[Mugen]—Como estão o pai e a mãe?

Com um olhar surpreso no rosto, Kokona respondeu a minha pergunta com certa desconfiança. [Kokona]—Eles estão bem... quer dizer, são velhos e estão cansados, mas estão bem.

[Mugen]—Farei uma visita a vocês assim que possível. Kokona apertou forte o meu braço e puxou em sua direção.

[Kokona]—Mugen, você está estranho... Aconteceu alguma coisa?

[Mugen]—Não aconteceu nada... só estive pensando muito em vocês ultimamente. Quanto mais eu falava, mais a feição de Kokona parecia confusa, afinal de contas eu os abandonei para viver sozinho a minha vida shinobi e nunca dei satisfação, então qual seria o interesse em visitá-los agora?

[Kokona]—E como estão as coisas em Konoha? Não tem feito nada perigoso, não é?

[Mugen]—Não se preocupe, seu irmão não vai morrer. As coisas estão indo bem, quer dizer, passei muito tempo sendo um zé ninguém por aqui e de repente as coisas começaram a funcionar para mim. Nunca fui bom em demonstrar meus sentimentos, mas ninguém além de minha irmã poderia me ler tão bem. Nunca me incomodou viver sozinho e isolado dos outros, mas um sentimento doloroso estava começando a surgir no meu peito, um vazio de não poder contar com ninguém e mesmo assim, depender de muita gente.

[Mugen]—Irmã, como você está?

[Kokona]—Estou bem. Estou tendo que cuidar dos nossos pais o que dá um trabalhão danado, mas não estou passando por isso sozinha. Ela disse, erguendo o braço para mostrar uma linda aliança em seu dedo. Com um olhar de surpresa em meus olhos, segurei sua mão com delicadeza e aproximei os olhos no anel como se analisasse, mesmo não tendo conhecimento algum sobre.

Durante nossa infância, sempre que eu fazia alguma besteira, Kokona estava lá para me defender. Eu já a coloquei em muitas enrascadas por minha causa, ela já deve ter ouvido muitas palavras duras para me proteger e eu nunca se quer pensei em retribuir esse favor, simplesmente saí de casa e a deixei para trás. Sinceramente na época parecia a coisa certa a se fazer, nunca tive grande apego ou apreço por ninguém na minha família mas conforme o sentimento de solidão crescia dentro do meu peito, ver o sorriso no rosto de minha irmã e saber que ela encontrou alguém que a manteria segura e feliz confortou o meu coração.

[Mugen]—É uma linda joia, irmã. Espero conhecer a pessoa que te deu. Ela sorria para mim, parecia entender que eu gradualmente meu coração começava a se abrir pro mundo. [Kokona]—Pra isso você precisa nos visitar, né? Respondeu, debochando do fato de nunca ter feito questão de visitar nossa família. [Kokona]—Mas e você, irmãozinho, não tem ninguém especial?

[Mugen]—Não viaja. Respondi. Kokona riu, um riso confortante, algo que a muito tempo não sentia. Kokona agarrou uma mecha do meu cabelo, enrolando entre seus dedos e puxando algumas vezes na tentativa de me irritar. [Kokona]—Não acha que tá na hora de cortar esse cabelo não?


Estava dedicando a maior parte do meu tempo para ficar sozinho estudando e me aprofundando nas minhas pesquisas sobre a imortalidade. Era costume para mim passar tanto tempo sozinho, mas desde que entrei em um time e dos últimos acontecimentos em Takumi no Sato, de certa forma estava sentindo um certo incomodo em viver isolado. Estava pronto para iniciar mais um dia de aprofundamento pessoal, caminhando pelas ruas de Konoha em direção ao hospital onde encontraria com mestre Kazou para mais um dia de tutoria de Iryo Ninjutsu. Enquanto caminhava por Konoha, sentia uma sensação estranha de não reconhecer ninguém ao meu redor, algo que já estava se tornando recorrente. Era como se todos fossem meros bonecos cinzentos sem rosto e sem alma, não sentia conexão com nada nem ninguém do vilarejo. De certo modo isso era desesperador, cada fibra do meu corpo me dizia que eu estava no lugar errado, que não pertencia a Konoha e que deveria fugir.

De repente uma voz suave chamou pelo meu nome. Uma voz e um rosto confortantes no meio de um mar de rostos cinzas preencheu a minha mente com cores que não via a muito tempo. Era a segunda vez que minha irmã me visitava desde que me tornei um shinobi da folha, e dessa vez como nunca antes, senti uma alegria genuína em ver o seu rosto. Sinceramente não entendi o motivo de receber tais visitas de Kokona, afinal de contas, nunca ofereci nada de bom para ela ou para qualquer membro de nossa família.


Passamos algum tempo juntos conversando enquanto caminhávamos pelas ruas do vilarejo, compartilhei com Kokona algumas das minhas aventuras em missões, mas escondi a minha imortalidade pois tinha receio que isso a causasse medo. Entre risadas devido as minhas esquisitices comuns, recebi alguns sermões e beliscões devido aos perigos que passei nas missões. Kokona compartilhou comigo como estava sua vida em nossa pequena vila natal, como havia conhecido seu noivo, confusões com nossos pais e coisas da vida cotidiana. Como se ainda fossemos crianças, Kokona ainda cuidava de mim e eu começava a entender esse sentimento. Levei Kokona até uma loja de lámens que costumava frequentar sozinho e pedi prepararem para ela o mesmo que sempre pedia para mim, seguimos conversando e nos divertindo juntos. Embora tudo aquilo fosse maravilhoso, me perguntava dos motivos de isso estar acontecendo.

[Mugen]—Irmã, por que você resolveu vir até aqui? Eu perguntei. Kokona me olhava enquanto fazia uma barulheira sugando o macarrão rapidamente antes de me responder.

[Kokona]—Do que você tá falando irmãozinho? Se você não der notícias eu vou ter que vir até aqui pra saber de você, né? Ela respondeu.

[Mugen]—O pai e mãe sabem que você tá aqui? Perguntei, já imaginando qual seria a resposta. Kokona pela primeira vez colocou em seu rosto uma expressão séria.

[Kokona]—Mamãe sabe e tenho certeza que se pudesse ela viria também.

Aquela resposta me impactou de uma forma que não esperava. Eu sequer lembrava do rosto de minha mãe, será que ela ainda se lembrava de mim? Será que me perdoaria por ter abandonado todos? O tom sério da conversa foi novamente quebrado pelo som do macarrão sendo sugado, fazendo minha irmã cair na gargalhada em seguida. Após terminar a refeição, saímos da loja e caminhamos juntos em direção aos portões do vilarejo.

[Kokona]—Preciso ir agora, deixei Itoshi sozinho cuidando dos nossos pais, melhor ir e tirar ele dessa função cruel.

[Mugen]—Itoshi? Ah, esse é o seu noivo, certo? Um breve silêncio surgiu entre nós, como se ninguém quisesse dar uma última palavra.

[Mugen]—Nana, obrigado por ter vindo. Eu falei, cortando o silêncio. [Mugen]—Er... por favor, venha mais vezes, tá bom?

Talvez fosse exigir demais pedir que minha irmã voltasse para me ver, afinal de contas, nunca tinha feito o mesmo. Mas aquele dia que passei ao seu lado me fez perceber que eu não estava sozinho. Mesmo depois de tantos anos e com tudo que fiz, Kokona sempre esteve ao meu lado, e dessa vez eu gostaria de retribuir o favor.

[Kokona]—Nana? Ela me olhou surpresa. Nana era o apelido a qual eu a chamava quando éramos crianças, algo que certamente fazia anos que não acontecia. —Ah, me desculpe. Lágrimas começaram a escorrer do seu rosto antes de dar um grande sorriso. [Kokona]—Irmão, aguarde o convite para o meu casamento. Ela disse, antes de virar as costas limpando as lágrimas e seguir portões a fora. Ainda de longe, estendeu o braço para o alto e o balançou de um lado para o outro, me dando tchau novamente. Ao vê-la partir, senti que minha irmã e eu havíamos reforçado um laço a muito tempo desgastado e que, por causa dela, nunca foi perdido. Enquanto caminhava de volta ao objetivo inicial de encontrar com mestre Kazou, refletia se seria possível recuperar os laços com meus pais também.

HP:  xxx/xxx • CH:  1325/1325 • ST: 00/05
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