Yagura retornava da sua mais recente missão, em que tinha estado junto a uma obra para garantir que a estrada adjacente se mantinha livre de qualquer detrito. Com a ajuda do Chuunin, a obra poderia continuar sem qualquer complicação sendo que a estrada estava coberta por firmes paredes de terra que a protegeriam de qualquer arremesso ou queda de material acidental.

Os trabalhadores da obra simpatizaram com o ninja. No momento do acidente que por pouco não matou uma menininha e o seu pai, a bravura e rápido pensamento do loiro evitaram uma indemnização e o provável cancelamento da obra, assim como um enorme sentimento de culpa que todos sentiriam caso o pior tivesse acontecido. Pelos feitos, os senhores da obra queriam recompensá-lo com Ryous.

- Não, obrigado… – a sua cabeça dura entrava em efeito, recusando a oferta. Afinal, não era isso que ele queria e ganhava coragem para fazer o pedido seguinte - Tudo bem se eu levar alguma da madeira que têm de sobra? – indagou, enquanto olhava para uma pilha de madeira já cortada. Mais cedo, tinha reparado que os restos da madeira usada na obra iam ali parar.

O seu pedido foi aceite, com alguma relutância por parte dos responsáveis. Apesar dos restos já não terem grande utilidade, em Iwagakure a madeira era um bem precioso e qualquer resto poderia encontrar um uso secundário. Contente com a sua aquisição – e até orgulhoso por ter negociado de forma esplêndida (isto é, apenas na sua cabeça, pois para um tímido isto já era uma pequena vitória!) - dirigiu-se para a sua casa com um grande saco de pedaços de madeira que levava sobre os ombros.

”O avô Kenpachi vai ficar contente” enquanto caminhava para casa esboçava um sorriso ao imaginar a reação do seu avô ao ver toda aquela madeira. Desde a sua reforma como ninja que o seu avô se tinha tornado um hábil carpinteiro nos tempos livres. Nas traseiras da sua casa ele estava a construir um barracão em madeira. Todos os dias ele dedicava algumas horas à sua construção, fosse para envernizar a madeira, reforçar as estruturas ou adicionar um novo compartimento. Para ele, parar era morrer!

- Que merda é esta? – foi a primeira reação do ancião ao ver a sacola com as madeiras, no dia seguinte. Era meio da tarde, e o velho resmungão encontrava-se a dormir relaxadamente na sua poltrona após adormecer a ler o jornal. Ao ouvir o neto, para além de acordar de mau humor, teve que se levantar e dirigir até à porta com as articulações gastas da idade, tudo isto para ver um saco com madeira empoeirada, suja e partida aos bocados. Mas após o resmungo, sorriu. - Hm… Apesar das más condições, está aqui bastante… Talvez dê para fazer algo, mas preciso da tua ajuda - No final de contas, madeira era madeira. E também, uma boa oportunidade para avô e neto interagirem.

Dirigiram-se para o barracão. O seu cheiro era peculiar, uma combinação de tinta, verniz e metal enferrujado. O odor era quase agradável, mas ao mesmo tempo intoxicante caso ali ficassem muito tempo. Yagura já não entrava ali há muito, e surpreendeu-se com aquilo que o avô tinha feito. O barracão já tinha o seu próprio sistema elétrico e de iluminação. Inclusive, ao acender as luzes foi presenteado com os mais organizados compartimentos de ferramentas, as mais brilhantes, polidas e envernizadas paredes de madeira, de uma cor quase dourada.

- Precisamos consertar um buraco no teto – o avô apontou para o local, um pouco escondido, por onde estava a entrar luz do exterior. - Fica bem lá no alto, e tenho dificuldade em chegar. Vamos aproveitar o facto de seres mais alto… – disso o avô, num tom um pouco cansado. Uma parte do ancião concordava que já estava velho demais para alguns dos trabalhos que eram ali necessários. Mas ele nunca o admitiria.

Yagura subiu a um escadote, enquanto o avô lhe indicava as instruções. - Faz assim […] Agora faz aquilo […] Não é assim que se faz as junções de madeira! Estás a martelar mal! – reclamava o avô cada vez que o neto não seguia as suas instruções exatas. Enquanto isso, o chuunin começava a ficar imensamente frustrado com todas as ordens que lhe eram dadas, que a seu ver, eram injustificadas. A verdade é que a cabeça-dura do neto não tolerava aquela forma de discurso. Enquanto que a cabeça-dura do avô não admitia que as suas ordens não fosse seguidas ao pormenor.

- JÁ CHEGA!! – gritou para o seu avô, libertando a tensão acumulada. - Já chega das tuas ordens, vou fazer à minha maneira – ainda chateado, o loiro continuou a consertar o teto como achava melhor, ignorando por completo qualquer comentário do seu avô a partir daí.

- Tsk… Não admito que fales assim no meu barracão. – o avô, um cabeça-dura ainda maior, virou as costas ao neto e saiu do barracão, deixando-o acabar os trabalhos sem a sua ajuda.

Foram quase duas horas para o chuuninn arranjar o teto. Nesse tempo escolheu os pedaços de madeira que melhor encaixariam na secção descoberta, limpou-os, cortou-os na forma certa e por fim pregou-os à estrutura. Depois prosseguiu com o envernizamento que deixou a secar. A madeira não ficou com a mesma brilhantina, mas foi o melhor que o aprendiz carpinteiro conseguiu fazer.

Dirigiu-se de volta à casa dos seus avós, onde foi recebido pela avó com um lanche que mais parecia uma refeição completa – para uma semana inteira. - Obrigado Avó – esboçou um sorriso de agradecimento sincero, algo que até há alguns meses não sabia fazer. Então, deu também uma palavrinha ao avô Kenpachi antes de iniciar o banquete – Avô, já terminei o barracão… – proferiu em voz baixa, com medo da reação do ancião e um pouco ressentido da maneira como tratou o seu avô.

- Hmpf… Eu vou lá ver essa porcaria… – resmungou o ancião novamente, dirigindo-se com ar chateado para o barracão. Entretanto, Yagura ficou a deliciar-se com a comida. Certamente seria comida suficiente para aquele dia e o próximo. Enquanto comia, conversava com a avó que tanto gostava de ouvir e de falar com o neto sobre o dia a dia um do outro.

Após uns bons minutos, um estrondo e um grito “Ahhhh” foi ouvido, vindo do barracão. “Avô!!”, pensou o chuunin, de imediato partindo a correr para o local. O cenário estava empoeirado e foi apenas ao adentrar que reparou no avô Kenpachi deitado no chão, ao lado de um escadote caído, e com vários pedaços de madeira sobre si.

- AVÔ!! Estás bem?! – não parecia reagir… estava estático, no chão. Estaria morto? Enquanto se questionava, o seu coração palpitava, lágrimas subiam aos olhos apenas de imaginar o pior. Ainda por cima, a forma como a última interação entre os dois tinha corrido provocavam um enorme sentimento de amargura e arrependimento…

- Ai… O teto não ficou bem… Eu fui arranjar… - o avô falava em palavras moribundas, como se fossem as suas últimas. O pior cenário parecia verificar-se e a ideia de perder o seu avô preocupavam-no mais do que tudo.

Olhando para o teto, o loiro reparou que a secção que tinha acabado de construir tinha desabado sobre o seu avô, fazendo-o cair abruptamente no chão. O ancião, já com o corpo debilitado pela idade, tinha sofrido uma forte pancada com o chão.

- Mete no chão!! Eu consigo andar ainda… – disse o avô quando o chuunin tentou pegar nele. No momento da resmunga foi como se tivesse acordado. Afinal, não estava assim tão mal, mas precisou de uma ajudinha no ombro do neto para se levantar e voltar para casa.

Kenpachi tinha alguns cortes, e certamente iria ficar com uma grande dor de costas e nódoa negra, mas iria ficar bem. Tinha sido um susto para ambos avô e neto, e certamente uma lição para ambos. O ancião tinha aprendido - com as enormes dores que agora sentia - a não ser tão cabeça-dura ou perfecionista com os outros, menos exigente e mais compreensivo. Enquanto que o chuunin - ao ser confrontado com ideia de poder ter perdido o seu avô por causa de algo tão trivial - aprendeu a não ser um cabeça-dura incapaz de aceitar instruções de alguém que apenas o queria ajudar e ensinar.

– Desculpa Avô Kenpachi… Se eu tivesse seguido as tuas instruções, agora estarias bem… Vou tentar não ser tão teimoso daqui em diante… – não era fácil para o chuunin expressar-se, sendo que não era hábito mostrar esse tipo de vulnerabilidade. Dentro de si, havia ainda mais sentimentos que não expressou, como o grande susto que apanhou ou o quanto realmente gostava do seu avô. Mas certamente que isso estava subentendido, pensou.

- Tudo bem, Yagura… Eu também fui casmurro e demasiado exigente contigo. O teu trabalho até não estava mau, mas eu ainda assim fui lá retocar, mas já estou velho para isso… – admitiu o avô, sentado no seu sofá e com pedaços de gelo sobre as zonas afetadas pela queda. A sua avó, preocupada com o seu marido, iria tratar bem dele nos próximos dias.

No final, avô e neto deram um abraço, a tensão entre os dois estava resolvida e ambos saíam dali com uma relação reforçada. - Quando estiveres melhor eu retorno, e juntos vamos arranjar aquele telhado! – sorriu o ninja da Pedra, ao despedir-se do avô.

HP 700/700
CH 1225/1225
STA 00/05

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