Uma semana havia se passado desde que Jyu havia conhecido, finalmente, Dwun e seu estranho comportamento. Após um treinamento um tanto quanto estranho, em um lugar tão estranho quanto, Jyu treinou de maneira diligente, conseguindo, agora, usar toda a sua capacidade na habilidade sensorial sem, no entanto, utilizar nenhum selo de mão, o que lhe dava uma autonomia muito maior conforme progrediria ainda mais.

Havia, agora, sido convocado mais uma vez para aula com Dwun, desta vez, para sua surpresa, em um ambiente um pouco diferente, pedindo para ser encontrado no portão Sul da vila. Assim como fora pedido na carta, estava se dirigindo para lá com roupas leves, sem utilizar sua armadura ou levando qualquer arma consigo.  

Seus cabelos, agora, estavam presos em um longo rabo de cavalo, o que impedia com que Kirika se misturasse por entre eles, o que a fez ficar deitada emburrada em cima de seus fios negros, quase como se estivesse “de mal” com Jyu por lhe tirar o lugar que ela mais gostava de ficar, o que fazia com que o espadachim risse internamente, para evitar que a mariposa ficasse irritada com ele e voasse longe.

Não demorou muito para que o espadachim encontrasse Dwun, conversando animadamente com a dupla de shinobis que guardavam aquele posto. Se aproximou lentamente, sem fazer qualquer barulho, pois não queria atrapalhar a conversa animada deles. Conforme foi se aproximando, as vozes aumentavam gradativamente, dando para ouvir perfeitamente o que falavam.  

-... e ele tropeçou, caindo com a comida na cara inteira! - ria Dwun, com gosto, fazendo com que os outros dois guardas rissem tão alto quanto ele. Fosse qual fosse o motivo da queda e do tropeço do pobre coitado sendo citado pelo ninja sensor, parecia ser uma cena extremamente engraçada para o trio.  

- E aquele dia que o Hyde foi até o beco, procurando por fantasmas e ele descobriu que os barulhos era... - começou um dos guardas, parando a fofoca por um momento, abrindo os dois olhos, assustado, ao ver a figura do Nidaime se aproximar lentamente. - J-j-jyu-samaa... - balbuciou, enquanto Jyu finalmente chegava perto deles, sobressaltando o outro guarda com a sua presença.

- Gatos. - disse, por fim, quando se aproximou do trio, antes de falar qualquer outra coisa, fazendo os guardas arquearem as sobrancelhas. - Hyde ficou um mês sendo zoado no departamento de investigação por causa disso... - disse, dando de ombros, fazendo com que Dwun gargalhasse extremamente alto, chamando atenção de alguns poucos moradores que trafegavam por ali.

-Quem diria que o Nidaime Mizukage gostava de fofocas... - e desatou a rir, sendo acompanhado pelos outros dois guardas, enquanto Jyu esboçava um leve sorriso. Era bom descontrair de vez em quando... Após quase um minuto de risadas, Dwun bateu nas costas do espadachim, apontando para fora. - Vamos lá, Sr. Fofoca... - o apelido gerou pequenos risinhos entre os guardas do portão - ...vamos voltar para o seu treinamento, que tal?

Assentindo, Jyu o acompanhou, se despedindo dos guardas com um pequeno aceno de cabeça, que foi prontamente recebido com outro aceno de cabeça por parte deles. Em silêncio, caminharam por alguns minutos na estrada principal, entrando rapidamente em uma estrada secundária, margeada por uma pequena floresta.  

Caminharam por esse caminho por alguns minutos que pareceram horas, até encontrarem uma pequena trilha, que adentrava nas profundezas daquela floresta. Anotando mentalmente aquele caminho, Jyu apenas seguiu, sem muito o que fazer. Após mais um tempo de caminhada, chegaram finalmente em uma clareira, com pouco mais de cinco metros de diâmetro. Com um sinal, Dwun pediu para que se sentasse no meio da clareira, o que foi prontamente realizado pelo Nidaime.

- Como está o seu desenvolvimento no uso da habilidade sensorial sem selo? - perguntou, de imediato, fazendo Jyu dar de ombros.  

- Consigo fazer agora de forma quase natural.   - respondeu, baixo, mas alto o suficiente para que Dwun ouvisse. - Essa habilidade realmente veio bem a calhar... - comentou, em um complemento a sua fala anterior. Se instrutor, porém, não falou nada sobre o seu avanço, como de estivesse estudando o que fariam em seguida.  

- Ok... - disse, após alguns segundos em completo silêncio. - Além de sentir o chakra com o chakra sensorial, o que mais você consegue fazer? - perguntou, olhando diretamente para o único olho aberto de Jyu. Aparentemente, ele esperava algo a mais do rapaz a sua frente.

- Com exceção da distância em que consigo sentir o chakra, não há nada mais de especial... - dizia, fazendo com que Dwun revirasse os olhos, como se não fosse aquilo que quisesse ouvir. Estudou o ex-Mizukage por alguns instantes antes de responder o que, pela sua expressão, parecia ser uma verdadeira afronta.

- Então vamos ter que cuidar de toda a sua base, garoto... - Kirika riu baixinho ao ouvir Dwun direcionar ao seu dono como garoto. - Quando você expande o seu chakra sensorial, como sente os chakras?

- Se fosse para achar alguma coisa, acho que posso dizer que sinto como um tipo de esfera disforme, nada além disso... - dizia, arqueando uma sobrancelha. Chakra era chakra, afinal... Ou não?

-Bom, ao menos você entende de forma quase apropriada o modo de sentir... - dizia, sentando-se a cerca de um metro do garoto. - Vou te ensinar desde o começo, então vê se presta atenção, por que não vou repetir nada do que eu vou falar aqui...

Jyu endireitou as costas, pronto para ouvir o que Dwun diria. Seria a primeira vez que ele iria, de fato, ensinar alguma coisa, sem ser cobrar, como da primeira vez que se conheceram.  

- Como você sabe, o chakra está presente em cada criatura viva, circulando em seus corpos, cada qual com uma quantidade, mas o que não dizem na Academia Shinobi, é que esse chakra que circula em seus corpos não é algo idêntico... - começava, fazendo Jyu arquear levemente uma sobrancelha. Sabia que tinha diferenças entre os chakras de pessoas, mas acreditava, até então, que a única diferença era a reserva de chakra individual, que dependia do treino e da capacidade de cada um para aumentar e fortalecer a sua base.

- Cada indivíduo possui uma chakra único, com propriedades diferentes, que permeiam desde a cor do mesmo, como o azul e o roxo, até a quantidade significativa do ser. - dizia, agora parecendo a ficar chateado por ter que explicar algo que, para ele, era tão básico. - Mas, o que poucos sabem e menos ainda se aprofundam no tema é que cada ser possui o que chamamos de Frequência Única, que é mais popularmente chamada de Assinatura de Chakra.

- Assinatura de Chakra? - perguntou, repetindo o nome indicado instantes antes.

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-- Sim, Assinatura de Chakra... -  respondeu Dwun, pegando um pedaço de graveto e fazendo pequenas ondas de tamanhos e proporções idênticas. - Para entender melhor, é como se cada pequena parcela de chakra ressoasse a uma frequência, como essa que acabo de desenhar – apontou para o desenho, como se fosse uma obra prima. - Imagine que essa é a onda de seu vizinho, da pessoa que você encontra todos os dias. Se você usar o sensoriamento no seu vizinho em um dia e usar no outro dia, o que acha que vai ocorrer?

- Elas vão ser idênticas? - respondeu à pergunta com outra pergunta, pois ainda tinha uma certa dúvida do que ele gostaria de ouvir.  

- Exatamente – diria, com um sorriso no rosto. - E isso ocorre porque...?

- Não existe alteração na onda e sim no fluxo ou na intensidade dele?

Dwun abriu um enorme sorriso, já dando a resposta para Jyu sem a necessidade de falar qualquer coisa. Em seguida, fez outro desenho, desta vez, parecendo vários triângulos conectados. Logo após, fez outro desenho, dessa mais parecendo uma espécie de corrente. E, por fim, terminou criando um desenho de redemoinho, fazendo o Nidaime arquear levemente as sobrancelhas.  

- Esses são apenas alguns tipos de exemplos – explicou, antes que seu aluno perguntasse alguma coisa. - Cada uma delas pode ser um tipo de frequência de chakra diferente. Cada tipo de pessoa, cada tipo de ser vivo, possui uma frequência diferente para ser analisada e verificada. Essa frequência pode variar de tamanho, velocidade, mas nunca mudará a forma com que ela é definida no instante em que o ser humano nasce.  

- E existe alguma possibilidade dessa frequência ser modificada em algum ponto durante a vida de uma pessoa? - perguntou Jyu, atento à explicação de seu mentor. Quanto mais se aprofundava no assunto, mais percebia o quanto não conhecia sobre os mistérios que acercava as habilidades sensoriais. Sentia que havia voltado para a época em que era um mero gennin, sem qualquer habilidade, tendo que dar um passo por vez em uma estrada desconhecida, como quando fez sua primeira missão ou quando matou alguém pela primeira vez...

- Existe, sim, algumas teorias sobre isso, mas nenhuma foi efetivamente provada. Talvez, e apenas talvez, pessoas como Moira e sua genialidade para a ciência possa efetivamente fazer algo do tipo. - dizia, dando um leve sorriso. - Isso, pelo menos, de forma permanente. De formas temporárias existem muitas formas de serem feitas, mas tudo o que se faz desse jeito, pode ser descoberto mais tarde, por melhor que seja o shinobi...  

Terminando a sua explicação, apagou todos os desenhos que havia feito, já que eram apenas um pequeno exemplo para seu aluno. Em seguida, fez um desenho um tanto quanto caótico. Formas geométricas se conectavam umas às outras, de uma forma tão complexa que, ao terminar, parecia uma verdadeira obra de arte. Batucando o graveto duas vezes do lado do desenho, abriu um enorme sorriso.

- Essa é uma das assinaturas de chakra mais complexas que eu já vi, mas ao mesmo tempo, uma das mais belas... - dizia, fazendo um pequeno buraco no chão ao lado do desenho, parecendo perdido em memórias. - Pode parecer pela complexidade de seu desenho se tratar de um shinobi altamente treinado, forte e afins, mas era a assinatura de chakra de um bebê recém-nascido, que mal tinha consciência sobre fome ou sede ou até mesmo das batalhas endoidecidas que os adultos faziam entre si... - parou por mais alguns instantes, antes de apagar rapidamente o desenho, como se ele lhe trouxesse más memórias. - A complexidade, a cor ou a densidade da frequência da assinatura de chakra não indica, de forma nenhuma, o  quanto uma pessoa é ou virá a ser poderosa... Apenas servem para identificar e diferenciar os seres uns dos outros, algo que, com o tempo, acaba se tornando extremamente comum conforme se aprofunda em seus estudos...

- E como podemos identificar a assinatura de chakra de cada ser? - perguntou o espadachim, sério. Parecia que havia entrado em um tema um tanto quanto complexo, que lhe trazia uma curiosidade um pouco maior do que o normal, afinal, era todo um novo mundo de descobertas.

- Na teoria, é a coisa mais simples possível... - dizia, com seu sorriso a desaparecer pouco a pouco, como se estivesse pensando em uma forma de explicar aquilo de uma forma simples, quase como se estivesse explicando a um bobo ou a uma pequena criança que mal estava dando seus primeiros passos em um novo mundo de descobertas. - Com as suas habilidades atuais, você já possui a capacidade de captar o chakra desses seres, só precisa, aos poucos, aprofundar a sua concentração um pouco mais... Quase como se estivesse procurando o centro de uma esfera, ou como se estivesse lendo um livro...  

Jyu arqueou as sobrancelhas, quase sem acreditar no que ele estava lhe dizendo. O que diabos ele queria que fosse lido em um chakra? Ou, melhor perguntando, como diabos se lia um chakra? Quase como se percebendo as dúvidas que pairavam sob o olhar de seu pupilo, Dwun tratou logo de mudar a sua resposta.

- Talvez fique mais fácil você pensar no chakra como uma pequena piscina... - dizia, fazendo um desenho de um quadrado. - A piscina, de uma forma totalmente metafórica, é como se fosse o chakra que você consegue sentir, o indivíduo que sua habilidade consegue detectar. Para facilitar, tente se lembrar da sensação de pular em uma piscina... Tente pensar em como a água se move sob seu corpo, como o fato de seu corpo quebrar a resistência de sua superfície, como ela se agita, e então... - deu uma pausa, olhando para o Nidaime Mizukage para ver se estava prestando atenção. - ... deixe o seu corpo parado, sinta como a água começa a ficar parada, cercando o seu corpo como um manto, como uma extensão de seu corpo...

Jyu assentiu, formulando em sua mente a cena que foi descrita. Compreendia a metáfora, mas ainda não conseguia compreender como isso poderia o ajudar, já que, após ficar completamente parado, a água, com o tempo, voltaria a ficar plenamente estagnada...  

- Agora que entendeu o geral, pense em você fazendo a mesma coisa em um pequeno rio, que flui de forma agradável... Qual a diferença que sente? O que ambas tem em comum?

- Ambas agem em meu corpo como um manto e extensão do meu corpo, mas o pequeno rio passa pelo meu corpo, provocando uma leve ondulação sobre minha pele... - disse, ainda tentando entender onde aquilo chegaria.  

- Exatamente! - disse, com um enorme sorriso. - Basicamente, o modo de compreender o chakra é exatamente como o rio... Você na verdade é a sua habilidade sensorial e o pequeno rio é a massa de chakra que você encontrou. - se levantou, jogando o pequeno graveto de lado, quase como se estivesse entediado de brincar com um pequeno brinquedo. - Então, vamos?

- Para onde? - indagou Jyu, frente ao estranho pedido que tinha ouvido. Demoraram tanto para chegar ali e já iriam embora?

- Para o lugar de seu treinamento, garoto... Ou achou que a aula de hoje seria apenas uma conversação boba? - respondia, dando uma enorme gargalhada...

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Suspirando, o Espadachim se levantou, tirando a poeira e a terra que tinha se acumulado em suas nádegas e pernas enquanto ouvia as explicações de seu mentor. Deixou-se olhar para o chão, tentando fazer um leve resumo em sua mente de tudo o que havia aprendido naquele lugar, assim como os desenhos feitos a partir do graveto, agora perdido em algum lugar ali na clareira.  
 
Com um aceno de cabeça, voltou a seguir Dwun, que agora assoviava conforme andava, parecendo estar mais alegre que o normal. Enquanto o mesmo guiava o caminho, Jyu não pode deixar de se perguntar como um shinobi tão peculiar quanto aquele podia fazer um trabalho tão profundo e não ter o reconhecimento que merecia. Ao menos ele se preocupava com aquele tipo de situação? Ou ele apenas preferia viver a sua vida com tanta liberdade quanto já tinha? 
 
Deixando as perguntas que iam e vinham em sua mente, adentraram mais na pequena floresta, que parecia ficar cada vez com menos espaço entre as suas árvores. Dessa forma, se aproximou um pouco mais de seu mentor, com medo de o perder no meio da floresta. Tinha certeza de que ele era alguém que poderia o enganar naquele lugar, caso realmente quisesse.  
 
- Fique tranquilo, estamos quase chegando... - falou Dwun, quase como se estivesse lendo a mente de seu pupilo, voltando a ficar em silêncio por alguns segundos que pareceram uma verdadeira eternidade, antes de voltar a falar. - Estamos indo para um lugar em que possui uma espécie de larva que é o tipo ideal para o treinamento que iremos fazer. Por ser um animal mais simples que um ser humano, sua frequência é mais simples de ser lida, além disso, a quantidade que tem aqui nessa floresta é o suficiente para que possa aprofundar cada vez mais a sua técnica...  
 
Jyu apenas assentiu, anotando mentalmente aquela informação. Aparentemente, quanto mais simples o ser que iria analisar, mais fácil de sentir o seu chakra. Só não sabia se isso era por conta de sua espécie ser menos complexa que um ser humano ou por humanos, em especial os shinobis, terem alguns segredos que poderiam disfarçar este tipo de verificação. Preferiu, no entanto, em não perguntar sobre aquilo, afinal, já tinha informação mais do que o suficiente para absorver enquanto não fosse colocado para a prática daquele treinamento cada vez mais maluco... 
 
Caminharam por algum tempo, o suficiente para fazer com que Jyu perdesse a noção do tempo. Não havia sequer ideia de onde estava, já que quase nunca foi para aquela direção, nem mesmo na época em que atuava de forma atuante para a vila. Quando achou que não mais veria a luz do dia, Dwun parou por um momento, como se estivesse se sentindo perdido, fazendo Jyu abrir um sorriso. De fato, Dwun era um cara verdadeiramente único. 
 
Quando menos esperava, seu mentor socou uma árvore, fazendo um buraco grande o suficiente para que seu braço inteiro passasse por ele, entrando no núcleo de uma das árvores, que parecia ter sido escolhido a esmo, surpreendendo o Nidaime pelo mesmo não ter sido transpassado pelo ataque do rapaz.  
 
Do cerne da pobre árvore, uma larva de cerca de vinte centímetros se retorcia nas mãos de Dwun, que a segurava de forma firme, não a deixando escapar. Com um movimento de sua outra mão, e paralisou com o que lhe parecia um pequeno e rápido choque elétrico, fazendo com que os seus movimentos parassem por completo, mas, graças a pequenos espasmos musculares, era possível dizer que ela estava viva.  
 
Colocando-a no chão com calma, apontou para que Jyu se sentasse, sendo prontamente obedecido pelo pupilo. Vendo satisfeito que tudo estava em seu lugar, se sentou defronte ao espadachim, observando-o por alguns segundos. 
 
- A primeira coisa que eu quero que faça - começou, apontando para a pequena larva, que ainda dava leves espasmos musculares a cada alguns segundos. - É fazer o básico. Ative a sua habilidade sensorial, sinta o chakra dessa larva. Aos poucos, eu vou te guiando sobre como você deve orientar o seu próprio chakra para sentir a assinatura dessa pequena larva. - parou por alguns segundos, olhando para Jyu para ter certeza de que ele havia compreendido o que era para fazer. - Não se preocupe se você não conseguir de primeira, temos tempo o bastante para que você possa absorver essa habilidade e atingir o seu ápice. Só o que peço é que não haja como um cego, entendeu? - perguntou, sendo prontamente respondido com um aceno de cabeça do espadachim. Não havia qualquer sinal de dúvida ou de hesitação pela parte de Jyu. 
 
Sem fazer qualquer selo, o shinobi ativou a sua habilidade sensorial, se concentrando, diferentemente do usual, apenas em um curto espaço, pegando, talvez, pouco mais de vinte metros quadrados a sua volta. Sentiu o chakra de Dwun, assim como a da larva que estava a sua frente e as outras vinte ou trinta outras larvas que haviam em árvores próximas. Seria esse o motivo pelo qual Dwun havia o dirigido até ali?  
 
- Pare de pensar em besteiras... - disse o mentor, novamente quase que lendo os pensamentos do shinobi. - Quero que concentre somente na larva a sua frente. Me descreva o que você está sentindo quando foca especificamente nela... 
 
- O seu chakra parece ser meio escorregadio... - dizia, pensando se realmente aquela era a sensação que deveria estar sentindo. - Apesar disso, ele parece levemente quente, mas a quantidade é extremamente pequena, se comparada com a minha ou até mesmo com a sua...  
 
- Certo, garoto. - começou, dando um pequeno espaço de tempo. - Lembra-se do exemplo que eu te expliquei antes de virmos aqui? A da piscina e do rio? - perguntou, recebendo um aceno positivo de cabeça por parte de Jyu. - Quero que diminua o exemplo. Como a quantidade de chakra dessa larva não é tão grande quanto a de um humano normal, quiçá a de um shinobi, imagine ela como uma pequena poça... Pode fazer isso? 

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Jyu assentiu mais uma vez, fechando os seus olhos para que ficasse mais fácil a sua visualização. Ao invés de uma pequena larva que se remexia, começou a imaginar que aquele animal era uma pequena poça de água gosmenta. Sua cor era de um transparente tão límpido quanto gelo, mas sua textura era tão nojenta quanto a uma gelatina podre, causando arrepio por todo o seu corpo. 
 
- Não sei o que está imaginando, mas foque nesse pensamento... Faça o seu chakra circundar completamente essa poça de chakra... - pediu, fazendo com que o Nidaime se arrepiasse por completo, mas ainda assim fazendo o que lhe foi solicitado. Aos poucos, o chakra sensorial envolvia por completo a pequena larva, fazendo com que, em sua imaginação, seu chakra abraçasse uma poça nojenta de meleca de nariz.  
 
- Agora, pense que o seu chakra é você mesmo... - disse, enquanto dava um leve sorriso. Por algum motivo que talvez ele nunca saberia, adorava dar aquele tipo de exemplo. Achava que a visualização ficaria muito mais fácil se tentasse, em conjunto de seu aluno, encontrarem formas mais “visíveis” de entender o exemplo e os passos que deveriam ser dados.  
 
- Ok... - respondia Jyu, sem saber onde, exatamente, ele queria chegar com aquele tipo de exemplo. Tentava imaginar o seu próprio chakra como inúmeras miniaturas de si mesmo, que se expandiam e se movimentavam conforme o seu desejo. Ao mesmo tempo que era um tanto quanto estranho, até que era divertido imaginar sua habilidade funcionando daquela maneira. 
 
- Esqueça, agora, da larva... - instruía, de forma calma e comedida. - Imagine que no lugar dela existe apenas uma pequena vasilha. Não me importa quais detalhes você a imagine, simples ou decorada, o que importa é essa vasilha estar cheia de uma água em movimento. Um movimento contínuo, dentro de seu próprio núcleo, sem transbordar, sem formar redemoinhos, apenas se movimentando, sem rumo definido... 
 
Assentindo, Jyu olhou para a larva, enquanto tentava imaginar aquele animal gosmento em formato de uma pequena cumbuca de madeira, simples, sem nenhum adorno. Seu formato redondo parecia propício para conter a água solicitada por Dwun, incolor e se movendo para frente e para trás, de um lado para o outro, sem, no entanto, se mover verdadeiramente para qualquer direção.  
 
- Agora, a parte mais divertida. Faça você mesmo entrar nessa pequena cumbuca de água, vá até o fundo. Deixe com que a água pare sozinha de se mover, como se estivesse aceitando o seu próprio corpo ali como parte do recipiente... 
 
Jyu engoliu em seco. Apesar de ter achado engraçado inicialmente, ainda não se sentia seguro o suficiente para fazer tal façanha, mas não iria desistir tão fácil por causa de um obstáculo tão pequeno. Foi graças ao seu desejo de querer ficar mais forte que foi direcionado a Dwun, que apesar dos seus métodos estranhos, era um dos melhores shinobis sensores da vila. Isso, pelo menos, de acordo com o setor de inteligência da vila. 
 
Com isso em mente, deixou o seu chakra envolver por completo a larva-cumbuca. Sentia o chakra circular internamente, sem qualquer parcimônia. Era um chakra frio e gosmento, mas bem menor do que havia imaginado inicialmente. Respirando fundo, fez com que os seus pequenos “eus” de chakra entrassem de uma única vez na pequena cumbuca-larva, fazendo com que desativasse imediatamente a sua habilidade sensorial.  
 
- Estranho, não é? - perguntou Dwun, com um sorriso no rosto, achando extremamente engraçada a cara de desgosto e nojo de Jyu, que surgiu logo após sua habilidade ser desativada. Jogando a larva de qualquer jeito no chão, se dirigiu ao lado de Jyu, sentando-se como se estivesse extremamente a vontade ao lado do rapaz.  
 
- Existe um pequeno segredo que quase nunca digo nas aulas, então sinta-se feliz por ter eu como professor... - dizia, debochado, enquanto jogava o seu tronco para bater no peito do ex-mizukage. - Todos os seres vivos possuem o mesmo tipo de chakra, garoto. A imagem que fazemos deles tem que ser o mesmo do que se fosse uma outra pessoa. Imaginar faz o sentido se aguçar, trazendo uma forma diferente de como se sente o chakra alheio. O motivo de ter escolhido essa larva nojenta é justamente isso. - fez um aceno de cabeça para a larva, que começava a deixar uma pequena gosma enquanto tentava se dirigir para a sua casca de árvore. - Muitas vezes vimos e pensamos nas coisas como elas são, mas no sensoriamento são apenas massas de chakra. Colorido, inquieto, silencioso, grande, pequeno, não importa... - dizia, se levantando, batendo a poeira do chão de terra e grama de sua calça. - Pense apenas nisso... Chakra é chakra... 
 
Parecia algo extremamente simples, mas que mudava muito a forma com que Jyu via determinadas coisas, mesmo fora do sensoriamento. Deu um meio sorriso, sem deixar de se sentir um verdadeiro idiota. Talvez, por isso, as coisas pareciam muito mais complicada em sua vida do que realmente eram.  
 
Com um suspiro, voltou ao foco anterior, certo de que havia compreendido a lição que havia sido feita. Recriou a pequena cena sua mente, agora com a Cumbuca em um movimento linear constante, mas lento. Deixou o seu chakra permear o seu entorno, antes de finalmente criar coragem para fazer seu chakra entrar de uma única vez no interior da cumbuca-larva. 
 
Agora, a sensação foi completamente diferente. Apesar de ainda se manter frio, sentia o chakra revoltoso a sua volta, quase como a reação da água de uma piscina ao sofrer o mergulho de um nadador. Focou a sua concentração para que seu chakra apenas ficasse parado, aguardando aquela revolta finalmente parar.  
 
Quando finalmente tudo parou, sentiu um leve toque em seus ombros. Sentiu o corpo de Dwun se baixando para ficar na altura de seu ouvido, enquanto ouvia o seu sussurro. 
 
- Muito bom, garoto. - dizia, tranquilamente, para não atrapalhar a concentração de seu aluno. - Agora que o chakra se acalmou, analise, calmamente, como esse chakra reage ao seu... É aí que finalmente vai encontrar a resposta para qual a assinatura de chakra do seu novo bichinho de estimação... - finalizava, de forma debochada. 
 
Jyu apenas assentiu, se concentrando. Estava na hora de finalizar mais um treinamento... 

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Jyu fechou os seus sentidos para tudo o que estava a sua volta, se concentrando apenas nas sensações que aquela pequena cumbuca-lesma-andante transmitia. Sentia o seu chakra ser banhado pelo chakra alheio, parecendo completamente imóvel, quase como se o nada o envolvesse, mesmo sabendo que a toda a sua volta havia uma quantidade considerável de chakra, considerando a essência do animal com o qual era o alvo de seu treino. 
 
Conforme o tempo passava, mais aflorava a sua concentração, até que, após o que se pareceu uma eternidade, uma pequena movimentação começou a se formar a volta de seu chakra. A sensação que tinha era a de uma pequena e leve espiral percorrendo todo o seu corpo, de início ao fim, por todos os lugares que conseguia “ver”.  
 
Com um suspiro, Jyu desativou a sua habilidade sensorial, abrindo os olhos. Se virou para o lado, pegando uma pequena pedra, fazendo o desenho de algumas espirais no chão de terra, se virando para Dwun, que o olhava sem nenhuma expressão em particular.  
 
- Essa é a assinatura de chakra daquele verme... - dizia, apontando para o desenho mal feito que havia feito, percebendo só então o quanto estava suado, provavelmente da combinação entre calor da pequena floresta e do seu esforço em atingir o resultado esperado. 
 
- Hmm... - respondia Dwun, olhando atentamente para o animal e depois para o desenho. - Você desenha mal pra caramba, garoto! - dizia, batendo na cabeça de Jyu, quase como se estivesse zangado com ele, mas gargalhando logo em seguida. - Mas pelo que dá pra entender desse rascunho ridículo que você desenhou aqui, pelo menos acertou! - e desatou a gargalhar, como se fosse a coisa mais engraçada que ele já tinha visto nos últimos 10 anos.  
 
- Hmpf... - resmungou para seu instrutor, passando a mão pela sua cabeça, no mesmo lugar em que ele havia batido instantes atrás, mesmo que não tivesse doído. Apesar disso, estava verdadeiramente feliz com o ocorrido, mesmo que parecesse ter demorado mais do que esperava para decifrar aquele enigma.  
 
- Ah, para de drama, você não é Shakespeare, pirralho... - reagia, rindo da própria piada. - O que acha que foi mais difícil para você entender do processo, garoto? - perguntou, de repente, logo após parar de rir. 
 
- Acho que fazer o chakra dele voltar ao normal... - disse, tentando explicar, mesmo sem saber exatamente como.  
 
- Fique tranquilo. Em geral, isso acaba ocorrendo pela pequena quantidade que o alvo possui. Principalmente para principiantes como você, que nunca se aprofundaram nesta arte shinobi... - dizia, com um sorriso. - Por que não tenta fazer isso comigo, para entender o que eu quis dizer? - não era exatamente uma pergunta. 
 
Jyu então, calado, realizou quase o mesmo processo anterior. Agora, ao invés de concentrar seus “mini eus” na lesma, se dirigiu para o seu mentor. Imediatamente, sentiu a diferença entre os dois chakras. A cumbuca que teve que imaginar era bem maior, tornando-se praticamente uma banheira em pé, tamanho a capacidade de seu alvo.  
 
Quando seus pequenos clones de chakra sensorial entraram na banheira, a sensação foi completamente diferente da experiência anterior. Assim que entrou na banheira-Dwun de chakra, sentiu uma sensação quente em seu entorno e extremamente agradável, em uma calmaria indescritível, como se o chakra o recepcionasse, o convidasse para entrar em contato.  
 
Aguardou alguns segundos, antes que ele finalmente percebesse a frequência de Dwun. Sentia como se inúmeras esferas girassem em seu próprio eixo, o fazendo sentir quase que em uma massagem relaxante em todo o seu corpo. Por fim, desabilitou sua habilidade sensorial, virando para o seu mentor dando uma risada. 
 
- Nunca esperei que sua assinatura de chakra fossem bolinhas... - e riu, sendo seguido rapidamente por Dwun por alguns segundos. Quando olhou para o shinobi sensor, viu-o balançando a cabeça negativamente, mas com um enorme sorriso no rosto.  
 
- Fez bem mais rápido do que eu esperava, pirralho... - dizia, dando uns tapas fortes em suas costas, em uma tentativa de parabenizá-lo, mas só conseguindo quase deslocar os ombros de Jyu. - Qual a principal diferença que sentiu até então? - perguntou, observando, agora, seriamente o seu aluno.  
 
- Ao que parece, além da quantidade de chakra, foi como se o seu chakra me recepcionasse para a descoberta. - disse, quase que de forma robótica, enquanto massageava o ombro dolorido pela euforia de seu mentor. 
 
- Em geral, quanto maior a quantidade de chakra, mais fácil de se detectar e de compreender a assinatura de chakra do indivíduo, diferente dos que possuem muito pouco chakra, como o caso da larva, que qualquer perturbação na mesma impede a sua capacidade sensorial de compreendê-la perfeitamente. - ensinava, se alongando logo depois, como se descansasse de um longo e árduo trabalho. - Está ficando tarde, provavelmente já deve passar da hora do almoço... - disse, olhando para o céu, sem conseguir muita coisa além da copa das árvores.  
 
Quase no mesmo instante, ambos começaram a refazer o caminho para a volta da Vila da Névoa em silêncio, voltando a se falarem somente quando já estavam na via principal em direção a Aldeia.  
 
- Essa é uma arte muito difícil, garoto. Continue treinando arduamente, pelo menos por duas semanas. Depois disso, volte me ver, vamos prosseguir com o seu treinamento, ainda  existem muitas coisas para se aprender...  
 
Jyu assentiu, em completo silêncio, enquanto pensava em quanto havia progredido até ali. Em questão de duas semanas, dominou completamente a capacidade de ativar a sua habilidade sensorial sem a utilização de selamentos, ficando livre para qualquer ato que fosse fazer posteriormente. Ao mesmo tempo, havia aprendido uma nova possibilidade de utilização do chakra sensorial, que poderia ser extremamente valiosa em casos de rastreamento de um alvo específico.  
 
Provavelmente, no mundo shinobi, poucos seriam aqueles que possuem a capacidade de enganar um ninja sensor com aquele tipo de habilidade. E, sabendo que ainda havia muito mais a aprender, não via a hora de estar pronto para o próximo passo. E foi pensando nisso que passou pelos portões da vila sem nem perceber, se dirigindo de forma quase automática para sua casa, a fim de não deixar o seu mentor decepcionado com o seu próximo treinamento, duas semanas depois... 

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