Conseguir forças para continuar demandou tempo e esforço. Muitas vezes Aza pensou em desistir, enquanto perdido, lutando contra os próprios demônios de sua mente. Quando finalmente conseguiu, as recompensas vieram tão rápidas quanto o vento. A batida seca sobre a porta de madeira ressoava pelo pequeno apartamento de dois cômodos. O jovem levantou o rosto, arqueando as sobrancelhas, mostrando estar surpreso. Caminhou lentamente, até girar a maçaneta e ver um homem à sua frente com barba por fazer, olhos esverdeados e um sorriso sobre a face.

— Bom dia, Aza Chōsō. Você está sendo convocado para uma missão de urgência, boa sorte. —
— Mas já? — Não conseguiu conter o sorriso ao indagar o homem. — Tudo bem, obrigado pela oportunidade. — pegou o pergaminho que o shinobi fez questão de lhe entregar.

Com olhos curiosos, dançou sobre as palavras contidas ali, memorizando as informações e o intuito da missão. Sabia muito bem de suas habilidades voltadas para investigação, portanto, um semblante otimista pairou sobre si, enquanto corria para arrumar suas armas básicas, fixando a hip-pouch na parte da cintura, direcionada ao lado esquerdo do corpo para fácil acesso da mão dominante. Julgando estar pronto, restava ir ao portão principal, como ditava o pergaminho, orientando que esperasse um parceiro e, assim, começasse a missão.

Caminhou com velocidade moderada pelas vielas da Pedra, respirando o ar seco, sentindo-se vivo uma outra vez. No portão, pararia, recostado sobre um dos arcos, esperando por seu parceiro.

— Quem será esse cara? — sussurrou, suspirando firme.

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Os movimentos eram fluidos como a água, e apesar disso, o garoto não se contentava com aquilo. Garou estava no campo de treino quando foi abordado por um homem alto e de olhos verdes, convocando-o com urgência para uma missão. O pergaminho foi tomado da mão do homem, em silêncio, dispensando-o logo em seguida.

Os dedos dançaram pela fita do item, desenrolando-a e liberando o papiro; o conteúdo deste fora lido às pressas, pois quanto mais rápido terminasse a missão, mais rápido voltava a treinar. “Uma investigação?” Leu novamente para ter certeza se era isso mesmo pois não era bom com essas coisas. Mas, para seu infortúnio, estava de fato correto, e para piorar, teria um parceiro consigo. “Tsc.” Repreendeu, guardando o pergaminho no bolso e seguindo para os portões do vilarejo.

Correu em velocidade moderada até chegar a seu destino, e quando chegou, viu um homem parado, encostado num dos arcos do portão. O Iwa-nin o fitou de cima abaixo, avaliando sua força. —— Você é meu parceiro? —— Questionou o rapaz, dando de ombros e caminhando em frente. —— Espero que seja forte, teremos inimigos. —— Comunicou ao garoto, esperando que este o seguisse até o local designado pelo ninja de outrora

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Quando seu companheiro de missão chegou, mostrando uma personalidade ácida, o mancebo de fios enegrecidos se pôs a sorrir. Possui total confiança em suas habilidades, portanto, o riso sarcástico desdenhava do questionamento de cabelos prateados sobre o seu poder.

— Parece que infelizmente seremos parceiros. — entoou, pondo-se a andar junto a ele, entreolhando o pergaminho algumas vezes, verificando para onde deveriam ir, de acordo com as instruções.

O jeito enérgico com que aquele à sua frente se portava fazia Aza querer retroceder, voltar ao vilarejo e fingir que não havia sido convocado para uma missão. Entretanto, o papel como ninja da Pedra deveria ser seguido à risca, independentemente do aliado escolhido para o acompanhar.

Estavam cercados de montanhas arenosas, com diferentes tamanhos de rochas compondo o cenário disforme. As estradas de terra foram seguidas sempre com auxílio das instruções no pergaminho, onde Aza tomava a dianteira durante a jornada.

Cerca de uma hora e meia a duas horas foram suficientes para que um pequeno vilarejo pudesse ser visto ao longe.

— Espere um minuto. — disse, gesticulando com a mão esquerda para que o outro parasse.
— Qual seu nome mesmo? Me chamo Aza Chōsō, ou só Aza. Preciso que confie nas minhas habilidades de infiltração… — pausou, levando um cigarro do seu maço de derby, levando-o até a boca, acendendo utilizando um isqueiro metálico. Entre tragos, responsáveis por saciar o próprio vício, buscou terminar a breve conversa.
— Consigo ficar invisível utilizando minha energia, ao ponto de que ela controla o reflexo de luz envolta do meu corpo. Entrando no vilarejo, tentarei averiguar esses sumiços, enquanto você chama a atenção do pessoal se apresentando como Iwa-nin e também tente encontrar vestígios dos sumiços ou coisas do gênero. — terminando de explicar sua estratégia, pouco importante se ele iria segui-la ou não, Aza acumulou chakra sobre todo o corpo, controlando o reflexo de luz, inibindo cheiro, sombra e tornando-se invisível.

Rumou, em velocidade moderada até o diminuto vilarejo, buscando alguma passagem alternativa que não a principal.

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O rapaz seguiu logo atrás de Garou, reclamando que infelizmente ambos seriam parceiros. Realmente, era uma infelicidade. O Shinobi não gostava de companhia, tampouco confiava nela, mas se o vilarejo decidiu daquela forma… não havia muito a se fazer. Suspirou, deu de ombros e continuou a trilhar o caminho junto de seu “parceiro”, em silêncio, durante todo o trajeto pela terra batida.

Cerca de duas horas se passaram desde a saída de Iwagakure. Agora, estavam numa terra desconhecida – não tão desconhecida, mas distante o suficiente. O homem de cabelos negros parou, pedindo para Garou também parar, e assim ele o fez, ainda que estivesse relutante quanto a isso.

—— Aza… Sou Garou. E isso vai te matar um dia. —— Disse ao rapaz, apontando para o cigarro que este fumava. Mas, em seguida, o rapaz pegou um dos chicletes de seu bolso, saciando também o vício que detinha enquanto escutava atentamente a explicação do rapaz. —— Entendi. Boa técnica essa aí. Vá em frente, logo chegarei lá. —— Concluiu. O mancebo então tornou-se invisível e seguiu adiante. “Ele já foi…” Murmurou Garou em baixo tom, observando o céu. “Minha vez.” Falou e seguiu adiante.

Os passos moderados o levaram até o vilarejo. E quando chegou, não foi bem recepcionado. A bandana no braço causou estranheza para alguns homens em específico. O rapaz não tinha tempo a perder com isso, portanto, só seguiu adiante, perpassando as vielas até deparar-se com um pequeno bar. Se estava buscando informações, com certeza conseguiria algumas ali.

Quando chegou na porta do estabelecimento, Garou viu um homem baixo, careca e com uma barba por fazer atrás do balcão. O ninja se aproximou, debruçou-se sobre o mesmo e falou chamou o homem para conversar. —— Oi. Sou um ninja de Iwagakure e vim aqui porque me convocaram para investigar o desaparecimento de idosos. Tá sabendo de alguma coisa? —— Questionou, por fim.

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Enquanto Garou seguia os planos de Aza, o jovem de cabelos negros se movia, inperceptível graças a Meisaigakure no Jutsu, camuflando até mesmo o próprio cheiro. A passagem alternativa foi rapidamente encontrada, por meio de uma pequena abertura nos muros baixos do vilarejo. Conforme se aproximava, tomava cuidado para ter certeza se estava sendo seguido ou havia sido rastreado de alguma forma desconhecida por ele; afinal, tratava-se da maior técnica de infiltração que conhecia.

Podia ver, dentro do vilarejo, o quão simples ele era, se comparado ao da Pedra. Na verdade, não deveria sequer haver uma comparação desse nível. Era natural que um pequeno vilarejo fosse extremamente inferior à potência do país.

Continuou andando, percebendo alguns detalhes diferentes; as pessoas pareciam visivelmente com medo, talvez pela presença de Garou, mas, no fundo, não parecia ser esse o problema. Símbolos estavam estampados perto do poço, com sangue coagulado, em formato de um círculo, tendo um triângulo dentro da forma geométrica. Aza arqueou as sobrancelhas, mesmo que ninguém pudesse ver, não só pela cena macabra à sua frente, mas como todo o ar do vilarejo era deprimente.

Por, muito provavelmente, ter se descuidado e perdido o foco, Aza sentiu uma forte pancada na parte da nuca, fazendo com que o jovem caísse sobre o solo arenoso de terra batida. Seus sentidos foram se esvaindo aos poucos, enquanto lutava contra si mesmo para manter os olhos abertos, tentando ver quem havia lhe atacado. Conseguia, entretanto, ver um ser alto, com a aparência oculta por um sobretudo enegrecido. Sua luta não durou menos que dois segundos, sendo facilmente derrotado.  

HP: 1100/1125  | CH: 1465/1675 | ST: 02/06 | Sakki: 00/50

Sim. Há boatos de uma seita que anda pegando os idosos para sacrifício, se é verdade, eu não sei. Mas há boatos de que os triângulos invertidos mostram o caminho. Tome cuidado, garoto. O barista informou, retomando a seus afazeres e a atender os clientes que se acumulavam. Garou saiu do local e procurou pelo tal símbolo, mas a princípio, não encontrou. Suspirou, parou por alguns minutos, olhando ao redor, e então, retomou a caminhada.

O vilarejo era pequeno e pobre. Diferente da potência de Iwagakure. Ali, era como se o vilarejo principal sequer se importasse com os acontecimentos. Haviam mandado dois genins para averiguar, mas aquilo deveria ser investigado por alguém de patente superior. Sequestros não eram comuns, ou não deveriam ser. O garoto de cabelo prateado continuou andando pelas vielas, até deparar-se com um dos símbolos comentado pelo homem de outrora. Esse, era adornado por um círculo, com o triângulo no meio, ambos feitos de sangue.

“Será que Aza está bem?” Pensou o mancebo, se aproximando do símbolo e passando os dedos neste, notando que o sangue já estava ali há muito tempo. Deu mais alguns passos adiante, semicerrou os olhos e tentou ver adiante, mas quando o fez, ouviu algo atrás de si. Rapidamente se virou, levantando os punhos e a guarda.

—— Quem está aí? —— Deu um passo à frente. —— É você, Aza? —— Indagou, ainda com ambos os braços levantados. Mas a resposta não veio, somente o silêncio. “Deve ter sido um gato.” Disse para si mesmo, porém, quando abaixou os braços e relaxou, sentiu uma forte pancada na cabeça, desmaiando logo em seguida, sem ver quem havia lhe acertado.

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— Eles parecem diferentes… nosso trato foi só utilizar os velhos como sacrifício. — a voz rouca reverberou pela sala pouco iluminada.
— Eles estavam no vilarejo, à mando de Iwagakure, pelo que o homem do bar me informou. Jashin tocou em meu coração naquele momento… — o homem à frente do mais sábio mostrava respeito ao referir-se diretamente a ele.

A túnica manchada de sangue, com o tom enegrecido predominante nela, se moveu pelo solo arenoso, levantando pequena quantidade de poeira, enquanto os olhos pequenos, atrás dos óculos sobre a própria face, analisavam dois corpos desmaiados. A barbicha grisalha, assim como os fios que no topo da cabeça ditavam os anos de experiência do velho.

— Eles parecem fortes, de fato. Nosso deus deve ter algum plano em mente. Esperemos que eles recobrem a consciência. — ditou o mais sábio, prostrando-se um pouco distante de Aza e Garou, ainda analisando-os friamente.

O mancebo de fios enegrecidos recobrou a consciência aos poucos, sentindo uma dor latejante na cabeça, principalmente da nuca, como se ela estivesse ressoando. ‘’Merda… isso dói.’’ Pensou consigo mesmo, piscando algumas vezes enquanto sua visão voltava ao normal. A primeira coisa que viu foi Garou, na mesma situação. Depois, percebeu na face de um homem velho, aparentemente cinquenta e cinco anos. A batina preta, com manchas de sangue coagulados, além dos símbolos dispostos sobre o solo e as paredes rochosas traziam, ao jovem, a dedução de que aquele mesmo símbolo observado no vilarejo tinha ligação com esses, assim como com o homem.

— Garou… — chamou seu companheiro de missão, enquanto via o velho se aproximar cautelosamente, com um sorriso desconcertante sobre a face.

— Jovens da Pedra, né? nfufufufu. — sua gargalhada reverberou pelo cômodo.
— Vocês estão diante de uma Seita em prol de Jashin, o deus dos deuses. Esses símbolos… o sangue… são a representatividade da vida, imortalidade; a benção que todos aqueles que seguem o verdadeiro deus recebem ao fazer pequenos sacrifícios. — ele se aproximou o suficiente para os dois conseguirem sentir um arrepio sobre todo o corpo, como se a aura dele fosse a causadora disso.
— Existem duas opções, crianças… seguirem o caminho da verdadeira fé, ou morrerem como ateus desprezíveis. Terão cinco minutos para decidirem. — o bombardeio de informações atingiu o corpo dos dois. Cabia a eles escolherem qual caminho seguir, ou então, achar por eles mesmos um novo.  

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O garoto recobrou a consciência tempos depois, em um local desconhecido, acompanhada de uma dor no topo da cabeça. O sangue seco marcava o rosto do mancebo de cabelos prateados, e apesar do incômodo que sentia por conta do machucado, sua feição demonstrava o quão sério ele estava. Aza estava ao seu lado, e chamou pelo rapaz, mas este não deu ouvidos, apenas focou-se no homem à sua frente e o que este tinha a dizer, mantendo o silêncio enquanto sentia a aura maligna percorrer suas células.

Quando o homem acabou, o jovem Iwa-nin começou a rir, claramente demonstrando escárnio das falas daquele velho. Não poderia levá-lo a sério, afinal, não existia nada como a imortalidade neste mundo. —— Vocês matam e usam a religião como desculpa. Vocês não passam de vermes. —— Criticou, tentando se desvincular das amarras de ferro que o prendiam. Mas sentia-se fraco, incapaz de livrar-se das correntes pois as mesmas interrompiam o uso do chakra. O mancebo bufou, mas manteve a postura.

—— Dê-me uma prova, velho, e eu me juntarei a você, do contrário, irei me soltar daqui e tomarei sua cabeça como prêmio. —— Garou não tinha muito a perder, pois se fosse verdade, ganharia a tal imortalidade e alcançaria seu objetivo, do contrário, morreria. Esperava que o seu companheiro tivesse algum plano, apesar de não ter se comunicado com o próprio.

Se não conseguissem se desvencilhar das amarras, estavam ferrados.

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A resposta fervorosa de Garou era esperada. A de Aza, entretanto, ditava sua personalidade contrária ao de cabelos prateados. As indagações ao ancião eram rapidamente respondidas com ele retirando, debaixo da túnica, uma faca. Ele esticou o próprio braço, contrário àquele que segurava a pequena lâmina, enquanto cortava o pulso, na horizontal. O sangue carmesim pingava sobre o solo arenoso, permanecendo com seu semblante sínico e o sorriso entre os lábios.

— Pareço mentir para ti? — ele indagou Garou, entreolhando Aza, buscando entender mais sobre o silêncio do garoto.

Aza permanecia com seus olhos analíticos, imaginando como seria ser imortal, se é que isso realmente existia. De fato, parecia existir. O velho à sua frente era como um santo, carregando um pingente com o mesmo símbolo dispostos sobre as paredes e chão.

— E como posso ter essa imortalidade? Qual o preço disso? — a voz do mancebo rompeu o silêncio, fazendo o velho arquear a sobrancelha.
— O preço é tornar-se um fiel ao deus Jashin, simples assim. Lógico, é necessário ceifar a vida de outros para saciar nosso deus e, em troca, a imortalidade será uma benção doada pelo próprio. — ele pausou, gesticulando para que dois homens que não foram percebidos pelos jovens, anteriormente, retirassem as correntes que os prendiam.

Aza girou os punhos, vendo-se livre pela primeira vez. Duas opções apareciam. A primeira, era aceitar fazer parte dessa seita, mesmo que fosse necessário matar outros para adquirir a imortalidade. A segunda opção seria tentar fugir, ou entrar em combate com os cultistas. O fato era que a imortalidade fez crescer seus olhos e estava disposto a fazer qualquer coisa para garantir isso.

Olhou para Garou, acenando com a cabeça, tentando passar tranquilidade. O ancião sorriu uma vez mais. Ele sabia da decisão de Aza.

— Tragam as oferendas. — ordenou, na medida que os dois homens saíam do cômodo, voltando alguns minutos depois. Dois idosos, mais velhos que o ancião foram trazidos, amarrados, com fitas sobre a boca, evitando que pudessem falar.
— Aceitem o deus do mal com os corações abertos. É necessário acreditar, depois, um corte na jugular, rápido e eficiente, dedicado a Jashin. — ele explicou, gesticulando para que os dois jovens tomassem iniciativa.

O de fios negros tomou a dianteira, aproximando-se de um dos velhos. Tirou uma kunai da hip-pouch, colocando a lâmina sobre o pescoço dele. Podia sentir a veia pulsar. Fechou os olhos, hesitando por alguns meros segundos. Tomou coragem, realizando um corte profundo, enquanto imaginava como seria a imortalidade, crendo na força que Jashin poderia lhe conceder, como uma troca mútua.

Viu o sangue do sacrifício escorrer por seus dedos, manchando ainda mais o solo. Manteve-se neutro em seu semblante, frio, indiferente a morte, afinal, ela estava consigo desde os primórdios.

Restava ao mancebo voltar, após ter sido liberado pelos cultistas, caminhando de volta ao vilarejo da Pedra, junto de Garou ou não, enquanto dava vários tragos em seu cigarro.

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A feição de Garou dizia tudo que o velho precisava saber. A dúvida mortal foi respondida com uma lâmina fria no pulso. O sangue vermelho derramou pelo chão, intenso, e então, a ferida se fechou, não muito tempo depois. O questionamento veio, e o silêncio mediante a fala do homem foi o suficiente. Não fosse a curiosidade de Aza, o silêncio ainda seria companhia daqueles ali dentro.

Mas nem sempre a curiosidade vale a pena. Ceifar a vida alheia para manter a sua própria. Imortalidade ao custo dos inocentes. Inocentes? Não. Não existiam inocentes, e eu sabia bem disso. As correntes pesadas foram desatadas dos pulsos de ambos os garotos por sombras que não haviam visto. Garou tocou ambos os punhos, machucados, e olhou para o pulso do velho: em quanto tempo aquelas lacerações iriam melhorar? “Tsc.” Praguejou, mas manteve o semblante neutro, observando o movimento de Aza.

O primeiro sacrifício.

O sangue espirrou, manchando o Iwa-nin, mas este não aparentou ligar. Garou continuou a observá-lo, indiferente com o que acabara de fazer. “Heh.” Riu, e se aproximou do outro. A destra foi ao encontro da kunai na hip-pouch. Os olhos se encontraram, e num movimento rápido, um corte foi feito na garganta do homem.

O segundo sacrifício.

O sangue jorrou nas vestes negras do rapaz, e este, pôs as mãos na frente, deixando-as banhar. As mãos agora manchadas de sangue foram ao encontro dos cabelos dourados, tingindo-os com o rubro da morte. O ancião o liberou, e ele tomou seu caminho ao lado de Aza.

—— Espero vê-lo de novo, velhote. —— Disse, por fim.

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Antes de se despedirem, o velho gargalhou. Com o sorriso cínico sobre os lábios, pôs-se à frente dos jovens, impedindo que passassem. Aza estranhou, dando dois passos para trás em um movimento natural. Seu semblante sério, com as vestes manchadas de sangue quase que suplicavam pela resposta do motivo dele ter se colocado no caminho.

— Calma, sei que devem estar hesitantes… a imortalidade não funciona assim. Digamos que matar aqueles dois foi um teste; queria ver se estavam realmente dispostos a ceifar vidas em nome do nosso deus. Irei demonstrar como fazemos. — disse ele, gesticulando mais uma vez, fazendo as sombras trazerem novas oferendas.

A mesma cena se repetiu, agora, com três ou invés de dois humanos. O velho colocou-se à frente de um deles, tirando a pequena faca debaixo de seu sobretudo. A lâmina fatiou o braço do alvo, fazendo o sangue jorrar. Pegou um pouco do líquido, ingerindo-o. A cena grotesca fez Aza levantar as sobrancelhas, sem entender o intuito dele. Rapidamente, a pele do ancião ficou enegrecida, enquanto o símbolo jashinista era feito sobre o solo, envolta de si mesmo, utilizando sangue para isso.

— Esse é o ritual que vocês precisam fazer para se tornarem imortais. Jujutsu: Shiji Hyōketsu. Bem simples, não? — explicou, enquanto se esfaqueou, levando a lâmina até o próprio coração, perfurando-o. O homem à sua frente caiu no solo, com um buraco igual sobre o próprio peito, como se os danos causados em si mesmo fossem desferidos no corpo daquele que ingeriu o sangue, como um espelho. Ele, entretanto, parecia não sofrer com nenhuma avaria, com relação ao golpe que se auto infringiu.

— Então é só ingerir o sangue da oferenda, fazer o círculo e sacrificá-lo em nome de Jashin? — indagou Aza, enquanto viu o velho consentir com a cabeça. Restava ao jovem direcionar-se a aquele que deveria usar como sacrifício. Escolheu sem hesitar, certo de que, pela imortalidade, algumas vezes poderiam e deveriam ser retiradas, afinal, isso significava conseguir cumprir com seus objetivos, assim como salvar o vilarejo de qualquer outro mal.

Com a mesma kunai de outrora, rompeu parte da pele do escolhido, vendo o sangue pingar. Ingeriu, sentindo o gosto de ferro sobre os lábios. Era nojento, não havia como negar em seu semblante, mas, mesmo assim, continuou. Depois, utilizou seu próprio sangue, cortando a palma da mão, que sujou a terra para formar o símbolo jashinista, ficando no centro dele. Respirou fundo duas vezes antes de tomar coragem, perfurando o braço, vendo o sacrifício ter o mesmo perfurado também. Era notório que estavam ligados, pelo sangue. Ao intencionar acabar com o sofrimento dele, perfurou o coração, em uma única estocada. O sacrifício caiu, agonizando por alguns segundos, até morrer, enquanto que Aza permanecia vivo.

Quando tudo fosse resolvido, partia de volta ao vilarejo, agora sim, contando com sua imortalidade.

HP: 1100/1125  | CH: 1465/1675 | ST: 02/06 | Sakki: 00/50

Apesar de ter feito o sacrifício como ordenado, não foi bem o correto. O idoso pôs-se a frente de Garou e Aza, fazendo o Iwa-nin recuar alguns passos. O prateado arqueou a sobrancelha e fitou-o o homem, escutando-o. Um gesto foi feito, e então, três outras oferendas foram tragas, e uma delas, logo foi morta pelo idoso, demonstrando como funcionava o tal “ritual.”

Um corte foi feito. Sangue ingerido. A pele tornou-se negra, e no chão, com o sangue que derramou, um símbolo foi feito, o mesmo símbolo que o mancebo pôde ver nos arredores daquele pequeno vilarejo. Um círculo com um triângulo invertido dentro.

Outra fala, explicando o nome da habilidade: Jujutsu, Shiji Hyōketsu. Uma maldição feita através do sangue. A lâmina que outrora cortou a oferenda, agora, penetrava a carne do velho, perfurando-a e atravessando seu coração. Sangue escorreu por suas vestimentas, mas ele continuou de pé, enquanto o corpo tombou, sem vida. Aza tomou a dianteira, questionando o ancião e fazendo como o próprio logo em seguida.

—— Corte. Sangue. Símbolo. Morte. —— Repetiu para si mesmo três vezes seguidas, em baixo tom. A kunai de outrora, manchada pelo sangue do primeiro corpo, agora banhava-se no do segundo. E logo ia ao encontro dos lábios do rapaz. A pele tornou-se negra, e abaixo de si, um círculo foi formado com o sangue alheio.

—— Morte. —— Murmurou, e então, enfiou a kunai no próprio peito, atravessando seu próprio coração. Sentiu a dor de uma morte. Não foi a sua, mas a do homem à sua frente, que caiu sem vida aos seus pés.  —— Está feito. —— Falou, e guardou o objeto metálico na hip-pouch.

Sobreveio, então, o fim. Os corpos foram pegos pelas sombras, e o velho, com um sorriso cínico nos lábios, dispensou ambos os garotos.

Haviam se tornado imortais.

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