Os dias para Ethan não eram nada fáceis. Embora odiasse o rumo que sua vida tomou, não tinha forças para fazer algo a respeito. Via o tempo passar, as pessoas a sua volta nunca eram as mesmas e a sensação de não pertencimento crescia como nunca. Talvez não houvesse mais salvação para o genin. Estava exausto. Mesmo sendo tão jovem, já carregava uma quantidade imensurável de culpa e arrependimento. Não era isso o que queria para sua vida, de fato, mas o que poderia fazer a respeito?

Como sempre, lá estava ele, assumindo seu papel rotineiro de expectador. Com as costas apoiadas em um cercado de madeira que não ficava muito distante das áreas mais movimentadas da vila, Ethan divagava nas próprias ideias. Foi então que ouviu um grito de socorro. A princípio, aquilo representava só mais um dia normal para ele, alguém novamente era vítima das circunstâncias. Coisas como essas aconteciam o tempo todo, ou seja, nada de novo.

Ethan nunca se considerou uma pessoa má e, em toda sua vida, nunca quis prejudicar ninguém. A sua reação, ao ignorar o pedido de socorro, podia até dizer o contrário, mas nada é tão simples quanto parece. Viver nas ruas, conviver com todo tipo de crime à sua volta e conhecer inúmeras pessoas de moral questionável mudará seu modo de pensar. Para ele, interferir em situações como aquela era o mesmo que tentar interferir no rumo natural das coisas. Era incabível. Nem o fato de ser um ninja mudava algo.

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Passados alguns minutos desde o misterioso grito, Ethan já nem se lembrava mais do ocorrido. Resolvendo seguir andando por entre alguns becos que ficavam pela região, sem destino certo, o genin esperava arranjar algum passatempo. Se desse sorte, poderia encontrar alguns caras jogando um jogo de cartas muito popular no vilarejo. Melhor dizendo, popular para aqueles que gostavam de pôr uma emoção a mais no jogo, apostado até a própria casa.

Até o momento, não perceberá nada de estranho a sua volta, além dos gatos de rua que ficavam derrubando algumas latas prateadas de lixo e dos bebuns que não conseguiam nem ficar de pé. Mas, num piscar de olhos, um homem esbarrou nele. Na casa dos 30 anos, o sujeito usava uma touca vermelha, roupas pretas, porém, rasgadas, e tinha um piercing na sobrancelha. Um detalhe muito incomum que chamou a atenção de Ethan fora os dentes do rapaz, pontiagudos como facas. Sua expressiva euforia também não passou despercebida, o que explicava o fato de não ter se desculpado. Depois de congelar por 3 segundos, voltou a correr como se a vida dependesse disso.

Não muito depois de ser surpreendido pela figura misteriosa do rapaz, pensando que a situação não poderia piorar, Ethan seria atingido na cabeça por uma pedra. Por ser muito pequena, o ninja nem saiu do lugar. Mas quanto ao soco que viria em sequência, já não era possível dizer o mesmo. Caído do chão, sentindo a poeira tocar sua bochecha, Ethan se deparou com os sapatos do seu agressor. Diferente do que esperava, eles eram graciosos. Ao mesmo tempo em que eram delicados, não escondiam a personalidade forte da dona. Como um raio rasgando os céus em um dia chuvoso, Keiko entrava a vida de Ethan. Keiko, uma garota de 16 anos, tinha longos cabelos castanhos escuro e rosto angelical. Usava uma saia cinza de tamanho mediano, junto de uma blusa cinza. Nos pulsos, carregava consigo várias pulseiras artesanais e uma cicatriz, provavelmente de queimadura.

— Ei, seu idiota! — berrou — Por que deixou ele escapar? Por acaso vocês estão juntos? — Diante daquela nova possibilidade, ela se preparava para dar uma surra no genin, e quem sabe extrair algumas informações. Contudo, olhando mais atentamente para o rapaz caído, logo viu o símbolo em seu braço esquerdo, a bandana da folha. — Ops... — Seus lábios então se abriram em um sorriso desajustado. — Me desculpe, senhor. Eu... Eu confundi um pouco as coisas. Mas, mudando de assunto — voltava a ficar aflita — Aquele cara... Você precisa me ajudar! — Quase tropeçando com as palavras, ela explicou para Ethan que tinha acabado de ter a bolsa roubada e daí o motivo de toda a confusão que havia feito.

— Sem chance... — Cortou friamente a fala da jovem, que por sua vez, estava segurando ao máximo as lágrimas — Não me leva a mal, mas isso não é da minha conta. — Logo em seguida, deu as costas para ela e voltou a andar num ritmo lento.

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Sem qualquer compaixão pela história que acabara de ouvir, Ethan estava de disposto a abandonar a garota aos prantos. Ele simplesmente não suportava a ideia de falhar novamente com alguém. Como bem sabia, quando levam algo que é seu, é quase certeza que não teria mais volta. Tudo que restava para ela fazer era aceitar, e quem sabe tomar mais cuidado no futuro. Momentaneamente, até cogitou dar as más notícias, mas quem sabe estivesse errado e tudo corresse bem. Apesar da frieza demonstrada, não teve coragem de esmagar suas esperanças. Ainda não era capaz de tamanha crueldade.

— Por favor! Eu te imploro!! — Agora, de joelhos, Keiko desabou. Danou a chorar. Não só isso, como também implorou pela ajuda de Ethan. Com esse gesto, demonstrava até onde estaria disposta a chegar por aquela bolsa. Mas por que? Por que Keiko abriria mão do seu orgulho daquela maneira? Sem contar que Ethan não passava de um estranho para a mesma. Suas lágrimas não tinham valor algum para o genin.

Embora tentasse ser indiferente ao sofrimento alheio, a situação ultrapassava seus limites. Deus sabe como queria ignora-la. Mas, infelizmente, ainda era humano. No entanto, não demorou muito até o pior fracasso de Ethan voltar a assombra-lo. Preso em um mundo dominado pela escuridão, confrontava sua falecida mãe. Ela gritava. Suplicava por ajuda. Não importava se ele pedisse para ela parar, os gritos nunca cessavam. A agonia então se transformou em dor. Era como se a pele de Ethan estivesse queimando, de dentro para fora. Sem saber o que fazer, tremia. Naquela altura, já nem conseguia manter o passo.

O fato não passou despercebido pela morena, que usou todas forças para se levantar. Num primeiro momento, considerou ser um problema médico, uma condição rara. Mas, quando os gritos começaram, cogitou outras hipóteses. Então, institivamente, se pôs na frente de Ethan e segurou sua mão. — Calma... Ei, vai ficar tudo bem. — Diferente do genin, ela não segurou seus impulsos e tentou ajuda-lo como pôde, embora não soubesse se conseguiria.

Em queda livre, Ethan continuou perdido na própria paranoia, no seu próprio mundo de faz de conta. A visão turva já não o norteava mais. Agora, não conseguia distinguir o real do imaginário. Foi quando a sua respiração, descompassada, extinguiu-se por exatos 15 segundos. Ainda antes de voltar a si, sentiu uma mão puxa-lo. Não estava mais se afogando, estava em terra firme, encostado naquela mesma mureta de outrora.

— Não!!! — Confuso e eufórico, o genin acordou do seu pesadelo. Sem compreender o que aconteceu, ele fixou o olhar na garota sentada ao seu lado. Era Keiko. Não importando quanto tempo demorasse, a jovem estava disposta ficar ao seu lado, até confirmar que o mesmo estava bem. Chegando a essa conclusão, agora era Ethan que estava desconsertado. Afinal, ela arriscou perder o que tinha de mais valioso só para ajudá-lo. — Bem, obrigado. — Coçando a cabeça com a destra, ponderava sobre o que faria. — Acho que você ainda precisa de ajuda, não é mesmo? — Por fim, ainda que enferrujado, sorriu para menina. Na última tentativa de ignorar o ocorrido, ajudou Keiko a se levantar e seguiu junto dela na direção tomada pelo gatuno.

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Ainda que estivessem juntos, unidos por um objetivo em comum, existia um abismo entre dois. Ambos teriam que construir uma ponte para vencer o silencio constrangedor que pairava no ar. Pior que isso, eram as tentativas, igualmente falhas, de tentarem estabelecer um diálogo leve e despretensioso. Já que estavam acanhados, cada um com seus motivos, preferiram continuar sua busca em silencio.

Utilizando um método contra intuitivo, os dois acordaram em não se desesperarem e saírem correndo atrás do sujeito, já que assim seriam vistos mais facilmente, facilitando uma possível fuga do ladrão. Então, com toda a calma do mundo, percorriam as ruas centrais do vilarejo. Foram inúmeras tentativas e enganos, até que ficassem sem muitas opções para explorarem. As ruas, aquela altura, estavam praticamente desertas. Todas as tentativas, inevitavelmente, sempre acabavam em um beco sem saída. No fim, parecia que Ethan sempre tivera razão. Eles nunca encontrariam o sujeito que roubou Keiko.

Depois de 3 horas de busca e caminhada incessante, a dupla avistou uma pracinha perto de onde estavam. Percebendo de longe a exaustão da garota e notando que ela nunca pararia por vontade própria, ele pediu para descansar um pouco. Ela torceu o nariz, mas no fim concordou com a ideia. — Posso fazer uma pergunta? — antes que ela tivesse a chance de responder, continuou. — Por que essa bolsa é tão importante pra você? — Perguntou, quebrando o silencio que durou horas.

— A bolsa não vale nada para mim. — Simples e direta, respondeu.

— Então... — De súbito, uma expressão confusa tomou seu rosto.

— O que importa para mim é o que está dentro dela. — Acrescentou.

— E o que é?

— O... — Sem motivo aparente, cessou a fala. — Se você quer tanto saber o que é, vamos fazer um acordo. — Levando o indicador até o queixo, deu um riso malicioso. — Só vou te contar o que é quando acharmos quem fez isso e recuperarmos a bolsa. — Pegando a mão do genin à força, entrelaçou o seu mindinho no dele, selando o acordo.

Por incrível que pareça, depois de Ethan ter dado o primeiro passo, Keiko não parou mais de falar. Enquanto percorriam as ruas de Konoha, conversaram sobre todo tipo de experiencia que tiveram e banalidades que não fazia muito sentido para quem via de fora. Como os dois não se conheciam e também não sabiam se estariam juntos novamente, sentiam que podiam desabafar e falar sobre tudo. No fundo, já sabiam que sua conexão tinha data e hora para acabar; mas isso não mudava absolutamente nada. Os dois continuariam a sorrir, brincar, se sensibilizar e compreenderem um ao outro. Naquele curto período que passariam juntos, o tempo não tinha poder algum sobre aqueles jovens.

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— Ethan, você é feliz? Sabe, eu sei que o mundo não é um mar de rosas, mas eu fico me perguntando se sou realizada com o que tenho. Pra falar a verdade, eu acho que somos pessoas sortudas. Sei lá, as vezes também penso que sou uma boba.

— Acho que não. Eu já desisti de tudo. Pode me julgar, mas eu não dou a mínima pra nada. A minha vida é algo descartável, sem valor. Todos os dias eu repudio a minha própria existência. Keiko, sabe, eu não tenho mais salvação.

— Entendo. Então você fica choramingando pelos cantos esperando que alguém ficar com pena. — A cara de desgosto que fazia não passou despercebida pelo genin. — Cara, acorda. Você realmente acha que é o único que se sente um lixo, às vezes. Todo mundo nessa droga de mundo, sem exceção, tá ferrado de algum jeito. E se disser que não, pode ter certeza que é mentira. As coisas são assim mesmo. Eu prefiro encarar tudo de uma outra perspectiva. Todo santo dia temos a maldita chance de acordar e tentar ser melhor do que ontem. Então por que não tentar? Como eu já disse, pode me achar ingênua e infantil, mas eu nunca vou abaixar minha cabeça e condenar minha existência.

Novamente, as palavras de Keiko voltaram a tocar Ethan. Após receber uma lição de moral, passou a andar de cabeça baixa e sem dizer uma palavra. Reflexivo, sentia que todas as suas crenças tinham sido desafiadas. Uma porta tinha se aberto na sua frente, resta saber se ele passaria por ela. Será que poderia, mais uma vez, ter um vislumbre do outro lado?

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As palavras de Keiko eram como encantamentos macabros proferidos por um sacerdote na casa dos seus 1500 anos de idade. Suas palavras eram implacáveis. Com um simples movimento, o da boca, ela mudava toda a sua noção de realidade. O mais temível dos Genjutsus não chega nem aos pés do que aquela garota de 1,65m podia fazer com Ethan. Lidar com seus conflitos mais sombrios na companhia dela, era, indubitavelmente, a provação mais difícil que tivera como ninja; não, como pessoa.

Embora quisesse dar a resposta que acalmaria a cólera da garota, não podia. A simples ideia de mentir para ela soava como algo profano. Preso pela própria deficiência emocional, o silêncio seguia sendo sua solução. Mesmo que momentânea, já bastava para ambos. Ela não se irritaria ainda mais com suas palavras melodramáticas, e ele não correria mais o risco de ser insuficiente para Keiko. Imperfeito, porém, funcional.

A ausência de qualquer som emitido por eles, aos poucos, fizera Ethan suar frio. Por fim, seus batimentos ficaram irregulares e tudo que reprimiu por anos voltava para confronta-lo. A sensação de ser insuficiente para a felicidade da mãe rasgava sua pele como shurikens afiadas. As altas expectativas dos avós restringia o movimento dos seus braços como correntes de aço, pesadas e indestrutíveis. A vontade de conhecer o pai — saber de onde vinha, seu nome, do que gostava, sua história — manchava sua pele como uma tinta seca e pegajosa, estava fadado a ser um quadro em branco que jamais seria tingido. Ethan, confuso e apavorado, interrompeu os movimentos e começou a tremer, desesperado.

— Seu idiota. — Percebendo o estado de Ethan, deu um peteleco na sua testa. — Lembra da nossa promessa. Por acaso você não tá pensando em me deixar na mão. E se começar a se sentir assim de novo, lembra do que eu falei: “Temos a maldita chance de acordar todos os dias e tentar ser melhor do que ontem”. Então nem pensa em tentar resolver todos os problemas do mundo de uma vez só. — Por fim, sorriu, como quem diz: “vai ficar tudo bem.”

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Enquanto encarava Keiko com o olhar fixo, Ethan reconheceu a sorte que teve quando esbarrou com a jovem. Com esse encontro, pôde ter a chance de se abrir com alguém. Sem pudor, deixou que ela se aproximasse e conhecesse seu verdadeiro EU.

Logo após recobra a sanidade, encarando o rosto da sua salvadora, questionaria o papel de ambos naquela parceria. Diferente do que pensava, já não lhe cabia mais o papel cavalheiro alado que salvaria a donzela indefesa das garras do mal. Elucidado, via-se como uma criança solitária e amedrontada que clamava por ajuda. Mas, que até o presente momento, tivera todas as súplicas ignoradas. Compreendendo o papel atribuído a ele naquela trama, não se zangou, apenas sorriu.

Durante o restante do percurso que ainda percorreriam, nenhuma palavra seria dita. O silêncio bastava. Diferente de antes, agora essa mudez era acolhedora. Já não precisavam mais de palavras para entender o que se passava no coração do outro. Os sons dos seus passos, a forma como se olhavam, suas expressões corporais, a proximidade dos seus ombros. Tudo aquilo, embora não parecesse, consistia em uma forma única de comunicação inventada por eles, de maneira espontânea.

Depois de andarem por aproximadamente meia hora, vislumbrariam uma luz forte vindo dos confins de uma rua estreita. Diante daquela nova oportunidade de obter alguma pista sobre o paradeiro do assaltante, iriam na sua direção.

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A luz guiaria a dupla até a fachada de uma loja. O lugar não exibia, de cara, qualquer detalhe chamativo ou digno de menção. Era sem vida, básico. Olhando de fora, nem sequer podiam deduzir se o estabelecimento estava aberto. A luz, vindo de duas lâmpadas presas na parede nas extremidades de uma porta de madeira discreta, era o único indicio de vida do lado de dentro. Impaciente, após ficar encarando a entrada por alguns segundos, Ethan levou o braço até a porta e a empurrou.

Do lado de dentro, assim que passassem pela porta, seriam capazes de visualizar itens de diversos tipos. Era uma bagunça. Ao mesmo tempo em que era uma loja, também levava os clientes a acharem que estavam em algum deposito. Mercadorias empilhas, objetos empoeirados, a falta de organização. Os sinais eram muitos, bastava escolher o mais convincente. No entanto, Keiko não chegaria a essa mesma conclusão. A jovem perceberia um certo charme emanando do lugar. Para ela, aquela estética fazia parte da experiência proposta pelo proprietário.

Para Ethan, o lugar mostrava sua outra face. Era desprezível, sórdido. Os objetos expostos para venda reviravam o estomago do jovem. Entrar ali fora difícil, beirava o impossível. Contudo, a companhia de Keiko o deu forças para tal. Sem isso, jamais iria pôr os pés naquele ninho de cobras. Frequentado por todo tipo vagabundo traiçoeiro que se esgueirava pelas sombras, o local servia como ponto de encontro para toda maldade do mundo. Os itens ali, expostos, nada mais eram do que objetos remanescentes de crimes. A coleção de Kunais penduradas na parede, por exemplo, pertencera a um assassino em série, que anos antes ceifou a vida de dezenas de crianças. Cada uma representava uma vida tirada. As cordas dispostas em uma prateleira, a esquerda da entrada, também carregavam seu passado macabro. Anos antes, fora usada no suicídio de uma adolescente. Não importava o que, tudo tinha uma história.

— É ela! — Exclamou. Enquanto Ethan segurava o vômito na garganta e disfarçava a cara de nojo, Keiko estava pra lá de curiosas. Revirava seu olho de um lado para o outro. Não queria perder nenhum detalhe ou oportunidade de compra. Foi então que encontrou o que tanto procurava. Lá estava sua bolsa vermelha, debaixo de uma pilha de quinquilharias. Sem qualquer sinal de dúvida, Keiko correu até ela, tomando-a nos braços.

Instante depois, apareceria o gerente do lugar, não muito contente com presença dos dois. O homem moreno de olhos esbugalhados, após ouvir a explicação dos dois, apenas tentava fazer Keiko pagar pela bolsa. Uma discussão, ou quem sabe coisa pior, parecia ser inevitável. Todos estavam exaltados, não queriam ceder aos desejos do outro. Ethan odiava estar ali. Keiko achava a ganancia do homem nojenta. Já o gerente, detestava receber ordens de dois fedelhos. Parecia impossível achar uma solução que agradasse a todos.

— Chega!!! — Vociferou. O genin não aguentava mais aquele loop de argumentos rasos e xingamentos. Então, tentando resolver o problema a sua maneira, usou um pouco da autoridade que ainda tinha. — Por acaso você sabe o que é isso? — apontou para sua bandana — Se eu fosse você, pensava muito bem nas suas próximas palavras. Caso precise, não pouparei esforços para acabar com a sua vida.

Sem esboçar nenhuma reação após a ameaça de Ethan, o gerente parecia ter desistido de tentar lucrar em cima dos dois. Percebendo a hesitação do homem, o genin agarrou o braço de Keiko, tomando cuidado para não a machucar, e saiu as presas dali.

Os dois, sem motivo aparente, saíram correndo por todo caminho que já tinham percorrido. Nenhum deles sabia exatamente para onde estava indo. A breve jornada dos dois estava chegando ao fim. Aquele gesto não passava de uma tentativa de prolongar um pouco mais o tempo que passariam juntos.

No fim, Ethan nunca soube o que ela carregava na bolsa. Keiko nunca chegou de fato a revelar qualquer detalhe da sua vida. Ela era um completo mistério. Quanto aos problemas de Ethan, infelizmente, eles ainda existiam. Entretanto, agora conseguia ver uma centelha de esperança se acender no horizonte. Quem sabe poderia voltar a sonhar com o futuro, e não com sua morte. Ethan ainda sentia um vazio imensurável no coração, mas, pela primeira vez, admitiu sua condição em alto e bom tom.

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