavam os dois pratos de lamen e uma garrafa de saquê.

Ela colocou a bandeja na mesa com um sorriso, o aroma delicioso dos pratos de lamen enchendo o ar. A garrafa de saquê brilhava sob a luz suave do restaurante, prometendo uma noite de risos e boas lembranças.

– Itadakimasu – as duas falaram juntas e logo começaram a comer.

Enquanto saboreavam seus pratos de lamen, Nezuko e Mizuki se envolveram em uma conversa animada. Elas falaram sobre os acontecimentos cotidianos, compartilhando histórias sobre o trabalho, amigos e família. A conversa fluiu naturalmente, com risadas e momentos de reflexão pontuando a refeição.

Elas também discutiram seus gostos e desgostos, descobrindo mais uma sobre a outra. Talvez tenham falado sobre seus hobbies, os livros que gostam de ler, a música que gostam de ouvir, ou até mesmo os sabores de lamen que preferem. Cada nova revelação serviu para fortalecer ainda mais o vínculo entre elas.

– Agora eu tenho que perguntar… – Mizuki falou após terminar de comer e logo em seguida tomou um gole da bebida – descobriu o que aconteceu com a sua mãe?

– Então… – a expressão de Nezuko ficou mais séria – ela e meu pai foram sequestrados e passaram vinte anos sendo cobaias de experimentos e torturados – ela completou e em seguida tomou o copo de saquê inteiro, fazendo uma careta no final.

– Nossa… – Mizuki ficou sem palavras para comentar sobre o assunto – mas e seu pai?

– Ele continua lá… – respondeu enquanto voltava a encher o copo com a bebida.

– Espero que consiga resgatar ele – completou após tomar mais um gole da bebida.

– Eu também espero… – a Hyuuga voltou a responder – minha mãe tem uma ideia de como eu posso ficar mais forte pra isso.

– Sério? – a Otsutsuki estava curiosa para saber o que era, mas decidiu que já tinha forçado demais o assunto e que deveria deixar aquilo para outra hora.

– Sim – a Mizukage sorriu – eu tenho é pena da pessoa que fez isso com eles, porque eu não vou poupar esforços – a expressão de Nezuko era fria, como se toda a raiva acumulada tivesse se mostrado naquele momento.

– Bom, que tal irmos andando agora? – Mizuki perguntou e logo acenou para a garçonete que rapidamente veio até a mesa com a conta.

– Dessa vez eu pago – Nezuko rapidamente pegou a conta da mão da garçonete e em seguida entregou junto ao dinheiro – e também te levo para casa.

– Tudo bem, justo – Mizuki se levantou junto a Nezuko e as duas começaram a caminhar juntas. A noite estava tranquila, o ar fresco e a rua iluminada pelas luzes suaves dos postes. Nezuko acompanhava Mizuki, que a guiava com confiança pelas ruas da cidade.

A caminhada era agradável, com a conversa entre elas fluindo naturalmente. Elas compartilhavam risadas e histórias, aproveitando a companhia uma da outra. A cada passo, a casa de Mizuki se aproximava, mas elas não tinham pressa. Estavam simplesmente aproveitando o momento, a companhia uma da outra e a beleza da noite. Era uma maneira perfeita de terminar o dia.

– Bom… Da última vez quem tomou a iniciativa foi você né… – Nezuko falou, uma nota de hesitação em sua voz. Elas haviam chegado à casa de Mizuki, a luz suave da varanda iluminando seus rostos. Nezuko então se aproximou de Mizuki, diminuindo a distância entre elas até que seus lábios finalmente se tocaram.

Era um beijo suave, mas cheio de emoção. Nezuko podia sentir seu coração batendo acelerado, como se inúmeras borboletas estivessem voando em seu estômago. Era uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo maravilhosa. Ela se permitiu se perder no momento, esquecendo tudo ao seu redor enquanto se concentrava apenas em Mizuki.

O beijo durou apenas alguns segundos, mas para Nezuko, pareceu uma eternidade. Quando finalmente se separaram, ela pôde ver um brilho nos olhos de Mizuki que refletia o que ela mesma estava sentindo. Foi um momento perfeito.

– Até uma próxima – Mizuki falou enquanto sorria e novamente aproximou os lábios dos de Nezuko em um beijo rápido. Em seguida, entrou em casa.

Com um sorriso ainda brilhando em seu rosto, Nezuko retomou sua caminhada, agora em direção à sua própria casa. Cada passo que dava a levava mais longe da casa de Mizuki, mas a lembrança do beijo compartilhado ainda aquecia seu coração. Ela caminhava com uma sensação de contentamento.

informações: