Batsuki tinha uma cisma em se envolver com criminosos — talvez isso fosse um sinal do destino sobre seu futuro. Pessoas como ele nunca eram aceitas com facilidade. Mesmo na infância ele não era. Questionador, expansivo, reflexivo. Os professores nunca foram com sua cara, assim como a maioria dos criminosos com quem teve envolvimento compartilhavam sentimentos de desgosto com o sistema, com a inflexibilidade das normas shinobi. Preferia não pensar sobre o assunto. Tinha um enorme medo de acabar afetando a mãe com decisões precipitadas; por isso, ainda detestando a ideia, tentava seguir as regras ao máximo. No entanto, quando Kayn cumprimentou-o como verdadeiros companheiros, ele não teve condições de evitar refletir sobre o tópico.

— Eu sei como podemos levá-las, mas preciso descansar um pouco antes — suas palavras vieram acompanhadas da desativação de suas técnicas. — Posso usar a técnica de invocação após isso. — Sua explicação veio com ele se encostando numa das paredes para descansar um pouco. Apesar disso, sua mente não parou de trabalhar. Ainda tinha muitas perguntas sem respostas naquela missão e um medo pairando sobre ele: como o homem-sem-nome reagiria após a mudança de rumo dos dois deixados para concluir aquela tarefa? Enfrentá-lo estava fora de questão. Nem unindo forças os dois teriam chance, se o que havia sentido fosse mesmo vindo dele; era chakra demais.

Naquele momento, preferiu esperar até Kayn terminar de libertá-las. Talvez não pudessem viajar de volta à vila com seu nível de cansaço, mesmo após a pausa, mas teriam mais chances de levá-las em segurança a algum lugar afastado dali.

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Aquelas mulheres estavam destruídas. Não havia palavra melhor para descrevê-las. Destruídas física e psicologicamente. Algumas mal conseguiam andar. Batsuki normalmente não se importava com outras pessoas, mas teve que virar o rosto mordendo os próprios lábios para não começar a xingar e voltar a ser aquele adolescente explosivo. Pouco se importava com a integridade individual delas, mas ficava frustrado em saber que tudo aquilo ocorria dentro da vila — diante de uma gigantesca crise sociopolítica com direito a possíveis Kages falsas.

Os reforços continuavam tentando arrombar a barreira de pedra. Batsuki ficou olhando naquela direção, concentrado, refletindo sobre todas as suas ações até ali. Sobre como conseguiria salvar mais pessoas se tivesse parado mais cedo e ajudado aquelas mulheres ou seguido a pista; mas não fizeram, o homem-sem-nome havia sido convincente o suficiente, ainda mais depois de sentir o chakra do mesmo. Tudo nele soava estranho. A postura dele na estalagem, na estrada, até mesmo ali. Havia se separado deles. Ele sempre fazia isso. Ainda assim, ele recuou e agora aquelas mulheres corriam risco de vida e Batsuki não tinha certeza se poderia salvá-las, mas com certeza tentaria.

— Daremos um jeito — ele insistiu reativando a técnica sensorial.

Desistiria quando ficasse insustentável, arriscado demais; quando colocasse sua vida na mira da Morte. Até lá, ele ainda tinha oportunidades. Ele ainda tinha esperança. Uma palavra engraçada que dentro dele quase não possuía significado. Aproximou-se da porta trancada, uma possível saída. Analisou o painel numérico pedindo uma senha de três dígitos e aquilo o deixou ainda mais frustrado. Tudo por culpa de sua covardia na estrada, tudo por se apequenar diante do chakra monstruoso do…

Batsuki tentaria colocar 678 no painel, desconfiado como era, já não achava absurdo que aquele estranho fosse um agente duplo trabalhando muito mais para o outro lado. Se conseguisse o acesso seguiria caminho tentando salvá-las. Caso não funcionasse trataria de invocar um dragão, um dos mais poderoso de todos para destruir tudo: Kōra. Se isso funcionasse, mandaria colocar todas as vítimas sobre ele e o mandaria começar a destruição em massa para abrir saídas para eles.

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Batsuki não queria estar certo. Isso acontecia às vezes, quando o acerto significava problemas muito maiores. Quando os números digitados liberaram o acesso deles, soube antes mesmo de sentir o chakra do “companheiro” que as coisas ficariam assustadoras dali em diante, pois, naquele momento, ele soube que toda a missão estava prestes a terminar de forma trágica. Sentir o chakra monstruoso daquela “pessoa” deixou tudo ainda mais claro. Hesitou em avançar, enquanto Kayn guiava aquelas mulheres, vítimas de tanta adversidade — mas entrou em seguida, com a mente pronta para enfrentar os terrores de uma luta inevitável.

A cena no interior do espaço foi ainda pior do que ele sequer imaginou. 678 estava ensanguentado em cima de cadáveres. Junto dele… a Tsuchikage?! Uma criatura dotada de peças robóticas, mas com a feição da líder exalava inumanidade e tinha também uma numeração com ela: 123. Batsuki apertou os olhos, vendo muitas informações atravessarem sua mente num piscar de olhos. Os números, os absurdos, os inimigos enfrentados anteriormente… aquele homem era mesmo humano? Com certeza ele tinha chakra, mas isso fazia mesmo dele um ser humano ou apenas um experimento como a cópia da chefe de vila?

Logo ele falou. Condecorando-se como o verdadeiro herói da missão, impondo pensamentos terríveis contra eles. Batsuki voltou à seriedade, sua técnica sensorial mantendo-o atento ao menor sinal de uma ofensiva vinda daquele chakra, mas igualmente buscando outras assinaturas nos arredores. Kayn não aceitou aquelas palavras carregadas de maldade e preconceito. Batsuki concordava com ele; não poderiam mais sustentar tantas mortes de inocentes. Ainda assim, permaneceu observando o momento, analisando os detalhes, pensando em estratégias e possibilidades; enfrentar aquele homem era uma péssima ideia, mas ouvi-lo destrinchar uma ideia tão estúpida sobre fracos e fortes, assim como seu pai acreditava, só o colocou numa posição ainda mais contra o monstro.

“Revolução”, ele disse ao apontar para a cópia da Tsuchikage. Batsuki conteve a vontade de soltar um enorme riso de escárnio. Ainda queria coletar mais dados. Deixando-os falar estava entendendo melhor com quem estava lidando. Pois então descobriu que a líder da vila fez acordos com todos — e isso ele já esperava, pois, ambos eram agentes duplos e, portanto, grandes promessas deviam ser feitas para mantê-los do lado certo. Claramente não havia adiantado, a menos que… não teve tempo de falar nada e um ataque mutilou uma das mulheres e um combate iniciou e o homem-sem-nome clamou o nome do rapaz.

— Eu não quero ficar atrás da linha do progresso — assumiu, mas suas feições carregadas de ódio não condiziam, muito menos o selo do carneiro que logo fez seu corpo ser invadido por eletricidade. — Mas o progresso não está em matar inocentes, muito menos em desumanizar as pessoas, isso é ficar estagnado na violência já existente do nosso mundo. Isso é compactuar com as ideias estúpidas que eles continuam cuspindo em nós. Ao meu ver você é só um imbecil que acha que está mudando o mundo enquanto joga no mesmo time que eles. Já conheci outros como você e o fim deles não foi nada bom.

Batsuki não era o mais veloz. Nunca seria. Ainda assim… precisava tentar. Gritou chamando atenção das mulheres para que elas se protegessem e avançou contra aquele homem-sem-nome para auxiliar o companheiro numa batalha em que, provavelmente, não teriam chances reais. No caminho, fez selos rápidos, disparando pela boca uma enorme quantidade de eletricidade na direção do inimigo, mas igualmente tentando acertar uma das paredes se ele desviasse, para abrir alguma maneira de elas se abrigarem ou fugirem antes que a luta piorasse.

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O rugido elétrico atingiu em cheio o rosto do inimigo, algo que nem mesmo Batsuki imaginava que aconteceria. As faíscas douradas se espalharam pelo crânio dele, dissipando-se um instante depois, sobrando apenas uma face danificada com faíscas azuladas se espalhando como uma máquina, metade do rosto danificado com sua técnica ofensiva. Kayn aproveitou a brecha para usar as habilidades explosivas que compartilhava com o chunin. No entanto, o espadachim bloqueou como se não fosse nada, fazendo o chakra imposto no golpe desaparecer, claramente drenado — pelo pouco que conhecia dos livros, aquilo era, muito provavelmente uma técnica de chakra kyuin.

Mal teve tempo de refletir sobre, pois, o companheiro foi atingido, por sorte não em cheio, e derramou sangue no chão, mostrando que ainda ninguém ali estava no auge. Novamente a defesa do monstro foi aberta e mais um golpe acertou em cheio, provocando nele uma risada transtornada que fez o menino loiro nublar ainda mais a expressão ao ouvi-lo confabular sobre a tecnologia e a sua evolução. Aquilo era científico demais para um espadachim dominar e sabia disso, pois, quando ficava próximo de Hanamaki ou de Mana, ele sempre notava a diferença. Quem estava envolvido naquilo? Será que a vila tinha motivos para desconfiar de Hanamaki no fim das contas?

A espada brilhou em azul — Batsuki não teria tempo para refletir sobre nada. Ele continuou seu discurso e ousou tocar num assunto sensível: a mãe do menino. Em circunstâncias normais ele teria ficado com medo. Temeria que a mãe estivesse envolvida naquilo tudo, mas não sentia ela naquelas mulheres e aquele homem já havia mentido vezes demais. Batsuki estava cansado de ouvi-lo. Fez o selo da cobra e o inimigo avançou em sua direção. Quando ele movimentasse a espada no seu golpe, utilizaria uma das palmas da mão para impulsionar-se para cima dele¹, num giro, aumentando momentaneamente sua velocidade; e no instante seguinte desferiria um poderoso soco explosivo² no topo do crânio do espadachim para encerrar de vez a batalha antes que ficasse cansado demais. Se não tivesse chance do soco, usaria o segundo impulso para ficar mais afastado de um possível segundo corte da espada e atacar com uma saraivada de kunais com chakra elétrico infundido enquanto se afasta.

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Batsuki pousou no chão sentindo as pernas fraquejarem. Após o golpe explosivo, suas reservas ficaram abaladas, pois ele ainda não suportava grandes períodos de tempo enfrentando adversários formidáveis ou situações complicadas. Com um rosto claramente exausto, ele sentiu a chama da habilidade sensorial sumir e a corrente elétrica cobrindo seu corpo foi extinta. Cambaleou para trás, assistindo ao inimigo também ficar sem forças, mas ainda se manteve em pé, firme, apesar de ofegante e com os músculos doloridos.

Sem um nome de verdade, o homem caiu de joelhos, exterminado. Seu discurso era apenas uma pilha de desculpas as quais Batsuki não dava importância, ainda mais com ele acreditando que os dois eram semelhantes. Shinobis eram mesmo ensinados a abandonarem suas humanidades, mas ele não aceitava cair nesse poço — ele tinha pessoas importantes que não mereciam vê-lo abandonar sua própria existência humana. Batsuki assistiu-o ceder completamente e o companheiro se aproximou eufórico com a vitória deles. Ainda assim, as reféns estavam esperando por uma resolução ao problema delas. Batsuki não tinha mais como saber se mais inimigos ficavam próximos agora que sua técnica sensorial estava acabada, muito menos se conseguiria ficar em pé durante por mais muito tempo.

Kayn estendeu a mão e ele apenas assentiu, evitando mexer-se muito. Olhou na direção onde as mulheres estavam, buscando as melhores opções. Naquele salão, porém, existiam duas coisas tão importantes quanto elas. Mais uma vez ele se viu diante de dilemas morais que deviam ser simples, mas não eram. Aquelas mulheres deviam conseguir escapar dali com vida, mas ele estava interessado em outras duas coisas: aqueles corpos modificados. Havia uma réplica da Tsuchikage, aquilo era perigoso demais para continuar solto. Além disso, devia existir muitos segredos no corpo do homem recém-derrotado. Só que ainda não sabia se poderiam mesmo resolver os problemas ao mesmo tempo; talvez tivesse que tomar uma decisão difícil muito em breve.

— Assim como abri um caminho usando uma técnica elétrica, tenho certeza que é possível abrir caminhos com o chakra explosivo — explicou, a voz escapando esbaforida. — Leve-as a partir daquele ponto. Salve-as. Elas merecem continuar vivendo. Faça isso e não olhe para trás até estarem seguras. Ficarei aqui, encontrarei outra maneira de sair ileso. Ainda tenho coisas que preciso resolver antes de ir — embora houvesse alguma verdade naquela afirmação, ele estava mais preocupado em como precisava descansar mesmo que pouco antes de continuar.

Disse aquilo se aproximando de um dos caminhos por onde parecia mais óbvio a presença de novos inimigos, os passos lentos e cambaleantes, e adicionou alguns papeis explosivos para uma armadilha bastante simples; assim que entrassem, explodiriam. — Vá! — ordenou, mantendo-se focado na possível entrada de mais inimigos e torcendo para o companheiro acatar sua ordem.

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Kayn obedeceu à ordem do shinobi e ele viu o rapaz enfrentar a própria exaustão para abrir um caminho de fuga. Batsuki expôs um sorriso tímido, escondido. Tinha achado uma solução àquelas vítimas e elas teriam uma chance de continuarem vivas. Puxou fundo o ar até os pulmões ficarem cheios e aliviou os ombros soltando todo oxigênio. Assim como imaginado os inimigos avançaram. Uma explosão engoliu a entrada, levantando muita poeira, assim como fazendo silhuetas surgirem no meio da nuvem erguida com as explosões. Teve a impressão de ver sangue, mas não ficou para confirmar a hipótese; tinha que fazer coisas mais importantes. Primeiro, salvar-se. Depois, levar até a vila aqueles experimentos humanos. Não sabia como seriam utilizados, mas não podia fingir não ter visto uma réplica da Tsuchikage, ainda mais sabendo como haviam usado o nome dela para enganar outros membros da vila — novamente ele se via cercado de traições.

Com um pouco mais de energia, ele avançou na direção dos corpos enumerados como 678 e 123. Teria mais interesse em capturar a réplica da Tsuchikage, dando mais atenção a ela, mas faria o possível para carregar ambos. Um em cada ombro, com velocidade e forças aplicados ao máximo mesmo que os músculos doessem. Aproveitaria para tentar escapar pelo mesmo lugar que Kayn seguiu com as reféns, aproveitando a poeira erguida como camuflagem. Se preciso, descartaria o corpo do homem derrotado, mas não da réplica; ele só a abandonaria ao entregar diretamente na mesa da Tsuchikage. Caso escapasse do interior buscaria um navio diferente das mulheres para evitar trazer mais problemas a elas e partiria de volta ao vilarejo.

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