Três meses se passaram desde a épica batalha contra Kaguya, e minha vida como um ninja de Konoha ainda se encontra envolta em sombras, dor e perdas. A vitória naquela guerra foi conquistada com sangue, suor e lágrimas, e embora tenhamos triunfado, as lembranças daquele dia assombram minha mente incessantemente.

Quando derrotamos Kaguya e encerramos a ameaça que pairava sobre o mundo ninja, esperava comemorações e alívio. No entanto, a realidade que me aguardava era cruel e impiedosa. Como um dos sobreviventes, sinto o peso da responsabilidade por continuar e honrar as memórias.

Logo após a guerra, fui aconselhado pelo gabinete e outros sábios de Konoha a tirar algum tempo para mim mesmo, para curar as feridas físicas e emocionais que a batalha havia causado. E assim, decidi dedicar um período para me recuperar, refletir e encontrar um sentido para a minha vida após a guerra, ainda que essa motivação seja clara, a escuridão tornava-a vaga.

No entanto, mesmo quando tento afastar as lembranças dolorosas da batalha, elas persistem em me assombrar em sonhos e momentos de silêncio. As vozes de meus amigos caídos ecoam em minha mente, me perguntando se a vitória valeu o preço que pagamos. A culpa se mistura à tristeza, e me sinto perdido, sem saber como seguir em frente.

Nessas noites em que o peso da perda é insuportável, busco refúgio em locais sombrios e obscuros. Encontro-me frequentando prostíbulos e bares, afogando minhas mágoas em bebida. A efemeridade do prazer momentâneo dessas noites não me traz paz, apenas uma sensação de entorpecimento temporário que logo desvanece ao amanhecer.

Embora minhas ações possam ser interpretadas como fuga ou autodestruição, para mim, são um escape momentâneo dessa realidade dolorosa. A sensação de perder-se no meio da multidão e esquecer por um momento a dor que carrego é tentadora, mesmo sabendo que não é a solução.

É durante uma dessas noites, quando as estrelas são encobertas pelas nuvens, que encontro um antigo amigo. O Inspetor Bugiganga, que também carrega cicatrizes de guerra, me encontra sentado em um canto escuro do bar. Seu olhar é de compreensão, e ele se senta ao meu lado, sem dizer uma palavra. Não é preciso, pois ele sabe o que estou sentindo.

― Você não está sozinho nessa dor! - ele diz suavemente ― Todos nós carregamos perdas da guerra, e não é errado senti-la profundamente. Mas é importante encontrar uma forma saudável de lidar com isso.

Suas palavras tocam meu coração, e percebo que tenho negligenciado a importância de expressar minha dor e compartilhar meu fardo com aqueles que entendem. Compartilhar histórias sobre nossos amigos caídos e homenageá-los de maneira significativa pode ser um passo em direção à cura.

Após essa conversa com Bugiganga, decido que devo voltar a me envolver nas missões de Konoha. Encontrar um propósito em minhas habilidades como ninja pode ser a chave para me reerguer e superar. O gabinete então me designa tarefas variadas, desde resgates de civis até combates contra nukenins perigosos. Cada missão é uma oportunidade para provar a mim mesmo que posso continuar e honrar meus amigos com meu esforço e dedicação.

Aos poucos, encontro conforto na rotina das missões e no apoio dos meus companheiros. A vida como um ninja de Konoha é repleta de desafios e sacrifícios, e a perda é uma realidade que todos enfrentamos. No entanto, aprender a honrar a memória daqueles que perdemos, encontrando um propósito e compartilhando a dor com aqueles que entendem, é um passo essencial em direção à cura.

Em uma dessas missões, acabou recebendo um informante confiável, que me levou até um prostíbulo na periferia da vila. Ele menciona que pode haver informações cruciais sobre atividades suspeitas de um grupo criminoso que vem atuando na região. Relutante, adentro o local, ciente de que ali encontraria não apenas pistas, mas também um ambiente que me trazia conforto temporário.

Ao entrar no prostíbulo, sou recebido por uma mulher cuja aparência destoa das demais. Alta, de cabelos loiros e olhos azuis, ela se destaca entre as outras mulheres presentes. Reconheço imediatamente a dona do bordel, Sofia Pavlovna, cujo apelido depreciativo, "Fry-Face", não condiz com a forte presença que ela emana.

Em um misto de curiosidade e respeito, observo Sofia, notando as cicatrizes que marcavam parte de seu rosto e corpo. Ainda assim, ela parece segura de si, não permitindo que as marcas do passado a definam. Meu olhar se cruza com o dela, e percebo uma mistura de curiosidade e simpatia em seus olhos.

Sem perder a compostura, ela me aborda com um sorriso acolhedor e uma voz suave:

― Bem-vindo, Sannin de Konoha. Não é comum vermos um shinobi de tal patente por aqui. Mas acredito que você não esteja aqui apenas para apreciar a beleza do lugar, não é mesmo?

Surpreendido pela atitude dela, por já nos conhecermos, respondo com sinceridade, apesar do sarcasmo provavelmente ter ficado aparente:

― De fato, senhora Sofia. Estou em busca de informações sobre atividades suspeitas na região. Espero que possa me ajudar.

Ela me convida a acompanhá-la a um canto mais reservado do prostíbulo, onde podemos conversar em particular. Durante nossa conversa, Sofia revela-se uma mulher perspicaz e inteligente, com amplo conhecimento sobre os acontecimentos na área. Suas conexões e informações são valiosas, e ela demonstra uma compreensão única das complexidades da vida após a guerra.

Enquanto trocamos histórias e experiências, percebo que Sofia também carrega suas próprias cicatrizes emocionais, resultado de uma vida que a moldou de maneira singular. Nossos papéis de sobreviventes da guerra nos aproximam, e descubro que, além de um valioso informante, ela pode ser uma aliada na jornada de superação e cura.

Com o tempo, nossa relação se fortaleceu, e passei a visitar o prostíbulo não apenas em busca de informações, mas também de companhia e compreensão. Sofia se torna uma confidente, uma pessoa com quem posso compartilhar os medos e traumas que trago em meu coração.

Em troca, ela me aconselha, mostrando-me diferentes perspectivas sobre a dor e a superação. A convivência com Sofia me ensina que a força não está apenas na ausência de cicatrizes físicas, mas na capacidade de enfrentar o passado e encontrar significado nas adversidades.

Com o tempo, aprendo a encontrar equilíbrio em minha vida, honrando os amigos que perdi e construindo um futuro no qual eles sejam lembrados por suas ações heróicas e não apenas pela tragédia de suas mortes.

Sofia Pavlovna, a dona do bordel que, à primeira vista, parece cercada de estigmas, torna-se uma figura inspiradora, alguém que entende a importância de compartilhar a dor e abraçar a vida com todas as suas imperfeições. Seu bordel, uma casa de prazeres superficiais, torna-se um lugar onde, para alguns, é possível encontrar um pouco de conforto e alívio nas sombras da vida. E para mim, torna-se um símbolo de esperança e recomeço em tempos de escuridão.