Oga podia dizer que estava tendo um excelente dia.

Devido ao seu dia anterior repleto de missões, permitiu-se tirar a manhã de folga da floricultura, ficando em casa para treinar seu controle de chakra. Havia dominado o Tenshi Sedan, optando começar pela técnica de disparo para atingir maestria tanto na infusão de energia no cálcio, quanto na moldura óssea e manipulação a longa distância.

Quando finalizou, se alimentou e se preparou para ajudar Hana no turno da tarde, passando ao final do expediente no QG da vila para assumir mais uma missão.

Surpreendeu-se quando chegou e não havia ninguém no balcão, levando um susto com o aparecimento abrupto da kunoichi que tomava conta da recepção. Atrapalhada, lançou sobre a mesa uma pilha de papéis carimbados, alinhando logo após os óculos no rosto para identificar a presença de Oga.

— Ufa! E eu que achei que o turno da noite seria mais tranquilo… — Comentou a garota, caçando um papel do mural e logo colocando sobre o balcão de atendimento. — E você não descansa, ein Oga? Mas veio em boa hora. Inuzuka Gabei, chefe das obras de Suna, pediu que eu convocasse especificamente você para essa tarefa.

A figura ruiva sorriu em resposta, pegando a ficha e checando as informações.

— Ele acredita que uma patrulha nos limites da vila ajudará a evitar que baderneiros danifiquem os trabalhos de revitalização que foram conduzidos no norte. Ah, você também ajudou, né? Então está por dentro. — A atendente metralhava Oga com palavras, movendo suas mãos agilmente por todo o escritório como se fizesse milhares de coisas ao mesmo tempo. — De qualquer forma, ele falou que havendo qualquer ação suspeita, não corra nenhum risco. Ele sabe da sua agilidade e pede para que notifique ele no endereço que está no rodapé da ficha.

— Arigato, Nanuma-chan. Fico feliz pelo reconhecimento de Gabei-sama. Pode deixar comigo, já conduzirei a patrulha nessa noite. — Sorriu mais uma vez, acenando com a cabeça e fazendo as mechas rubras balançarem. — Que tenhamos uma boa noite de trabalho então.

Se despediu e logo rumou para os limites de Sunagakure, com as informações fervilhando na cabeça. Primeiramente verificou os acessos que recentemente haviam passado por revitalização do calçamento.  Traçou em sua mente uma rota de patrulha que passasse por todos os pontos, assim atendendo tanto o objetivo geral da missão quanto à solicitação de Gabei.

Boa parte de sua noite fora solitária, escondendo-se na gola de seu quimono para evitar o vento frio e arenoso do deserto. Mesmo com as muralhas, o ar pesado não perdia força, chicoteando o cabelo vermelho nervosamente.  

Devido sua deficiência visual, a paleta de cores de Suna ficava ainda mais melancólica à noite, despontando aqui e acolá, nos fracos feixes de luz lunar, alguns tons azulados. Porém algo na paisagem taciturna de Oga despontou, chamando sua atenção.

Um pouco distante do acesso norte direito algumas silhuetas moveram-se em contraposição ao tom claro da areia. Por ser justamente a área que ajudara a revitalizar, conhecia o cenário, realizando um trio de selos que ativaram o Henge no Jutsu e transformaram sua silhueta em uma pequeno rato, escondido entre duas pedras médias.

Perto o suficiente para ainda ter visão e audição dos estranhos, Oga aguardou, ouvindo em seguida algo.

— Cê acha que até quando vão cair nessa? — Uma voz nervosa falou, sendo respondida logo em seguida por outra.

— Desde que nosso bolso encha um pouco mais de dinheiro, não me importa.

Movendo-se o mínimo possível, Oga reposicionou-se para ter melhor visão, identificando assim três dos ajudantes de Gabei próximos um do outro. Carregando algumas enxadas, começaram a bater nos blocos, danificar as malhas de aço e cavar o concreto que ainda estava fresco, danificando todo o trabalho que fizeram anteriormente. Dentro de Oga uma raiva fervilhou, percebendo logo a intenção suja dos delinquentes.

Compreendendo o seu papel, com medo de perder o fator de flagra, Oga retrocedeu em sua forma roedora até estar em uma distância segura. Uma vez estando, voltou ao seu corpo humano e  começou o seu deslocamento apressado em direção ao endereço indicado por Gabei. Sentia no peito uma frustração imensurável, sobretudo considerando o coração puro do homem.

Mas não deu espaço para maiores distrações, pois seria através de seu empenho que talvez o homem conseguisse alguma justiça. Felizmente o ponto passado pelo Inuzuka era perto, não levando mais que 5 minutos para a sua chegada.

Batendo nervosamente na porta, notou que era a residência do próprio Gabei, ao qual relatou sobre todo o ocorrido em tom descompassado. Após ouvir tudo com atenção, o homenzarrão pôs uma das grandes mãos no ombro de Oga, dizendo.

— Você fez um bom trabalho, garoto. Eu assumo daqui. — Nada se percebia na voz, já nos olhos… — Já passam de meia-noite, volte para a sua casa e descanse. Amanhã conversamos.

Não permitindo-se questionar a escolha do Inuzuka, Oga apenas assentiu com a cabeça, vendo-o vestir um quimono largo e saltar em uma corrida veloz.

Tão solitária como fora o seu início de noite foi o retorno para a casa. Sua cabeça agitava-se com os pensamentos frustrados, pois no âmago de Oga sentia que devia ajudar. Mas as orientações eram claras e sabia que sua ajuda leiga acabaria tendo o efeito contrário.

Abraçando-se apenas na certeza de que a justiça seria feita, Oga adentrou a área residencial, não podendo ter certeza que tivera uma excelente noite.