Altria era uma Kunoichi orgulhosa, isso não era algo que poderiam contrariar. Seu desejo por conquistar os mais altos níveis de força era absoluto, e sua força também era reconhecida por muitos, isso era algo inegável. Sua coragem e habilidade mediante ao confronto sempre a levaram a vitória, e foi por esse único motivo que fracassou em sua última batalha, pondo em risco o próprio mundo. Mas, ela sabia que mesmo que fosse derrotada, seus esforços contra a Deusa coelho foram o suficiente para garantir a vitória da humanidade, disso não tinha dúvidas. Contudo, se sentia humilhada. A derrota abalou seu íntimo, e pela primeira vez em seus vinte e um anos de vida, questionou-se acerca de sua sede implacável por vitória e arrogância. Sua determinação havia a cegado. Havia entendido que a vida não era só aquilo, não mais. Por isso, decidiu se reinventar, não continuar no mesmo caminho que trilhava, onde confiava unicamente em suas habilidades físicas. Portanto, decidiu explorar uma nova faceta de si mesma, a arte do ilusionismo.

Kurama tinha ideia do peso que a garota carregava, e apesar de dividirem o fardo da derrota, a criatura não ousou confrontar a Uchiha em sua decisão. A besta imaginou que aquilo era algo necessário para a mulher, principalmente após a conversa no hospital entre as duas: Altria não aceitava a derrota. Aquilo era um traço de sua personalidade que a acompanhou durante toda a vida. Nem mesmo Zorojuro foi capaz de mudar isso na garota com seus ensinamentos. Mas se ela estava pensando em mudar, reencontrar-se, talvez isso fosse uma boa ideia. Era uma decisão meteórica e corajosa, mas a Uchiha estava disposta a aceitar o desafio.

Com o orgulho ferido e a vaidade deixada para trás, Altria saiu em uma jornada de autodescoberta. Abandonou suas técnicas tradicionais e seguiu sua busca pelo país da água na procura de um mestre em genjutsu, determinada a dominar a arte da ilusão. E foi assim que sua jornada a levou em um local remoto, distante de Kirigakure no Sato, onde encontrou a pessoa que viria a se tornar sua mestre nas artes ilusórias: Dōji.

Dōji era uma sábia anciã cujos olhos experientes aparentavam penetrar na alma de Altria. Ela pôde ver nos olhos da mulher a chama da redenção, queimando com toda vontade, e por esse motivo, concordou em auxiliar a mulher em sua missão, porém, a anciã fez questão de enfatizar que a verdadeira maestria da arte exigia não só o domínio ilusório, mas também o autocontrole, sabedoria e compaixão.

[...]

Os primeiros dias foram árduos. Os treinos eram rigorosos, e Altria se submeteu a eles com toda força que possuía. O controle de seu chakra melhorou exponencialmente, de forma milimétrica, graças aos ensinamentos da anciã. Claro, a mulher já possuía um grande controle desde sempre, e por conta de seu dōjutsu, detinha uma certa vantagem no uso de suas técnicas. Isso, é claro, não a fazia extrair todo o potencial que possuía, mas já era um começo para sua mudança. Suas ilusões a princípio detinham um poder fraco, mas conforme os ensinamentos de Dōji, logo começaram a se tornar cada vez mais e mais convincentes, e não só isso, mas Altria também foi capaz de começar a compreender a mente humana através de seu treinamento para com a anciã. Todavia, a parte mais difícil foi enfrentar seus próprios demônios, além da insegurança que a mulher detinha.

—— Dōji-sama. O que eu faço? —— Sobreveio a dúvida acerca de seus medos. Não sabia lidar com eles, principalmente, em como externalizá-los e dar uma solução. Seus conflitos internos eram complicados. Ao mesmo tempo que queria se reinventar, tinha medo do fracasso de não conseguir o fazer. Não só isso, se sentia apreensiva, e com medo de fugir de tudo aquilo. Dōji, por outro lado, sorriu, se aproximou da Uchiha e encostou a destra em sua cabeça. Você veio até mim para aprender a arte do Genjutsu. Para isso, precisará olhar para dentro de si e enfrentar seus medos mais profundos. Você precisa compreender sua mente e suas emoções. Instruiu a anciã, fitando a jovem mulher. Altria assentiu com seriedade, e encerrou o dia, indo descansar juntamente da sua besta de caudas.

—— O que você acha? —— Indagou à Kurama, fitando-a com os grandes orbes cinzentos.
—— Você está indo bem. Terá um longo caminho para isso, mas está indo bem. Por quê? —— A criatura questionou, retribuindo o olhar de sua companheira.
—— Eu não sei. Fico lembrando daquela derrota, e isso é vergonhoso. —— Continuou a fala, fitando a besta. —— Temo não conseguir esquecer. —— Concluiu, suspirando e abaixando o olhar.

Kurama fitou sua companheira e permaneceu em silêncio por um tempo. Nunca havia visto Altria daquela maneira. A derrota havia afetado-a de uma forma que nem a própria garota compreendia. Era apenas um sentimento amargo que permanecia dentro de si, constantemente a relembrando do fracasso. —— Vá descansar. —— A besta instruiu, e Altria fechou os olhos, esperando pelo amanhecer.

Considerações:

Técnicas:

Habilidades:

Itens:

O treino continuou, intenso. Cada dia um novo desafio, e a cada desafio, a loira se provava merecedora. Ainda sim, batalhava contra a memória da derrota que a amargou durante todo o tempo. Isso, porém, era algo que Dōji havia dito para ela se esquecer. Não encontraria respostas no passado, portanto, deveria olhar para o futuro, e focar somente em seu treinamento para com o Genjutsu. Lidar com sua derrota era algo que faria futuramente.

Estava imersa numa ilusão criada por Dōji, mas não sabia. A capacidade demonstrada pela anciã era tamanha que Altria sequer sabia distinguir o real do irreal. Isso, porém, era algo útil em seus treinos, necessário. Só sendo alvo das artimanhas de sua mestra que ela compreenderia o quão bem arquitetados poderiam ser as técnicas daquela arte. Desta vez, a ilusão era uma memória. A memória do dia em que Dōji e Altria se conheceram.

Dias atrás, após muito explorar o país da água, a Uchiha encontrou uma anciã sentada num bosque tranquilo, cercada por um ar místico que parecia dançar em seu entorno. Os olhos experientes encontraram os cinzas da garota, vendo através destes, vendo a alma dela. Com cautela, a Kiri-nin se aproximou, e humildemente se ajoelhou perante Dōji, a explicando o que fazia ali. —— “Eu vaguei pelo país da água em busca de um mestre para me ensinar a arte da ilusão. Em todos os cantos, você foi a única referência que eu tive. Dōji-sama. Estou aqui para me reinventar, tornar-me outro alguém: me redimir pelos erros passados, e principalmente após a derrota que tive há pouco tempo.” —— Falou, ainda de cabeça baixa.

Os ventos sopraram. O haori rosa balançou, mas o rosto impassível da anciã continuou. Estava estudando-a cuidadosamente antes de finalmente falar em um tom brando, mas firme, como uma líder: Você é capaz de aprender a arte do Genjutsu, Altria Uchiha. Mas, para isso, precisará olhar para dentro de si mesma, e enfrentar o seu maior medo. Lembre-se: O verdadeiro poder do Genjutsu não reside apenas nas habilidades ilusórias, mas também na compreensão de sua própria mente e emoções. Concluiu. A destra da anciã se moveu num gesto com ambos dedos indicador e médio, chamando a kiri-nin. Aproxime-se. Disse, mantendo o mesmo tom de voz de antes. Isso é uma memória, mas a partir deste ponto, nós podemos manipulá-la conforme quisermos, veja. Explicou.

O cenário mudou. O local outrora místico teve uma mudança súbita. Não mais era o local onde Altria e Dōji haviam se encontrado, agora, era uma memória do passado da loira, longínqua, de quando ainda governava Sunagakure. —— Esse lugar… —— Lembrou-se de casa. Mas, logo não era bem o que esperava: um estrondo ocorreu do lado de fora do gabinete. Uma invasão. Altria foi para as janelas, apressada, e viu os civis sendo mortos. Tentou pular, mas seus pés estavam presos, e logo, ela estava totalmente paralisada. —— O que é isso? Porque estou… —— Não concluiu a frase. Sentiu o metal frio em seu pescoço. Tentou olhar para trás, e viu alguém de seu passado que jurou ter morrido: Izō. —— Você ainda está vivo? —— Questionou o homem. Este, porém, só riu em resposta, e desapareceu em fumo. Altria estava solta, e Sunagakure não estava sendo alvo de invasões, nada daquilo aconteceu, ou sequer era real.

Dōji apareceu novamente, ostentando um sorriso nos lábios. Viu? Um sonho pode se tornar um pesadelo. Assim como uma memória pode ser alterada. Explicou. Esse poder… devemos ser conscientes. Quebre a técnica e me encontre lá fora. Instruiu e desapareceu em seguida.

“Kai!” Vociferou mentalmente, libertando-se da técnica da anciã. Altria seguiu até a mesma, que se encontrava sentada numa das rochas do riacho atrás de sua casa. Dōji a fitou e a chamou para se aproximar, quando a loira o fez, ela então deu início à fala. Seus treinos serão mais intensos daqui em diante. Você está pronta? Questionou. Altria meneou a cabeça em afirmação, e Dōji ostentou um sorriso gentil em seu rosto, dispensando a mulher em seguida.

Mais tarde, naquele mesmo dia. Tanto Altria quanto Dōji comemoraram, pois no dia seguinte, iniciaria o intenso treinamento para a completa dominação da arte ilusória.

Considerações:

Técnicas:

Habilidades:

Itens:

O treinamento tornou-se mais árduo. Todo dia Altria combatia inimigos com suas habilidades ilusórias, e só com elas; não podia utilizar de quaisquer outros meios para combatê-los. A mulher confiava em suas habilidades físicas, mas esta não era mais sua única possibilidade de combate: através da arte ilusória a qual dominava dia após dia, demonstrava tamanha força. As emoções foram trabalhadas, e sua personalidade outrora arrogante foi pouco a pouco substituída pela humildade que obtinha de sua mestra. Aquele sentimento de conquistar poder a qualquer custo substituído por uma busca à autoaperfeiçoamento. Altria encontrou em si mesma uma força interior mais profunda e duradoura do que qualquer vitória em campo de batalha. Claro, a garota ainda almejava o topo, mas desta vez, não a todo custo, não ao custo de seus amigos, e seu mestre, Zorojuro.

Cartas foram trocadas com seu mestre, além de Musashi. Durante todo o tempo que passou treinando, sempre avisava-os de como estava bem. Musashi e Zoro continuaram com seus treinamentos intensos, também se fortalecendo neste período; além disso, suas forças eram bem quistas pelo vilarejo, portanto, estavam em boas mãos. Kurama também estava tranquila. Todo esse tempo apenas se aperfeiçoando e treinando com sua jinchūriki tornaram seus laços ainda maiores do que anteriormente, e isso era refletido no quão confortável a criatura se sentia junto de Altria, suas ideias e todo o treinamento ao lado de Dōji.

Os confrontos de Genjutsu continuaram. Altria se superava cada vez mais, provando para si mesma e para sua mestra que estava melhorando na arte ilusória. A mulher não só conquistava cada vez mais as ilusões, mas também transformava as técnicas inimigas em suas próprias graças ao dōjutsu de seu clã. Sua habilidade aflorou por inteiro, revelando que era ainda mais poderoso do que se podia imaginar. “Se este nível é assim… O mangekyō deve ostentar ainda mais força ilusória.” Murmurou para si mesma, todavia, sabia do preço que deveria pagar para conquistar o poder – preço este que não valia a pena. Dōji se aproximou, libertando Altria de seus afazeres pelo restante do dia. A loira agradeceu, e foi tomar banho. Aparentemente estava na hora de conversar sobre algumas coisas, além disso, o treinamento estava próximo do fim. Ou pelo menos, o seu fim estaria dando início.

A noite chegou, e com ela, a tal esperada conversa. A Uchiha foi até o templo encontrar com sua mestra, mas só viu corpos caídos, já sem vida. Prontamente seu dōjutsu foi ativo, e a mulher começou a vasculhar o local. Kurama permaneceu inerte, apenas observando o desenrolar da situação. Altria começou a dar passos lentos em direção aos corpos caídos, e quando se aproximou o suficiente, tocou nestes, virando-os para ver seus rostos, mas se espantando quando o fez. “Musashi?!” Sussurrou ao ver o primeiro, indo para o segundo em seguida, virando-o também. “Emiya?!” Surpreendeu-se ao ver o amigo caído. O terceiro e último corpo no chão tinha vestimentas que a lembravam de seu mestre espadachim. Altria engoliu a seco e se aproximou, virando-o também; para sua surpresa, não era Zorojuro, e sim ela mesma, derrotada. Aquilo não fazia sentido, e apesar de estar um tanto nervosa, sabia que não encontraria a solução daquele jeito: juntou as mãos e fechou os olhos, suspirando profundamente, retomando a calma de outrora.

“Se acalme. Supere seus medos! Não tema a morte de seus amigos, fique mais forte e proteja-os!” Disse para si mesma agora que havia se acalmado.

Os orbes rubros-negros vasculharam o ambiente; portas, janelas, o próprio piso e os corpos, na busca de algo diferente. Não encontrou. Altria olhou para si mesma, para seu fluxo de chakra, e viu que estava diferente, sob efeito de uma ilusão. Com o auxílio de seu dōjutsu, desvendou a técnica e a desfez, contudo, não se livrou de fato da ilusão. O cenário mudou, voltando para a batalha onde ela havia sido derrotada. “Uma memória…” murmurou para si, fitando seus últimos momentos em batalha. Desta vez, porém, não havia caído, mas sim quem derrotou a antagonista. Sentiu-se frustrada, e lembrou-se da fala de sua mestra: “uma memória pode ser alterada.”

—— Eu não a venci. —— Comentou em bom e alto tom, observando as cenas alteradas. —— E eu aceito minha derrota. Me tornarei mais forte para não perder novamente. É uma promessa. —— Concluiu, deixando seu dōjutsu agir para quebrar a ilusão e voltar à realidade.

Você passou, Altria. A voz suave de Dōji encontrou os ouvidos da loira após ela se libertar da ilusão e aceitar sua derrota. Agora, você é uma especialista em ilusões, e uma nova pessoa. Continuou, encostando a destra no ombro da Uchiha. Com isso, seu treinamento está concluído, e eu te libero. Concluiu, abrindo um sorriso gentil para a criança. A anciã se afastou, indo em direção ao riacho detrás da casa, deixando Altria com seus pensamentos em meio ao salão do templo.

—— Você conseguiu. —— Kurama rompeu o silêncio, fitando sua jinchūriki.
—— Sim, nós conseguimos. Respondeu a loira, erguendo o punho para a criatura.
—— Vá descansar. Amanhã voltaremos para casa. —— Instruiu Kurama, tocando seu punho com o da Pendragon.
—— Vou ficar mais um pouco acordada, junto de Dōji. Pode ir descansar. E obrigada. —— Concluiu, deixando a fera dormir.

Altria seguiu até a anciã, e parou ao seu lado, em silêncio, e ali, ambas continuaram sem trocar uma palavra sequer, apenas observando o céu e as estrelas neste. O treino havia sido concluído, portanto, restava apenas a garota ir embora na manhã seguinte – o que ela fez após despedir-se de sua mestra e de todos que a auxiliaram em seus treinos.

Considerações:

Técnicas:

Habilidades:

Itens: