Mais um pacato dia em Kirigakure. As folhas das árvores caindo; os pássaros cantando lá fora; enfim, detalhes que confirmam a chegada do Outono. E cá estou eu, de folga do trabalho. Sendo assim, eu posso descansar, ou ao menos pensava isso... até chegar uma carta inesperada e incomum na minha casa. Mas por quê? — Muita coincidência. Esse "barqueiro" é aquele que Hazu desmaiou? — Indagaria a mim mesmo, logo prosseguindo com meus devaneios. — Se for, eu nem lembrava desse cara. Falar nele, até hoje estou fugindo do esporro de Kami por um inocente ter morrido. Será que ele vai vir aqui na minha casa me punir algum dia? — Faria uma pergunta retórica com um dedo no queixo.

No entanto, apesar do pedido inconveniente, não recusaria. Afinal, estou livre hoje e achei um pedido sincero por parte do tal Hikari. E caso esteja certo, Hazu também deverá ser convidado. Então será mais uma oportunidade de trabalhar com o garoto. Certamente será uma aventura engraçada e prazerosa para nós dois. Sendo assim, começaria a ajeitar minhas coisas para partir, observando e pensando em como o dia está belo para uma missão. Após, partiria, mas não sem deixar algo que avisasse minha ausência para caso Saori chegasse em casa antes.

Chegando nas docas, veria uma grande concentração de pessoas. Infelizmente, até agora, não avistaria nenhum conhecido, para minha tristeza. Confirmando que havia sido convidado, subiria no navio. O vento batendo em meu rosto; o som da brisa do mar compondo uma bela música e muitos outros detalhes da natureza em contato com meu corpo e mente tornam tudo mais divertido e bacana.

Até que... — Sabia que viria. — Finalizaria, notando meu companheiro Hazu no navio, soltando um leve sorriso de canto ao vê-lo. Após, aguardaria o prosseguir dos fatos, ansioso pelo o que virá.

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— Obrigado, mas prefiro ficar em pé. É costume. — Agradeceria o gesto bondoso de Hazu de me oferecer espaço para que eu sente ao seu lado, me mantendo em pé e me equilibrando em algo pra não cair e passar vergonha. Ele demonstraria a curiosidade de sempre, o que me fez acreditar que é o Hazu de verdade e não um fantasma no navio. Ou talvez seja? Acho que não. — Na realidade, parece ser uma coincidência. De qualquer forma, achei o pedido bastante simpático. Não poderia ser insensível e recusá-lo. Além disso, devo investigar esse lugar. Mas o mais importante é curtir o momento. Não se preocupe comigo, estou relaxado. — Elucidaria, esclarecendo como me sinto em relação a curiosidade de Hazu à respeito da minha presença requisitada.

— Eu devo ter ouvido falar, mas não me vem na memória agora. Além disso, se lá residem as almas e memórias dos entes queridos que já se foram, então... — Antes mesmo que pudesse finalizar minha linha de diálogo, um homem levemente mais alto que eu, que se denominaria Kaito e alegara ser um arqueólogo, nos abordaria. Ele faria explicações a cerca das criaturas mencionadas pelo pequeno Hazu, indicando seus nomes e afins, tranquilizando o garoto em caso de medo de ser atacado pelos bixinhos. Além disso... — Tesouro, é? Talvez alguns vários que aqui estão presentes vieram pelo mesmo motivo que ele, e não para prestar homenagem aos falecidos. Ou seja só paranóia da minha parte. — Murmuraria, num tom audível somente para Hazu, expressando minha impressão à respeito do indivíduo peculiar.

Conversando e dialogando com meu companheiro, perderíamos a noção do tempo, e não tardaria até que chegássemos ao ponto de encontro. Eventualmente, o pessoal começaria a se alojar em suas tendas particulares. No entanto, algo que me surpreendera foi o gesto daquele que seria o responsável pelo convite feito a mim. O fato dele convidar ambos eu e Hazu para o alojamento da sua família. Estranharia, mas aceitaria a bondade e seguiria-o, mas ainda me mantendo atento à fenômenos estranhos. Não aceitaria pedidos de desarme, por motivos de segurança pessoal.

— Se eu não estiver errado, é aquele no qual tivemos uma baixa na nossa primeira missão juntos. Não sei se eles tem conhecimento sobre o fato de que fomos nós que o matamos, mas talvez seja ele. É essa a coincidência que citei antes. De qualquer forma, não estou acostumado com ser bem recebido assim com frequência. — Sussurraria em resposta a duvida da criança, um pouco surpreso com a hospitalidade embora minha fama não seja muito boa.

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Aos poucos, veria um misto de velório com festa. Por alguns momentos pude ver pessoas tristes e chorando. Justificável, pelo fator perda. Não devo culpá-los. Mas não tardaria para uma festa começar a se formar. Os outros convidados começariam a cantarolar, dançar, beber; enfim. Práticas comuns de uma festa. Apesar de eu estranhar as ações deles devido não ser muito respeitoso, pelo menos na minha visão, não comentaria nada com eles. Até porque eu tenho culpa dessa festa estar acontecendo, de certa forma.

Como um bom anti-social que detesta festas e prefere passar seu tempo livre sozinho e fazendo algo que gosto, me manteria distante do foco da confraternização, apenas sentado sob a areia, contemplando o seu estressado da noite, e a Lua. Mesmo que eles queiram que eu me sinta alguém da família, não tenho este tipo de sentimentos, então prefiro ficar afastado. Conforme o tempo passa, mais perto se torna a hora do rito de passagem e despedida final. No entanto, uma inconveniência surgiria durante o que deveria ser algo pacífico.

Homens com vestes que lembram saqueadores invadiriam o local da cerimônia, e começariam a caçar os bens materiais de cada um. Entre eles, pude notar alguém já visto outrora. — Que caça ao tesouro barulhenta e vulgar, Kaito. — Balbuciaria para com aquele que estara liderando a invasão. Sem hesitar, sacaria a Fire Sword com a canhota, mantendo a saudosa Stella guardada por não sentir necessidade. Vendo Hazu também já preparado, iniciaríamos um combate contra os saqueadores.

— Não parem, iniciem a cerimônia. — Bradaria para os convidados. Em seguida, eles tratariam de fazer o indicado, e começariam o rito de passagem. Músicas, objetos ritualísticos e afins seriam coisas perceptíveis no ritual. Algo engraçado é que nossos cortes de espada todas são executadas em sincronia com a batida das músicas reproduzidas. Não teríamos dificuldade alguma em neutralizá-los de forma não-letal. Em dado momento eu faria selos, até que... — Quem incomoda o meu descanso? — Bradaria uma imensa entidade com sua voz estridente. Se olhássemos com atenção, notaria ser o fantasma do barqueiro que "matamos". Após seu surgimento, os saqueadores restantes simplesmente desmaiariam de medo. Vendo isso, embanharia minha espada de volta. — Iori Uchiha, Hazu Doragon. Eu perdôo vocês dois e agradeço por protegerem as pessoas que amo. Pra sempre terão minha gratidão. — Agradeceria o espírito. Com olhar sério e expressão neutra, assentiria positivamente. Seguidamente, a entidade iria conversar com seus entes queridos, que estavam num mix de emoções. Sorrisos, choros, pulos, enfim. O rito de passagem certamente teve um resultado melhor do que eles esperavam após completo.

Eventualmente toda a confraternização teria seu fim. Mas não antes dos ali presentes nos agradecerem um a um pelo momento que tiveram e por ter os salvo, nos oferecendo bens, sendo recusados por mim. Após, nós simplesmente iríamos até nosso alojamento para dormir e descansar. Acordando, eu e Hazu nos dirigiríamos até a embarcação para voltar a Kirigakure após eu algemar todos os saqueadores. Lá, me despediria dos convidados que estão bastante sorridentes agora e de Hazu, meu amigo. Cumprimentando-o uma última vez, teríamos destinos diferentes agora. Retornaria para casa após entregar os bandidos no meu departamento.

O que eles não sabem é que todo o rito de passagem foi um Genjutsu meu.

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