O cotovelo repousava sobre a mesa, sustentando a destra que por sua vez servia de escora para sua cabeça baixa, envolta em uma densa fumaça do cigarro entre seus lábios. Ele estava de cabeça quente, ouvindo naquele instante incontáveis reclamações e balburdias burocráticas proferidas pelos anciões do vilarejo, que se reuniam com ele em volta de uma mesa oval localizada em um dos andares secretos do prédio onde havia passado boa parte de seus últimos anos, o próprio gabinete.

—— Já tem tempo demais que o nosso contingente está ruim, devemos focar em aumentar nossos números! —— Bradou com firmeza um dos anciões, erguendo-se em meio a um soco contra a madeira da mesa, na tentativa ridícula de se fazer ouvir. Torū o ignorou.

—— E o que você sugere? —— Levantou a questão um que se assentava do lado oposto —— Quer que passemos a promover casamentos arranjados com a primícia de gerar mais crianças para enfiarmos na academia?

—— Se for preciso! Temos de ter mais braços à obra por aqui! Investir pesado na formação de novos shinobi! —— Se fez ouvir mais uma vez o que de pé estava. Torū dessa vez o ouviu também.

O som da expiração de Torū foi acompanhada de uma cortina imensa de fumaça. O cigarro perfumou o ar tal qual sua fumaça fez os olhos dos mais idosos lacrimejarem. Ele tinha toda a atenção. O que estava de pé se sentou. Os demais o observaram, aguardando por suas palavras, perdidos na imaginação do que o mesmo faria a seguir. Era fato que seu pulso forte era uma relativa problemática. Não esperavam, quando o nomearam líder do vilarejo, que ele fosse completamente sólido em sua postura, impossível de se induzir a agir da forma que se deseja. Convicto. Preciso. O Godaime ajustou sua postura na poltrona. Relaxou. O cigarro agora entre os dedos.

—— Não estão totalmente equivocados —— Disse ele com seu tom áspero, superior —— Nosso contingente está de fato baixo, mas se bem me lembro, nem sempre ele foi assim. Seguindo essa simples linha de raciocínio, não conseguem enxergar do que realmente precisamos? Se tivermos números, eles serão novamente subtraídos. Se tivermos qualidade, seremos elevados ao patamar que deveríamos estar há muitos anos. "Investir pesado na formação de novos shinobi". Isso é um fato inegável. Eu acompanhei de perto, eu participei das aulas, eu até mesmo me tornei um professor na academia. O que você fizeram? Trazer reclamações à minha mesa não torna vocês menos inúteis que um aldeão que tem tanta habilidade com uma kunai quanto com uma pedra lascada qualquer! —— Ele seguia firme.

Naquele instante, lembrou-se de certos momentos passados naqueles cinco anos. Reviveu a cena dos dois atentados arquitetados contra sua vida mediante o surgimento de uma organização denominada de "Filhos da Nuvem". Eles se colocavam contra o Uchiha, tendo como desculpa o fato de ele não ser Erwin. Aquilo era engraçado e arrancou um sorriso anasalado dele. Durante as sessões de tortura que se seguiram, desde arrancar unha por unha até a fazer a boca dos pseudo assassinos de cinzeiro para seus incontáveis cigarros, o Uchiha levantou a simples questão, repetitivamente: Onde está Erwin? Se era de fato aquele o líder que desejavam, alguém negligente e completamente irresponsável, ao menos deveriam saber o paradeiro dele. Não sabiam. Se soubessem teriam contado depois de tantos dias sob o flagelo do Godaime. Ele era impiedoso. Ele era carniceiro. Ele os enterrou. Tanto os da primeira leva, quanto os da segunda. Aquilo nem mesmo tirou seu sono. Era algo quase indigno de sua atenção. Aquela geração era fraca.

—— Vou ser sincero com vocês. Sei que alguns aqui estão arrependidos de ter me colocado no comando. Tenho uma noticia péssima: Agora é tarde! Eu sou o Godaime Raikage. Eu sou aquele que vai trazer outra vez a grandeza à Nuvem! Eu gosto sim de ser amado. Mas se os que discordarem de minha visão de grandeza para a aldeia quiserem me odiar —— Ele se ergueu, ereto e firme —— Eu não ligo. Em cinco anos, curtos e relativamente monótonos, nem mesmo os traidores que eu ainda permito se sentarem a esta mesa com a ilusão de que eu não sei de seu pacto com os Filhos da Nuvem, conseguiram atrasar nossos avanços. Eu firmei acordos que nos beneficiaram. Por anos tivemos uma colônia da Névoa à nossa porta e mesmo que digam que a decisão foi tomada por Chozen, nada, ninguém e nem mesmo a maior potência no mundo foram, são ou serão capazes de influenciar quaisquer decisão minha. A ideia de estarmos abaixo da Névoa, da Folha ou do raio que os parta, é inteiramente fruto de seus próprios preceitos e preconceitos. Abri mão de ilhas que nem mesmo os mais ferrenhos barqueiros de nossos portos colocam o pé há décadas. Em troca tirei no nosso portão a porcaria da colônia da Névoa, sem falar no posto avançado que agora nós temos próximo a Pedra, aldeia que vocês sabem que possuo boas relações com o líder, Raymond —— O Uchiha se guiou a passos firmes até a porta da sala e a abriu, atravessando-a parcialmente na sequência —— Só tenho uma última coisa a dizer, na verdade, repetir: Àqueles dispostos a unir forças comigo para devolver a grandeza a nosso vilarejo, as portas do gabinete estarão abertas. Àqueles desprovidos de ambição ou mesmo de um sentimento patriota em relação à Nuvem, afastem-se de nosso caminho. Entretanto, isso não é mais um pedido. É um aviso.

Torū; 3175/3175; 5575/5575; 600/600; 0/8;

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