Como sempre, fazia calor na sempre ensolarada Vila da Areia. Mameha poderia dar uma festa na piscina para aliviar um pouco a tensão dessa semana... Contanto que a Chiyo não vá, ela é sempre tão desagrad..., pensava, quando, de repente, alguns de seus insetos começaram a voar, agitados, e, em seguida, sentiu um estrondo que fez com que os objetos sobre sua penteadeira - perfumes, pentes, estojos de maquiagem - saltassem da superfície do móvel por um instante. Por Deus, esses perfumes foram caríssimos!, exclamou a trançada, enquanto corria para se certificar de que nenhum dos frascos corria o risco de ir ao chão com um novo tremor. Ao longe, pela janela aberta, podia se ver uma nuvem de poeira no horizonte, entretanto, não era uma nuvem comum, como aquelas que costumavam varrer o País do Vento em enormes tempestades de areia e poeira. Não, o que a gennin via pela janela de seu pequeno apartamento no centro comercial do vilarejo era definitivamente diferente de uma tempestade do deserto. A região, movimentada, começou a se tornar caótica, quando os transeuntes vinham da direção norte — onde a fumaça podia ser vista  em uma confusão de pedidos de ajuda e explicações que não podiam ser compreendidas em meio ao tumulto de vozes. De certo, do alto de sua janela, Elza pôde ouvir que havia tido uma explosão na mina situada ao norte do vilarejo e muitos trabalhadores não puderam escapar antes que ficassem presos dentro das instalações.

Ainda com seus bobes de cabelo, a menina correu com o traje que lhe era habitual — um roupão que cobria todo o seu corpo, e simples, porém confortáveis sapatos de tecido e sola de borracha, sem salto — em direção à mina. Enquanto caminhava a passos apressados, abrindo caminho em meio a multidão que vinha daquela direção, ela sentia dificuldade em continuar a caminhar pela formação de uma enorme nuvem de poeira e areia que se adensava a medida que se aproximava da mina. Tossiu algumas vezes, expulsando parte da fuligem que tinha inalado pela boca e pelo nariz, e rasgou parte da manga de seu roupão, evitando que aspirasse mais daquelas partículas suspensas no ar enquanto segurava o rasgo sobre o rosto. Seguindo com dificuldade e se guiando por aqueles que fugiam do território, ela logo avistou uma pequena concentração de pessoas que, reunidas, empenhavam-se em desobstruir a passagem fechada pelos escombros. Antes ela que pudesse se aproximar, uma das pedras se deslocou, dando espaço para que outra e mais outra se movessem, em um deslizamento que abria espaço para o interior da mina. Ao ver a cena, Elza correu de pronto para ajudar a tirar as pedras que restavam, impedindo a livre passagem pela entrada da jazida, e assim poder finalmente resgatar os trabalhadores que se reuniam a pouco metros da entrada, desesperados por ajuda e com a respiração dificultada pelo ar tomado de sujeira que se levantara com o desabamento. Assim, ela correu em direção a entrada, auxiliando aqueles que, curvadas e tossindo a plenos pulmões, arrastavam-se para fora, e também o fizeram todos aqueles que observaram o ato. Caminhando com dificuldade, ela sustentava os trabalhadores e caminhava em direção a uma sombra onde eles pudessem permanecer sentados, em repouso, até que a equipe médica chegasse. Logo, após ajudar todos os trabalhadores que estiveram presos, e com a poeira mais baixa, a gennin se certificou de que na contagem, nenhum indivíduo tivesse ficado para trás, ainda dentro da mina. Agradecidos, os homens resgatados recebiam alguns cuidados médicos de primeira instância por uma equipe que acabava de chegar. Com a tranquilidade se instalando em meio as faces antes empoeiradas e em aflição, ela se retirou, retornando para sua moradia.

Mais tarde, após um banho fresco e relaxante e refeito o seu skincare, Elza se punha a deitar no sofá, ainda com os músculos doloridos por ter sido escorado tantos dos indivíduos que se arrastavam para fora da mina, quando ouviu um suave bater em sua porta. Respirando fundo, cansada, questionou-se quem poderia ser.

—— Boa tarde, senhorita. —— dizia um homem encapuzado, ostentando um colete com o símbolo do vilarejo em seu peito e um traje característico daqueles que já estavam habituados ao calor do deserto. —— Pela ajuda prestada nesta manhã, você recebeu uma missão em sua contagem. Continue o bom trabalho pela Vila da Areia. —— Ao encerrar sua frase, sem dar tempo para quaisquer reações, o mensageiro desapareceu em um borrão, deixando a gennin novamente sozinha em sua porta de entrada.

Considerações: