Como de costume, lá estava eu, sentado no chão enquanto continuava a ler os escritos deixados pelo meu avô. E como de praxe, ainda continuava sem obter nenhuma informação que me fosse ser útil. Naquele lugar, encontrava sempre as mesmas baboseiras de sempre, que falavam sobre a vida de um homem “honrado” e que viveu a sua vida inteira em prol de uma causa nobre. Depois de tanto ler sobre as mesmas coisas, mas descritas em épocas diferentes, confesso que já estava começando a ficar de "saco cheio" daquilo.

A variável mais cruel nisso tudo era, sem dúvidas, o tempo. O tempo não fazia questão de me esperar; ele apenas passava, independente de qualquer outro fator. Ainda que não tivesse muita noção de tempo naquela sala fechada e escura, também não significava que era totalmente alheio àquele fator tão decisivo. E embora continuasse com aquela procura infindável, isso não queria dizer que me mantinha como nos primeiros dias, onde detinha uma certeza quase inabalável de que conseguiria resolver o enigma que cercava toda a minha vida. No entanto, apesar de toda a dúvida, insegurança e anseios, ainda mantinha, bem lá no fundo, uma chama acessa que me fazia seguir em frente.

Bem como havia dito, o tempo não fazia questão de me esperar, então ele apenas continuava a desfilar bem diante dos meus olhos. Com isso, terminava de passar mais uma noite em claro, resiliente. Tendo uma reação totalmente previsível, era levado mais uma vez a cair em um limbo de dúvidas e receios.

Considerações:

– Que horas são? Será que já tá de manhã? – me questionava, percebendo o surgimento de alguns ruídos do lado de fora, na rua.

Pelo fato de não comer nada por quase dois dias inteiros, assim como havia acontecido outras vezes, passava novamente por um episódio de quase desmaio. Afim de evitar que algo de mais grave me acontecesse, saia daquele ambiente empoeirado em busca de alguma coisa para forrar o estômago. Nada, absolutamente nada. Após procurar nos armários e na geladeira, me lembrava que já fazia algum tempo que não ia às compras. Um dos principais motivos por trás disso, além da minha obsessão, era porque já fazia um bom tempo que não realizava nenhuma missão ou tarefa pela vila, ou seja, eu não tinha um Ryou sequer no bolso. Até chegava a pensar em arrumar um emprego de meio período, mas, sinceramente, não queria perder tempo com esse tipo de coisa. Então, enfrentando a dura realidade na qual me encontrava, retornava para aquele porão, mas não antes de dar uma tosse seca que ecoou por toda casa.

“Isso tudo é por uma boa causa...”, tentava me convencer de que tudo aquilo tinha um propósito. Depois de mais algumas horas, voltava novamente a confrontar sentimentos que almejavam me desacreditar. Sabia muito bem que esse tipo de provação faria parte de toda a minha jornada, mas, pela primeira vez, começava ver a derrota como uma opção... palpável. Afinal, não seria maluquice continuar com isso? Sendo que a única coisa que estou verdadeiramente conseguindo, é apenas me matar aos poucos. Isso bem que poderia ser verdade, levando em conta o meu estado: Cheio de olheiras, com um cheiro horrível, sem dinheiro, sozinho e, quem sabe, ficando maluco.

Considerações:

Durante toda a minha vida, nunca me vi como uma pessoa persistente, muito pelo contrário, o meu lema até um tempo atrás era: “Se desistir é uma opção, por que continuar?”. Levando esse pequeno detalhe em conta, poderia muito bem definir a minha atitude nesses últimos tempos como incoerente, irracional e etc. Mas pensando bem, o que é a vida se não um amontoado de coisas sem sentido e aleatórias que precisam ser sentidas, não entendidas. Confesso que, levando em conta toda a minha situação, isso poderia muito bem ser considerado um pensamento tendencioso pra caralho, mas como essa é a minha história de vida, acho que não tenho muito pra onde correr.

Independente de como preferia encarar todos esses dilemas, pelo menos uma coisa era certa: eu começava cada vez mais a me questionar se possuía uma determinação forte o suficiente para fazer o que fosse preciso para encontrar essa tal verdade. Não é como se eu simplesmente fosse desistir, mas... em algum nível, todas essas escolhas me pareciam ser tão erradas, era como se nada do que fizesse estivesse certo. De qualquer forma, eu ainda continuava afundado em papeis, dúvidas, anseios e na minha própria incompetência. E como se já não bastasse todas essas merdas com que tinha que lidar, agora sentia a minha visão ficando turva, não tendo desmaiado por pura sorte.

Considerações:

– Eu, com toda certeza do mundo, devo ser a pessoa mais sã dessa vila. Mesmo depois de todos esses dias, ainda continuo aqui, firme e forte. Sequer me lembro quando foi a última vez que comi ou bebi algo, mas mesmo assim estou aqui, vivo – Percebendo que já havia se passado mais uns 2 ou 3 dias, dava uma leve surtada.

Ao contrário do que parecia, não podia dizer que toda a pesquisa que fazia era tão inútil assim. Apesar de tudo, até que me deparava com alguns conceitos interessantes durante a minha jornada de “autodescoberta”. O meu último achado, por exemplo, tinha me chamado bastante a atenção. Ele falava sobre um salto de fé que precisava ser dado em certos momentos da nossa vida, e que isso pode ser um fator decisivo em alguns casos. Se bem que o contexto no qual encontrei esse termo era, na minha visão, algo tedioso, mas como tinha achado esse nome interessante, resolvi não me atentar a meros detalhes.

– Será que é isso? Então essa que é a resposta para os meus problemas? – Levando a mão até o queixo, me deixa influenciar por aquela ideia tão... exótica. Por algum motivo, começava a crer que esse tal “salto de fé” poderia ser um divisor de águas na minha vida. – Que tipo de futuro isso poderia revelar aos meus olhos? – Pensava comigo mesmo, enquanto saia mais uma vez daquele lugar no qual vivia enfurnado.

Os detalhes de como realizar esse “salto” não eram tão claros assim para alguém como eu, que não dispunha de um grande intelecto, mas como o próprio nome sugere, talvez devesse me jogar de algum lugar alto. Com essa ideia em mente, busquei sair o mais depressa possível de casa, onde me dirigiria até o lugar perfeito para fazer esse teste, o campo de treinamento – mais especificamente em um dos penhascos que tinha pela região.

Considerações:

Graças a minha atual condição física, não posso dizer que tinha sido uma tarefa fácil chegar até onde planejava, principalmente pela minha recente falta de força, mas enfim havia conseguido chegar. Olhando pros lados, a única coisa que via eram pedras e mais pedras, a ponto de me questionar se estava na vila certa. Contudo, chegando próximo da beira daquele penhasco no qual estava, conseguiria voltar a ver a vegetação clássica do vilarejo e das florestas que o cercavam; não só isso, como também seria capaz de visualizar um pequeno riacho correndo lá em baixo. Aproximadamente 35 metros, essa era a altura que me separava do chão. Para uns, uma morte certa, mas para mim significava liberdade

Ao me aproximar da borda, quase que de imediato, sentia um frio na barriga, no entanto, não queria acreditar que a minha determinação poderia ser parada com apenas 30 metros de altura. Então, projetando todos os meus medos, inseguranças, receios e fraquezas naquele vão, esperava dar um fim a todas as minhas fraquezas com aquele salto. E mesmo sabendo que isso poderia me custar a vida, ainda assim, estava disposto a pagar esse preço.

Sem mais delongas, deixaria que parte dos meus pés deixassem de encostar na beira do penhasco – arrastando de forma sútil as solas do sapato para frente. Antes que pudesse de fato me jogar de lá, voltaria sentir como se a visão fosse ficando estranha (Sharingan nível 1 – ele ainda não sabe do dojutsu), o que talvez deveria ser pela fome.

– Acho que é isso... É aqui onde o fim e o início da minha vida vão acontecer – Após sentir que minha visão tinha voltado ao normal, abriria os braços e saltaria.

Durante uma pequena fração de segundo, me senti verdadeiramente livre, como se nada mais importasse. No entanto, ao abrir os olhos, percebia que as coisas não eram bem assim. Agora, me via ganhando velocidade de maneira exponencial, e para piorar, não tinha pensado em uma maneira de não morrer com a queda. Sem ter muitas opções, deixava que o desespero tomasse conta da minha mente. A minha morte nunca tinha parecido ser tão certa quanto agora. Aceitando então o fato de que não conseguiria escapar daquela situação com vida, deixava que algumas memórias com a figura do meu avô me invadissem. No fim das contas, foi tudo por culpa dele e das suas mentiras.

De forma tão violenta quanto a queda que sofreria, deixava que memórias boas com a figura do mais velho se transformassem em algo novo. Igual daquela outra vez, deixava os verdadeiros sentimentos que nutria para com ele viessem à tona. – NÃO!!! – Junto desses sentimentos, sentia também que tinha algo de estranho acontecendo com meus olhos (Sharingan nível 2 – evolução), de novo. Não conseguia explicar com exatidão o que era, mas parecia que o tempo tinha começado passar mais devagar pra mim. Independente do motivo daquilo, foi graças a isso – e a minha agilidade sobre-humana (Agilidade Aguçada) – que tinha sido capaz de mover o meu corpo a tempo, fazendo com que o meu braço e ombro direito absorvessem boa parte do impacto da queda.


Depois disso, só me lembro de acordar em um leito de hospital com o braço engessado.

Considerações: