O fracasso não a machucava, para a Grey talvez fosse melhor assim. Se tivesse sido vitoriosa, o seu remorso talvez fosse maior, por mais que desejasse retornar com o sucesso de sua missão. Independentemente de ter sido enviada para causar caos na terra natal de seu povo, jamais seria capaz de fracassar uma missão propositadamente por um motivo tão banal. Sua motivação principal, o sonho de sua vida, era encontrar um propósito para o mundo em que os Grey pudessem prosperar.

— Se estivéssemos no mesmo lado, nada disso teria acontecido — Allannia murmurou, vislumbrando o portão do vilarejo diante de si. Rauros nada disse, apenas seguiu sua dona durante o trajeto até seu lar.

A viagem marítima transcorreu tipicamente bem, no que antecede o seu retorno. O frio invernal a fez tremer inúmeras vezes, precisando ser aquecida com o calor corporal de sua leoa para amenizar os seus efeitos. Conhecer Silvermoon em outros momentos seria uma honraria inestimável para a sua persona, mas não teve tempo de desfrutar de sua viagem. Havia participado de confrontos mortíferos, e o plano principal da facção era justamente sair do local deixando um rastro de morte e destruição para trás.

— Seja lá o que esses desgraçados da Hydra com esse tipo de comando, estão começando a me cheirar mal — a leoa rompeu o silêncio, num tom de voz debochado.

— Talvez — disse simplista, a voz abatida da Grey era notável, tal como a frustração em seu olhar desolado.

— O que tanto a abala, Allannia Grey? — Rauros parou, olhando nos olhos de sua suserana com um tom inquisidor — Você está viva, apenas saiu de lá apenas com o fardo de ter fracassado. Haverão outras oportunidades de mostrar serviço, se quiser mesmo continuar do lado deles.

— Não me chame mais por esse nome. Nem o primeiro, nem o segundo — era a hora do lobo, e a neve que caía em seu corpo era tão pesada quanto o tom de suas palavras.

— E quem mais você seria, então?

— Ninguém — acenou e partiu na frente, forçando a loba a acompanhar rapidamente se não quisesse ficar para trás.

Inúmeras situações dolorosas atravessavam a sua vida de maneira tão cruel que sequer conseguia ver a luz no fim do turno. Nenhuma grande conquista para se gabar, nenhum teto para repousar e tampouco possuía os próprios trajes. Vestia os flocos de neve do inverno naquela noite escura, a nudez de seu corpo oculta pela camada alabastro que caía dos céus aos montes. Espirrou, com as bochechas coradas. A toalha que “Atumsushi-kun” a deu havia sido chamuscado junto das vestes cedidas pela Hydra, portanto nada mais tinha para se proteger do inverno.

Parou a caminhada, encontrando um ponto abandonado no vilarejo. Após algumas ruas, depois da entrada, havia uma área cujas obras haviam sido interrompidas por tempo indeterminado. Era para ter sido construído um prédio, mas a condição financeira do vilarejo não era boa o suficiente para a conclusão e os duros tempos que o mundo enfrentava após o Arrebatamento não colaboravam.

A ninguém aproveitou das madeiras e pedras abandonadas para utilizar o seu jutsu “Katon: Hōsenka no Jutsu” para gerar uma série de pequenas saraivadas de fogo, acendendo uma pequena fogueira. Esfregou as mãos e se aqueceu, deitando numa cama improvisada feita de pedaços de madeira, algumas pedras e algumas lonas que serviram de cobertor. Poderia passar a noite ali sem problemas, para no dia seguinte analisar como melhorar a sua situação.


Rauros, a Leoa:
HP: 1000/1000
CH: 1000/1000
ST: 00/05