lgo se fincou na minha cabeça na última missão. Eu era boa em lançar armas, claro. Mas senti que aquela kunai que lancei não estava rápida o suficiente. Que se não fosse uma ocasião única, diferente e esquisita, eu não teria acertado.

Eu precisava melhorar isso.

Mas o que faltava não era técnica — longe disso. Onde quer que eu mirasse, eu acertaria exatamente ali, desde que… fosse um alvo estático.

O que faltava era velocidade.

Me dava nojo pensar que minha kunai estava lenta. Sentia calafrios só de lembrar do momento. Meu braço agiu com perfeição, mas o músculo, não.

Bem, é isso que pretendia mudar agora.

Ah, o campo de treinamento. Como eu odiava esse lugar. Treinar em locais abertos? Deixar possíveis futuros inimigos tomarem nota do quão forte eu sou? Irc.

Infelizmente tinha que ser ali. Eu não tinha dinheiro para comprar um alvo e praticar em casa, e não queria que minhas paredes ficassem todas riscadas de shuriken. Os alvos públicos deveriam bastar.

Não trouxe muita coisa comigo — somente três shurikens. E eu iria jogá-las incessantemente.

Não era o jeito mais convencional de se treinar força, mas ficar fazendo flexões ou levar uma tora de madeira de lá pra cá realmente não era algo que eu queria fazer.

Mas movimentos repetitivos causam cansaço e evolução tanto quanto essas coisas.

Lancei a primeira leva de shurikens: todas no meio. Era de se esperar. Repeti esse processo sei lá quantas vezes. Quando comecei, o sol estava no seu ápice. Agora, estava mais à direita.

Bem, ambos meus braços doíam um pouco — já comentei que sou ambidestra? —, os primeiros sinais de cansaço estavam aqui.

Mas isso não me afetaria muito. Novamente, lancei as shurikens.

Elas acertaram no círculo mais exterior do alvo.

Quê? Até agora todas tinham acertado o centro. Nem pra eu acertar o círculo mais próximo dele? Fui direto para o pior?

Estalei a língua. Apanhei as shurikens e lancei de novo, meu braço latejando. Acertaram o mesmo maldito lugar. Notei alguns palermas me encarando de fundo.

Um olhar foi o suficiente pra eles desaparecerem. Saíram andando feito covardes. Decisão certa, se ficassem ali, eu os usaria de alvos.

Suspirei, e então repeti. Repeti de novo e de novo. Eu não conseguia mais acertar o centro.

Mas esse treinamento não era sobre mira, era sobre força. Eu estava notando uma mudança leve na velocidade dos projéteis, mas estava encabulada pelo fato de não acertar onde queria.

Meu braço ia doer a semana inteira. Isso é bom, os músculos se regenerariam e se tornariam mais fortes.

Eu suava e ofegava como nunca antes. O sol tinha acabado de se pôr. Eu não saí de lá até acertar.

Demorou? Demorou. Meus dois braços pareciam prestes a cair. Eu me joguei no chão, encarando o maldito alvo com as três shurikens no meio. Ele estava acabado. Os cortes das shurikens se afundavam tanto na madeira que parecia que estava prestes a partir.

Me levantei, apanhei as shurikens pela última vez, e então segui para ter meu bom e merecido descanso.

Extra:

h, estar atenta ao que entra e sai da vila realmente é recompensador. Ainda mais quando se é Genin, já que você não levanta nenhuma suspeita, simplesmente está lá fazendo o seu trabalho, patrulhando a vila.

Num dia como qualquer outro, em um descanso entre uma missão e outra, lá estava eu, sentada sobre os telhados próximos ao portão principal de Kumo. Vi de tudo nesse dia, mercadorias de comida, pergaminhos, armas… mas o que realmente chamou minha atenção foram dois viajantes que chegaram com a bagagem cheia de livros.

Não é todo dia que chega uma encomenda de livros em Kumo. Não sei quem os pediu, mas consegui ouvir por acaso a conversa entre esses dois viajantes enquanto eu os seguia. Eram livros especiais. De conhecimentos um tanto… complicados de se conseguir.

Provavelmente não iam para a biblioteca; não tem nenhum conhecimento que presta naquele local. Me misturando à multidão e me escondendo entre as ruas, segui os dois viajantes até uma certa casa. Uma casa grande.

Eu não sabia quem morava ali, mas já tinha visto a construção algumas vezes. Seria algum Jonin, ou coisa do tipo? Para ter encomendado esses tais livros? Enfim, os dois viajantes foram recebidos por alguém na porta, e saíram da casa com as mochilas praticamente vazias.

Os livros ficaram ali. Eu tinha que dar um jeito de entrar.

Estalei a língua. Ia cometer um crime contra minha própria vila? Ah, claro que ia. Não era como se eu realmente me importasse com moralidade ou com Kumogakure em si. Se tinha conhecimento alcançável, eu iria alcançá-lo.

Fiquei no telhado da construção à frente da casa a observando por vários minutos. Tinha dois andares, duas portas e algumas janelas. Se eu ia entrar, teria que ser por algum desses lugares. O segundo andar tinha uma sacadinha, e a janela ali estava aberta.

Hesitantemente fui pulando de telhado a telhado até ficar na construção ao lado. Não era incomum shinobis saltando por aí, mas ficar na sacada de alguém realmente era suspeito. Esperei a chance certa, quando houvesse poucas pessoas na rua, e o fiz. Pulei na sacada e tão ágil como um gato, pulei a janela.

Admito que fui descuidada. Por sorte, não tinha ninguém ali. Se tratava de um quarto amplo com cama de casal e vários móveis. Senti uma pontada de inveja. Havia armários, criados-mudos, e até uma porta com uma sala adjacente que assumi que se tratava de um provador. As pessoas realmente precisam disso tudo?

Enfim, não havia sinal dos livros ali, então—

Alguém abriu a porta. Meu coração quase saltou pela boca, mas usei toda minha velocidade para se esconder no provador.

Não vi se se tratava de um homem ou uma mulher, só sei que a pessoa entrou no quarto, suspirou, e, enquanto eu torcia para que não entrasse no provador, se deitou na cama.
Ela ia dormir? Era 13:00. Fiquei incrédula, mas realmente passou-se alguns minutos e nada. A pessoa realmente apagou.

E, bem, eu tinha que sair dali.

Engoli em seco, e espiei no quarto. Era uma mulher, e parecia estar no sétimo sono cobrida na cama. Fui até a porta nas pontas dos pés e girei a maçaneta.

— Querido…? Já… chegou? Me deixa dormir mais um pouco — disse a mulher. Eu travei.

Ela não parecia ter acordado, só reagiu ao som da porta rangendo ao ser aberta. Sem responder, eu fechei a porta e fiquei aliviada. Havia várias outras portas ali, mas fui direto para a escada e consequentemente para o térreo.

A sala de estar era ampla, com tantos móveis que mal consigo listar aqui, mas era chique e aconchegante. Uma montanha de livros estavam descansando sobre a mesa da sala de jantar, como se estivessem esperando para serem devorados. Sorri e segui até eles.

Havia muitos temas interessantes. Me deu vontade de roubar todos eles, mas eles certamente perceberiam isso. Se eu pegasse apenas um, eles não…

Bati o olho em um livro de capa verde-escura. Seu título era: “A arte de Hitokugutsu: Marionetes Humanas”.

Quase enfartei.

Meu cérebro começou a funcionar tão rapidamente que eu meio que congelei. Não sabia o que fazer. Ele estava ali, bem na minha frente. O apanhei tão rápido que acabei derrubando alguns outros livros. Agora eu precisava sair dali o mais rápido possível.

Eu não podia arriscar sair pelo quarto novamente. Por sorte, a chave da porta principal estava logo ali. Achei muita tolice arriscar sair pela frente, mas se eu fizesse tudo naturalmente ninguém ia perceber.

Girei a fechadura e então a maçaneta, fechei — mas não tranquei — a porta. Saí andando como se nada tivesse acontecido, por mais que minhas mãos tremiam de ansiedade.

Hitokugutsu.

Assim que fechei a porta de minha pequena casa, imediatamente abri o livro sobre a mesa e comecei a lê-lo.

E tive a melhor experiência de toda minha vida.

Aparente era possível se tornar uma marionete. E continuar… viva. Você se tornava imortal. Desistia de tudo: sangue, comer, beber, respirar… mas sua essência continuava viva no núcleo. Contudo, se esse núcleo fosse destruído, você ia junto.

Eu não me importava. Tem tantas maneiras de se proteger esse núcleo, pode transferi-lo de marionete para marionete… eu estava completamente fascinada por isso.

Não era tudo. Eu podia transformar humanos mortos em marionetes. E manter a Kekkei Genkai. E se eu matasse o Raikage e criasse uma marionete com Jiton? Eu me deleitava na ideia. Eu queria uma coleção de marionetes humanas, cada uma com sua própria Kekkei Genkai. Seriam troféus e ferramentas para uma próxima batalha.

Eu estava em pleno êxtase.

É claro que para trilhar esse caminho eu precisava de muitos conhecimentos que ainda não tinha. Havia várias palavras e termos ali que eu não tinha ideia. Imaginei que para entendê-lo você precisaria ser pelo menos Jonin ou coisa parecida.

Eu passei o resto do dia lendo o livro, fazendo anotações importantes e planejando meu futuro como mestre de marionetes.

Extra: