Aquele dia havia amanhecido como qualquer outro. A névoa encobria boa parte da vila, quase deserta àquele momento, onde os raios do sol ainda não conseguiam força para adentrar a mesma, devido a sua espessura invernal. Caminhando a passos largos, nas ruas ainda desertas e sem vida, Jyu procurava se lembrar das palavras que havia decorado durante a semana inteira anterior.  

Mais uma carta de convocação fora deixada por sob sua porta de entrada. A leu várias e várias vezes, quase como se fosse um pequeno mantra, pra se lembrar das coordenadas dadas por seu mentor, Dwun. Apesar de estranho, sentia uma verdadeira felicidade emanando do rapaz, e apesar de seus problemas com a limpeza de sua casa, ainda assim era um mentor único, que conseguiu transmitir conhecimentos que Jyu nunca se imaginou compreendendo.

As duas últimas semanas foram de um treinamento intenso. Havia prometido para Dwun que dominaria a habilidade que havia sido ensinada para ele recentemente. Apenas de lembrar das últimas semanas de treino, abriu um leve sorriso, relembrando tudo o que passou com o rapaz. Primeiro, a habilidade de usar o seu chakra sensorial sem o uso de selamento. Depois, mais recentemente, a capacidade de analisar a assinatura de chakra daqueles a sua volta.  

“O que será que ele vai me passar dessa vez?” - se perguntou, enquanto vislumbrava um novo casebre, que normalmente lhe passaria batido. Sua construção de madeira era limpa, ao contrário da casa usual de Dwun, onde aprendeu a sua primeira lição. Todavia, diferentemente de sua primeira casa, era limpa e aparentemente agradável.  

Abriu a porta de madeira, que fez um leve rangido conforme se abria, parecendo um grito de desespero. Estranhou o fato de o teto ser mais baixo, praticamente do tamanho da porta, que se provou ser ainda menor que Jyu. Arqueando as sobrancelhas, deu um passo para dentro, sentindo algo empurrando as suas costas, o fazendo quase bater a cabeça no batente superior da porta.

Entrou aos trancos e barrancos, quase caindo, enquanto a porta se fechava com um estranho “clic”. Sua primeira reação foi perceber que se encontrava no mais puro breu. Piscou os olhos algumas vezes, tentando fazer com que seus olhos se acostumassem com a escuridão do local, conseguindo discernir os contornos das paredes pouco a pouco.

Não era um ambiente muito grande, devia ter pouco mais de dois metros quadrados. Não havia janelas ou móveis no lugar, apenas uma voz em sua cabeça, que lhe fez ficar levemente irritado, por se tratar da voz de seu próprio mentor.

“E aí, Jyuzinho? Tudo em cima?” - apesar de não vê-lo pessoalmente, tinha certeza de que ele estava com um sorriso na cara. A animação daquele cara parecia nunca ter fim. “Seguinte, esse é um teste divertido que inventei só pra você... Se chama: O Mistério da Casa Pequena Que só Abre por Dentro Depois de Descobrir Quem Está Usando o Chaka Sensor”, ou, como chamo carinhosamente, de OMCPQSAPDDDQEUCS.” - por fim, a risada espontânea de Dwun se fez ouvir, como se ele realmente se divertisse com aquela ideia que ele tivera, fazendo Jyu ficar irritado. Que tipo de treinamento desvairado era aquele? E por que sempre acabava sobrando para ele esse tipo de coisa?  

“Para você entender melhor, vou te explicar como funciona esse jogo” - começou, deixando o espadachim atento as palavras de seu mentor. “Dentro dessa casa existem seis esferas, cada uma delas contendo um chakra diferente. De tempos em tempos elas vão emitir um sinal de chakra, diferentes entre si, com uma assinatura diferente de cada uma. Para sair, você só tem que descobrir qual delas está emitindo o chakra de sensoriamento. Fácil, não?” - e mais uma crise de risadas prosseguiu, como se ele achando graça da dificuldade que estava por criar para seu aluno.  

“Você tem duas horas para sair daí, caso contrário...” - sua voz parecia ecoar na cabeça de Jyu, agora séria, deixando no ar que a consequência de sua falhar não seria algo tão simples assim, o que o fez coçar levemente a cabeça, enquanto percebia que a voz de seu mentor não mais se encontrava ali, o que provavelmente indicava que o pequeno jogo de Dwun havia se iniciado.  

“Primeiro passo, procurar as benditas esferas...” - dizia, com uma certa irritabilidade. Detestava aquele tipo de jogo de escapada, mais do que qualquer coisa. Ativando a sua habilidade sensorial, fez com que seu chakra atingisse cada pequena brecha daquele cômodo, tentando analisar onde cada pequena esfera se encontrava.

Perdido em sua própria concentração, mal percebeu os primeiros quinze minutos passaram voando, sem nenhum tipo de sinal daquilo que estava procurando. Aos poucos, conseguiu sentir em um rápido vislumbre cinco pedras em cinco posições diferentes emitir chakra de uma forma rápida, quase como se fosse uma luz que acendesse a apagasse rapidamente, lhe dando ideia da posição inicial das pedras.  

Continuou concentrado, até perceber uma leve oscilação na direção da porta. Era algo ainda incerto, mas era levemente diferente das outras. Tentou se concentrar apenas naquela oscilação, caminhando de forma lenta em sua direção, esticando a mão quando se encontrava a cerca de trinta centímetros da parede oposta a parede.  

No instante em que tocou a origem da estranha oscilação de chakra, a mesma parou de ser emitida. Seus dedos se fecharam na pequena esfera, sentindo que a mesma quase não possuía peso, assim como uma estranha friagem transmitida pelo estranho material que a compunha. Parecia rígida como o ferro ao toque, mas seu peso era totalmente estranho para o espadachim.  

Olhou em volta, torcendo para que a porta se abrisse naquele momento, mas a única coisa que conseguiu sentir foi uma outra oscilação, desta vez vindo de sua direita. Arqueando as sobrancelhas, deixou-se seguir na sua direção, desta vez sem tempo para hesitação. Pegou a esfera enquanto a oscilação ainda ocorria, mas não houve qualquer alteração no ambiente. Qual seria a pegadinha ali?

“Talvez, apenas talvez...” - pensava, olhando para as duas esferas que estavam em sua mão. Sim, tinha certeza, Aquela oscilação não tinha nada a ver com o chakra sensorial. Era com certeza uma armadilha para que pensasse daquela forma. O que ele tinha que encontrar?

Suspirou, sentando-se no chão, ainda olhando para as duas esferas, enquanto sentia duas outras esferas emitirem o mesmo tipo de oscilação que as duas que tinham em mãos. Irritado, colocou-as no bolso.  

“Vamos do começo...” - pensava, enquanto remexia o chão com o seu dedo indicador direito, quase como se ele estivesse desenhando algo, apesar de não ter qualquer forma visível. “O chakra sensorial é um chakra sensível, indistinguível para pessoas normais... Permite que sentimos as mudanças do ambiente, as oscilações de chakra, analisar a sua frequência e identificar a pessoa por esse chakra. Mas como faço isso?” - se perguntou, cancelando a sua habilidade sensorial, reativando-a logo em seguida, mas desta vez prestando atenção naquilo que estava a fazer.

Sentiu o seu chakra se expandir, tocando cada extensão daquele pequeno casebre. O fez de modo natural, quase sem nem pensar, mas percebeu, talvez pela primeira vez, o quão mais fino o seu chakra se tornava para tal atitude.  

"É isso...!” - se empolgava, finalmente entendendo o porquê o chakra sensorial era algo que normalmente não se percebia. Ele se expandia se adaptando ao ambiente, mas de uma forma muito mais fina do que um chakra nagashi. A oscilação de chakra provavelmente era proveniente de alguma utilização diferente de chakra, ao qual ele não compreendia ainda.

Com isso em sua mente, fechou seus olhos e se concentrou ainda mais no ambiente, perdendo-se no tempo. Havia apenas ele e a escuridão. Mesmo sem saber o tempo exato, a cada pequena brecha de minutos, as esferas emitiam o chakra, mas nenhuma do jeito que o Nidaime imaginava ser o Chakra Sensorial.  

Conforme o tempo se passava, sua concentração se aguçava cada vez mais. A cada esfera que emitia chakra, sua concentração se tornava cada vez mais afiada, até que o tempo não mais importava para ele. Parecia que as esferas se acendiam, uma seguida da outra, mesmo que não fosse assim o real.  

Aos poucos, começava a sentir uma frequência diferente daquelas vindas das esferas. Era mais suave, quase não havia oscilação em sua utilização, quase passando despercebido por ele. Se levantando, retirou a poeira que ficou em suas roupas, enquanto andava com cuidado para não perder aquele achado.  

Se aproximou do sinal, percebendo vir diretamente da porta. Com a mão, confiando no seu tato e na sensibilidade de seu próprio chakra sensorial para encontrar aquilo que tanto procurava. Sentiu a aspereza da madeira, assim como as imperfeições da porta, os pequenos pedaços de madeira solto ou até mesmo faltando. Mas foi só quando suas mãos passaram pelas dobradiças, que sentiu uma pequena esfera, no topo de uma das dobradiças.  

Retirou-a com suavidade, enquanto ouvia um clique, fazendo a porta cair para o lado de fora quase no mesmo instante. A luz entrou, cegando o seu único olho aberto, enquanto a risada de Dwum podia ser ouvida perfeitamente em seus ouvidos. Após alguns minutos, com seu olho já se adaptando com a luminosidade, viu seu mentor olhando-o com uma expressão de orgulho em sua face.

- Menino do céu, foi rápido nessa, hein? - disse, olhando para o seu relógio de pulso, mostrando para Jyu que havia se passado apenas uma hora e meia desde que havia entrado naquele pequeno quarto, tendo como resposta apenas um balançar de ombros de seu pupilo.

- Ah, não importa! - dizia, tirando o seu relógio do pulso, jogando-o para dentro do casebre, como se realmente não se importasse com aquilo. - Passou no teste, garoto. Agora, só precisa refinar mais a sua habilidade... Treina mais uma semana, que logo logo te mando outra convocação, ok? - falou, dando um tapinha no ombro de Jyu, saindo logo em seguida, rindo.

“Esse cara realmente não bate bem, não?” - perguntava Isobu, tirando um leve sorriso de seu portador.

“E ainda assim, esse desgraçado é realmente um gênio...” - respondia, segurando a esfera em suas mãos, começando a caminhar em direção a sua casa, afinal, teria um belo trabalho pela frente...

Considerações: