Yoh Uchiha seria convocado de imediato por uma dupla de mensageiros da ANBU, silenciosos como de praxe. As faces enigmáticas refletidas em suas máscaras tornavam o teor da circunstância peculiar, tendo em vista que em toda a vida do Genin ele não teria vivenciado uma situação similar àquela. Sua presença era uma requisição direcionada pelo próprio Quartel-General, e não poderia ser ignorada.

A mensagem continha apenas um informativo da urgência da operação, e sem mais ninjas aptos em Iryōninjutsu disponíveis no momento, o rapaz seria um complemento importante para a Força Tarefa que estava sendo montada. Seriam convocados os mais habilidosos Chūnin de Iwagakure, liderados por uma Tokubetsu em ascensão. Yoh, a única exceção do grupo, provaria o seu valor. Parte crucial da missão estava em suas mãos, e era melhor que não falhasse.

No decorrer do trajeto até o Quartel-General, uma confusão ocorreu entre alguns shinobi. Alcançando o local tarde demais para conseguir evitar alguma tragédia que teria ocorrido, um mascarado da ANBU gritou para que ele fugisse, dando-lhe um pergaminho lacrado e uma missão: encontre Kaito Uchiha.

Após as afirmações confusas, uma flecha perfuraria o crânio deste, decretando sua morte. Veria a máscara despedaçada, e os olhos semiabertos. Mesmo sem vida, brilhavam em esperança. A depender da sua decisão, os rumos iniciais da operação estariam traçados.

Haviam dois comandos, mas pelo menos seis situações. A discussão permaneceria em andamento, e mais sangue poderia ser derramado. Uma mulher estranha acenava para que um grupo se esgueirasse, fugindo da bagunça. Dois homens ao fundo assistiam aos eventos desinteressados. Seja lá o que estivesse ocorrendo, Yoh Uchiha precisaria fazer algo. E rápido.

Considerações:

Yoh Uchiha decidiu seguir a estranha, desviando-se do comando inicial de sua missão. Ele teria sido conduzido até os portões do vilarejo, onde um pequeno grupo estava aglomerado. A vila estava bagunçada, e a baderna generalizada complicava o funcionamento de diversas posições estatais. Sem guardas para impedir a movimentação deles, passaram sem maiores empecilhos. Seguiriam em frente até a área montanhosa circundante ao vilarejo, um ambiente consideravelmente desocupado. A mulher chamaria a atenção do grupo batendo palmas, efetuando alguns sinais com as mãos em seguida. Ela era considerada bonita aos olhos da maioria, não muito mais velha que a maioria dos presentes, tendo a desenvoltura física de uma mulher em seus dezoito anos. Seus cabelos lisos de coloração prateada eram presos num rabo de cavalo por uma presilha azul improvisada. Dois únicos fios de sua cabeleira eram proeminentes, estendendo-se por pelo menos trinta centímetros. Um destes era mais volumoso que o outro, por algum motivo diverso desconhecido e difícil de identificar, tornando o visual relativamente assimétrico. Os olhos claros dela estavam focalizados em um um shinobi em sua frente, mais ou menos da mesma idade de Yoh.

— Ela está dizendo que devemos seguir com o planejado. Mesmo que tenha sido quase morta pelos assassinos, covardia só levará a mais problemas.

— Não sei se eu esteja em posição para relatar, mas esse garoto esteve seguindo nosso grupo quieto. É realmente para ele estar aqui? — um Chūnin mais velho, cujo aspecto físico estavam desalinhados com o padrão de beleza socialmente utilizado. Observava Yoh com estranheza, como se duvidasse de suas capacidades.

— Ela está dizendo que ele é um Iryō-nin, e será importante para nossa missão — ele traduziu com dificuldades a resposta dela, demonstrando não ser muito habilidoso na linguagem de sinais — Vamos acampar aqui e assim que amanhecer seguiremos viagem. Eles não procurarão por nós nesse lugar. Pelo menos é o que esperamos.


Um acampamento improvisado seria alocado nas imediações, e eles se separaram em três pequenas barracas diferentes. Yoh dormiria ao lado de alguns dos outros Chūnin, enquanto a metade restante do grupo utilizaria doutro. A Tokubetsu permaneceria sozinha, considerando sua posição e influência na missão. Ela solicitaria que nenhum ninja fosse importunar seu descanso, embora seus olhos tivessem caído na direção do rapaz rude e grosseiro que havia questionado a presença do jovem Uchiha no alojamento. A face da mulher era indecifrável, mas havia alguma emoção contida em relação ao sujeito, seja ela positiva ou negativa. Os olhos dele perseguiam os seus, mas eram evitados. Ela virou de maneira abrupta, num ato que pode ser interpretado tanto como timidez quanto repulsa.

(...)

A noite iria passar com certa tranquilidade, até a Hora do Lobo. O rapaz rabugento teria dormido especificadamente ao lado de Yoh, como se quisesse estar próximo deste. Ele teria se levantado lentamente, com o intuito de evitar despertar o restante do grupo. Acidentalmente, devido a proximidade com o Iryō-nin, este esbarrou em sua perna. Sem perceber a gafe, ele tentaria se esgueirar para fora da cabana, se dirigindo ao desconhecido. Ele deixaria para trás um pergaminho caído de seu bolso, contendo um mapa.

”Kaori Kamizuru”:

Considerações:

As ações impulsivas de Yoh havia tornado a situação insustentável. O shinobi meramente, a partir de um único selo manual, paralisou o rapaz através do “Kanashibari no Jutsu”, impossibilitando qualquer tentativa de reação. Um sorriso maquiavélico fora projetado em sua face, conduzindo o Uchiha forçadamente até a tenda isolada na qual residia a comandante da operação.

O rapaz foi deixado na entrada, imponente. Poderia somente vislumbrar o vulto do homem avançando na direção da mulher, e ouvir suas palavras cruéis. Num tom de voz baixo, quase num murmúrio, ele diria para Yoh:

— Deprimente, garoto. Você achou mesmo que conseguiria me impedir sem uma estratégia? Típico de um Genin. Tolo e ingênuo — ele provocou um estalido com a língua, cobrindo os lábios da Kamizuru com a mão. Forte, ele imobilizou completamente a garota, enquanto ela se debatia aterrorizada — Eu poderia fazer bem pior com ela, mas se eu ligar a luz para que veja, será pior. Não posso torturar, nem tornar a noite dela um inferno, mas posso tornar a sua. Todos os dias eu quero que você pense que isso aqui foi culpa sua. Como se sente agora que percebe quão você é inútil? — seu tom era sereno, e em nenhum momento ele aparentava sentir remorso. Ele pressionou o pescoço dela com a mão livre até que ela fosse vítima de asfixia, batalhando por sua vida até o último momento. Seus suspiros desesperados eram débeis e ineficientes, mas toda a cena ocorreu distante dos olhos juvenis de Yoh.

(...)

Assim que o trabalho esteve finalizado, o alarde foi provocado, numa encenação minuciosa. Yoh Uchiha seria acusado de um crime que não cometeu, e levado detido para o vilarejo como autor de um assassinato. Sua pena seria cumprida num reformatório, apenas não cumprindo todo o período que lhe fosse cabível devido às ressalvas acerca de sua tenra idade. Jovem demais para responder pelos seus atos, sua família seria responsabilizada pela educação falha e teriam de responder judicialmente nos próximos anos.

A vida dele jamais seria a mesma. Abalado por não ser capaz de resgatar sua líder, a escuridão noturna passou a aterrorizar o sono de Yoh, incapaz de esquecer por nenhum instante a cena quando as sombras eram projetadas. Seria o maior fracasso de sua vida recente, e refletiria em seu futuro, necessitando de mudanças caso quisesse alterar sua visão. Um longo caminho teria pela frente para enfrentar seus demônios, e carregar consigo o ódio intrínseco de seu Clã, cada vez mais latente em seu âmago.

E o inimigo? Após o ocorrido, todo o esquadrão seria abatido e o plano de conspiração seria um sucesso. A sociedade de Iwagakure seria modificada permanentemente por uma crescente classe social reclamante, opondo-se a todas as normas comuns vistas em tradições shinobi seculares. Uma nova era começaria, e o destino dela cairia diretamente nos ombros dos próximos que assumissem a dianteira a partir de então.

”Kaori Kamizuru”:

Considerações: