O mundo shinobi é vasto, e ela havia percebido que não conhecia mais do que uma minúscula fração dele.
Pela primeira vez, Ogosho esteve junto com Três Grandes Kages, os, segundo se sabia, supostos ninjas mais fortes do mundo. Lutou lado-alado com eles e pôde observar de perto sua força, habilidades e poderes. Seus jutsus eram incrivelmente poderosos, mas, ainda assim, sequer se comparavam com o homem que haviam enfrentado.

Embora forças estranhas parecessem estar agindo para fazer com que a maioria das ações da jounin dessem curiosamente errado, ainda que fosse ela quem estivesse forçando o contra-ataque desde o inicio, no fim conseguiram derrotá-lo. Mas aquele estranho poder usado pelo homem que confrontou a pseudo-aliança das nações era inegavelmente poderoso, levantando novas questões sobre a existência de Kekkei Genkais desconhecidas. O que levantava a pergunta: o que existe fora das montanhas de Kumogakure? Que segredos são guardados no interior de Konohagakure? O que as tempestades de areia insondáveis de Sunagakure escondem da vista dos forasteiros?  

Chegaria o dia em que uma ameaça igual ou maior do que a enfrentada em Kirigakure chegaria até os picos da Nuvem, e caberia aos shinobis pará-la. Mas como se luta contra um poder devastador, que foge da própria compreensão humana?
No fim, havia um jeito.

A descoberta surgiu após semanas de estudo e pesquisa, revirando cada pequeno pedacinho da grande biblioteca da vila. Uma habilidade consideravelmente rara, na qual poucos shinobis se especializavam: a capacidade de suprimir o fluxo de chakra.

A habilidade em questão se chamava Chakura no Gisō e, segundo os tomos que ela havia encontrado falando sobre, para ser dominada necessitava de um excelente controle sobre a própria rede de chakra e na arte do Ninjutsu. Certamente, eram por esses motivos – e, talvez, pela complexidade na maneira de aplicá-la em combate – que boa parte dos shinobis do mundo sequer ouviam falar sobre.
Felizmente, nada disso era um empecilho para a kunoichi de Kumoigakure. Pelo contrário, a cada papiro que desenrolava, a cada página velha e manchada pelo tempo que virava, seus olhos se tornariam mais luminosos e sedentos. Mesmo antes de ingressar nas forças militares da aldeia, quando era apenas uma pirralhinha de Academia, suas tardes livres eram passadas naquela mesma biblioteca, revirando livros e pergaminhos, fascinada pelos segredos que eles guardavam.

Por essa razão ela cresceu como uma mulher inteligente, esperta e, sobretudo, de natureza raposesca. Ah, sim, pois quem de fato conhece Ogosho Mei sabe que a mulher é uma verdadeira raposa interesseira, cujo cada passo não era dado sem antes considerar a maneira como se beneficiaria. Por qual razão, afinal, teria ela motivos para, durante o confronto com o inimigo mascarado, ter optado por manter justamente o Mizukage perto de si? Uma vez que fora comprovada o inocência de Violle Grace quanto aos desaparecimentos e massacres, Mei imediatamente considerou as vantagens futuras de ter a estima da Sombra da Água. Kazuha-sama era forte o bastante para se virar sozinho, Sarutobi Kaden, se os boatos sobre ele eram verdadeiros, não representava ameaça a ninguém devido a sua ideologia pacifista, mas O Insano era o tipo de homem com quem você gostaria de ter algum nível de proximidade o quanto antes.

Voltando ao presente, uma mulher como aquela viu de imediato as vantagens de se dominar uma habilidade tal qual o Chakura no Gisō e passou a consumir todo tipo de conteúdo que se referia a ela. Os dias iam e vinham, as semanas passavam, e cada vez mais ela compreendia o funcionamento do jutsu. Rapidamente adequando aquele jutsu ao seu arsenal, quando passou a utilizá-lo em campo Ogosho desenvolveu uma combinação única onde, após utilizar seu Ninjutsu de Espaço-Tempo para se infiltrar no território inimigo, imediatamente fazia uso da habilidade de apagar seu registro de chakra, ficando invisível para ninjas sensores. Isso lhe permitiu, durante as últimas semanas de seu treinamento, realizar operações sigilosas de coleta de informações, sabotagem e até mesmo assassinato antes que qualquer suspeita fosse levantada sobre sua presença.

Havia se tornado um fantasma que entrava e saia quando bem entendesse, cumprindo sua missão com perfeito sigilo. Inimigos de Kumogakure, alvos de contratos pela aldeia, qualquer um que tivesse motivos para que ela fosse paga para matá-lo, era enviado para o inferno pela lâmina que surgia das sombras.

Com o passar do tempo, os boatos sobre Ogosho haviam se espalhado, e, embora fosse vista por muitos como uma kunoichi leal a Nuvem, uma parte majoritária da população, sobretudo a civil, ainda a olhava torto por carregar uma besta dentro de si. E esta, em especial, carregava consigo toda uma mitologia de misticismo. Quem conhecia os relatos de sua verdadeira forma logo fazia a associação com as histórias infantis, contadas para assustar os mais jovens. E, combinando esse medo com os relatos da jounin estar matando seus alvos escondendo sua própria presença, logo começaram a chamá-la por um nome especial: i]Yōkai[/i], ou, Espírito Maligno – um tipo de demônio espiritual que habitava na terra para causar dor e sofrimento as pessoas.
Bom, e não estavam de todo errados.

Ironicamente, Mei, quando criança, tinha um grande medo de histórias sobre Yōkai's, e sentia que até hoje não havia superado por completo, por mais infantil que pudesse parecer. Mas achou apropriado, no fim, e acabou por aceitar aquilo como sua alcunha. Aquele nome lhe causava medo – então parecia certo que seus inimigos compartilhassem desse medo a partir de então.

Três semanas haviam se passado desde seu retorno de Kirigakure; com os treinos e as práticas, Ogosho sentia ter dominado por completo parte daquela habilidade. Sua compreensão sobre a supressão do chakra havia se tornado mais afiada e abrangente, agora se sentindo capaz de ativar a técnica sem qualquer problema.

Agora, estava na hora de dar inicio a algo que vinha planejando em paralelo – uma ideia de Shukaku, para falar a verdade. Como parte do acordo de cooperação mútua que tinham, a jounin precisava ajudar a bijuu a realizar seus próprios objetivos. E o primeiro deles seria a retomada de sua terra natal, onde a besta se sentia confortável.
Estava na hora de começar os primeiros passos da Operação Utopia.

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