O sol tinha acabado de nascer, fazendo com que os feixes de luz passassem pela janela do quarto de Nezuko e iluminasse o local. Faziam poucas horas desde que a menina voltou do hospital onde passou alguns dias tratando de suas feridas. Ela estava sentada na cama, encarando o vazio, ignorando o pouco de luz que batia em seus olhos. O vento entrava pela janela entreaberta, fazendo com que seus cabelos balançassem de acordo com a velocidade do vento.

Sua mente estava presa nas memórias da semana passada, onde tinha quase perdido sua vida e entregado seu doujutsu a Nukenins, mas foi salva por uma misteriosa mulher que lhe cedeu um poder esquisito que ela não conhecia e nunca tinha ouvido falar. Ela sabia que isso ainda estava dentro dela, mas não tinha a mínima ideia de como ativá-lo novamente, e não por falta de tentativas, já que tentou usá-lo algumas vezes no hospital e em casa depois de chegar, sem sucesso.

“Do que adianta eu ter esse poder se eu nem sei como usa-lo?”, pensava um pouco antes de se jogar na cama, frustrada. Suas memórias ainda não eram muito claras, no fundo ela sabia que estava esquecendo de alguma coisa, algo que poderia ajudá-la a descobrir mais sobre essa sua nova habilidade e até a conseguir controlá-la. Ela permaneceu ali, repassando as cenas em sua cabeça, forçando seu cérebro a se lembrar totalmente dos acontecimentos daquele dia.

Repentinamente a voz da mulher veio em seus ouvidos como uma lembrança, um sussurro - basta me chamar - e aquelas palavras ecoavam várias e várias vezes na cabeça da menina, mas como ela iria chamar alguém que nem sequer lembrava do nome? Voltou a sentar na cama um pouco irritada por ter se esquecido da parte mais importante, o que deveria falar para chamar a tal mulher.

-Caveira? - falaria alto, na esperança que aquilo funcionasse, mas nada aconteceu - sei la… Mulher de preto? - voltava a falar na tentativa de conseguir atingir seu objetivo, mas novamente sem sucesso.

Por recomendações médicas a Tokubetsu deveria descansar por alguns dias antes de poder voltar as suas atividades normais, mas ficar parada era uma tortura para a mesma, ainda sabendo o pode que agora tinha e que não conseguia domina-lo. A Hyuuga então saiu do quarto e foi andar pela vila, desde quando chegou não tinha tirado um tempo para conhecer o local e decidiu fazer aquilo naquele dia, já que não poderia fazer coisas mais importantes

As horas foram se passando enquanto a menina caminhava pelas ruas, conhecendo os locais de Kirigakure, esperando não se perder na volta para seu quarto, e mesmo que tivesse um monte de coisas para ganhar sua atenção, os pensamentos da Tokubetsu não conseguiam sair do momento que aquela mulher misteriosa apareceu.

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Finalmente o dia tinha passado e o sol já tinha dado lugar à lua que agora brilhava no céu. Nezuko decidiu voltar à pousada e enquanto andava sentia o vento gelado bater em seu rosto, fazendo com que ela se arrepiasse com o frio. Junto a esse vento, ela pôde ouvir a voz da mulher novamente - é só me chamar - e assim passou a olhar em volta, procurando para ver se a encontrava - me chamar… - e novamente pôde ouvi-la sussurrando em seus ouvidos - Noroi… - finalmente a voz sussurrava o nome que a menina queria ouvir; Noroi, agora tudo tinha ficado mais claro em sua mente, o nome pelo qual ela deveria chamar era Noroi.

A Hyuuga então decidiu que iria dar uma volta pelos arredores da vila, afinal não era bom invocar uma mulher desconhecida dentro de Kiri, sabe-se lá o que ela poderia fazer. Sem nem pensar duas vezes correu em direção aos muros da vila e concentrou chakra na sola dos pés para que pudesse escalá-lo e sair do lado de fora. Conseguindo concluir seu objetivo, se afastaria um pouco da vila, parando em uma clareira a qual julgou ser distante o suficiente da vila.

-Noroi… - a menina chamou e esperou enquanto olhava em volta. Repentinamente os ventos começaram a ficar um pouco mais fortes e assim como na semana passada a mulher de preto surgiu, fazendo com que a mais nova tomasse um susto - não precisa me matar do coração - falou fazendo com que a mulher desse uma risada.

-Pelo visto você gostou do meu poder, criança - a mulher falava com um sorriso no rosto enquanto se aproximava de Nezuko para em seguida passar as pontas das unhas levemente pelo pescoço da menina, fazendo com que todo seu corpo se arrepiasse - e veio em busca de mais…

-Eu preciso saber como eu faço pra controlar isso, depois daquele dia eu nunca mais consegui fazer com ele se ativasse - a menina falava enquanto observava os movimentos da mulher.

-E você acha que vai ser tão fácil assim? Que eu vou te ensinar sem ter nada em troca? - a mulher gargalhava no final da frase

-Como assim? O que você quer? - Nezuko realmente não esperasse que alguém a oferecesse poder sem nada em troca, desde o momento que sentiu aquela habilidade a primeira vez sabia que aquilo não seria de graça.

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-Infelizmente meu tempo nesse mundo está acabando e eu preciso de um novo corpo - a mulher começava a falar, mas era interrompida pela menina

-Ah, claro. Aí eu ganho poder pra nada, já que no final vou morrer - Nezuko falava debochada.

-Calma, onde que eu disse que eu quero o seu? - o rosto da mulher tinha assumido uma feição séria, como se ela estivesse irritada por ter sido interrompida - eu sei que a pouco tempo você ganhou um aluno e esse aluno tem uns olhos interessantes, eu quero o corpo dele.

-O que? o Iori? - a menina ficava quieta, pensativa, por alguns segundos. Ela tentava pensar o que fazer, ela queria mais poder, mas oferecer a vida do menino tinha a deixado em dúvida. “Não é poder que você quer? O que é o sacrifício de uma vida para que você tenha poder suficiente para alcançar a paz que tanto almeja?”, ela conversava com ela mesmo em seus próprios pensamentos e logo depois disso todo um plano surgia - certo, eu aceito. Mas eu preciso que você me ensine a dominar totalmente essa habilidade antes que eu cumpra a minha parte do acordo, fechado?

-Certo… - Noroi finalmente falou depois de alguns segundos pensando, se mostrando um pouco desconfiada, mas no final acabando por dar um voto de confiança a menina.

-Então o que eu devo fazer? - Nezuko perguntava curiosa.

-Por você ter aceitado esse poder quer dizer que você não confia no seu próprio poder - a mulher começava a falar - devido a isso esse poder te controla, você precisa acreditar em você mesmo, precisa ter a certeza de que seu poder irá ser maior do que qualquer poder externo que você venha ter.

-Mas eu acredito no meu poder, eu sei que eu sou forte - a Hyuuga responderia depois de alguns segundos

-Se você realmente acreditasse, não estaria tendo dificuldade em controlar a minha marca - Noroi começava a andar lentamente em volta da menina. Nezuko começou a pensar e logo as vezes em que duvidava de seu poder vieram à tona, mostrando que a mulher tinha razão no que falava - agora você vai meditar sobre isso, sente-se.

Nezuko então sentou no chão com as pernas cruzadas e com as mãos apoiadas nas coxas, com a coluna ereta e os olhos fechados.

-Certo, para dominar o primeiro estágio da marca e depois confiar plenamente no seu poder e assim dominar o segundo estágio, primeiro você precisa se conhecer internamente, precisa saber com certeza o que você quer e qual caminho irá seguir, só assim você poderá ter a certeza de que seu poder é grande o suficiente para alcançar o que deseja - a voz da mulher era baixa, como se estivesse tentando fazer com que a Tokubetsu entrasse em algum tipo de transe - respire fundo e elimine os barulhos a sua volta, concentre-se só na sua respiração e deixei que seu eu mais profundo apareça em seus pensamentos.

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A Hyuga seguia tudo que Noroi falava, primeiro começou a respirar fundo, tentando fazer com que sua atenção ficasse voltada apenas para sua respiração, tentando fazer com que os sons das folhas balançando, do vento, dos animais a sua volta sumisse e sobrasse apenas o som da sua respiração. Levou alguns minutos até que a menina conseguisse apagar totalmente os sons e quando o fez apareceu uma pessoa em sua mente.

Era ela, mas estava um pouco diferente, seus olhos estavam totalmente pretos, seus cabelos estavam azuis, sua pele escura e uma marca em forma de estrela sobre o nariz. Nezuko ficou assustada, não sabia o que significava aquilo e com isso perdeu o controle, fazendo com que a marca em seu pescoço ficasse vermelha e começasse a se alastrar pelo seu corpo, passados alguns segundos ela pôde sentir um chute no estômago, fazendo com que ela abrisse os olhos.

-Ei! O que foi isso? - perguntaria enquanto colocava a mão onde tinha sido atingida, seu corpo ainda estava frágil e aquilo tinha doído bastante.

-Toda vez que você estiver perdendo o controle da sua marca eu vou te bater, então se concentre para que isso não aconteça.

-Ah, eu mereço viu… - a Hyuuga resmungava pouco antes de fechar os olhos novamente e se concentrar na meditação, aquela figura voltou a aparecer.

“Quantos conflitos dentro de você…”, a outra Nezuko falava. “Primeiro você é a boazinha, quer ser a heroína do mundo, mas depois decide que vai matar todos aqueles que tiram a paz do mundo”, a voz era um pouco diferente, parecendo ter a voz de outra pessoa misturada com a dela. “Você precisa decidir, criança. Quer entregar a paz ao mundo da forma difícil, onde você dá amor aqueles que só querem o mal ou irá matar todos aqueles que atrapalham seu caminho para conseguir seu objetivo?”, enquanto falava, a segunda Nezuko ia se aproximando mais e mais da Nezuko verdadeira.

Imagens começaram a passar em sua mente, a menina ainda era criança e falava com Uzui, seu tutor, que queria ser uma heroína e salvar todo mundo, depois as imagens foram mudando para quando ela se tornou genin, onde continuava com o mesmo pensamento e até dava sermão nos bandidinhos que tinha que prender. Depois a cena mudou para a primeira vez que ela matou alguém, em uma missão onde bandidos roubavam um vilarejo de pessoas pobres e a menina os matou sem dó. A partir daí ela foi mudando, mas ela sentia ainda a necessidade de ser heroína, mesmo que no fundo. Tudo isso era mostrado para ela.

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Quando as visões começaram a marca no pescoço da menina começou a ficar vermelha e se alastrar, Noroi decidiu não bater na menina, ela sabia que o conhecimento interno tinha começado e caso o fizesse, poderia atrapalhar. Quando a marca estava quase cobrindo a metade do corpo da menina, ela começou a recuar fazendo com que a mulher desse um sorriso.

Internamente Nezuko se deixava apagar totalmente a parte na qual queria ser uma heroína, afinal ela não precisava ser reconhecida como a pessoa que salvou o mundo, ela queria ser reconhecida como a mais forte e queria também salvar o mundo não importasse quantos ou quem tivesse que matar para conseguir isso e heróis não fazem nisso, eles não matam, mas a menina estava disposta a isso.

Quando todo o processo terminou, a marca já tinha se retraído totalmente, Nezuko tinha aceitado seu lado sanguinário onde não mediria esforços e mataria quem quer que fosse para livrar o mundo de todo o mal que estivesse presente. Ela então abriu os olhos e encarou Noroi que sorria assustadoramente para ela.

-Muito bem, estágio um completo - a mulher enfim falaria, mas logo depois começaria a tossir insistentemente.

-Vamos para o estágio dois agora? - A Hyuuga perguntava empolgada.

-Não seja apressada, o estágio dois ficará para outro dia, como eu falei não estou muito bem e preciso descansar agora - Noroi falaria após a tosse cessar - já sabe, é só me chamar - depois disso a mulher andou pelos arbustos até que sumiu novamente.

Nezuko estava um pouco inconformada, ela queria aprender tudo naquele momento, ela sabia que se dominasse aquilo completamente teria mais poder do que aquele dia em que ganhou a marca e ela mal podia esperar por isso, porém ela também precisava descansar, afinal fazia apenas um dia que tinha saído do hospital e as recomendações médicas era que ela descansasse. Sem ter muito o que ser feito, levantou e logo foi em direção a pousada que estava hospedada.

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