A vida de Nathaniel estava extremamente acelerada: semanas atrás, estava correndo para cima e para baixo em busca de manter o corpo sarado. Agora, estava andando com um sujeito chamado Ryuuzaki, esperando que ele o ajudasse a descobrir mais sobre o passado do seu irmão, e saber se ele tinha algum envolvimento direto na morte de seu melhor amigo. Quando Nate chegou no bar Seven Dragons, ficou surpreso ao ver Ryuuzaki sozinho, pois imaginava que todo o grupo estaria ali.

   ― Cadê o resto da turma que você traria? - questionou o Grey.
   ― Isso não vem ao caso agora. Para você entrar pra minha equipe, preciso saber se você é de confiança. Agora vamos ao que interesse, garoto. - avisou, olhando para os lados para ver se não estavam ouvindo a conversa deles.. - Se você quer fazer parte do meu plano, precisa entender que cada um possui uma função. E eu estou precisando de alguém como você. - olhou no fundo dos olhos do garoto.
   ― Alguém como eu? - questionou Nate.
   ― Ficha limpa, garoto. Ninguém te conhece, você não representa perigo para ninguém, alguém aparentemente... Inofensivo. Preciso que se torne um carteiro. - disse com um sorriso no rosto, o tipo de sorriso de alguém que tinha um plano.
   ― Carteiro? Com tanto lugar onde eu poderia atuar, você quer que eu seja um carteiro? - ficou bravo com aquilo que deveria ser uma afronta. Nathaniel era um ninja, não um entregador de cartas.
   ― Carteiros podem sair da vila sem qualquer problema, e você poderá se comunicar com os meus contatos ao redor do mundo. - explicou, tomando o seu copão de chopp.
   ― Você quer um garoto de recados, é isso? Olha, quando eu concordei com trabalhar com você, não era sobre trabalhar PARA você. Eu não quero esse tipo de coisa. - avisou de imediato.
   ― Vai por mim, garoto, você vai me agradecer depois de descobrir os benefícios de ser carteiro. E se você conseguir isso, será um de nós. - sussurrou.
   ― Quem foi que disse que eu quero tanto fazer parte do seu clubinho? - ele cruzou os braços, olhando Ryuuzaki.
   ― Não estaria aqui se não quisesse. - refutou o Jounin.

   Os dois ficaram se olhando por alguns segundos, tentando medir os egos. Nathaniel já tinha conhecido muita gente que ele poderia chamar de "escrota" antes, mas Ryuuzaki parecia estar em um nível absurdamente acima na escala da escrotisse. Mas lá no fundo, bem lá no fundo... Aquele homem parecia ser um cara legal.

   ― Tudo bem. Logo você vai saber se eu consegui ou não. Irei para casa me preparar para isso, amanhã estarei lá nos correios. - avisou, se levantando e partindo para casa, com maior cautela para não cair em uma emboscada.

   Nathaniel chegou em casa e foi direto para o banheiro tomar um banho que tirasse todas as impurezas daquele bar de seu corpo. Rapidamente se arrumou para dormir, colocando o despertador para tocar as sete horas, pois precisava acordar cedo no dia seguinte.

   Quando o relógio despertou, Nate se arrumou e imediatamente foi para a central dos carteiros em Konoha, o último lugar onde imaginou que estaria um dia. A anos atrás, antes do Arrebatamento, Nathaniel se imaginava como um artista, cercado de fãs e pessoas que o amassem, e agora ele estava ali, pronto para se tornar um carteiro.

   ― Espero que essa porra valha a pena. - sussurrou.

   Nathaniel não tardou de entrar na área de correios da vila, chegando na recepção e pedindo para falar com o supervisor do local, dizendo que estava ali a mando de Ryuuzaki, sendo atendido por um homem que parecia ter uns cinquenta anos, baixinho, de bigode e de roupa de carteiro. O homem o olhou de cima a baixo, bufando de imediato. Enquanto os dois caminhavam, um diálogo era iniciado.

   ― Então você é o garoto que o Ryuuzaki disse que queria trabalhar como carteiro. Eu não imagino como um ninja queira vir fazer esse serviço chato. - disse o carteiro, o que fez com que Nathaniel se questionasse duas coisas: primeiro, como ele conhecia tanta gente, e segundo, como tanta gente tinha rancor dele.
   ― Eu também não imagino. - ele resmungou baixo.
   ― O que você falou? - perguntou o velho.
   ― Bom, me fala mais sobre o que é o seu trabalho. - desconversou Nathaniel.
   ― O que tem pra saber, garoto? Você vai receber uma carta ou uma encomenda, e vai entregar no local que te indicarem. Isso não é tão difícil para você, ou é? - questionou como se estivesse conversando com o garoto mais burro do mundo.
   ― Não me parece tão difícil. - avisou.
   ― Mas pode ficar, garoto! Porque existem mensagens que são ultra sigilosas, e podem conter informações cruciais para o seu destinatário, e haverão ocasiões em que existirão aqueles que não vão querer que a mensagem chegue ao seu endereço. Está me entendendo? - explicou e mais uma vez, perguntou sobre o que o garoto estava captando.
   ― Estou sim. E que tipo de mensagens podem ser? - questionou o garoto.
   ― Nós não temos muitas permissões para ler as mensagens dos outros, apesar de fazermos isso de vez em quando. A dica é assoprar passar o papel com ferro de passar. Fica parecendo que nunca foi aberto. - deu uma dica para Nathaniel.
   ― Anotado. - fez o sinal de joinha para o carteiro.
   ― Vem, vamos para o trabalho prático. - bateu nas costas dele, caminhando para um dos pontos principais do local.

   O homem, que logo se identificou como Uzai, o levou para passear pelo local onde os carteiros costumavam pegar as cartas e encomendas, além dos itinerários que iriam ter que fazer durante o resto do dia. Imediatamente, Nathaniel era levado para a sala de descanso, onde pode ver um grupo de carteiros jogando sinuca e lendo as cartas de algumas pessoas. Uzai ficou visivelmente constrangido com a cena, não porque ele se irritava com aquilo, mas ele não queria que Nate espalhasse aquilo para todo mundo.

   ― Está tudo bem, eu não vou contar para ninguém. - Nathaniel disse ao ver Uzai fazer alguns sinais para que os homens fingissem estar trabalhando, dando uma risada de leve. - Parece que o trabalho não é tão complicado quanto dizem. - pensou no assunto.
   ― Espere só ter que colocar esse uniforme apertado e feioso, garoto, ai você vai ver o que é aperto. Bom, se quer ser carteiro, passará o dia comigo e acompanhará como é o dia a dia. Está preparado? - questionou com uma expressão séria.
   ― Estou sim. - acenou com a cabeça.
   ― Então vamos. - ele o chamou.

   Os dois então sairam pelas ruas de Konoha, enquanto Nathaniel observava Uzai ir de rua em rua, de casa em casa, fazer entregas de encomendas e de cartas para os moradores da vila. Ele ficava de longe, mantendo os olhos na rua, para ver se não estavam sendo seguidos ou coisa do tipo. Talvez estivesse com um pouco de paranoia pelas palavras ditas por Uzai, mas lá no fundo, ele ficava se perguntando: quem é que ficaria por aí perseguindo carteiros?

   Nathaniel acabou acompanhando Uzai em direção a uma rua que, para o carteiro, era um pouco mais perigosa. O motivo? Os cachorros que tinham lá. Nate não tinha medo de cachorros, mas ele não sabia da "ameaça" que os carteiros representavam para os caninos. Assim que chegou em uma das casas para entregar algumas cartas para uma família, o cachorro passou a latir imediatamente, assustando o carteiro. Nate logo quis saber o motivo daquela postura do carteiro, quando de repente, a umas três casas de distância, uma senhora abriu a porta e, imediatamente, um cachorro da raça pinscher saiu pela porta, latindo para os dois.

   A princípio, Nathaniel não sentiu nenhum medo quando viu o cachorrinho, mas Uzai ficou tão assustado que a sua primeira reação foi sair correndo em pânico, fazendo Nate ficar olhando para os lados, procurando saber o que fazer. Sem opções, Nate correu atrás do carteiro, olhando para trás e vendo que o pinscher os perseguia. Uzai não parava de gritar, deixando algumas cartas caírem da sua bolsa, fazendo Nate ter que recolher todas no meio do caminho, coisa que o deixava um pouco irritado, mas também um pouco pensativo: se aqueles cachorros e moradores mal-humorados seriam as coisas mais perigosas que teriam que enfrentar, o trabalho de carteiro não seria tão difícil.

   Depois de uns cinco minutos correndo, os dois pararam para descansar. Nathaniel aproveitou para devolver as cartas para Uzai, que agradeceu de um jeito não muito bem humorado.

   O Sol estava se pondo, quando Nathaniel e Uzai se sentaram em um banco na rua para que o carteiro pudesse ver se tinha feito todas as entregas, e para a felicidade de todos ali, a missão do dia tinha sido completada com sucesso. Aquilo era um motivo de alegria para Nate, que no final das contas, tinha ajudado o cara a fazer todas aquelas entregas de cartas.

   ― Até que você mandou bem hoje, garoto. Só que não é qualquer um que entra nessa vida por opção. Tem certeza que é isso que você quer? - perguntou o carteiro, esperando uma resposta sincera por parte de Nathaniel.
   ― Certeza, certeza, eu não tenho, mas pode ser bom para mim, viajar uma vez ou outra. Talvez seja isso que eu precise para a minha vida, ficar longe de tudo, descobrir mais sobre mim mesmo. - comentou, olhando para o horizonte.
   ― Hm... Foi o Ryuuzaki que fez você virar carteiro, não é? - quis saber o homem.
   ― Mais ou menos. - sussurrou.
   ― Vou te dar um conselho, garoto: fica bem longe daquele cara. Por mais bem intencionado que ele possa parecer, ele não presta! No final, ele arrasta todo mundo para o fundo do poço. Não jogue sua vida fora por causa daquele cara. - aconselhou Uzai.
   ― Tudo bem... Eu vou pensar nisso. - a verdade é que Nathaniel não tinha nenhuma simpatia por Ryuuzaki, mas aquele homem parecia ter as respostas para os questionamentos que tinha em sua mente, por isso estava andando com ele.
   ― Bom, passa lá na central de correios amanhã com os seus documentos, para eu poder te registrar como carteiro. Bem-vindo a bordo. - os dois apertaram as mãos, e Uzai foi embora.

   Não deu nem trinta segundos que Uzai sumiu no horizonte, para Abraham aparecer uns dois metros atrás de Nathaniel. O Grey reconhecia a risada do irmão adotivo, levantando-se do banco imediatamente, ficando frente a frente com o policial.

   ― Carteiro? É isso mesmo? Natezinho, o carteiro! Hahahahaha! - zombou Abraham.
   ― Vai rindo, Abraham, vai rindo. - disse com os olhos semicerrados.
   ― Vai ser muito engraçado te ver com roupinha de carteiro. Sério, eu vou me divertir muito com isso. - garantiu.
   ― Espero que dê boas risadas, Abezinho... Mas eu também espero rir por último. - Nate deu um sorriso.
   ― Espera o papai souber disso. O meu pai, porque o seu... - jogou uma indireta em Nathaniel.

   Abraham saiu andando, deixando Nathaniel ali, pensativo. Não tinha muita coisa o que dizer. O cara sabia muito bem como atingir Nate, e era por isso que o Grey tinha se tornado um ninja, para que um dia soubesse como atingi-lo.