[Rank D] Flor Púrpura

Oga não dormira um segundo sequer. Seus dedos tamborilavam sobre o lençol enquanto seus olhos viam o tempo passar através da janela. Sem rumo em pensamentos, mal notara a noite cheia de estrelas dar lugar para os primeiros raios de sol, saltando com ansiedade da cama ao ouvir as batidas na porta. Era sua mãe, alertando que a hora havia chegado. Praticamente sugando a sua bentō, agradeceu Hana pela comida, abraçou-a em um aperto firme e partiu para o QG de Missões, onde teria a sua primeira orientação como Gennin de Sunagakure.

Sua aparência se destacava na paisagem pálida da Vila da Areia, onde um longo quimono vermelho misturava-se com as longas mechas capilares da mesma cor. Embora Oga, devido à sua deficiência, não identificasse a cor rubra, seu tom escuro e queimado formado pela protanopia era um dos seus favoritos. Ao longo do caminho, embora o tempo corresse e apenas aumentasse a sua ansiedade, não deixou de cumprimentar inúmeros civis pelas ruas. Seu trabalho na floricultura de Hana permitia que conhecesse bem a população de Suna, o que, por sua vez, estimulava ainda mais sua vontade em servir à vila e ao seu povo.

Apresentando-se para coletar a primeira missão, uma equipe médica foi responsável pela sua recepção, passando todos os detalhes da tarefa. “Além de sua captação como ninja, Oga, temos certeza que o seu conhecimento como florista será essencial para essa tarefa.” Ouviu de um dos iryō-nin, dobrando seu torso em resposta, sentindo lisonjeio. Logo lhe foi mostrada uma foto da Lupinus Arizonicus, uma leguminosa nativa dos desertos. Cruzando os olhos com a flor, seu formato prontamente lhe despertou memórias, embora o tom púrpuro fosse comprometido pela sua deficiência.

— Contem com a minha total dedicação. — Afirmou de forma decidida, antes de partir para a sua tarefa. O caminho não era nada curto e se quisesse retornar ainda naquele dia deveria se apressar. Em sua bolsa, além de seu armamento ninja, carregava um frasco de água e dois onigiris para sua refeição, então estava tudo sob controle.

Com seus braços soltos para trás, lançou-se em disparada, percorrendo seus olhos pelo céu temendo uma mudança abrupta de clima. A região montanhosa de Suna costumava ser instável quando o assunto era condição climática, o que inevitavelmente despertava em Oga certa aflição. Porém um teto azul vibrante se colocava sobre a sua cabeça, pintado por pequenas nuvens brancas. Talvez não fosse algo com o qual se preocupar.

Puxando o capuz com gola de sua vestimenta, protegeu-se da areia que voava contra o rosto, esforçando-se ao longo do caminho para vencer a distância no menor tempo possível. Ao começar identificar o topo da cadeia montanhosa, superou o restante dos 100m com o realce do Shunshin (-165CH: 5CH até 20m +2CH p/ metro adicional) para acelerar o processo. Sua missão refletiria em um avanço no setor médico de sua vila, o que colocava certa pressão sobre a sua performance.

No sopé da montanha central, onde a chance de florescimento da Lupinus era mais provável devido a maior incidência solar (o que tornava possível a criação das fendas, condições favoritos da leguminosa), Oga avaliou o grau de inclinação, por fim utilizando do Ki Nobori no Shugyō para ajudar na sua subida. Já no cume, sua suspeita provou-se válida, encontrando uma superfície fissurada por várias fendas e ramificações.

Lá de cima, pôde ver de relance a imensidão pálida de Suna, sentindo mais do que nunca na pele o calor sufocante. “Agora, a flor” pensou, começando a inspecionar o topo da montanha à procura do seu objetivo. O suor por baixo do quimono começava a atrapalhar o seu raciocínio após alguns minutos de varredura, forçando Oga a tomar um pouco da água que carregava. “Quanto mais próximo do calor, maior a probabilidade", pontuou mentalmente, tentando manter o foco.

“É linda, não é mesmo?” A voz de Hana preencheu a sua mente, revivendo-se em uma memória. “Sua estrutura vertical precisa de fissuras bem estreitas para que se sustente nessa posição característica.” A lição veio como um clarão, guiando os passos de Oga para o centro do cume, onde as rachaduras da superfície rochosa ficavam mais finas. Foi então que um feixe de luz preencheu os seus olhos com um reflexo azulado, característico da distorção de cor causada pela protanopia.

Ereta, como uma coluna ramificando-se em vértebras florais, Lupinus resistia ao sol de pé. Sua beleza se destacava em meio a sequidão rochosa, como se usasse a própria montanha como jarro. Sacando uma kunai de sua bolsa, Oga cortou gentilmente o caule da flor antes do último entrenó, permitindo que ela florescesse mais uma vez em seu resplendor púrpuro.

Guardando-a delicadamente, seguiu seu rumo de volta, dessa vez usando de sua velocidade regular já que economizara bastante tempo em sua vinda. No meio do caminho, comeu seus dois onigiris e tomou o resto da água, assim enfrentando mais confortavelmente o restante do trajeto.

Ao chegar em Suna, foi prontamente para a base médica, entregando a Lupinus Arizonicus com cuidado para um dos iryō-nin. Dobrou mais uma vez seu torso em respeito, satisfeito por colaborar para uma causa tão importante em sua primeira experiência como gennin da Areia.

Uma vez sendo dispensado, retornaria prontamente para a floricultura de Hana, ansioso para contar sobre sua primeira missão e sobre como o seu trabalho entre as flores o ajudara na primeira aventura.

by emme