Era uma noite tranquila em Konoha, exceto pelas vielas mais afastadas onde aconteciam o que os cidadãos comuns não estavam acostumaos. Uma solidão sutil me envolvia, enquanto eu tentava afastar os pensamentos tumultuados que permeavam minha mente. Havia tempo demais desde que me havia me permitido uma noite ali, mas os sentimentos negativos estavam travando uma verdadeira guerra na minha cabeça. Decidi então buscar algum consolo em um lugar que costumava frequentar, um bar num lugar esquecido de Konoha onde costumava jogar e apostar com alguns colegas um tanto quanto degenerados. Ao chegar, a atmosfera familiar do local trouxe uma sensação de pertencimento. Algumas pessoas bêbadas, alguns viciados em jogos, coisas que estava acostumado. Quase todas as mesas estavam vazias, com a concentração de pessoas sendo diretamente na mesa de bar. Reconheci alguns rostos que não via há algum tempo, e a surpresa em seus olhos ao me verem foi palpável.

[Kaito]—Olha só quem resolveu dar as caras! Mugen Ogawa, o ninja da folha. Há quanto tempo, hein? disse Kaito, um dos colegas mais barulhentos do grupo. Seu barulho projetado alto até demais fez com que os demais colegas olhassem para mim.

[Mugen]—Porque você tem que ser tão barulhento? Respondi, entrando no lugar.

[Kaito]—O que você tá fazendo aqui? Quebrou a patinha durante uma missão e tem que ficar de repouso? Kaito disse, dando risada em seguida.

[Mugen]—Pelo visto esse lugar não muda nunca.

[Ryu]—E aí Ogawa, como tá a vidinha de shinobi? Ainda pintando meio fios como genin? Ryu, o colega mais velho o grupo, disse dando um soco em meu ombro.

[Mugen]—Eu sou um Tokujo agora.

[Ryu]—Tokubetsu Jonin? Sério? Olha, por essa eu não esperava hein Mugen, um degenerado que nem você chegar a uma patente alta como shinobi, não imaginei que você chegaria tão longe. Exclamou Ryu, visivelmente impressionado. [Ryu]—As coisas devem estar dando muito certo pra você, hein?

[Mugen]—Nem tanto.

Kaito e Ryu se olharam confusos antes de perceber uma atmosfera diferente em mim, então oo barulhento voltou a abrir a boca. [Kaito]—Sério cara, o que você fazendo aqui?

[Mugen]—Eu não sei, estava sozinho em casa sem fazer nada e resolvi passar aqui. Por que? Não sou mais bem vindo?

[Kaito]—Não, não é isso, é que...

[Ryu]—Ah, boa, você lembrou dos velhos amigos né? Vem, vem pra nossa mesa. Taro e eu íamos começar uma partida de Mahjong. Vem você também Kaito.

Aceitei e segui os dois até a mesa, que estava grudenta e suja de bebida. Taro inicialmente não me reconheceu, cerrando um pouco os olhos até perceber que era eu que estava ali. [Taro]—É o Mugenzinho! Gritou.

[Mugen]—Ainda com essa de Mugenzinho? respondi fazendo todos da mesa darem risada.

A atmosfera na mesa de Mahjong era descontraída, com as peças sendo embaralhadas e distribuídas de maneira desengonçada por Taro, o mestre do jogo naquela mesa suja e cheia de história. Enquanto as peças eram distribuídas, as conversas aleatórias sobre as últimos acontecimentos em da vida continuavam.

[Ryu]—Aí Taro, Mugen agora é Tokujo. Ryu disse de forma maliciosa. [Taro]—É sério, Mugenzinho? Caralho, tu deve tá fazendo várias missões foda, deve tá cheio da grana e atraindo um monte de mulher, hein?

[Kaito]—Distribui as peças aí seu bêbado.

[Mugen]—É, fiz algumas missões perigosas sim, mas não, eu não tô cheio da grana e não tô atraindo muita mulher.

[Kaito]—Meu Deus cara, tu é muito tapado mesmo. Se fosse eu, tu já sabe.

[Ryu]—Seria mesma coisa. Dinheiro não ia mudar o fato de tu ser um zé ruela.

A partida começou, e o clima ficou mais sério enquanto todos se concentravam em seus movimentos. As peças eram movimentadas com agilidade pelos jogadores, e as estratégias começavam a se desenhar. Ryu, o mais experiente da mesa, olhava para as peças com uma expressão concentrada, Taro parecia bêbado demais para pensar em uma estratégia, já Kaito parecia só querer tumultuar tudo.

[Kaito]—Tá enferrujado, Mugen?  Kaito e Taro riam enquanto Ryu pedia silêncio.

O jogo prosseguiu com trocas de peças, chamadas e descartes estratégicos. O som das peças batendo umas nas outras criava uma melodia peculiar, misturando-se aos murmúrios e risadas da taverna. Ryu e eu estávamos focados em nossas mãos, tentando prever os movimentos dos outros e garantir a vitória. A tensão na mesa de jogo era palpável enquanto fora dela todos demonstravam descontração, e as peças de Mahjong continuavam a ser movimentadas com agilidade. Percebi que estava em uma posição desfavorável, com poucas opções estratégicas disponíveis. Enquanto observava atentamente as mãos dos meus oponentes, comecei a arquitetar um plano. Embora fossem ótimos jogadores, eu os conhecia de longa data e sabia que não eram exatamente gênios.

Disfarçadamente, desviei o olhar para o lado oposto da mesa, onde um espelho antigo pendurado na parede refletia as mãos dos outros jogadores. Aproveitando esse recurso, comecei a memorizar as peças nas mãos de Ryu, Kaito e Taro, analisando suas jogadas anteriores e tentando prever suas próximas movimentações. À medida que a partida avançava, comecei a fazer jogadas mais assertivas, antecipando as peças que meus oponentes poderiam precisar. Cada movimento calculado era feito de maneira sutil, para evitar suspeitas. Enquanto Kaito e Taro riam e zombavam, eu mantive a expressão tranquila, como se estivesse apenas aproveitando o jogo. Quando chegou a minha vez de declarar vitória, surpreendi a todos ao revelar uma combinação perfeita de peças no meu tabuleiro. Os olhares incrédulos dos meus colegas denunciavam a frustração de perderem para mim mais uma vez.

[Kaito]—Ah cara, não acredito, toda vez é a mesma coisa. Esse cara sempre ganha!

[Mugen]—Sorte tua que não tinha dinheiro casado.

[Kaito]—Não tem dinheiro nem no meu bolso.

Entre as risadas dos meus colegas e o barulho do bar, eu refletia sobre tudo que havia acontecido desde que me tornei um shinobi. Eu havia abandonado aquela vida ao lado daqueles caras que só fazem merda pra viver como um shinobi exemplar, e por muito tempo eu me perguntei do motivo das coisas não darem certo para mim quando a resposta tava bem na minha cara. Era ali onde tinha certeza que não precisava de ninguém, ali onde eu me sentia parte de algo, ali onde me enxergavam, mesmo que isso não significasse nada importante. Eu sou uma pessoa ruim, eu trapaceio, eu torturo antes de sacrificar uma pessoa, eu sou um degenerado, eu só não lembrava disso. Peguei um copo da mesa e dei um gole, fazendo Kaito e Taro me olharem surpresos. Fizemos um brinde antes que as bebidas acabassem.

Enquanto levantava da mesa, Ryu aproximou-se de mim e sussurrou. [Ryu]—Vou deixar passar dessa vez porque não envolvia dinheiro... e também porque você parecia precisar disso, mas na próxima se tu trapacear de novo tu tá fodido na minha mão.

[Mugen]—Tenta a sorte. Eu respondi.

[Ryu]—Pessoal, vou no bar buscar mais umas bebidas, embaralha isso aí, vamos mais uma partida.

HP:  xxx/xxx • CH:  1850/1850 • ST: 00/05
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