A caminhada ao centro do vilarejo fora lenta. Alcançaram o gabinete da Terceira Sombra da Névoa durante a mesma noite, mas não da forma que ambicionavam. Yohma ainda sentia dificuldades para manter o corpo de pé, muito pela sua condição física e os constantes descuidos que vieram ao longo de sua jornada nos últimos dois anos, mas também pela recente cirurgia. Esta, de tal modo, era a responsável por mantê-lo com os olhos enfaixados, reflexo de que estava em processo de recuperação.

Embora estivesse centrado na regeneração absoluta dos olhos para que retornasse às atividades com total força, bem como tirar um dia de folga pelos consecutivos acontecimentos, Yohma se movia manipulado pela curiosidade. No momento em que os orbes recaíram na Pedra Uchiha outrora, com o sharingan ativo, havia descoberto acerca de uma nova evolução.

Transplantando aqueles globos oculares buscava uma forma de enfrentar a escuridão, entretanto... e se houvesse mais? Sabia que não podia subestimar a sua linhagem, como muito fizera ainda no início de sua vida como shinobi e por essa razão buscava encontrar o rochedo novamente. Como uma mística, de que a primeira visão de seu possível dōjutsu fosse as palavras de um antepassado. Intentava saber mais e mais sobre aquela história, o que havia acontecido com o Uchiha que confrontava seu irmão.

A ambição tomava o mancebo. Desejava cada vez mais, e tal intenção era retratada pelos punhos que tremiam em ansiedade, plenamente notado pela sua aliada. No entanto, mantiveram os passos calmos, chegando ao local objetivado em algumas horas. O Jinchūriki inspirou e suspirou calmamente, pedindo distância da Boneca para que fosse capaz de ele mesmo tomar as ações seguintes. E, com alguns minutos de movimentação singela, assim o fez.

Levou a canhota às faixas, pouco a pouco removendo cada uma das voltas, deixando que os olhos semicerrados encontrassem o frescor invernal. Satisfeito, abriu vagarosamente os orbes e o que encontrou foi... a luz. Um sorriso brotou nos lábios do Uchiha, quase que de forma maníaca, percebendo que inexistia o sangue habitual. Não havia dor, tampouco quaisquer dos incômodos usuais. O Eien no Mangekyō Sharingan realmente existia, e com aqueles olhos... Sentia algo diferente. Eles estavam plenamente adaptados à escuridão.

Portanto, centrou-se no conteúdo do rochedo, notando que um novo frasear surgia. O texto era mais longo que o anterior, mostrando uma sequência de informações limitadas a, talvez, um grupo específico de pessoas. — Há algo mais. — murmurou à Boneca, e ela moveu a cabeça positivamente, o motivando a continuar sua leitura. Yohma também assentiu, armazenando o conteúdo.

A Pedra Danketsu mencionava algo além do Uchiha de outrora. O conteúdo exemplificava que existia outro poder entre aqueles seres, derivado da junção de linhagens distintas e uma conexão profunda: Indra e Ashura, filhos de outro ser, qual fosse, Hagoromo Ōtsutsuki. Yohma nunca havia ouvido uma menção àquele nome, tampouco ao seu clã. Até mesmo buscou em sua memória quaisquer referências do porte, porém, era algo realmente muito novo a si e que, certamente, nenhum de seus aliados ou familiares sabiam.

Os ânimos de uma curiosidade insaciável se tornaram visíveis em sua expressão, mediante a menção de uma bijū detentora de dez caudas. Ela fora dominada pelo homem supracitado, e que aparentemente continha poder imensurável, haja vista, a mesma se tratar da mãe das demais nove bestas, incluindo o demônio de oito-caudas selado em seu âmago. “O criador do chakra... talvez? Ou um arauto que transmitiu esse conhecimento ao longo das gerações por Indra e Ashura?”, perguntou-se, não tendo uma resposta concreta adquirida por meio daquele rochedo.

De toda forma, não precisava de muito mais. Sua mente fazia uma analogia bastante simples, colocando-se no papel de Indra, enquanto Chozen se portava como Ashura. Era uma forma clara de acelerar seu entendimento, e os contextos não eram tão distintos. Desde o início do time os mesmos discordavam de suas metodologias, de como deviam dar continuidade às suas missões e como concluí-las sem que convicções fossem quebradas. Aprenderam a deter uma amizade bastante lapidada, mas jamais adentrando no mérito das crenças pessoais. E, os seres daquela rocha pensavam de forma similar.

O conflito entre ambos coincidiu em um confronto lendário, repetido por diversas vezes entre suas respectivas encarnações, até o momento em que finalmente estivessem em paz. A forma como alcançaram a paz, sua metodologia, não estava exemplificada. Sequer existia uma mínima dica, mas na mentalidade do jovem Uchiha, o braço de células Mokuton tornou-se um exemplo singelo. Um símbolo de que ambos os amigos haviam se unido por um único propósito e que, através daquilo... Um novo poder seria conquistado.

“Rinnegan”, murmurou com a curiosidade persistente nos lábios. “A junção do poder de duas linhagens, Uchiha e Senju, descendentes diretos de Indra e Ashura. Algo que só pode ser conquistado através de sua união”, continuou, mas dessa vez, em pensamentos. Ali existiam muitas dúvidas, de qual seria o método exato de alcançar um poder como aquele, e o que mais a pedra teria para revelá-lo. Quem eram as respectivas reencarnações dos seres lendários em sua geração? Era possível uma nova formação da Besta de Dez-Caudas? O braço era a resposta para outra evolução? Não sabia.

Pensar naquilo tornou sua mente uma incógnita, mesclado ao iniciar de gotículas de chuva em meio a neve. A Boneca abriu seu guarda-chuva, protegendo o mancebo e aninhando seus braços aos dele, enquanto ele mantinha-se inerte. A obsessão pelo conhecimento instigava o Uchiha, mesclado ao poder, e também... à coincidente história. “Rinnegan”, voltou a murmurar. “Rinnegan”, encerrou.

— Vamos. — solicitou e, segurando o guarda-chuva tomado das mãos de sua aliada, deixou que ela novamente enfaixasse seus olhos. Sua visão não estava perfeita, a cabeça doía e os sintomas febris estendiam-se por todo o corpo como indicativo de que precisava descansar. Quando ela terminou, continuou segurando o objeto, deixando que ela o guiasse de volta ao templo de sua família. Havia muito o que refletir, pensamentos para ajustar.

Por outro lado, sequer sabia por onde começar. A sua única certeza era de que desejava mais, intentava mais, e a ambição crescia sem precedentes. Cada vez mais tornava-se um verdadeiro Uchiha.   

Cada vez mais estava próximo do poder de um Deus.
 

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