Com orgulho e animação, Hana recebeu Oga após sua primeira missão como Gennin, sobretudo por ter como objetivo algo tão nobre e valioso para a vila. Porém as notícias correram soltas, e os contatos da mulher logo souberam do acontecido, resultando no aparecimento de outra tarefa.

Uma florista, concorrente amigável de Hana e agora pertencente ao corpo de médicos de Suna, tivera conhecimento através de seus colegas sobre a expertise de Oga no assunto, contratando  os seus serviços para a cobertura do turno noturno de sua floricultura enquanto partia em uma missão urgente. Ainda sob o efeito da excitação, a figura ruiva não hesitou em aceitar, terminando o seu expediente na loja da mãe e partindo então para o estabelecimento da kunoichi logo após.

Embora não tenha cruzado o caminho da garota, pegando a chave da loja em um esconderijo indicado por ela, e não ter recebido nenhuma instrução específica, Oga tinha uma extensa experiência prática naquilo, aplicando ali a mesma rotina que tocava ao lado de Hana.

Primeiramente organizou o lugar antes do início do expediente, podando os excessos de planta nos caules avulsos para ornamento, limpando o pó dos jarros expostos para venda, redistribuindo as flores por categoria (de acordo com o sistema da loja) e organizando os cartões de presente no mostruário do balcão. Feitas as tarefas mais urgentes, por fim limpou os móveis no geral, desfazendo-se de qualquer fragmento de espinho ou pedaços de podas, e varreu o chão de toda floricultura. Estando o lugar pronto para receber a clientela, abriu a caixa registradora, também preparando o ponto de venda para as cobranças.

Virando a plaquinha da porta e destrancando a porta, Oga enfim permitiu a entrada do fluxo de clientes, andando pelo salão com as mãos nas costas certificando-se que todos que entrassem se sentissem bem atendidos.

O tempo passou rápido, considerando o fato que estava fazendo algo que dominava e que genuinamente amava, até que, após certo tempo, uma mulher, de semblante melancólico, cruza a porta. Dirigindo-se diretamente ao expositor de flores, parou em frente aos lírios da aranha vermelha, ficando ali.

Oga ponderou por certo tempo se devia abordá-la, já que algo no seu comportamento e aparência dizia que o motivo de sua visita não era nada feliz. Dos pés à cabeça a visitante vestia preto, fazendo destacar suas longas mechas de cabelo claras. Aguardou mais alguns segundos, certificando-se de que havia cedido à estranha o seu tempo, abordando-a por fim.

- Boa noite, seja bem-vinda. – A desconhecida saltou em um pulo rápido, como se não estivesse presente em corpo. Sorriu envergonhada, apertando os nós dos dedos.

– Obrigada. – Respondeu acanhada, com um olhar perdido para o chão. A voz era doce, embora levemente trêmula. Um silêncio se colocou entre os dois por alguns segundos, fazendo Oga tomar novamente a dianteira.

– São bonitas, não é mesmo? – Apontou para os lírios. – Embora a minha visão não me permita desfrutar inteiramente da beleza delas, as Lycoris são conhecidas pelo seu magnetismo visual. – Aproximou-se do expositor, ajeitando um dos caules.

– Elas… – Respondeu com insegurança a mulher, seguindo logo após o seu raciocínio. – Simbolizam a saudade, certo?

– Sim… – Por um momento o ar tornou-se pesado. – Saudade de uma grande perda. – Respondeu por fim Oga, optando por não estender o desconforto da estranha.

– Wakarimashita. É a mais adequada. – Dando um passo para trás, a desconhecida apontou para o mostruário dos lírios, afirmando que era a sua escolha. Cumprindo seu papel como atendente, a figura Kaguya moveu-se para coletar alguns caules avulsos para montar o buquê.

– Será a escolha certa, acredito. – Disse por fim, virando-se para o balcão de preparo enquanto começava montar o arranjo usando a técnica de Matriz Híbrida. Para que não se estabelecesse um novo silêncio constrangedor, Oga insistiu em interagir, mantendo um tom de voz calmo e paciente. – Perdão, qual seria o seu nome? Confesso que não a reconheço e…

Girando o pescoço para olhar para a mulher, deu-se de frente com a floricultura vazia. Sem rastro de silhueta, de chakra ou do som dos guizos que enfeitavam a porta para sinalizar a chegada ou saída dos clientes.

O par de olhos verdes de Oga abriram-se, assustados, sentindo ali sozinho o ar melancólico que a ausência da estranha deixou. Segurando um punhado de lírios, deixou seus ombros caírem em uma expressão de confusão e pesar.

Não faltava muito para o seu papel na loja terminar, então retomou sua rotina de organização sem receber novos visitantes até a chegada do final do expediente. Certificando-se que tudo estava devidamente organizado, Oga desligou as luzes, guardando a chave no mesmo esconderijo de onde a tinha tirado.

Com os seus sentimentos confusos e pensamentos, retornou para casa, abaixo de um céu solidamente escuro e sem estrelas.