Eu estava sozinha em casa, mais uma vez, sem que Raika trocasse uma única palavra sequer. Qualquer menção de diálogo entre nós duas era, sem sombra de dúvidas, uma especulação da minha parte. Quando eu teria qualquer chance de esclarecer o que se passava naquela casa? E o que ela havia dito a Yagura, para que este fosse tão cruel comigo durante nossa missão? Eu não fazia ideia do que fazer. Entretanto, apenas martelar aquela informação em minha cabeça, não me traria qualquer coisa senão literalmente uma enxaqueca. Já era tarde e eu deveria dormir, mas meu corpo parecia agir por vontade própria, do meio dos lençóis, meu corpo se moveu, levantando-me com a ajuda dos braços sobre o colchão macio, logo me pus em sentada em posição de lótus.
—
Por que, Raika? Qual é o motivo desta lição que você parece querer me fazer aprender assim? — Eu me questionava como se buscasse encontrar alguma justificativa, a da vez, era que ela queria me ensinar algo. Mas o quê?
Conforme eu refletia, os minutos só passavam, pouco a pouco, o sono me veio como uma praga, me tirando os sentidos lentamente. Relaxei na cama, me espreguicei e continuei imaginando infinitas possibilidades para minhas dúvidas, porém, apaguei em silêncio com a brisa gentil entrando pela janela e acariciando meu rosto.
Na manhã seguinte o galo cantou debaixo da minha janela, a vizinha mais uma vez, havia soltado seus animais pelo quintal, ou será que fugiram? Não me importava, naquela área o som de galos cantando eram a menor das minhas preocupações. Me levantei quase imediatamente após recobrar os sentidos, cambaleei até a porta e tateei a maçaneta, abrindo-a e passando pelo corredor que dava a visão da porta entreaberta do quarto de Raika. O mesmo, por sua vez, estava vazio, como de costume, pela terceira noite consecutiva. —
“Você desistiu de morar aqui? Pois bem, não darei motivos para que saia de seu próprio lar.” — Eu mesma refletia, em silêncio. Minha expressão facial dizia muito sobre como eu digeri mais uma ausência. Fui até o quarto e apanhei minhas coisas, enfiei tudo que podia dentro da mochila que logo ficou pesada. Roupas, livros e minhas economias. Eu logo sai daquele que considerei meu lar durante aqueles meses que passei com Raika, eu estava triste e bastante zangada ao mesmo tempo. Não era assim que queria que fosse.
Saí daquela casa, o mais rápido que pude, ainda embaixo de um pequeno chuvisco. Meu destino era incerto, com certeza era o fim da linha para minha fase de boa sorte.
Meus pés não tinham qualquer ideia para onde iriam me levar, pois nem mesmo minha cabeça conseguia discernir o que faria dali em diante. Conforme caminhei, as vozes em minha cabeça repetiam palavras como se quisessem me revelar alguma maneira de agir e recobrar o senso de direção, em especial a de Yagura, me dizendo sobre o dom e a maldição. Aquela missão havia sido um divisor de água para mim, pois desde então, não consegui mais qualquer contato com a mulher que me apeguei ao longo dos meses. Por coincidência do destino, dei de cara com o que seria o centro cultural de maior capacidade de fornecer conhecimento, o prédio público da Biblioteca de Konoha sempre me pareceu um lugar estranhamente sem brilho. Talvez fosse, porque ali apenas residiam histórias e lendas, façanhas que para minha realidade eram fora de qualquer tipo de possibilidade de alcançá-las. —
“Eu só tenho a mim agora. Talvez eu devesse entrar, quem sabe, eu durma na biblioteca hoje à noite.” — Ainda era manhã, mas ao passo que as coisas iam, ficar perambulando pela folha não me faria bem, tampouco me dariam qualquer rumo na vida, portanto traçar rumo de onde ficar caso não tenha sucesso ao longo do dia, me parecia uma forma plausível de não ser pega de guarda baixa. Ajeitei a mochila em minhas costas, com um tranco para que a mesma se adaptasse melhor as minhas costas, estas que, embora fosse cedo, já começaram a doer com o peso de meus pertences.
Em completo silêncio, comecei minha ida para dentro do prédio. Para minha surpresa não havia cheiro de mofo, tampouco qualquer tipo de odor que não fosse o característico de madeira envernizada e algumas plantas que estavam em vasos nos cantos de cada parede rebuscada de entalhes. Era uma biblioteca de respeito e, ao me deparar com a escrivaninha isolada das mesas e cadeiras, me dei conta que estava diante da recepcionista.
—
Bem-vinda, jovem. Posso te ajudar? — A mulher foi gentil e usou do timbre suave para me saudar.
—
Acredito que não. Preciso de um lugar para ficar mais tarde. — Meu rosto corou pela espontaneidade que tive ao revelar meus planos.
—
De fato, com isso não poderei ajudar. Mas para onde vai com essa mochila enorme? Pretende fugir de Konoha? — Ela continuou amigável, mas tinha no olhar dúvidas genuínas quanto quais eram minhas ideias infantis. —
Você está bem? — Ela concluiu, me encarando nos olhos.
—
Para ser honesta, estou saindo de um lugar que um dia chamei de lar, lá fui bem recebida e bem… Agora não mais, pois nunca me pertenceu. — Desviei os olhos, chateada. —
Posso ao menos ficar um pouco e descansar? — Perguntei, começando a apresentar uma fadiga nos ombros.
—
Pois é claro que pode. Me chame Inari. Vou arrumar um lanche para você, fique à vontade para ler qualquer livro enquanto procuro algo na cozinha. — Ela disse, dando espaço para que eu cruzasse o balcão que nos separavam.
Eu estava na área destinada a funcionários, portanto eu não quis atrapalhá-la em nada, afinal a Inari já estava sendo gentil até demais comigo. Segui seus passos enquanto removia a mochila das costas e colocava a mesma em uma cadeira acolchoada do lado de uma escrivaninha. Aproveitei o momento de alívio para finalmente me alongar, minhas roupas estavam todas molhadas graças ao chuvisco que havia pego naquela manhã infeliz. Inari foi até a cozinha interna para funcionários e eu aguardei sentada em uma cadeira de frente a uma mesa. Pouco tempo depois, ela voltou, trazendo um sanduíche e um pouco de leite. Havia notado pelo som do meu estômago que naquela manhã, ao sair de casa, sequer havia comido algo, portanto estava faminta. Com uma graciosidade, Inari bailava pelo corredor e trazia minha refeição, pondo a mesma diretamente sobre a mesa, servindo-me. A moça era jovem e trazia um ar de muito conhecimento, graças ao óculos que usava em sua face.
—
Por que não come e aproveita para se secar um pouco? Sua viagem será mais difícil se pegar um resfriado logo no primeiro dia. — Ela me apontou um fato. —
Tem uma seção reservada do lado, poucos vem até ela, infelizmente, pois consideram a área um pouco chata demais. Ultrajante! Mesmo assim, está limpa e possui cadeiras estofadas largas, bem mais confortáveis do que estas que você está. Vai lá atrás, tira suas roupas molhadas e eu te levo um cobertor que tenho sobrando para dias de muito frio. — Ela sugeriu.
—
Eu… Está bem, você tem um bom argumento. — Assenti, ficando levemente corada, pois meu plano estava para ser completamente frustrado caso de fato eu mesma me prejudicasse agindo daquela forma irresponsável.
—
Perfeito, assim que terminar, siga o corredor, vai dar de cara nessa seção ao qual mencionei. — Ela concluiu, dando uma olhadela para frente da biblioteca e vendo se mais alguém estava no lugar, para a minha sorte, ainda estávamos sozinhas.
Conforme ela me orientou, eu me alimentei e sai dali, levando meus pertences comigo. Todavia, não precisei andar muito para chegar a tal seção reservada, pois a mesma não era muito longe. Havia muitos livros categorizados por diferentes letras em ordem alfabética. Tudo estava estranhamente limpo demais, como se fosse bem cuidado mesmo com a ausência de pessoas constantemente indo para lá. Achei uma poltrona de frente para a janela, pude observar que lá fora estava chovendo mais intensamente, o que por um lado era bom, pois dificilmente seria pega desprevenida por alguém que ousasse sair de casa na chuva para visitar um lugar tão remoto como aquele. Me despi rapidamente após encostar a porta da sala, mas logo troquei as roupas pesadas por uma quente e seca. O som das batidas na porta me trouxeram a realidade no momento que notei que não estava sozinha.
—
Está quentinha agora? — Ela sorriu no momento que girei a maçaneta da porta, para que entrasse. Eu por um segundo, corei com a forma que ela me tratou, como uma criança que merecesse ser cuidada regularmente.
—
Estou bem… — Respondi, sentando-me na cadeira. Era enorme e seus braços eram aveludados em um tecido com espuma macia.Inari me lançou uma coberta e em seguida me arrastou alguns livros aleatórios. —
Para que isso? — Questionei. Era óbvio que ela queria que eu os lesse, mas não entendi por qual razão deveria fazê-los.
—
Para passar o tempo enquanto se aquece. — Disse, com um sorriso de canto e deixando a sala. A chuva escorrendo pelo vidro da janela era sinal que não diminuiria a intensidade.
Eu não estava nem um pouco a fim de ler naquele momento, tampouco quis sequer fazer menção de tocar em algum daqueles livros grossos e de aparência envelhecidas. Acabei me enrolando na coberta e me aquecendo ali mesmo, sozinha enquanto esperava o tempo passar. A chuva não cessava em momento algum e eu estava impaciente pela quantidade de horas que havia ficado ali. Embora confortável, a monotonia me consumia. As constantes espiadas de Inari para ver se eu estava bem havia cessado faziam cerca de uma hora. Talvez até minha anfitriã estivesse cansada. Foi quando eu olhei para a pilha de livros e me deparei com suas laterais devidamente identificadas por escritas, um destes livros me chamou a atenção por mencionar a palavra Uchiha. — “Pesquise sobre o poderoso Uchiha Ichizoku no Sōsai, vai descobrir coisas interessantes. A Reação Sharingan é uma delas.” — Lembrei-me das palavras de Yagura. Não demorei mais e me levantei um pouco, inclinando-me em direção ao livro. Apanhei o mesmo com a mão direita e comecei a ler seu enunciado.
—
Um livro de história da família Uchiha e seu legado. — Comecei a ler. —
Um clã inicialmente amaldiçoado, difamado pelo mundo como um clã de mercenários altamente requisitados em batalhas… — Continuei, atenta aos detalhes. —
Porém a família se ramifica em duas, uma que vivia para batalhar e outra pacífica. — Minha voz era branda. —
A família Uchiha carrega uma habilidade exclusiva, o Sharingan… — Me lembrei do homem que me atacou na missão, ao me ver, com meu poder ocular ativo e mencionar que meus olhos pertenceriam a ele, antes de morrer.
Vez ou outra, me ajeitava na poltrona, colocando meu corpo em uma posição confortável, sem desprender os olhos das páginas dos livros. A leitura, inicialmente despretensiosa, agora me prendeu completamente a atenção. Não demorou para finalmente eu chegar em um ponto ainda mais interessante.
—
Uchiha Sarada, uniu as famílias… — Nunca havia ouvido falar disso na escola ninja. —
Mesmo as famílias sendo ramificadas em duas, todos elegeram Uchiha Yohma, como um líder do clã, graças aos feitos que realizou ao participar no passado, no ato de derrubada de uma organização chamada Hydra. — Estava muito interessada quanto aquilo.
Embaixo dos nomes de Uchihas famosos, o que se destacavam era a figura de Uchiha Sarada, uma mulher adulta e de Uchiha Yohma, o atual líder do clã. Memorizei seus rostos brevemente, porém algo me chamou a atenção a menção no rodapé de seus rostos no livro. Em especial, Yohma possuía na descrição que sua vila pertencia ao País das Águas, Kirigakure, pelo menos até a data da publicação do livro. Informação esta que para mim era irrelevante no momento, mas considerei lembrar. Meus olhos ametistas percorreram mais páginas, haviam figuras de como os olhos dos membros do clã se manifestaram e eu, sem dificuldades, tratei de ativar meu poder ocular. Levantei e levei comigo o livro em mãos e coloquei em frente ao vidro da janela, vendo meu reflexo com atenção. Meus olhos tornaram-se vermelhos como sangue e no interior do anel avermelhado, uma espécie de vírgula negra aparentava, uma em cada olho, similar ao Dōjutsu retratado no livro. Eu tremia completamente, em torno de minha cabeça inúmeras perguntas sem respostas, no entanto, lembrei de ler uma parte do livro.
—
Para aqueles que nascem no clã, é possível visitar a Pedra Danketsu, localizada no antigo templo, no Santuário Naka. — Eu conhecia o vilarejo, lembrei que em uma visita histórica, na academia ninja, percorremos diferentes monumentos e que, já tinha passado por este lugar em outra oportunidade, mas não dei a devida importância.
—
Olá! Voltei. Santuário Naka? É um lugar bem antigo… — Disse Inari, completamente de surpresa, pegando o meu comentário no ar. —
Você está bem, moça? — Ela me perguntou, ao me ver encarar o vidro tremendo com um livro na mão, naquele momento, ao me chamar, ela se deparou ao fato que sequer havia perguntado meu nome. —
Aliás, como se chama, estamos interagindo há algum tempo e ainda não se apresentou. — Ela se aproximou de mim.
—
Eu… Eu me chamo Terumi… — Engoli seco, pois nem mesmo eu sabia como reagir ao que diria a seguir. —
Terumi, do Clã Uchiha. — Completei, olhando-a em seu rosto, meu Sharingan vibrava em sua totalidade, como luzes vivas que captaram a atenção de Inari.
—
Terumi Uchiha? Que nome lindo! E que honra testemunhar sua técnica, sempre tive curiosidade em conhecer pessoalmente esta habilidade. Temos poucos ninjas do clã Uchiha conhecidos que passaram por nossa vila recentemente. — Ela completou. Não aparentava me odiar, tampouco interessada em me atacar para roubar minha visão, como o homem agressor que uma vez o fez.
—
Acabo de descobrir minha origem. Eu não fazia ideia de como isso se chama nem porque eu tenho essa habilidade. Agora tudo se conecta e faz sentido com meu passado. — Refleti, meus olhos desativaram seu poder visual, simultaneamente, voltando à velha tonalidade ametista que tanto me acostumei. Virei completamente para a poltrona, apanhando minhas coisas e organizando a mochila para futuramente sair.
—
Não fique triste ou preocupada. Se você leu esse livro, sabe que tem um dom e um clã de respeito. Sua linhagem sanguínea é genuinamente presente na história shinobi, deveria se orgulhar. — Ela tentou me motivar.
—
E se eu for do ramo que um dia fez estas coisas terríveis se envolvendo em batalhas, assassinatos e atos mercenários? Unir o clã em sua totalidade não significa que meus antepassados possam ser considerados todos bons. — Eu me sentia mal, pois agora, em minha cabeça, enraizei a ideia de que nem todos deveriam gostar do clã ao qual pertenço, mesmo com atos heróicos e grandiosos, seriam todos a favor da integração do clã à sociedade moderna? Eu tinha minhas dúvidas. —
Preciso ir. Vou ao Santuário Naka. Tem algo que preciso testar lá. O último passo para compreender minhas origens. — Desabafei, pois ali seria feita a prova final, para compreender se eu era mesmo pura ao ponto de considerar-me da linhagem antiga.
—
Não… Não fique assim, querida. Nem todos entenderam o que os Uchihas fizeram por nós em diversas etapas da história. — Ela depositou a mão em meu ombro e atribuiu ao rosto um sorriso sincero. Inari era uma das muitas pessoas que demonstrava afeição ao legado do clã.
Embora ela quisesse nitidamente me acolher em um abraço, graças aos sinais corporais e tensão no clima, ela não o fez, dando espaço para que eu seguisse arrumando minhas coisas. Inari era uma boa mulher e eu apreciei o gesto, mesmo que não dissesse nada. Depois de me organizar, apanhei minhas coisas, dali eu já havia traçado meu destino e nem mesmo a chuva seria capaz de me impedir de chegar até o local que eu estava destinada a chegar. Me despedi da mulher, fazendo uma referência, já do lado de fora da biblioteca. Meu corpo novamente estava se molhando com a chuva que caía mais pesada que antes, mas não havia jeito, o clima era propício a uma despedida fria como aquela. Talvez não seria a última vez que a veria, mas em meu peito, já havia um enorme sentimento de gratidão pela mulher.
HP: 825/825 | CH: 775/775 | ST: 00/05 | LC: 10/100 | SK 00/50
- Considerações Finais:
- Adendos:
Qtd de Palavras: 2678
Objetivos: O objetivo desse Onepost, é conhecer a origem do clã Uchiha ao qual a personagem não sabia pertencer. Utilizei uma alcunha mundial muito famosa do Uchiha Yohma pra justificar o interesse dela sobre quem são os Uchihas e suas história. Tirei as informações do tópico do Clã Uchiha, que são de conhecimento público. Se for POSSÍVEL, quero adquirir o conhecimento de onde o paradeiro do Líder do Clã Uchiha está, na sua última localização registrada, em Kirigakure. Se puder considerar também que ela viu a foto de seu rosto, gostaria de acrescentar este conhecimento. Esse é o primeiro post do capítulo que solicitei.
- Informações:
Golpes por Turno: 01 golpe máximo.
Armadilhas Colocadas: 1 a cada três turnos.
Armadilhas Percebidas: 1 a cada três turnos.
Precisão/Alcance & Velocidade das Armas: 5m & 4m/s.
Danos Adicionais: 00
Danos Recebidos: +20HP.
Velocidade de Movimento: 6m/s.
Selos de Mãos: 4s/s.
- Equipamentos:
Bolsa Ninja Inicial: [20 / 20 - slots]
- 01x Hitai-Ate - [00] - Presa como um cinto.
- 10x Shuriken - [10]
- 06x Kunais - [06]
- 08x Kibaku Fūda - [02]
- 10m Arame/Fios de Aço - [02]
- Técnicas:
Jutsus Utilizados: Nenhum.
Jutsus em Preparação: Nenhum.
Ativos [Contador de Limite: 00/00]: Nenhum.
Limites de jutsus para uso Permitidos:
- Ninjutsu: Até Rank A.
- Genjutsu: Apenas Básico.
- Taijutsu: Até Rank E.
- Bukijutsu: Até Rank E.
- Nintaijutsu: Até Rank E.
- Legendas:
Narração...
— Falas. —
— Pensamentos. —
— Fala de Npc. —