Ren ainda estava digerindo o que havia acontecido. Tudo parecia parte de uma outra realidade, algum tipo de sonho que ela se lembrava muito bem. OU alguma outra vida que viveu há um tempo.

Ren tentava não pensar muito no que havia acontecido. Sempre que as lembranças vinham, seu coração se apertava e era duro para a menina lidar com todos aqueles sentimentos ruins: raiva, frustração, medo e a sensação amarga da derrota. Aquilo havia marcado profundamente sua alma. Sentia que, a partir daquela missão, as coisas seriam diferentes. Talvez isso fosse a maturidade.

De qualquer forma, ela não levou muito bem a notícia de que teria que sair novamente, para aquela mesma zona. Não muito animada, havia deixado sua casa de novo para trás e seguiu com a caravana pelas terras devastadas.

Ren mantinha a cabeça um tanto abaixada por todo o caminho. Não gostava de ver a situação voraz que aquele povo se encontrava. Pensava que ela poderia ter ajudado a impedir aquilo, mas não conseguiu. Pensava se deveria estar lá...

Ren andava entre ambas as carroças. Começara a caminhada acompanhando a carroça que vinha por último, tendo a certeza que seus mantimentos estavam bem condicionados e que a mesma teria tração e força suficientes para acompanhar a primeira. Logo depois, correu até a primeira, o mais rápido que conseguia. Verificava se a carroça estava pronta para viajar.

Durante toda a viagem, apequena Ren faria isso: correria entre uma e outra e garantiria que ambas estavam em perfeitas condições de viajar. Claro, para completar sua patrulha, Ren vigiaria os arredores, algumas vezes funcionando de batedora e outras, investigando os arredores do local que passavam.

Sua tristeza aumentou quando, de fato, chegaram aos vilarejos destruídos. Ver toda aquela fome era de virar o estômago. As lágrimas lutavam para chegar até seus olhos e Ren contra-atacava impedindo-as de correr por seu rosto. Via a vulnerabilidade daquele povo, via como seu povo sofria. Diante de tanto sofrimento, ela não poderia apenas ficar de guarda. Tinha que ajudar aquelas pessoas a conseguirem os alimentos o mais rápido possível.

Correria na direção da carroça que continha arroz e depois, para a carroça das proteínas. A cada viagem, ela traria um pacote de arroz e um pedaço de carne. Ren distribuiria para as pessoas, vendo primeiro as que pareciam mais fracas e sem condições de aguardarem por sua vez. Faria isso várias vezes até garantir que a maioria das pessoas conseguiria sesu mantimentos.
Ren também sabia que deveria evitar brigas. Enquanto corria o mais rápido que podia para distribuir aquela comida, também prestaria atenção para evitar qualquer conflito entre os moradores.

Não queria que ninguém ficasse sem sua parte do alimento. Nunca havia passado fome, mas conseguia imaginar a situação trágica que aquelas pessoas viviam. Era muita tristeza.

Observações:

Era, de fato, um cenário assustador. Era também assustador pensar que, há poucos dias, Ren estava no meio de tudo que havia acontecido. Embora estivesse ainda machucada pelos recentes acontecimentos, foi bom para Ren sentir-se útil. Seu coração ficou um pouco mais leve enquanto corria de um lado para o outro com pacotes e pedaços de carne, entregando para quem necessitava. Pelo menos, sentia-se fazendo alo que realmente fazia a diferença. Aquilo era melhor do que guerrear.

Acompanhou as pessoas até o pequeno templo e via as famílias se reunirem e começarem a distribuir melhor o alimento. Ren sentiu um leve sorriso brotar no rosto ao ver que conseguira ajudar um pouco aquelas pessoas. Pelo menos, por hoje, elas esqueceriam parte de seu sofrimento. Andava junto com os outros membros da caravana e ajudava ainda no que podia. Algumas vezes, por conta de seu tamanho, ficava na ponta dos pés para retirar os alimentos das carroças, mas não ousava parar ou pedir ajuda. Tinha muita gente que contava com ela.

Ela andava ao lado de outro shinobi da Pedra, carregando alguns sacos de mantimentos com certa dificuldade, mas sem reclamar. O suor brotava de sua testa:

- É, ver todo mundo assim é de cortar o coração. Pelo menos conseguimos chegar sem grandes problemas, né? – Ren conversava com o rapaz enquanto equilibrava as coisas em seus pequenos braços.

- É bom saber que estamos fazendo alguma coisa pra ajudar. – ela forçou um sorriso. Era difícil sorrir ali.

E é claro, engoliu em seco e franziu a testa pensando nos perigos que ainda poderia haver para eles e para aquelas pessoas.

- Não vamos deixar isso acontecer, certo? – olhou firme para o rapaz. – Vamos garantir que eles consigam ficar pelo menos um pouquinho em paz.

Suspirou enquanto seus olhos passavam pela grande quantidade de pessoas no local.

Ren sorriu diante da sugestão do rapaz:

- Tá, eu logo volto! Fica de olho para não aparecer nenhum ladrão!

E mesmo cansada, Ren correria por entre as casas da pequena vila, batendo de porta em porta perguntando se todos os residentes tinham recebido sua parte de alimentos. Prestaria atenção também se a casa não era habitada apenas por idosos e crianças. Prestaria atenção redobrada para essa situação, fazendo um mapa mental de onde deveria voltar com os alimentos.

E rápida como um raio, Ren voltaria até as carroças e diria para os ajudantes onde eram as casas que precisariam de entrega especial. Tomaria até a liderança. Além dela mesma carregar pacotes para a entrega e fazer viagens entre as carroças e as vilas, também mostraria e guiaria alguns membros da caravana para estes locais, para que a entrega dos alimentos fosse rápida.

Também combinaria com os outros shinobis a segurança do local e dos alimentos, sugerindo que um grupo ficasse responsável por isso.

Observações:

Ren concordou com o homem. Realmente era muita sorte não er acontecido nada durante a viagem. Torcia para que todas as caravanas com destino àqueles vilarejos não sofressem nenhum tipo de ataque.

Ren distribuiu e ajudou a coordenar – dentro de seu limite como criança – as atividades que garantiriam que as famílias em situação de risco teriam seu alimento. Após terminar o trabalho ela sorriu e, cansada e satisfeita, retornou até onde os cocheiros estavam.

Estava cansada, mas preferiu caminhar de volta, novamente fazendo a ronda e indo de carroça a carroça. Apesar da situação estar péssima, Ren sentiu-se um pouco melhor sabendo que, pelo menos por enquanto, as famílias teriam o que comer.

Quando estavam próximos da Vila da Pedra, Ren sentou-se junto ao homem que lhe ajudara a distribuir os mantimentos no templo. Conversaram um pouco sobre tudo o que viram e como poderiam ajudar. Ouvia o homem rezando e, sem falar nada, acabou por fazer uma prece junto com ele.

Por fim, se despediram e foram por caminhos separados. Ren pensou que todos eram boas pessoas e estavam fazendo o máximo que conseguiam para ajudar. Suspirou e começou a caminhar em direção a sua casa.

Pensativa, deu meia volta e correu em direção ao Gabinete de Iwa.

A menina entrou como um raio. Falaria alto que gostaria de ver alguém que estivesse responsável por distribuição de recursos e que soubesse do recente ataque que as vilas sofreram. Relataria o que vira e deixaria claro que aquelas pessoas precisavam de toda a ajuda que a Vila da Pedra pudesse dar, não só alimentos, mas segurança e até a reconstrução de suas casas. Claro, Ren falaria tudo dentro de seu conhecimento infantil do mundo: sugeriria mais patrulhas e mais carroças para levar alimentos, até mesmo algum plano ara que aquelas pessoas pudessem, aos poucos, conseguir viver sem a ajuda do Estado.

Conversaria um pouco com o responsável e não sairia de lá até ter a garantia de que mais seria feito pelas vilas atacadas. Ren até mesmo se dispôs a ela mesma ir sempre com as caravanas, já que sentia que assim, poderia talvez apagar um pouco da vergonha que sentia por ter sido facilmente derrotada.

No fim do dia, uma Ren exausta voltaria para casa. Assim que abriu a porta, seus avós a esperavam, com um sorriso, perguntando como fora a missão. Vendo seus avós bem, finalmente a pequena Ren conseguiria sorrir de verdade naquele dia.

Observações: