A bela paisagem de montanhas e florestas compunha o cenário do caminho de Konha até Tonika. Durante três horas Kaito viajou no trem observando a vista e lendo seu livro. Foi algo tranquilo afinal, algumas pessoas conversavam e outras iam em silêncio lendo algum jornal. O trem parou em algumas estações e Kaito as reconhecia pela placa e pelo mapa, percebendo que ainda havia muitos lugares em seu país que ele não conhecia e que poderia explorar no futuro. Ele não deixava de imaginar a vida daquelas pessoas e também dos shinobis que viviam e trabalhavam naquelas colônias menores, mas certamente tudo estava ligado à Konoha.

O trem parou e exalou seu barulho característico de alívio de pressão por vapor. Era a estação de Tonika Mura e o funcionário do trem que validava os tickets informou a todos os presentes para saírem com cuidado e não esquecer suas bagagens. A diferença da estação daquela vila para a de Konoha era enorme, demonstrando que o local era muito mais simples e bem menos desenvolvido.

"Espero que ainda morem no mesmo lugar..."

A medida que o garoto de cabelos brancos caminhava para a saída da estação de Tonika ele visualizava o grande contraste. Não havia grandes prédios, havia sim um aparente centro e certas lojas. Mas era possível visualizar que a maioria das residências ficava mais afastada e a vila era bem mais "rural" do que a grande vila de Konoha.

-- As coisas não mudaram tanto...

Alguns olhares curiosos fitavam o garoto, talvez fosse visível que ele fosse um forasteiro caminhando pela vila. Talvez não vissem muitas pessoas com aquela aparência por ali, ou talvez já tivessem visto e isso as lembrasse de alguém? São coisas que Kaito talvez descobrisse com o tempo.

A vila tinha um ar bem mais tranquilo que a agitada Vila de Konoha e era composta em sua maioria por pessoas que trabalhavam no campo, mas também haviam mercadores e produtores de arroz. Tonika Mura parecia estar se desenvolvendo gradualmente, talvez atraindo pessoas de vários lugares devido à sua expansão graças à estação de trem do expresso shinobi.

Kaito caminhava do centro em direção às áreas mais residenciais porque se recordava que seu avô não era muito sociável, quer dizer, ele não gostava de tanta gente junto e fugia dos grandes centros. Isso fazia com que ele procurasse sempre ter morado mais afastado, praticamente na floresta mesmo e vivia da subsistência.

O jovem Hatake estava quase chegando no local onde se recordava ser a casa de seus avós. Pra isso agora ele teria que sair da estrada e ir para uma parte mais afastada em direção à floresta, distanciando-se do centro da vila. Enquanto caminhava, Kaito ouviu sons de batidas. Parecia ser o som de uma espécie de machado batendo em uma árvore. Ao se aproximar tomando cuidado para não ser notado, o jovem viu seu avô dando golpes de machado no tronco de uma árvore com intuito de derrubá-la.

O homem, apesar de idoso, parecia ter habilidade. Ele fez uma pausa, pareceu respirar fundo, e foi possível ver a lâmina do machado ser imbuída de chakra de forma sutil. De repente, um corte limpo foi dado e fez partir o restante do tronco de forma limpa e veloz. Aquilo surpreendeu Kaito que percebeu o que tinha acontecido. Era mesmo o seu avô e ele parecia ter imbuído chakra na lâmina do machado pra aumentar seu poder de corte.

Avô e neto se olharam por um momento e Kaito se aproximou lentamente de seu avô. Ao olhar seu neto, ele viu cada vez mais o pai de Kaito no garoto, ao mesmo tempo que notava também feições de sua falecida filha, mãe de Kaito, misturadas e formando o rosto do menino. Venha, me ajude com essas lenhas vamos levar pra casa e sua vó vai fazer um belo ensopado.

Os dois começaram a juntar a lenha aos poucos e colocar no carrinho que estava ali próximo. Ambos não conversavam, apenas catavam os troncos de lenha e enchiam o carro. Kaito contemplava a paisagem, a bela floresta com muitos animais ao redor e muitas cores de folhas e flores. O jovem conhecia um pouco a região e começava a se lembrar do modo de vida nada fácil de seu avô Ogawa.

-- Se tornou um shinobi afinal não é?
-- Sim vô
-- E o que faz aqui, não deveria estar em missão?
-- Consegui alguns dias de folga pra visitar vocês.

Os dois caminharam em silêncio por mais algum tempo até que já era possível ver a humilde casa de madeira em que os avós de Kaito residiam, era uma construção singela mas que causava uma nostalgia aconchegante em Kaito. Ao se aproximarem, a avó do garoto apareceu na porta já acenando aos dois. O casal era um contraste, já que a avó de Kaito era muito mais doce e carinhosa do que seu fechado marido e recebeu o garoto com um forte abraço, já puxando-o para dentro.

Era nítida a felicidade da avó do jovem Kaito com a presença do garoto ali e mesmo seu avô Ogawa com seu jeito durão e fechado, também apreciava a presença do genin de konoha ali. Enquanto comiam Kaito respondia as perguntas que sua avó fazia e a acalmava sobre as preocupações que ela tinha à respeito da vida de um shinobi.

-- É por isso que eu não gosto de me misturar, não importa a era sempre tem ninjas ou outros poderosos que acabam gerando conflitos.
-- Não é bem assim Ogawa.
-- Vô... você já foi um ninja, como meu pai? Pode me falar mais sobre meus pais?
-- ....

Um silêncio dominou o local e Ogawa, avô de Kaito, pareceu ficar pensativo. A avó de Kaito também ficou em silêncio por um momento e ambos se entreolharam sabendo que não poderiam fugir por muito tempo daquelas questões e que provavelmente um dos motivos do garoto ter vindo visitá-los era pra também obter algumas respostas.


"Se sou filho do meu pai?"

Ogawa se levantou da mesa cortando a conversa e deixou Kaito com aquela dúvida. Sua avó sorriu e mudou de assunto com objetivo de aliviar o clima pesado que havia se instaurado e não havia saída, o jovem teria que aguardar até o dia seguinte para obter mais respostas sobre sua vida. Ogawa deu a entender que no dia seguinte ele seria testado, talvez seus conhecimentos fossem colocados à prova e seria hora de ele aprender mais sobre as habilidades de seu velho avô.

Era hora da verdade e teste para o jovem Hatake perante seu avô. Kaito deveria tentar concentrar e fluir seu chakra a ponto de se igualar ao que viu seu avô fazendo.

O garoto começou unindo as mãos e se concentrando para iniciar o movimento do fluxo de chakra pelo corpo, focalizando-o por fim nas suas mãos. Essa parte foi feita com sucesso, mas ao desfazer suas mãos o chakra concentrado ali se desfez e escapou. Ogawa balançou a cabeça negativamente em desaprovação, demonstrando ser altamente exigente sem cerimônia.

- De novo… de novo!

Kaito repetia o processo e sempre que falhava ouviu a voz de seu avô comandar que ele fizesse de novo e de novo o processo. A medida em que falhava, o garoto evoluía. Sua evolução gradual se dava graças ao fato de ele conhecer os fundamentos da fluidez de chakra e a um talento natural em aprendizagem. O jovem genin começou a progredir e conseguir, pouco a pouco, manter o fluxo de chakra em suas mãos por mais tempo antes que o mesmo escapasse.

- Veja, só vou mostrar uma vez.

Ogawa concentrou seu chakra na mão, fazendo-a ser encoberta pela energia com uma coloração azul e depois isso se desfez ficando incolor, ao passo que, quando ele deu um “tapa” no ar em direção ao peito de Kaito, foi possível sentir o vento atravessando seu corpo. Aquilo indicava controle de chakra e a manipulação da natureza elemental fuuton. O jovem Hatake compreendeu e o processo fez sentido em sua mente.

- Comece concentrando chakra e depois flua a natureza elemental a qual você tem afinidade junto.
- Entendi…

Kaito começou a repetir os passos do que viu seu avô fazer. “Primeiro fluir o chakra para aos mãos, concentrar, moldá-lo para que não escape. Aplicar a natureza elemental…”

O chakra fluiu para suas mãos unidas e a medida que ele afastou suas mãos sentia o chakra branco envolvê-las, por tempo suficiente para que ele não se perdesse. O chakra branco deu lugar a pequenas faíscas que eram resultado do elemento Raiton, as faíscas vinham e desapareciam até uma pequena explosão elétrica acontecer demonstrando que o chakra havia escapado.

- De novo!

”Você não consegue não é? É sempre assim. Agora seu avô vai saber que você é um fracasso, é melhor desistir disso…”
“Cala a boca!”.

- Concentre-se rapaz!

Os pensamentos intrusivos começavam a ecoar na cabeça de Kaito, aquela voz negativa que era um traço melancólico pessimista o atacava de tempos em tempos. O suor escorria da mente de Kaito enquanto seu avô gritava com ele à cada falha, dizendo que ele tinha que agir sobre pressão, tinha que se concentrar sobre pressão, que tinha que insistir até conseguir mesmo que tudo estivesse desabando.

Isso continuou por várias horas, e o suor escorria da testa de Kaito. Ogawa via que progressivamente seu neto melhorava e estava avançando. Mas esse avanço era bem mais rápido que a média normal, ele mesmo havia demorado um tempo razoável pra dominar aquilo que seu neto parecia já estar bem próximo em apenas um dia.

- Hora de voltar e almoçar. Durante todo o caminho pra casa faça o exercício de concentração, controle e fluidez do chakra nas mãos e pés enquanto voltamos.

A rigidez do método de Ogawa era algo que Kaito nunca havia experimentado, o velho era mesmo durão e muito exigente. Assim os dois tomaram o caminho de volta para casa enquanto pelo caminho o jovem Hatake continuava seu treinamento.

Era o dia da partida de Kaito, dia da despedida. Kaito viveu ótimos momentos com seus avós, ali naquela humilde casa em Tonika Mura. A personalidade radiante de sua avó era um contraste a seriedade de seu avô, mas ambos formavam uma união até cômica.

Kaito aprendeu grandes lições além de saber um pouco mais sobre sua família. Ali em Tonika Mura com seu avô, ele aprendeu muito mais sobre controle de chakra do que jamais havia aprendido antes. Melhorando muito seu controle, fluidez e manipulação do chakra. Ele havia aprendido a canalizar o chakra de modo mais objetivo, sem desperdiçar como fazia anteriormente. Seu avô o havia lhe ensinado a valorizar o chakra, a energia natural que um bom shinobi deve utilizar com maestria e sabedoria.

O garoto se despediu de seus avós, recebeu um abraço caloroso de sua avó que lhe deu bastante comida pra levar, e um aceno silencioso de seu avô Ogawa que mesmo em silêncio naquele momento expressava estar desejando tudo de bom ao neto.

- Voltarei em breve, fiquem bem e obrigado por tudo!

Kaito tomou o caminho de volta em direção à estação de Tonika-Mura para pegar o trem expresso rumo à Konoha. Ele voltava pra casa trazendo uma bagagem especial; A confraternização com seus avós, o aprendizado e evolução sobre o controle de chakra e um pouco mais de conhecimento sobre uma parte do passado de sua família.