Os dias haviam se passado. Nathaniel ficou sabendo, através de uma carta enviada por Soichiro, que Ryuuzaki tinha sido pego em uma emboscada armada por Abraham, que queria arrancar informações sigilosas e confidenciais do ruivo em relação a morte de Takafumi, um filho de família tradicional, que acabou não contando nada, por isso tinha sido espancado por Abraham e os seus amigos policiais. B.A, River e Kimiko tinham saído de Konoha para se abrigarem em outros locais, locais que não foram ditos por eles, afinal precisavam manter algo. Nathaniel, por outro lado, não tinha sido procurado, ao contrário das suas expectativas, coisa que o deixou profundamente curioso e preocupado, afinal por que motivo estavam deixando ele para trás?

Depois de alguns dias trabalhando como carteiro, Nathaniel tirou um dia, ou melhor, uma noite, para encontrar Soichiro em sua casa, para que ele dissesse onde Ryuuzaki estava. Já tinha sabido que o ruivo tinha sido liberado do hospital, e que alguém da sua família em Konoha tinha buscado ele. Soichiro estava completamente quebrado e embriagado, mas não conseguiu dizer não para o Grey, que acabou obrigando o homem a dizer o local onde a tia de Ryuuzaki morava. Os dois acabaram indo aos arredores de Konoha, onde segundo Soichiro, a família de Ryuuzaki tinha uma casa lá.

- Tem certeza que você quer fazer isso? - perguntou Soichiro, até que Nathaniel tocou o sino do local, esperando ser atendido imediatamente.
- Precisamos vê-lo. - respondeu.

De repente, uma mulher ruiva apareceu na porta com as mãos na cintura, com uma expressão não muito humorada, fazendo os dois homens se olharem. O rapaz acabou percebendo algo no pescoço da ruiva, algo que ele tinha em comum com ela.

A mulher ruiva era extremamente esbelta, e chamou imediatamente a atenção de Soichiro, que ficou com os olhos arregalados e brilhando diante dela, babando como um cachorro perto de frango. Nathaniel, por sua vez, apenas reparou nela, mas não pensou em nada muito além disso. A ruiva olhava para eles com uma cara não muito boa, imediatamente querendo saber das suas intenções ali.

― Quem são vocês? O que querem aqui? - ela perguntou logo de cara.
― Queremos falar com Ryuuzaki. O meu nome é Nathaniel Grey, esse aqui é o Soichiro. Somos amigos dele. ― Nate logo se apresentou para a dona da casa, que não parecia ser tia de Ryuuzaki.
― Amigo é uma palavra muito forte. Mas eu adoraria ser amigo seu, ou algo a mais. ― Soichiro falou todo babão, fazendo Nathaniel rolar os olhos.
― [b]Ah, então você é o Elfo de quem o Ryuuzaki tanto fala?[/b] ― questionou Masako, tia do rapaz, olhando e respondendo apenas Nate. ― Achei que fossem os carinhas que foram atrás do meu sobrinho. Vamos, entrem. ― ela deu espaço para eles passarem.
― Você é tia dele mesmo? Por que você parece muito gost-... ― antes que ele terminasse de assediá-la, Nathaniel deu uma cotovelada na costela de Soichiro, olhando firme para ele, que ficou todo envergonhado.
― Perdoa o cara. Ele é meio maluco da cabeça assim mesmo. ― disse Nathaniel, olhando torto para Soichiro.
― Hmmm, que cavalheiro... - ela disse com um sorriso, enquanto os dois entravam na casa de Ryuuzaki. - Ryuu, seus amiguinhos chegaram. ― avisou para o homem que estava deitado no sofá, cheio de hematomas pelo seu corpo.
― Pelo amor de Deus... ― disse resmungando.― Olá, Elfo. Estávamos falando de você agora pouco. Reparou que ela tem algo parecido com você? Sabe do que estou falando?. ― perguntou para ver se ele estava ligado.
― O Selo Amaldiçoado. ― disse Nathaniel.
― Então estava reparando em mim, não é? ― Masako disse. ― Meu nome é Masako, senhores.
― Ela disse que pode te ajudar a controlar o Selo Amaldiçoado, mas que isso acontece em duas etapas. ― comentou Ryuuzaki.
― Exatamente. Primeiro, você precisa dominar o primeiro filme do Selo Amaldiçoado. Pra controlar esse nível, precisa dominar a sua raiva, ou seja, controlar o seu demônio inferior. Pelo que o meu sobrinho falou, é extremamente importante que controle o seu lado sombrio. ― Masako falou.
― Como assim? ― Nathaniel não entendeu aquilo.
― Seu irmão falou algumas coisas sobre você antes de me encher de porrada, Elfo. Disse que você está destinado a fazer coisas horrendas. Ele não deu muitos detalhes, mas disse que você deveria ficar isolado de todos, pois representa um grande perigo para as pessoas. ― falou.
― Ele disse isso? Abraham é um merda, e ele NÃO É O MEU IRMÃO!? ― falou irritado, fazendo as pessoas ali se olharem ao ver a marca do Selo Amaldiçoado se inflamar por dois segundos, enquanto Nathaniel falava.
― Venha, rapaz. Você precisa meditar. ― Masako puxou a mão do Grey.

Os dois foram para o lado de fora para que então ela o instruísse para que ele se sentasse na grama e flexionasse as pernas para que começasse a meditar. O objetivo era entrar em contato com os seus sentimentos e permitir que eles se libertassem, o que na mente de Nathaniel era uma péssima ideia. Se tinha uma coisa que ele odiava era entrar em contato com os seus sentimentos. Mesmo assim, Nathaniel continuou se esforçando, com os olhos fechados e tentando meditar. Porém, diversos pensamentos invadiam a sua mente, e alguns eram capazes de lhe tirar do controle. Masako e Nathaniel ficavam sentados na grama, enquanto Soichiro e Ryuuzaki se sentavam em cadeiras.

― Não sei se isso vai funcionar muito bem. ― comentou.
― Se ficar ansioso, nunca vai funcionar. Precisa se controlar, e aprender a controlar os seus pensamentos. ― respondeu Masako.

Nathaniel ficou com o corpo imóvel, ou ao menos era o que ele tentava fazer por alguns segundos, com os olhos fechados, buscando enfrentar os seus pensamentos negativos, que começavam a invadir a sua mente como um exército invasor em uma colônia sem muros e nem seguranças. Quando isso acontecia, ele apertava os seus olhos com força, algo que era observado por Ryuuzaki, mas não por Soichiro, que parecia chapado demais ou apaixonado em demasia pela tia do ruivo.

Conforme as lembranças sombrias de seu passado tomavam conta da sua mente, o Selo Amaldiçoado no pescoço de Nathaniel começava a brilhar num tom obscuro, ameaçando se espalhar pelo seu corpo, gerando um clima de animosidade e tensão que abalava as vibrações do ambiente, como se o local fosse assombrado por espíritos obscuros, quando na verdade era a própria aura sombria do Selo Amaldiçoado se manifestando.

Quando isso aconteceu pela primeira vez, Ryuuzaki assobiou e Masako imediatamente pegou um pedaço de madeira e bateu na cabeça de Nathaniel, que acabou se assustando com o ato repentino, levando a mão a cabeça e coçando com vontade, como se aquilo fosse fazer a dor passar. O lado bom era que a marca no pescoço do Grey parou de brilhar imediatamente, como se o demônio dentro dele tivesse sido colocado de volta na coleira.

― Isso foi completamente desnecessário, sabia!? - Nathaniel disse com um tom de ira e cansaço, além da tristeza de não conseguir completar o seu treinamento de forma adequada.
― Pare de lutar contra os seus sentimentos, até os negativos. Agora você deve enxergar todas essas coisas que guarda em seu coração como parte de você, garoto. Se ficar se lamuriando toda a vida, vai acabar sofrendo para sempre, e esse sofrimento fará com que a marca do Selo Amaldiçoado controle você, sugando a sua vida de pouquinho em pouquinho. ― avisou Masako, mantendo os olhos fixados nos do garoto de orelha pontuda, como uma professora orientando o seu pupilo.
― Ouve a minha tia, Elfo. Ela sabe das coisas. ― disse Ryuuzaki, pegando uma garrafa de sakê e bebendo, sem que sua tia percebesse. Nathaniel olhou para o homem, que acenou de volta para ele.
― Você deve ser aquele que tudo observa, não aquele que tudo absorve. ― terminou o seu discurso, chamando a atenção de Nate, que respirou fundo e tentou aceitar aquelas palavras como se elas fossem uma verdade absoluta.

Contrariado, Nathaniel fechou os olhos novamente. Focou agora nas palavras da mulher ruiva, tentando entender o que aquilo significava. Ser o observador significava que ele precisava encarar todas as coisas da sua vida sob uma outra perspectiva. Mas por que aquilo era tão importante? Se Nathaniel continuasse se deixar guiando pela raiva, o Selo Amaldiçoado se tornaria o seu mestre, e aquilo poderia matá-lo. Ele só não sabia o quão real era aquilo.

Conforme ele ia assimilando todos aqueles sentimentos, Nathaniel ia percebendo que todas as coisas que aconteceram em sua vida tiveram uma razão de ser, e que nada que ele tinha sofrido era culpa dele. Mas por que ele se sentia tão culpado? A culpa o levava a sentir remorso por todas as vezes que se sujeitou a coisas que não gostaria de aceitar, mas acabou aceitando por medo de ficar só, de ser rejeitado. Isso o fazia se descontrolar, o que o levava também a ganhar uma outra porrada na cabeça.

― De novo isso!? ― bradou o garoto mais irritado consigo mesmo do que com a mentora, sentindo que acabaria com alguns galos em sua cabeça quando aquele treinamento maldito terminasse.
― Não podemos deixar que saia de controle! Você está lutando contra a sua própria mente! Seja o observador! ― Masako foi mais enérgica em sua bronca, mandando que ele fizesse o exercício novamente.

Os olhos de Nathaniel se mantiveram fechados para os pensamentos sombrios que rodeavam a sua mente. Quando ele olhou para dentro de si, era como se estivesse em um ambiente escuro, onde diversas telas mostravam todos os momentos melancólicos do seu passado. Nathaniel olhava para todos eles com uma certa dificuldade, pois não sabia lidar com toda aquela carga de sentimentos ao mesmo tempo. Porém, todos ali confiavam nele, de alguma forma. De repente, duas bombas de fumaça cairam na área dos fundos da casa de Masako, chamando a atenção de Soichiro e Ryuuzaki.

― ESTAMOS SENDO ATACADOS! ― avisou Ryuuzaki, fazendo Nathaniel e Masako abrirem os olhos imediatamente, enquanto uma fumaça roxa tomava conta do local. Os quatro se levantaram e ficaram um colado no outro. Nate, Ryuuzaki e Masako puxavam kunais, enquanto Soichiro ficava com os punhos fechados, por não ter trago nenhuma arma para o local. A tia de Ryuuzaki logo fez selos manuais rapidamente, liberando diversos pedaços de papel ao seu redor.

Quando a fumaça se dissipou, seis caras com coletes negros e capuzes no rosto cercavam eles. Ryuuzaki acabou dando um sorriso, enquanto Nathaniel olhou nos olhos de um deles, que o fitou de volta. Reconhecia muito bem aqueles olhos, sabia muito bem quem era aquele homem por trás daquela touca de criminoso.

― Pode tirar esse capuz, Abraham! Você não engana ninguém, seu desgraçado! ― avisou Nathaniel, vendo que o cara ficava com os punhos cerrados.
― Ei, Elfo... ― Ryuuzaki sussurrou. ― Corra para o Gabinete do Hokage! ― falou o ruivo.
― O que? Por que eu faria isso!? ― questionou.
― Faz o que eu estou falando, porra! ― Ryuuzaki ordenou, quando Abraham pulou bem alto, tentando se aproximar de Nathaniel. O ruivo se colocou na frente dele, e os dois chocaram as suas kunais.

Nathaniel virou o seu corpo para trás e rapidamente lançou uma kunai na direção da barriga de um dos homens, vendo um outro se aproximar, fazendo com que ele o acertasse com um soco, saltando para fora da casa de Masako, enquanto deixava os outros lutando contra os invasores. No meio do salto, pode ouvir as palavras de seu irmão que, no auge da luta, acabou revelando a sua identidade.

― PUTA QUE PARIU, QUAL A DIFICULDADE DE DERROTAR A PORRA DE UM CARTEIRO! ― gritou cheio de ira.

No meio da perseguição, Nathaniel simplesmente sentiu a adrenalina invadir o seu corpo. Sentia que se fosse pego por aqueles homens mascarados, eles poderiam fazer o que quisessem com ele, principalmente matá-lo. O nervosismo e o medo da morte tomavam conta do seu corpo, de forma que ele acabou por ceder a marca da maldição sem ao menos querer. ― CARALHO! ― gritou o jovem Grey, sentindo a marca tomar o seu corpo, caindo no chão de dor. Ele olhou para trás e viu dois homens se aproximando, até que olhou para frente, percebendo que não faltava muito para chegar ao local onde ficava o gabinete do Hokage. Precisava chegar no local indicado por Ryuuzaki o mais rápido possível.

― Eu não vou mais lutar contra a escuridão dentro de mim... ― ele tocou a marca da maldição, enquanto ela preenchia toda a sua pele com marcas. Os inimigos se aproximavam rapidamente, prontos para capturá-lo. ― Por que a partir desse momento... Eu vou ser a escuridão! ― bradou para si mesmo, se levantando e virando o rosto para trás, vendo dois ninjas no alto, prontos para cairem em cima dele. Nathaniel acabou por realizar um chute giratório, pegando os dois de uma vez com grande força, os jogando para longe. Mesmo tendo derrotado eles, podia perceber que havia mais um se aproximando a 500 metros, tendo realizado selos no meio do caminho e criando quatro clones das sombras. ― Merda! ― ele virou-se e saiu correndo em direção ao Gabinete, sentindo o seu corpo se mover mais rapidamente, consequência do poder do Selo Amaldiçoado.

Em poucos segundos, ele deu um salto para passar por cima dos muros do Gabinete, caindo no chão e rapidamente olhando para cima, esperando pelos seus inimigos. De repente, dois guardas vieram perguntando o que Nathaniel estava fazendo ali naquela hora da noite. Os segundos passaram, e os segundos viraram minutos, e nenhum inimigo apareceu, enquanto os guardas cobravam uma explicação do Grey, enquanto a marca da maldição se desfazia. ― Entendi... Os caras não podem dar uma de maluco e entrarem de toca preta e colete escuro aqui, senão serão confundidos com invasores. ― pensou consigo mesmo, dizendo para os guardas que se perdeu no caminho, virando-se e indo embora.

[...] Horas depois, quando o dia amanheceu, Nathaniel foi encontrado sentado num banco de praça por Ryuuzaki, que apareceu do seu lado com alguns ferimentos pelo corpo. Masako e Soichiro tinham conseguido sobreviver, e os patifes fugiram antes de danificarem ainda mais a cidade. Os dois ficaram se olhando por alguns segundos, enquanto uma fina ventania passava pelo local.

― As coisas que o seu irmão me disse... São coisas de louco. Mas eu me recuso a acreditar que o que ele está falando pode ser totalmente verdade. Quer dizer, todos nós podemos ser os destruidores desse mundo, não é? Mas podemos salvá-lo também, principalmente desses merdas que rondam a nossa vida. ― sussurrou Ryuuzaki.
― Ele ouviu isso da boca de outra pessoa... Meu pai adotivo. Solomon ouviu isso de outra pessoa também, só não sei quem. Por isso eles dois me tratam como se eu fosse uma maldição na vida deles. ― comentou o Grey, olhando para cima. ― Eu passei a vida toda tentando não ser aquilo que eles acreditavam que eu poderia ser, mas depois dessa noite... Que se foda eles. Eu vou ser o que eu quiser ser, e se for para destruir algo, vai ser esse sistema de merda que controla esse mundo. A escória falso moralista tombará, uma por uma... ― prometeu Nathaniel, olhando para cima e enxergando as nuvens no céu.

Um novo dia tinha se iniciado, e o seu caminho havia sido traçado.