Era mais uma noite calma em Kumo, com o clima ameno da primavera... Mas eu estava ansiosa. Sentia-me como se estivesse constantemente correndo contra o relógio. Esse “Pastor”, esses Jashinistas... Não era nada bom. Eu tentava manter minha identidade como Jashinista um segredo de todos, até mesmo dos meus superiores e poucos amigos, mas já sentia que logo esse segredo iria acabar sendo revelado. Já sentia no horizonte um conflito se aproximando. Jashin, era, afinal, um deus da morte e carnificina. Não há outro caminho a seguir. As palavras de Kagayaki ecoavam em minha mente... “Se prepare.”

E, mesmo com olhos abertos e atenção redobrada, focando constantemente nos movimentos deste novo culto Jashinista, ainda não era possível simplesmente largar todas as minhas responsabilidades profissionais com o vilarejo. Afinal, o segredo ainda era um segredo, e Tanki estava me tutelando nos últimos dias – Várias tarefas realizadas em prol da delegacia do vilarejo. Hoje, me convocava para as profundezas do vilarejo, os “Corredores Escuros”, parecia que o Administrador necessitava minha presença...

O Administrador era uma pessoa que me deixava com um pouco de medo, sim. Era talvez a pessoa mais inteligente que eu conhecia. Todos nós sabíamos sua aparência, mas ninguém sabia quem ele realmente era. Administrador era seu nome, apenas isso que sabíamos. Talvez nem mesmo o Raikage realmente soubesse quem realmente era o homem... Enfim, finalmente chegava na frente da grande porta de aço que marcava o local que eu havia sido convocada. Minha presença era anunciada pelo ranger de metal contra metal. Do outro lado, o Administrador estava sentado de lado para mim, saboreando um copo de café, olhando alguns papéis em sua mesa. Sem nem mesmo levantar o rosto para mim, começou a falar. – “Boa noite, Nora. Estava aguardando sua chegada. Parabéns pelas missões completas com sucesso, sua patente agora foi elevada para Subtenente, e com isso tenho uma tarefa para você.” – Me surpreendi com a promoção repentina, mas sabia que não era tal grande coisa. Os sargentos da divisão de inteligência tinham poder sobre a delegacia, mas aqui em baixo não passavam de meros estagiários. – “Com toda a certeza, Administrador. Agradeço a promoção e aguardo minhas ordens.” – Respondi, colocando um braço em frente ao peito e me curvando levemente.

- “Ótimo. Recentemente capturamos alguns ratinhos naufragados de Kiri. Piratas, Desertores e um Renegado com um preço bem grande na sua cabeça... Preciso que você extraia todas as informações que consiga deles.” – Falou o homem, e eu ligeiramente inclinei minha cabeça. – “Piratas de Kiri? Não seria certo enviá-los para Kirigakure para serem julgados lá?” – Perguntei, confusa sobre as potenciais consequências. O homem simplesmente balançou a cabeça, olhando pra mim como se eu fosse uma idiota. – “Estavam atacando as rotas comerciais entre Uzu e Kumo. A partir do primeiro momento que eles interferiram com Kumo, o problema virou nosso. Se o Mizukage quiser os corpos, vai ter que admitir que os ataques foram culpa dele, e ele já está preso a pira... Não vai querer piorar a situação.” – Falou, tomando mais uma breve pausa. – “Enfim, estão todos em celas separadas. Você tem toda a liberdade para fazer com eles o que quiser... Mas não são muito suscetíveis a Torturas físicas, vindo de Kiri e tudo mais. Faça o que achar melhor para retirar informações deles, vão todos ser executados depois disso.”

Hm, qualquer coisa...? – “Nenhum deles vai sair vivo, então. Haverá alguém observando enquanto eu trabalho, ou estarei a sós?” – Perguntei ao homem. Ele parou um pouco para considerar, e então respondeu. – “Além de mim? Não.”

Deixei um sorriso cruel surgir em meu rosto. O homem já sabia das minhas afiliações... religiosas, e parecia não ter qualquer problema quanto a elas. Hora de resolver alguns problemas e mostrar do que eu sou capaz. – “Entendido, Administrador. Terei um relatório pronto para você até o final da semana.” – Falei, já me virando e me retirando da sala.

Eram todos criminosos afinal. A morte, para eles, seria meramente uma piedade.

Era uma tarefa um tanto interessante, com grande potencial para aprender um pouco mais sobre o psicológico dos outros... Tinha de tentar quebrar o psicológico deles, tentando não depender da tortura física para tal. Era uma situação um pouco problemática aqui em baixo... Mas podia ver a utilidade de tudo isso quando não estivesse lidando com pessoas que eu pudesse arrancar os dentes e quebrar os dedos até cederem. Agora, havia que descobrir qual a melhor maneira para fazê-lo.

Imediatamente minha mente retornou á livros que eu havia lido no passado: Não é possível mentir, eu praticamente comia livros. A biblioteca era basicamente meu lugar de descanso após um longo dia de trabalho. E eu não me mantinha presa apenas a livros de ficção, contos e história, eu tinha uma grande quantidade de livros técnicos sobre os mais diversos assuntos em meu repertório. Entre estes, livros de psicologia aplicada, para alguém que se especializasse no assunto, como psicólogos ou terapeutas. As informações ali eram interessantes e úteis... Mas igualmente úteis para boas e más intenções. Outros também eram úteis, em especial, administração, empreendedorismo, e vendas. Estes seguiam uma trilha diferente, mas era claro que em várias das técnicas utilizadas para convencer clientes e funcionários a realizar uma compra ou seguir suas ordens dependiam de grande domínio psicológico. Leitura corporal, como identificar mentirosos, e assuntos similares também eram bem frequentes em livros mais voltados para as atividades de uma Kunoichi.

E, até agora, não havia tido uma oportunidade tão boa para colocar tudo aquilo em prática quanto esse momento. Era boa hora de descobrir se o conhecimento teórico que havia adquirido realmente funcionava em prática. Começava a passar ideias em minha mente, relembrando os conteúdos de todos esses livros, já planejando como agir enquanto passava em frente a primeira cela onde um dos prisioneiros estava lacrado. Li as informações disponíveis para mim em uma prancheta a que foi entregue: Takashi Sato, marinheiro de Kiri, vinte-e-nove anos. Abandonou sua casa com quinze anos e começou a trabalhar nas docas. Com dezessete anos, começou sua carreira criminal. Não era ninguém especial, não tinha características especiais, era apenas mais um zé ninguém que escolheu a vida de um criminoso. Neste momento, eu decidi que até o final do turno iria tentar mostrar uma disposição simpática e amigável com os prisioneiros, tentando mostrar e eles que estava ali pra ajudar. Vamos ver se minha ideia terá resultados.

Abri a porta da sala com um sorriso pequeno, mas o mais genuíno que eu conseguiria fazer. Acenei calmamente para o homem, que me fixava com um olhar furioso. – “Com licença, o senhor é Takashi Sato, correto?” – Perguntei com uma voz baixa e lisa, mas fui respondido por uma cuspidela – quase acertando meu rosto. – “Me larga, Mocreia.” – Rugiu. Meu impulso era apenas matar ele aqui e agora pelo simples desrespeito... Mas isso não seria útil para mim. Meu sorriso ficou mais forçado. –“C-certo... Você é um marinheiro de Kiri, correto? Estamos tentando abrir negociações com Kiri para liberá-los, mas preciso de algumas informações do senhor...” – perguntei na mesma voz calma, mas ele não parecia convencido. – “Como se eu fosse acreditar numa rata de Kumo! Ocês ninjas são todos iguais! Some daqui, muié! Vai escutar nenhum pio de mim não!”

Fiquei parada por um momento, chocada, mas apenas acenei a cabeça e fechei a porta atrás de mim. Bom, isso não havia dado nada certo... Mas haviam mais doze homens a serem interrogados. Fiquei me perguntando aonde tudo tinha ido errado ali, considerando todos os fatores do ambiente naquele momento. O homem certamente estava nada feliz em ser um prisioneiro para outra vila... Talvez a sugestão de entrega-lo de volta para Kiri? Tsk... Considerei usar os meus Brincos para me dar a vantagem intelectual, mas a impulsividade poderia dar mais problemas do que resolver, então descartei a ideia logo em seguida.

Continuei repensando, considerando as estratégias, e decidi que usaria uma tática similar com todos os outros homens capturados – e então o fiz. Ao mesmo tempo, fiquei atenta a todas as respostas, como minha postura e personalidade alteravam as respostas, como meu vocabulário os influenciava... Notei rapidamente que a maioria deles não tinha nenhuma educação formal, e ajustei meu linguajar de maneira apropriada. Notei que alguns estavam com medo, e sangravam informações facilmente. Outros estavam raivosos, como o primeiro homem, e agiam com agressividade. Outros eram estoicos, e mantinham-se silenciosos e me ignoravam. Outros pareciam acreditar que uma negociação estava em jogo, e tentavam me convencer. Cada um deles me dava uma introspecção diferente.

Logo, havia completado este turno. Iria continuar trabalhando noite afim, mas saí desse calabouço brevemente para respirar e pegar alguma comida acessível. Neste momento, fiquei revisando tudo o que havia decorrido até então, relembrando as posturas e ações de cada um dos homens, suas expressões faciais e sua linguagem corporal... Era bastante para se processar, mas eu estava categorizando tudo em minha mente.

Após minha breve pausa e janta na superfície, desci novamente para os calabouços nas profundezas do vilarejo. Dessa vez, sobravam as ‘introduções’ com os prisioneiros com devida notoriedade: Os desertores, e um renegado com uma recompensa em sua cabeça. Mesmo por esta notoriedade, tinha que admitir que nunca havia ouvido falar de nenhum deles. O mundo era certamente grande, e talvez esta fosse uma oportunidade para descobrir um pouco mais sobre as características do país da água. Eram, afinal, piratas, e parece que seguem o ramo á pouco mais de uma década. Certamente, em todo esse tempo devem ter conquistado um repertório de conhecimentos formidável, e eu queria tudo para mim.

Decidi completamente evitar o uso de quaisquer técnicas ilusórias neste momento. Não duvidava que minhas ilusões tivessem pleno efeito nestes criminosos, mas sabia que existia uma grande quantidade de pessoas nesse mundo que sabiam escapar de ilusões com devida facilidade, e eu precisava de algo que funcionasse mesmo quando Genjutsus não fossem viáveis... E talvez, saber como manipular as mentes dos outros possibilitasse uma sintonia com minhas ilusões.

Comecei a entrar nas celas dos prisioneiros um por um, me introduzindo e tentando puxar papo a sós com cada um deles, utilizando a mesma disposição amigável e confiável de antes, com alguns pequenos ajustes que havia notado a fazer durante minhas interrogações com os marinheiros. Sabia que todos eles haviam feito parte da marinha de Kiri uma vez na vida, e que haviam certa quantidade de treinamento formal. Também sabia que Kiri não era o melhor lugar para se viver, e eles demonstravam isto: Todos eram pessoas terríveis. Hostis, agressivas e violentas, que apenas mostravam sua lealdade quando em jogo estivesse dinheiro e glória. Uma combinação perigosa de características. Nenhum deles sequer pensou em me tratar bem de qualquer maneira. Insultos eram feitos para mim, minha aparência, meu gênero. Escutei terríveis coisas das bocas desses homens... A certos momentos não queria nada mais que lentamente arrancar os olhos deles, mas isso seria contraproducente. Eles logo irão sofrer as consequências de seus atos, afinal.

Havia salvado o melhor para o final: O Renegado. Oficialmente, não passava de um Chunin, um renegado de Rank C. Talvez Rank B em um dia bom, mas sua classificação de risco oficial não demonstrava onde as principais habilidades do homem estavam: Ele era um empreendedor nato. Ele era o indivíduo da tripulação que regulava os outros, fazia os acordos, e tinha suas conexões. A sua recompensa era baseada em tudo o que o homem sabia: Conexões com renegados de nível maior, informações importantes sobre a marinha e rotas comerciais de Kiri, e outras coisas sobre o país que poderiam realmente afetar a imagem de Kiri e do Mizukage.

Ao entrar na cela em que o homem estava preso, mostrei a mesma disposição amigável que havia utilizado até então. Fiz contato visual com o homem, me movimentando de forma calma, ambas as mãos em frente do meu corpo e visíveis. Mostrei um sorriso em meu rosto, inclinando a cabeça para o lado. O homem permaneceu silencioso, então comecei meu questionário. – “Tatsuo Noburo, de Kirigakure, correto?” – Falei. Em seu rosto, um sorriso presunçoso e olhos entreabertos. Continuava silencioso. – “Não se preocupe, não temos nenhum contato com Kirigakure... Na verdade, estamos buscando fazer um acordo.” – Falei, estendendo uma mão na direção do homem. Ele permaneceu quieto, me encarando com olhos entreabertos. Hm... – “...Certo. Reconhecemos que você possui grande experiência com os mares nos arredores de Uzu e Kiri, consideraria auxiliar a marinha de Kumo? Iremos pagar sua recompensa e limpar seu registro.” – Neste momento, o homem simplesmente bufou para mim, e sua expressão mudou, como se houvesse escutado uma piada. – “Garota, você é idiota ou o que? Tá achando que eu vou cair nesse joguinho de girico? Me joga na cadeia logo e cai fora.” – Fechou os olhos, balançou a cabeça, e fingiu que estava roncando... Certo.

Saí da sala, fechando a porta atrás de mim com um pouco mais de força do que o necessário. Isto não estava dando certo... Eles já estavam treinados para lidar com pessoas como eu, pelo que parece. Palavras lisas e ofertas promissoras não iriam ter efeitos. Tortura não iria ter efeito... Me sentei em uma das mesas por perto e comecei a pensar, batucando os dedos contra o aço. Sozinhos, estavam mostrando grande resistência aos meus avanços..., mas talvez, em grupo, eu consiga criar um exemplo.

Deixei um sorriso cruel surgir em meu rosto, tinha tido uma ótima ideia.

Naquele momento, estava completamente sozinha dentro da câmara, em completo silêncio. A Câmara era vagamente oval. Era grande, o suficiente para todos os prisioneiros. Organizei cadeiras, todas viradas ao centro. Seria o palco perfeito para o que viria logo a seguir.

Imaginava a quanto tempo eu não fazia esse ritual... Da última vez, foi com uma pessoa inocente que se entregou como sacrifício. Uma pessoa a qual eu até admirava. Agora, não tinha esse sentimento de culpa ou hesitação nublando minha mente, mais. As palavras de Kagayaki eram nítidas: A escória do mundo precisava ser eliminada. O sacrifício era a ferramenta de eliminação. Com o sacrifício, eu iria limpar o mundo. Suspirei em excitação, deixei com que as imagens voltassem a minha cabeça, como se uma mão divina me guiasse... Rasguei minha mão esquerda com uma das minhas lâminas de Chakra. Um corte brutal, que para uma pessoa normal, seria debilitante. Me ajoelhei, no centro da câmara, e usei esta mão para pintar o símbolo de Jashin no chão.

Respirei profundamente, aliviada e satisfeita. Olhei para minha mão, poucos momentos depois, e o ferimento já havia se fechado – em seu lugar apenas uma pele levemente corada, cercada por sangue. Era um impulso instintivo e gratificante. Usei a mesma mão para retirar o amuleto de Jashin que ficava escondida embaixo de minha roupa, deixando-o claramente a mostra. Me levantei do chão, e sorri profundamente... A sede de sangue impuro será saciada hoje.

Um por um, começava a escoltar os prisioneiros para a câmara. Estavam todos presos e incapazes de utilizar jutsus, e normalmente eu ainda manteria cautela..., Mas aqui? Essa cautela era desnecessária. Apenas os amarrava firmemente a cada uma das cadeiras para mantê-los onde eu desejava. Eles me olhavam com olhares confusos, outros reclamavam, vários resistiam. Alguns até mesmo se jogavam no chão... e se arrependiam quando seus rostos e braços eram rasgados pelo chão áspero enquanto eu os arrastava. Na câmara, conversavam entre si, se calando quando eu caminhava dentro com mais um de seus companheiros. Pareciam notar o símbolo no chão, mas não comentavam, nem aparentavam fazer a conexão entre o símbolo no chão e o sangue em minha mão esquerda. Em algum tempo, estavam todos ali – dezenove homens ao total, marinheiros, desertores, e é claro, o Renegado.

Estando todos ali, me dirigi até o centro da sala, ficando no centro do símbolo no chão. Seus olhares lentamente se tornavam confusos. Notavam que o tom da conversa completamente havia se alterado. O renegado parecia estar cauteloso, como se soubesse que algo estava prestes a acontecer. Agora... agora é hora do show. – “Boa noite, companheiros! Creio que todos já me conhecem, mas ninguém sabe quem eu sou... Bom, saudações! Meu nome é Nora Kumori, Tokubetsu Jonin, Subtenente do Setor de inteligência de Kumogakure, número de registro 602413. Com as delicadezas fora do caminho... Devo admitir que estou profundamente decepcionada com vocês. Alguns se mostravam interessados em negociar e comprometer, mas agora devo admitir que nunca se tratou de uma questão individual... E nosso tempo está acabando.” – Falei, animada, com o maior e mais terrível sorriso no rosto. Encarava cada um deles, individualmente. – “Agora... Cooperem, ou o final da vida de vocês será bem... bem desconfortável.”

A sala ficou silenciosa por alguns momentos... Um deles bufou, e em pouco tempo, a sala eclodiu em risadas. Algumas eram mais animadas que as outras, algumas eram reservadas e quietas, hesitantes. Os mais bravos começavam a perguntar entre si o que uma garotinha boba e fofinha como eu seria capaz de fazer. Me insultavam, assim como anteriormente, fazendo diversos comentários nada agradáveis... O renegado me fixava um olhar profundo. Bom, vamos em frente, então.

Acenei a cabeça naquele momento. Cruzei os braços, deixei meu sorriso evidente. Eles acreditavam que eu era apenas uma garotinha, então... Ótimo. – “Então está certo... Creio que uma demonstração prática seja o melhor, para mostrar para vocês o que uma garotinha boba é capaz de fazer.” – Caminhei vagarosamente até um dos marinheiros. Um dos menos importantes, menos experientes, mais jovens. Talvez o mais inocente entre todos eles. – “Vocês estão todos sendo julgados extrajudicialmente pelos crimes de Pirataria, tráfico de drogas, fraude, homicídio, tortura e...” – Lambi meus lábios, aproximando o meu rosto do rosto do rapaz. – “...Tráfico de humanos. Todos crimes desprezíveis, não concordam? Como não são cidadãos do país dos trovões, vocês não têm o direito a um julgamento criminal. A pena, porém, será devida.” – Falei, escutando enquanto os homens comentavam coisas por trás de minhas costas. Eu ignorei, e segurei o queixo do menino que suava frio. Ele sabia que não ia terminar bem para ele... Garoto esperto.

O mecanismo de Kunai oculta era uma ferramenta útil. Com um rápido movimento, havia sacado minha Chakura To e rascado a bochecha do garoto dos lábios até a orelha. O silêncio dele era substituído por gritos de dor e pânico. Aproximei meus lábios do ferimento sangrento, e lambi o sangue que escorria livre... Essa sensação de controle, de poder, era tão diferente. Era como nada que eu havia sentido na vida. Era o controle absoluto sobre o destino de outra pessoa... Eu estava no controle. Eu sorria, isso me animava!

Calmamente, caminhei de volta para o centro da sala, ficando sobre o símbolo que eu havia inscrito no chão. Fora os gritos de pânico e dor do garoto, que agora se substituíam por choros, era silêncio. Os homens, cada um deles, me fixava com um olhar diferente. Terror, Medo, Raiva, Ódio, Pânico. Lembrei dos escravistas que destruíram minha vida e minha família a mais de uma década atrás. Olhei para esta escória da terra, que fazia o mesmo com pessoas inocentes. Olhei para o rosto do renegado, que estava completamente aterrorizado. Sorri para ele. – “O que foi, mocinho? O Bicho-papão deixou você com medo?” – Notava o olhar dele mudar. Medo, pleno e puro. – “Olhem o amuleto dela! Essa vadia é uma desses Jashinistas que ta por ai! São um bando de loucos!” – Anunciou, gritando com pânico. Ora bolas... Não iriam sair vivos daqui, agora menos ainda. – “Que mente perspicaz, descobriu sobre o meu segredinho! Hihi... Tenho que admitir para vocês, sim, eu sou mesmo uma dessas ‘Jashinistas loucas’ que estão andando por aí. Quer ter uma aula prática do que somos capazes de fazer? Eu te mostro!”

Com o maior e mais autossatisfeito sorriso em meu rosto, saquei a mesma lâmina e rapidamente golpeei minha traqueia, logo abaixo do queixo. Agora, suspiravam de surpresa, vendo eu sacar a lâmina do meu pescoço sem nem mesmo hesitar. O som dos gritos subitamente parou. Os olhos dos homens todos se viravam para o garoto, engasgando no próprio sangue, incapaz de respirar. Lentamente morrendo por sufocação, se debatendo enquanto seu rosto ficava cada vez mais roxo e ele ficava cada vez mais letárgico, até eventualmente morrer, com olhos abertos, terror em sua feição nos últimos instantes.

Eu me sentia tão viva naquele momento. Como se uma capa de calor e vida houvesse me coberto. Passei a mão na garganta, nada mais do que pele lisa e jovem... Isso era tão bom! Aquela dor era tão diferente, tão satisfatória. O sofrimento e morte desses cães podres me deixava feliz. Foi por isso que eu nasci. Ao meu redor, uma nova erupção de sons: Gritos! Exigências! Confissões! Suplicações! Terror. Em minha face um sorriso ainda maior.

- “Silêncio, vermes!” – Ordenei, emanando meu Sakki e bradando minha Lâmina. A sala imediatamente se aquietou. – “Vamos aos negócios, agora. Contem a mim tudo o que sabem. Os negócios a quais vocês se envolveram. As rotas por qual percorreram. Os valores de tudo que vocês roubaram...” – Me aproximei de um dos outros homens, o mesmo que havia antes tentado cuspir em mim, que agora, ainda estoico, mas com medo em sua feição. – “...os nomes de todas as pessoas que vocês desfiguraram, venderam e mataram.” – Posicionei minha lâmina contra o crânio dele, ao lado do olho, e fortemente pressionei. Ele gritava e se debatia, mas não podia escapar. Com um som arrepiante, seu olho saltou da órbita, e com o lado da Lâmina eu o arranquei, jogando-o ao chão e pisando sobre ele, mais uma vez, emitindo um som arrepiante enquanto o orbe cheio de fluidos explodiu embaixo da sola da minha bota.

Caminhei até o renegado, apontei minha lâmina para ele. Medo, era só isso que eles sentiam. – “Me contem... Quem tem medo de morrer?”

Saia da sala, deixando atrás de mim uma terrível carnificina. O sorriso em meu rosto havia se dissipado após eu ter matado o último deles. Haviam sido seis horas de inferno e tortura para eles... Para mim, mais um dia de trabalho bem feito. Usei um pano úmido para limpar meu rosto e minhas mãos do sangue seco que havia acumulado, mas minhas roupas haviam sido completamente manchadas... Droga, limpeza a seco não é nada barata. Saindo da sala, quase como predeterminado, escutei um pequeno tossir vindo do meu lado. O Administrador já estava aqui, olhando intensamente para mim. Ajustei minha postura, arrumando meus óculos e ligeiramente me curvei.

- “Conseguiu alguma coisa?” – ele me perguntou. Eu deixei o canto da minha boca subir em um sorriso. – “Sangrei eles até dos nomes dos animais de estimação na infância.” – Afirmei. O homem apenas acenou a cabeça, parecia satisfeito. – “Específicos?” – Perguntou para mim. Eu considerei um momento... era muitas coisas para deixar apenas em conversa. – “Descobri em quais mercados eles estão envolvidos. Estão vendendo drogas e produtos ilegais para os mercados de Uzugakure, Konohagakure, Takigakure, Yugakure e Shimogakure. Além disso, estão transportando escravos entre Kiri e o continente principal. Admitiram que existem mais uns seis navios da trupe deles. Estão todos ancorados na costa noroeste de Kiri no momento atual... Também consegui mapear todas as rotas comerciais dos mares ao redor de Kiri com o que eles me falaram, além de boa maioria das rotas no interior do país, quais eles usam para transportar os escravos.” – Afirmei, cruzando os braços.

O administrador apenas acenou a cabeça, e gesticulou para mim continuar. – “Certamente. Além disso, parece que têm conexões com outros grupos de criminosos, principalmente traficantes... Mas também alguns renegados. Creio que o senhor tenha visto as notícias sobre as ondas de criminosos surgindo de Kiri e Iwa... Não me confirmaram nada sobre o paradeiro ou capacidades, mas parece que eles tinham planejado contatar um certo Kaguya Eru. Pelo que me falaram, é um homem de um metro e oitenta de altura, particularmente atraente. Olhos azuis, cabelos longos e escuros, rosto simétrico, pele lisa e harmoniosa. Um mocinho bonitinho, pelo que parece ser. Precisarei investigar mais sobre ele, mas terei que encontrar um recurso útil. Deixarei tudo isso que acabei de falar como um relatório na sua mesa antes do final do dia.”

Com isso, o Administrador pareceu satisfeito, mas creio que ele estivesse observando tudo que estava acontecendo dentro daquela câmara. – “Ótimo. Alias, não precisa escrever seu relatório. Você está sendo enviada para uma missão em Uzu. Infiltração. Não seja vista. Parece que os Jashinistas estão fazendo uma reunião por lá... Vá imediatamente e descubra o que está acontecendo.” – O homem falou, me encarando com um olhar que dizia ‘você sabe exatamente por que está sendo enviada’, e eu só podia suspirar... Fechei os olhos e acenei a cabeça. – “Estarei partindo antes do Sol raiar. Mais algo?” – Perguntei ao homem, que já começava a virar e se retirar dali. – “Não esqueça de apagar aquele símbolo e limpar a sala.”

Olhei para trás, para a porta entreaberta da sala. Dezenove corpos mutilados, sangue por toda superfície, o símbolo de Jashin intacto no centro da câmara... Droga. Será que eu consigo convencer alguém a fazer isso se eu usar um pouquinho de chantagem e Genjutsu...?