Ren caminhava novamente pela Vila da pedra. Chutava as pedrinhas no caminho, pensando que era engraçado perceber que chutava pedrinhas na Vila da Pedra. Quem morava na Vila da pedra eram pedrinhas também?

- Ai, desculpa! – Ren parou de chutar as pedrinhas e pegou as que estavam na sua frente, na mão.

A menina levou as pedrinhas para fora do caminho onde as pessoas passavam. Colocou-as, com cuidado, em um parapeito da janela mais próxima de onde ela estava.

-Pronto, pedrinhas. – a menina disse, alocando ambas as pedrinhas ao lado da outra.

- Agora vocês estão a salvo dos pés dos gigantes. Verdadeiras cidadãs de Iwa!

Ren começou a retomar seu caminho de volta para casa, mas novamente, sentiu uma presença estranha. Olhou para trás e não via ninguém. Arqueou uma sobrancelha e começou a andar de novo, seguindo seu caminho.

Novamente a presença!

Dessa vez, Ren virou-se rapidamente e chutou uma pedra na direção de onde sentia aquela presença estranha. Qual não foi sua surpresa quando ouviu a voz de Iwamaru, gritando atrás de um póste após ser atingindo por uma pedra.

- Eu me rendo! Eu me rendo! – ele gritou enquanto saía de trás do poste, passando uma das mãos no pequeno galo que surgia em sua cabeça.

Irritado, Iwamaru começou a reclamar de como ren tratava ele mal, como ela teria a audácia de jogar uma pedra na cabeça dele, quando tudo o que ele queria era ser amigo dela e...

- VOCÊ PICHOU MEU NOME EM UM MURO!!! – Ren gritou, mais irritada que Iwamaru. – Você tem noção que meus professores me disseram que estavam decepcionados comigo?

Iwamaru levou aquilo como se não fosse problema dele. Colocou ambas as mãos atrás da cabeça e revirou os olhos:

- Não foi nada demais! – Iwamaru começou a ficar vermelho. Ele virou o rosto para tentar manter o ar de tranquilidade, mas Ren sentia, na voz do menino, que ele tinha ficado sem graça.

Ren suspirou e andou até onde a pedra que tinha chutado em Iwamaru caiu. Ela abaixou-se  e pegou o pequeno pedregulho. Disse, em um tom um pouco triste:

- Me desculpe, cidadão da Pedra.

E ela colocou a pedrinha em cima do parapeito da janela, onde as outras estavam.

Iwamaru arqueou uma sobrancelha enquanto via a menina fazer aquele estranho ritual. Ele abriu a boca para perguntar o que ela estava fazendo, mas pensou mais uma vez. Será que ela era doida? Ele abriu de novo a boca, mas ainda incerto de que deveria perguntar aquilo. Pensou que Ren deveria só estar cansada e que logo ela pararia de fazer aquelas maluquices.

Porém, Iwamaru não segurou sua curiosidade e sua pergunta acabou saindo enquanto Ren conversava com as apedras:

- Ren, por que está falando com as pedras?

Ren arqueou uma sobrancelha, como se não tivesse percebido o que estava fazendo:

- Ah, elas são Pedras da Vila da Pedra. Deveriam ser meio que cidadãs de elite.

Iwamaru estreitou os olhos e ficou pensativo. Ele começou a andar pela rua catando algumas pedrinhas, de diversos formatos: algumas menores e outras um pouco maiores. Porém, ele tomava o cuidado de pegar pedrinhas pelo menos bonitinhas, seja lá como ele fazia essa avaliação.

Por fim, ele entregou algumas a Ren, e manteve outras para si mesmo:

- Vamos brincar de Exército de Pedras. Cada um terá que defender sua torre...- e quando disse torre, Iwamaru entregou uma pedra maior e um pouco mais brilhante. – e destruir a torre do outro. Tá bom?

Ren recebeu as pedras e ficou pensando em como brincaria de Exército de Pedras. Não disse nada. Achou melhor seguir Iwamaru até a pracinha que haviam treinado juntos no outro dia.
Ambos sentaram-se em duas cadeirinhas de pedra. Entre elas, havia uma mesa de pedra, típica para jogos de tabuleiro. Ao redor deles, havia mais delas e todas tinham idosos nelas, jogando qualquer jogo que os fizessem esquecer um pouco da vida atribulada que tinham.

Ren olhou em volta, pensando que poderia envelhecer mais rápido só de estar ali. Iwamaru, por outro lado, cuidadosamente distribuía suas pedras pelos quadriculados da mesa. Quando terminou, olhou Ren com um olhar desapontado, como se ela tivesse esquecido de fazer algo muito importante:

- Vai, coloca suas pedrinhas no tabuleiro!

Ren baixou os olhos e viu o tabuleiro cheio de pedrinhas de Iwamaru. Depois, ergueu os olhos para o menino:

- Mas como eu vou saber o que é meu aqui?

Iwamaru deu os ombros, como se aquilo fosse óbvio:

- Ah, você vai ter que ficar esperta.

Ren suspirou, irritada. Resmungou algo como “É sério isso?” enquanto separava suas pedrinhas. Depois de ajusta-las como queria no tabuleiro, olhou Iwamaru:

- Tá, e agora? Jogamos xadrez de novo?

Iwamaru cruzou os braços, muito certo do que estava fazendo:

- Não, será tipo damas. Cada pedrinha é uma legião com seis mil homens! Toda vez que uma Legião atacar e vencer a outra, seu líder terá que fazer uma rima! Senão, não vence o inimigo!

Ren já estava se arrependendo de ter aceito o jogo de Iwamaru, mas decidiu que reclamar não adiantaria. Nada adiantava muito com Iwamaru. Ela aceitou o jogo e ambos começaram.

Iwamaru começou a movimentar as peças – segundo ele, seu exército era o invasor e por isso, movimentava-se primeiro. Fato que Ren aceitou só para acabar com aquilo rapidamente.

Já em seu primeiro movimento, Iwamaru conseguiu roubar uma das pedrinhas de Ren. Ele ficou em pé na cadeira e começou a cantar rimas como um rapper:

- Ah, vem aqui que vou roubar suas pedrinhas, Renzinha esquentadinha!

Ren não teve reação quando ouviu aquilo. Ficou uns segundos apenas encarando Iwamaru. Voltou a si apenas quando o menino mandou ela mover suas pedras.

E foi o que Ren fez. Lembrou-se que seu avô disse que o chackra deveria sempre estar fluindo pelo corpo para garantir que o cérebro funcionasse bem. Se aquilo era verdade ou não, não interessava. Ren iria manter seu chackra fluindo para conseguir os melhores movimentos naquele jogo.

E assim sucedeu-se: no primeiro movimento, Ren conseguiu roubar uma pedrinha de Iwamaru! Ela subiu na cadeira e começou a fazer as rimas:

-Ah, esquentadinha é a vovozinha! Eu tô aqui pra perder a linha e ganhar essa rinha!!

Irritado, Iwamaru começou a mover suas peças e a roubar pecinhas de Ren, que logo revidava da mesma maneira. Quando deram por si, todos os velhinhos estavam acompanhando ambos e fazendo beatbox para que eles conseguissem fazer suas rimas de maneira ritmada.

Ao fim do dia e depois de um jogo acirrado, ambos voltavam para casa com o mesmo número de pedrinhas: havia ocorrido um empate!

Ren, morta de fome pelo fluxo de Chackra, partiu até uma barraquinha de ramen. Chamou Iwamaru também. Ambos foram juntos, comentando de seus exércitos.

Observações: