—— É preciso poder.

No mundo, ninjas mais explicitamente, precisam de dedicação constante na busca por evolução e aqueles que estagnam, mesmo possuindo dons naturais, tendem a morrer ou ficar esquecidos no limbo temporal, sem alcançar as coisas que de fato poderiam. Era de conhecimento de Musashi que Miyazaki possuíam proficiência no uso de espadas por conta do clã ao qual pertencia. Era algo instintivo no menino, que desde seu primeiro contato com uma lâmina mostrou facilidade em seu manuseio. Os treinamentos e ensinamentos passados pelo velho na melhor idade eram intensos e objetivos, e por conta disso a evolução e melhora por parte de Miyazaki era visível a todos, inclusive seus pais. Esses não tinham mais ligação com o mundo shinobi e nem sequer se lembravam de que o clã do qual se desvencilharam possuía tamanho poderio bélico enquanto empunhando uma espada. O filho por outro lado, abraçou o encargo em seu sangue e decidiu que algum dia seria declarado e reconhecido por todos no vasto mundo como o maior espadachim do mundo. Foi com esse pensamento que abandonou, de certa forma, seus pais e o vilarejo de interior que vivia, tomou como rumo a grande aldeia da névoa e tornou-se de fato um shinobi, passando pela academia abruptamente, muito por conta de já estar avançado nos treinamentos de seu mentor Musashi. Ainda assim, julgava que precisava de mais.

Já havia tomado a decisão de seguir treinando da forma que seu mestre o havia ensinado, de maneira a potencializar seus pontos fortes em um todo e não treinamentos isolados focados em apenas um atributo em particular. O argumento do idoso era que, por ainda ser jovem, Miyazaki não precisaria se preocupar em evoluir rápido demais, mas sim constantemente. O que sempre intrigou o menino, é que em sua mente pulsava a teoria de que evoluiria muito mais depressa se focasse em um atributo de cada vez, já que daria seu melhor naquilo e por isso iria disparar exponencialmente. O que poderia melhorar em seis treinos, melhoraria em um apenas. Mesmo que fizesse todo sentido em sua mente, a face do respeito que nutria por Musashi lhe instigava a manter seus passos. Portanto resolveu iniciar o aquecimento de maneira padrão seguindo por exercícios de alongamento. Desde o musculo de sua panturrilha até a junta de seus ombros. Movimentos lentos e concentrados afim de não perder por descuido a amplitude do movimento. Seus ossos estalavam, ou melhor, as bolhas de ar em suas juntas. Foi então que decidiu que daria algumas voltas no campo para esquentar o sangue, aproveitando que estava sozinho e não precisaria se preocupar em se mostrar muito mais forte ou rápido do que realmente era. Começou com um pique singelo que não chamaria atenção mesmo de um cadeirante.

O campo que encontrou para realizar seus treinamentos era, em um primeiro momento de vislumbre, uma punhado de barcos abandonados há no mínimo décadas, no que parecia ser um beira mar antes utilizado pela companhia mercante da aldeia como doca. Zaki estava vagando após encontrar-se com seu líder, atrás de um lugar calmo onde pudesse treinar sozinho e por fim encontrou aquele. Por mais frio, sujo e fedido que fosse, era o lugar perfeito. Sua movimentação seria limitada pelo pouco espaço entre as ruinas dos barcos ao seu redor e assim talvez melhorasse seus reflexos, tendo em mente que nada ali era firme o suficiente para sustentar seus pés. Com o tempo aumentou a cadencia de seus movimentos e acelerou. Seus poros começaram a se abrir e suor já escorria de sua testa. Seus músculos das pernas podiam ser sentidos pulsar e aquele era sem duvidas o limite para Musashi. Seria aquele o momento em que ordenaria um descanso por parte de seu pupilo. Mas o velho não estava ali. Zaki apertou ainda mais o passo e concentrando-se ao seu redor, a tudo que o cercava, aumentou sua velocidade ainda mais. Correu e saltou por entre as estruturas pútridas e amadeiradas das embarcações e acelerou. Podia sentir seu coração numa tentativa, felizmente falha, de saltar para fora pela sua própria boca, mas decidiu que iria mais fundo.

Sua capacidade pulmonar foi melhorando no processo, era preciso. Se não cuidasse de sua respiração e controlasse a mesma, o jovem Yotsuki poderia desmaiar devido o demasiado esforço repentino e incomum que vinha fazendo. Acelerou mais. O cuidado e a concentração poderiam ser destacados naquele fim de manhã. A própria névoa que cobria o lugar não se misturava mais no mesmo espaço em que o jovem passava. Sua velocidade sempre foi motivo de orgulho, mas naquele momento notou que podia mais. Acelerou ainda mais, e por controlar sua respiração da maneira correta, preservou seu estado e não se cansou logo de cara. O velho estava errado, foi a primeira coisa que passou em sua cabeça. Talvez os treinamentos de Musashi não fossem assim tão intensos e nada verdade estava tentando cadenciar o avanço de Zaki. Não importava mais. Iria enfrentar inimigos cada vez mais poderosos e precisava estar preparado para tal. Acelerou cada vez mais, sua respiração já havia se tornado ofegante, mas julgava ainda ter capacidade para mais. O que culminou no obvio. Apesar do grande avanço daquela manhã e na melhora exponencial de sua velocidade e capacidade de resistência, um deslize fez com que pisasse na parte podre de uma das superfícies de um dos barcos ao seu redor. O garoto, por estar rápido demais, entrou madeira adentro e por sorte só fincou algumas farpas em suas mãos, que usou para evitar o choque. Estava satisfeito até demais. Resolveu tatear seu equipamento e retornou para um descanso merecido em alguma das estalagens do centro.

Zaki; 225/225; 325/325; 0/4;

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