1. As manhãs frias do inverno de Konohagakure no Sato pediam um alimento quente para começar o dia. Assim que sai do meu quarto, o cheiro aconchegante dos Nikuman feitos no vapor invadiam minha narina, que parecia puxar meu corpo como uma corda atrelada a minha cintura. Junto com o chá sendo infusionado, os pães recém assados, salmão grelhado, a sopa de missô e o suco preparado com a fruta mais fresca possível. Minha mãe e meu pai me observavam chegando na cozinha com meu pijama, bocejando e limpando o canto dos meus olhos. — Hmm, o cheiro está otimo. — Quase me arrastando com o sono que me restava ao acordar, puxei a cadeira e me sentei, já servindo uma boa xícara de chá quente. — Acordou bem mais cedo do que de costume, lembrou das missões de hoje é? — Minha mãe sorriu, colocando alguns Nikumans em um prato, além de fatias de pão caseiro com manteiga. — Mi-missões? MISSÕES?! Eu tinha que estar saindo agora para os acampamentos médicos! A Yuumi vai me matar, ai ai ai mal dia! — Corri me levantando, agarrando diversos bolinhos e ‘’estocando-os’’ dentro da boca, ficando com as bochechas cheias como um esquilo e suas nozes. Corri para fora de casa, atravessando todo o vilarejo no frio, até o portão onde iria para os Acampamentos Médicos nos arredores da Aldeia.

Quando finalmente atravessei uma pequena trilha na floresta, enfrentando o frio úmido da mata, fui reconhecido pelos médicos e assistentes, que contavam com a minha presença a trinta minutos atrás. — Yuumi nos disse que você se atrasaria, isso parece ser um comportamento comum. Mas devia ter pelo menos se vestido adequadamente…  — Provocou um dos assistentes, apontando para o pijama em meu corpo. — Droga… justo hoje que estou com meu pijama de Hokage! Mal dia! — Reclamei comigo mesmo, levando uma bala até a minha boca. — Vem comigo — Pediu o garoto, me levando para um outro assistente, que fazia a segurança do portão leste. — Ei, pode ir descansar, esse garoto vai te substituir. Ainda está vendo aqueles perigosos Nukenins? Aqueles que tem mania de degolar seus adversários?  — O garoto tinha um sorriso maldoso no rosto, enquanto o outro, de aparência mais velha, reprovava a história. — Não tem nada disso, garoto. Não deixe que Hit te assuste. Ninguém vai aparecer, mas não deixe de ficar de olho por isso. — Engoli seco, suando frio ao imaginar tais renegados. — Tudo bem, se eles vierem eu enfrento um por um! — Sorri confiante para tentar esconder o medo. Algumas horas se passaram durante meu turno, e nada acontecia além de alguns animais curiosos, precisando avançar batendo os pés para afastá-los, evitando contaminações. — Xô bichinho, vai vai, passa! Não pode vir aqui não, vão te fazer de churrasquinho… — Afastava-os com as mãos. Hit retornava. — Yuri, vou te substituir aqui, pode seguir para sua outra missão. Não demore para colher aquelas flores. —

2. A alguns quilômetros dali, a mata se fechava cada vez que eu me aproximava do centro da floresta, atravessando enormes galhos que iam se tornando cada vez mais grossos. As folhas se tornaram mais densas e numerosas, dificultando que os raios do sol da tarde atravessassem o verde e iluminasse o caminho, deixando grande parte da rota em um forte breu. Daquele ponto em diante, consegui encher apenas detalhes na natureza, mas, como se algo estivesse me atraindo até o local, haviam pequenos animais bioluminescentes à minha frente. — Isso pode ser chamado de sorte? Logo hoje que eu estou com o meu pijama de Hokage… deve ser um sinal, hehe — Sorri enquanto observava o caminho, ajustando a calça do pijama que havia caído levemente. Segui ainda mais fundo, utilizando aqueles animais como meu guia. Em poucos metros avançando, uma forte luz púrpura iluminava diferentes pontos, expondo, em todos estes pontos, o alvo da minha busca, a flor púrpura. Me aproximei, e com cuidado as colhi com a própria mão, cuidando com o peso do meu toque, mantendo meus dedos longe das pétalas, apenas com uma leve pressão pelo cabo da planta, , colocando cada uma em um plástico apropriado para o transporte daquele tipo de material. Refiz o caminho de volta para o Acampamento, onde daria início a uma nova missão após entregar o material para os médicos responsáveis. — Muito bem, Yuri, com isso conseguiremos fazer os novos medicamentos para nossos ninjas, bom trabalho. Deveria estar indo para a fazenda agora mesmo, não deveria? Não vá se atrasar de novo. — O médico chefe do acampamento me orientava sobre os novos passos do dia, que já se aproximava do entardecer. Sorri concordando com o mesmo, agradecendo pela missão. — Já estou indo, senhor. Espero um dia me juntar a vocês na equipe médica. Até mais, bom trabalho! — Ergui minha mão direita para me despedir. Enquanto saia do acampamento, puxei uma bala da minha bolsa ninja e a comi, deixando que meu corpo fosse aliviado de qualquer possível estresse gerado durante as tarefas do dia.

3.  Após cerca de trinta minutos de caminhada, finalmente cheguei na entrada da fazenda, onde um senhor parecia rastelar um punhado de vegetação recém cortada. — Boa tarde, senhor. Sou Yuri, vim a respeito do controle de pragas… — Me apresentei timidamente, observando que o homem me olhava dos pés à cabeça, enquanto mascava um pedaço de trigo. — Ara, sim sim. Os ‘’cueio’’ tão acabando com a safra. ‘’Nois’’ ia caça tudo eles, mas falaro que ia da problema com a vila. Faça o que quisé, mas da um jeito ai. — O homem, que parecia aborrecido por necessitar da ajuda dos ninjas da folha, abria a porteira da fazenda e me guiava até o plantio. O vasto campo era composto principalmente de arroz, contando com alguns vegetais mais distantes dali. O homem apontava para um punhado de legumes em diferentes regiões. — Aquilo são as armadia que colocamo, ve se serve… — E então ele se afastou. Me aproximei das armadilhas, notando que alguns dos legumes possuíam marcas de dentes no formato típico dos coelhos. — Vou precisar esperar até que algum deles dê as caras e então vou agir… já sei! Henge no Jutsu! — Uma leve cortina de fumaça tomou meu corpo, que se transformou na aparência de um espantalho. O que parecia ser fácil tornou-se uma tarefa árdua, sendo ela o simples estado estático que precisava me encontrar para não fazê-los fugir. Demorou vinte minutos e um pequeno animalzinho se aproximou da pilha. Bastou uma pequena manipulação do elemento da terra para travar seus pequenos pés no chão. O primeiro havia sido capturado, e o mesmo foi acontecendo com outros em diferentes armadilhas. — Ufa, parece que consegui. — Comemorei em silêncio, até ouvir alguns passos atrás de mim. — Olha, você realmente conseguiu. Meu pai queria matar um por um, mas ainda bem que você os capturou. Vamos recolhê-los e devolver para onde eles deveriam estar. Obrigada, Yuri! Aqui, leve isso como um extra. — Uma garota ruiva se apresentou, me presenteando com um enorme pedaço de torta de feijão doce, que foi devorada ali mesmo, enchendo os dois lados da minha bochecha. — Aaaah, tão gostoso!! Obrigado, isso já valeu a pena. Hehe, até a próxima! — Sai contente pela torta, mas não notei que meu pijama de Hokage já estava todo sujo de grama, terra e poeira.

4. Ao me aproximar novamente dos portões do vilarejo, um dos guardas saia de sua ronda para me abordar, portando um pergaminho que possuía minha foto, minha identificação shinobi e os dados para uma missão. — Yuri Akimichi, certo? Parece que chegou na hora certa… apesar… você está bem? — Ele franziu o cenho, um pouco incomodado com meu estado atual. Não julguei, parecia que estava rolando na terra e nas árvores por horas. — Ainda bem que tenho outro pijama desses… — Pensei, desviando um pouco o olhar. — Estou ótimo. — Respondi, sorrindo discretamente. — Certo, enfim. Temos um pedido do quartel para você. Você vai me substituir na patrulha de hoje, é coisa rápida, eu preciso ir ajudar minha irmã e logo volto para o posto, tudo bem? Vê se não se mete em confusão, haha! — O guarda parecia simpático, sorrindo e me entregando o papel. Sorri de volta e guardei o pergaminho. A primeira missão do dia me fez guardar o Acampamento Médico, e mais uma patrulha não iria me incomodar. Assim que o homem saiu, me sentei em sua cadeira, observando os portões de Konoha e seus arredores. Uma hora e meia se passaram sem nenhuma movimentação suspeita, até que consegui ouvir risos do outro lado do muro. Já estava praticamente anoitecendo naquele momento, o que me causava ainda mais estranheza. Caminhei até o local para verificar, arregalando os olhos com o que via. Apontei o dedo e gritei. — EI SUAS PESTES, O QUE ESTÃO FAZENDO?! — Esbravejei para as crianças que pintaram o muro com tinta, desenhando o rosto do Hokage com um par de bigodes e sobrancelhas enormes. Apertei o passo para correr atrás delas, mas o cansaço do dia me atingiu e me fez respirar fundo, enquanto senti um toque em meus ombros e as crianças paradas com medo. O guarda havia voltado. — Vamos lá garotos, não vamos fazer do jeito difícil, venham, vocês foram vistos. — As crianças vinham com o rosto abaixado de vergonha. — Obrigado, Yuri. Aqui, um extra para te ajudar. — O homem trazia um bentô em sua mão, e um dos grandes. — Minha irmã preparou especialmente para você! Até a próxima! — Ele sorriu dando dois tapinhas em minhas costas, seguindo com as crianças para a delegacia. — Eu comeria mais uns dez desses… — Suspirei, me sentando na calçada para devorar o bentô. Com a barriga cheia, iria retomar o caminho de casa.

5. O retorno para casa passava pelo centro do vilarejo, e nisso, com o cair da noite, muitos restaurantes abriram para o jantar, sendo este o ápice do movimento destes estabelecimentos. O aroma nos corredores da aldeia se tornava tentador para um jovem Akimichi, ainda mais com o cheiro do churrasco superando quaisquer outros, até mesmo a sopa do lamen, a fritura do guioza ou o preparo do okonomiyaki. O bentô que eu havia comido servia apenas como um aperitivo para saciar minha fome após um árduo dia atarefado, então uma mesa farta de churrasco gorduroso, arroz e uma boa jarra de refrigerante cairia como uma luva. A churrascaria, A Brasa, era a favorita da minha família, então não pude pensar em outro lugar para ir senão lá, procurando na bolsa o cartão de fidelidade para receber os descontos. Ao dobrar a esquina, me assustei com a movimentação no local, alguns Chunins coletavam informações do dono que, ao olhar para o lado, me via e me chamava com os dedos. — Yuri! Venha cá, meu filho. — Me chamava aos berros e com o rosto segurando o choro. — O que houve, tio? — Perguntei, tocando seu ombro. — Aquele maldito! Roubaram nosso estoque antes de abrirmos… já estou providenciando mais produtos, mas o prejuízo foi grande. — Ele explica, ainda abalado. — R-Roubaram… roubaram a comida, tio? R-Rouba…. ROUBARAM A COMIDA DO A BRASA?! GRRRRR IMPERDOÁVEL… EU VOU… EU VOU!! — Meu rosto ficou completamente vermelho em fúria, batendo o pé no chão e inflando as bochechas segurando um berro furioso. Um dos Chunins observou minha reação e sorriu. — O nome dele é Akimino Chouga, estávamos indo para a casa dele… mas que tal você ir? — Explicou. Estendi a mão sem dizer uma palavra, apenas pegando o endereço. Caminhei batendo os pés, com os punhos fechados pronto para esmagar tudo em meu caminho. Bati na porta do homem, que atendeu com demora. — Quem ta enchendo meu saco a essas horas? Sai daqui… — O gordão fedia a fritura velha, além de estar completamente sujo de suor e restos de alimentos. — VOCÊ, VAI, PAGAR! CHO BAIKA NO JUTSU!!! — Meu corpo se tornou enorme, tomando toda a casa dele. Inclinei para que meu rosto ficasse o mais próximo possível do homem, que já estava se tremendo. — Vai se entregar agora mesmo, ou eu vou te devorar até os ossos!!!! E NUNCA MAIS VAI PISAR EM UM RESTAURANTE DESSA VILA, SE NÃO EU… EU ACABO COM VOCÊ!!!! — Gritei, voltando a minha forma normal, ofegante com todo o folego gasto naquele berro. Akimino chorou e correu, interrompido por um Chunin que o fazia dormir com um acerto em sua nuca. Aplaudido, o dono do A Brasa também observou, me arrastando para o restaurante, me fornecendo um rodizo completo de graça. Após comer, retornei finalmente para minha casa, colocando meu pijama todo sujo e rasgado no lixo, tomando um belo banho e vestindo um novo pijama de Hokage. Dormiria para novas aventuras.