A vida de Ichiro tinha virado de ponta cabeça, uma das suas maiores vontades tinha se realizado, o garoto conseguia se lembrar da sua infância e recuperar suas memórias esquecidas, porém, na situação em que elas foram perdidas, provavelmente seria melhor que ele nunca tivesse recuperado.

O garoto não conseguia dormir uma noite de sono completa desde que tinha visitado seu antigo lar, o garoto virava de um lado para o outro na cama procurando adormecer, mas era uma inútil tentativa de calar os pensamentos que ainda o atormentavam. O sol invadia o seu quarto trazendo uma claridade que só atrapalharia seus planos  de descansar.

O garoto se levantava e sentava na beirada da cama, com os olhos apáticos encarava o chão por alguns momentos procurando por respostas que nunca seriam dadas. Lentamente se colocava de pé, colocava seu haori e encarava o sol que brilhava através da janela.

O quê é isso? - O garoto pensava ao observar alguns filetes de fumaça passando também pela janela.

Deve ser meu pai fumando lá fora…

O garoto insone decidia ir caminhar um pouco pelas ruas de Kirigakure no Sato para esfriar um pouco a cabeça, então se dirigia até o lado de fora da casa, mais precisamente na área onde os filetes se formavam.

Bolsa de armas:

Ao sair da sua casa e se direcionar até o local de onde vinha a fumaça, Ichiro era surpreendido. Kenzo, seu pai, não estava fumando, na realidade o pescador estava de joelhos e com as palmas das mãos encostadas uma na outra em posição de oração. O Uchiha então se aproximava para entender o que estava acontecendo, não entendia o motivo de Kenzo estar rezando naquele lugar.

Quando se aproximou de seu pai viu o motivo daquela posição, o homem tinha feito um memorial para os pais biológicos de Ichiro que haviam sido assassinados por desertores. Haviam duas placas com os nomes de Isao e de Akemi, uma pequena estátua de Buda rodeada de flores e um incensário onde dois incensos queimavam.

Pai… você que fez isso? - Ichiro perguntava enquanto limpava as lágrimas dos olhos.

Você já acordou? Bom dia filho… sim, achei que depois de tudo que vocês passaram eles mereciam pelo menos esta homenagem. Eu sei que os corpos deles não estão aqui, mas o que importa é que agora existe um lugar para você repousar seu coração quando pensar neles.

O garoto então se ajoelhava ao lado de Kenzo, e por alguns minutos também rezava pela alma de seus genitores.

Bolsa de armas:

Enquanto Ichiro orava pela alma de seus pais, mais algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto, ao terminar se levantava e abraçava Kenzo com uma força que nunca tinha abraçado antes.

  Obrigado pai… você não sabe como isso significa pra mim, e como esse seu gesto foi bonito.

Não há de quê Ichiro - Kenzo afagava os cabelos de seu filho adotivo enquanto recebia o abraço.

Você vai ficar para o almoço? Ou vai ter que encontrar seu time? - O homem tentava de forma sucinta mudar o assunto, achava que insistir no que havia acontecido só traria mais sofrimento ao genin.

  Não.. na verdade não, hoje eu estou de folga, mas não precisa me esperar para almoçar, hoje eu vou dar uma volta pela vila, provavelmente vou comer algo na rua mesmo. - Ichiro se soltava do abraço, limpava os olhos e dizia sorrindo. Pela primeira o garoto conseguia sorrir de forma sincera depois do que tinha acontecido.

Tudo bem então, tome cuidado por aí, tente não chegar muito tarde também.

Ichiro então se despedia e iniciava sua caminhada, pegava um cigarro de dentro do bolso de seu haori e acendia ao levar até a boca. Assim começando a refletir no momento em que sua vida se encontrava.

Bolsa de armas:

Os pensamentos do Uchiha se conflitavam bastante, cada pessoa processava o luto no seu próprio tempo, porém, o rapaz não gostaria de continuar a se sentir mal daquela forma. Se sentia culpado por sofrer tanto sendo que a vida já lhe havia dado uma segunda chance, uma oportunidade de recomeço ao encontrar o pescador que o adotara. Culpa essa que nem poderia ser legítima, o Uchiha não precisava anular sua dor só por pensar que no fim as coisas tinham dado certo, mas por ser jovem, a sua imaturidade criava esses tipos de questões.

 Está na hora de levantar a cabeça mais uma vez… não posso deixar que esse passado me consuma no presente. Hoje eu decidi me tornar um shinobi, meu pai depende de mim, meus companheiros de time vão depender de mim também! - O garoto que começou o seu caminho como um ninja de forma desleixada, agora buscava forças para atender as expectativas que eram colocadas sobre ele.

O tempo passava enquanto Ichiro caminhava e refletia, seu cigarro já tinha terminado há alguns minutos, e dessa forma a hora do almoço se aproximava e a barriga do rapaz começava a roncar.

 Vou passar para comer alguma coisa antes de voltar para a casa, acho que existe uma barraca de dango aqui perto.

Bolsa de armas:

Porém antes que o garoto pudesse se dirigir até a barraca que vendia o doce que ele pretendia comer, um grito apavorado lhe chamava a atenção. No fundo da rua uma criança aparecia, era uma menina que possuía os olhos brancos, a mesma tinha sangue escorrendo de seu rosto e corria o máximo que podia com uma expressão tomada pelo desespero.

Logo atrás dela um senhor de cabelos grisalhos e sobretudo preto caminhava calmamente com uma kunai na destra, o homem ria como se debochasse da criança, como se fosse um caçador rindo da vantagem que tinha sobre sua presa.

A criança então se segurava na perna de Ichiro e implorava por socorro.

Não adianta Hyuuga… outra criança não vai te servir como ajuda- O homem do sobretudo dizia enquanto gargalhava mais do que antes.

Pra quê esse medo? Eu já disse… só vou tomar seus olhos para mim, não me interesso em acabar com a vida de uma pobre criança. Nossa brincadeira acaba agora. - O velho dizia ignorando totalmente a presença de Ichiro, como se ele fosse só mais uma pessoa indefesa, e assim investia para cima dos dois.

Agora fiquem parados e me deixem terminar minhas obrigações. - O ladrão de olhos dizia enquanto se aproximava realizando alguns selos de mão.


Antes que Ichiro pudesse ter alguma reação para entender o que estava acontecendo naquele momento, o ambiente inteiro mudava. O que antes era uma rua, agora virava um pântano, e seu corpo a partir da cintura para baixo estava imerso em lama, uma lama densa que não permitia que o mesmo se mexesse.

O garoto tentava sair da lama de todas as formas possíveis, porém era inútil, se via totalmente invalidado pela técnica do homem.

Maldito! Roubar os olhos da criança? Eu não posso deixar… eu não posso deixar que ela passe pelo o que meus pais passaram, não mais uma vez- O garoto gritava enquanto seus olhos atingiam a maturidade do sharingan. Se antes os olhos possuíam dois tomoes, agora uma terceira virgula rodeava suas pupilas, fazendo com que sua Kekkei Genkai ficasse igual a de Yohma, seu companheiro de time.

Quando o sharingan terminava de se desenvolver, a ilusão do pântano era quebrada, fazendo com o que o garoto voltasse a enxergar a realidade. Quando recobrou a consciência, podia perceber que o homem já estava muito perto da pequena Hyuuga, mas seus movimentos eram mais lentos que antes. no último momento o rapaz conseguia evitar que a criança fosse machucada ao reagir com um chute na barriga do senhor.

O homem não esperava que Ichiro conseguisse quebrar seu genjutsu, então recebia o golpe em cheio, evitando que ele alcançasse seu objetivo sendo repelido alguns metros para trás com o chute do genin.

Ah… entendo, um Uchiha não é? - Dessa vez, além das risadas, o homem batia palmas para aquela situação.

Eu acabei encontrando algo melhor do que eu planejava… não é muito comum ver gente do teu sangue por aqui, ficarei de olho em você.- Ao invés de continuar sua batalha, o homem sumia em uma chama que o consumia.

Ichiro se sentia aliviado de ter conseguido salvar a pequena Hyuuga, depois daquele confronto ajudava a criança a voltar para o braço de seus pais, e assim voltava para casa com a intenção de descansar.

Vai ficar de olho em mim…?  Se nos reencontrarmos não te darei chances de fugir, maldito ladrão de olhos. - Ichiro  pensava enquanto tentava relaxar seu corpo tomando um banho.

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