Título

Eu já estava acostumado com mentiras - Mas foi em uma tarde que toda a minha ira revelou o maior segredo de toda a minha vida. Já faz algum tempo - Talvez uns cinco dias, onde eu me encontrava em casa. Naquele local fétido nos subúrbios selvagens de Sunagakure, repousava no sofá rasgado e extremamente desgastado pelo tempo de meu barracão improvisado, coberto pelas faixas que comprometeram o meu próprio destino. Incapaz de sorrir por conta própria e matando o tédio com meus pensamentos deturpados, manipulei todos ao meu redor para que cumprissem as minhas vontades como escravos, para que no final tudo não passasse de um esforço fútil. Com um ódio latente que pulsava tão forte como meu coração no interior dos anais de minha alma distorcida, percebi que algo estava errado. Retirando as mãos da cabeça, deixei de lado a antiga pose de relaxamento, me atentando ao que ocorria no exterior. Ao chegar no loca, rapidamente notei que uma confusão rotineira se deu origem na rua. Observando das sombras, uma briga culminou - E armas eram mostradas a luz do sol. Dentro de poucos minutos, a areia havia sido banhada pelo sangue e tripas dos envolvidos. Aquela era a minha vida: Entre a miséria e fome, eu sobrevivia como um rato.

— "Esse inferno nunca vai ter fim, afinal. É assim que as coisas são...Não existe felicidade em um mundo distorcido como esse. Mas devo admitir, que estou adorando..." — Ditei, sem demonstrar qualquer emoção, apesar de querer.

Com um leve sorriso no rosto, virei de costas e pretendi retornar para minha residência - Mas uma força misteriosa forçou-me a voltar para o local. Não sei se por intuição ou mera curiosidade, mas acabei por ceder aos meus próprios desejos carnais. E foi naquele momento que acabei caindo em um poço de escuridão sem fim - Um caminho sem volta que eu teria que encarar, de forma ou outra. Um homem esguio e com vestes negras extremamente longas estava entre os cadáveres que serviam de alimento aos abutres locais. E, antes que eu pudesse ao menos discernir sobre o que poderia ser aquela figura aparentemente maligna, ele se aproximou de minha pessoa e levou sua mão até o meu rosto. Com um único toque, todo o ar de meus pulmões foi sugado, e meus olhos baixaram, junto de minha consciência. O que foi aquilo? Eu não fazia ideia - E também acabei perdendo a noção de tempo. Permaneci desacordado por várias horas, até que como um pulso, meu corpo recobrou os sentidos. Ao olhar para os arredores, me vi acorrentado às paredes de uma casa de madeira reforçada. Sem camisa, diversas marcas estranhas estavam sobre minha pele, com aquela figura a minha frente, silenciosa. Sem as bandagens, minha carne carbonizada permaencia à mostra, revelando os segredos obscuros de meu passsado trágico.

— "Quem é você, seu desgraçado? Se acha que pode me matar, então venha e me prove que sua força é algo perante o meu poder. Eu sou um descendente prodígio da linhagem dos Shimura, e não vou permitir que um lixo inferior como você manche a honra do meu orgulho!" — Ditei, enquanto fazia força para me libertar das correntes.

— "É inútil, Senki." — Ele respondeu, com calma. — "Você não é um Shimura...Muito pelo contrário, você foi induzido a pensar que é um...A partir de falsas memórias que o desgraçado de seu pai implantou em seu cérebro, a fim de impedir que você progredisse na vida e descobrisse a verdade por trás de tudo. Meu nome é Kami, e sou..." — Ele parou.

— "Que papo é esse...? Eu sou um mestre em Futon, não pode ver? O Vácuo sempre esteve sob meu domínio. Dezenas pereceram diante o poder de meus ventos áureos. Não é um mentiroso de segunda categoria como você que irá mudar a realidade dos fatos!" — Exclamei, inspirando ar, no intuito de utilizar uma técnica.

— "Percebe? O Chakra de vento não atinge seus pulmões. É porque ele nunca existiu - Você nem mesmo é bom em Ninjutsus, seu idiota. O Ódio latente em seu coração é o único resquício da linhagem dos Jugo que sobrou. Por conta disso, pude enxergar além das ilusões de seu pai. E como eu ia dizendo...Eu sou seu irmão mais velho. Sim, revelarei isso na seca, não há motivo para esconder isso. Eu apenas estou aqui porque também quero acertar as contas com aquele maldito." — Ele finalizou, baixando o capuz.

Naquele instante, meus olhos se arregalaram. Eu me sentia minúsculo diante aquela figura a minha frente. Assim como eu, ele possuía heterocromia e cabelos negros idênticos aos meus, porém com um semblante maduro. Com um sorriso no rosto, ele retirou fotografias de seu bolso e as me mostrou. Ela continham imagens de toda a minha vida e trajetória: Desde o meu nascimento, até minhas chacinas em nome da Black Dragon e formação na academia. Porém, em todas as cenas...Eu estava transformado em um monstro deformado, com chifres e aparência completamente inumana. Meu chakra me abandonou - Eu, vendo tudo aquilo, fiz com que o ódio aumentasse em níveis incontroláveis. Toda a minha vida - Desde o nascimento, não foi nada além de uma mentira criada pelo meu próprio pai, a fim de protegê-lo de minha ira ascendente. Nunca tive acesso ao poder dos Shimura que descendi de meu pai. A verdade é que eu era...Um monstro, como minha mãe? Eu não podia acreditar. Naquele instante, pela primeira vez, me senti completamente impotente, rendido aos segredos malignos do passado. Minha aparência começou a se alterar lentamente. Os músculos cresciam enquanto camadas de ossos e carne endurecida surgiam sobre a pele. Com rugidos de fúria, as correntes eram destruídas mediante o poder Jugo, libertado por vontade própria. Quando a transformação completa terminou, olhei para minhas próprias mãos, completamente desacreditado. Eu era um demônio. Durante todo esse tempo...O ódio não era simplesmente desprezo pela humanidade, mas também a fonte de meu verdadeiro poder. Com um golpe desferido contra a parede, percebi que a mesma simplesmente explodiu - Enviando pedaços de madeira para todos os lados.

— "Agora pode enxergar a verdade, não é, Senki? Você é um Jugo. Todos os membros da família acabaram herdando o sangue de nossa mãe - Que é muito superior ao do pai. Por conta disso, ele temeu os nossos poderes combinados e tentou enganar tanto a mim, como você. Porém, minha mãe quebrou o encantamento imposto sobre mim em segredo, e agora retornei...Para salvá-lo deste destino cruel. Nós não somos monstros...E sim demônios. A partir de agora, é com você, Senki!" — Kami ditou, desaparecendo.

Naquele momento, tentei futilmente alcançá-lo ao estender o braço destro, mas em vão. Com isso em mente, entrei em um estado de Frenesi completamente descontrolado, destruindo tudo ao meu redor na base da força bruta. Com cabelos brancos extremamente longos e uma aparência digna do próprio Rei do Inferno, destruí a residência com os golpes, deixando a mesma e jogando olhares para o céu estrelado daquela madrugada. Meus atributos físicos haviam sido aprimorados a um nível completamente diferente de poder, ainda que eu desacreditasse da verdade de minha própria existência. O ódio e tristeza me consumiram, e aos poucos, desfiz minha própria forma Senninka, caindo de joelhos em completo desespero. Uma mentira - Nada além de ilusões. Desde o começo, eu fui só mais uma peça do tabuleiro de meu pai. Aquele maldito pagaria...Com este novo poder, eu rasgaria sua garganta com um sorriso largo em meu rosto.

— "Me aguarde, seu filho da puta...Você vai sentir o gosto de seu próprio veneno." — Ditei em meio a gargalhadas, enquanto tomava novas bandagens para mim. — "Se você criou demônios...Vai ter que fazer o possível para se livrar deles. Mas agora que sei da verdade...Vou esmagar o seu crânio com todo o desgosto acumulado durante esses anos. O ódio acumulado...Junto a todos os pecados capitais e decepções de minha vida serão lançados como uma penitência divina sobre você. Esteja preparado...EU NÃO VOU DEIXAR QUE UM ÚNICO OSSO RESTE!" — Exclamei, completamente tomado pelo ódio.

Após me cobrir com as bandagens por mais uma vez, simplesmente deixei a cena, retornando o mais rapidamente possível para meu barracão. Eu ainda estava completamente perplexo pelo ocorrido. Não conseguia digerir os fatos apresentados, tudo aconteceu tão rápido que eu simplesmente não sabia o que fazer ou pensar. Talvez, naquele momento...Fosse prudente apenas descansar e deixar tudo para outro dia. Demônios não choram e nem se ajoelham. O que eu estava fazendo? Não tinha ideia...A realidade ao meu redor não parecia fazer sentido, e para falar a verdade, eu não estava em condições de nem ao menos me apoiar  em minhas próprias pernas. Porém, mesmo que meu corpo físico e mente estivessem completamente abalados pela verdade, minha alma esbanjava meus verdadeiros sentimentos...Toda a agonia e ódio acumulados, enfim seriam tragos à tona...Para o desespero de toda a humanidade. A fúria oculta de meu espírito distorcido enfim seria libertada, na forma de um redemoinho caótico advindo do próprio inferno.

O FIM ESTÁ PRÓXIMO!

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