Tornar-me um Jinchūriki me trouxe a possibilidade de me tornar mais forte. Escolhas são feitas de consequências, e assim como eu escolhi me tornar o receptáculo de uma Besta com Cauda, eu escolhi carregar seu fardo. Kumogakure já contemplava cicatrizes ainda expostas depois da última guerra que vivenciamos. A liderança do Raikage nos colocou em uma situação controlada, mas ainda assim, haviam muitos pesares. Eu sempre recebi olhares, de todos os tipos, apenas por estar vivo, apenas por andejar pelos arredores de minha vila. Quando criança, eu apenas era julgado, um jovem de vocábulo grosseiro. Quando adulto, fui admirado, um sobrevivente da Grande Guerra, que lutou pela derrota do vilão do mundo ninja. Hoje, posso ver, como se pudesse ler o julgamento alheio apenas pelo vislumbre, que as pessoas me temem. Sou um instrumento bélico ambulante, tendo uma das criaturas mais poderosas do mundo presa em meu corpo, apenas aguardando pelo descontrole para se liberar. A tempos, Saiken não se comunica comigo. Para dizer a verdade, ele nunca fez isso, fui sempre eu que busquei encontrá-lo dentro de mim mesmo. Como o invólucro, ou um aprisionamento, sinceramente, eu imagino que ele anda tenha certo receito de comunicar-se comigo, ou então preferência ao silêncio. Consigo entendê-lo.

Após uma caminhada despretensiosa uma figura aproxima-se ao longe, recoberta por um manto longo e uma máscara branca. Ao encontrar-se comigo, ela estende sua direita, fazendo menção de entregar-me um pergaminho. Abrindo-o, aparentemente, minha presença havia sido solicitado pelo gabinete em um local específico demais, sob justificativa de que eu estava sendo enviado para uma missão sigilosa e de extrema necessidade. Não fiz questão de questioná-lo, apenas assenti com a cabeça e segui em direção ao local indicado. A chega não foi difícil, mas me estranhava a quietude. Como o pergaminho não tinha descrito a missão em si, acreditava que o cliente, ou algum superior, estaria lá para me receber e explicar-me o motivo de minha ida. Era uma casa simples, a porta estava aberta e a sala de estar vazia, ou ao menos, era o que eu acreditava. Usando o meu Akagan, pude ver que diversas pessoas estavam escondidas, todas observando meus movimentos: — ...Normalmente eu esperaria algo mais furtivo quando em descrevem uma missão como "sigilosa". — Entoou em voz alta, para denunciar que suas posições foram comprometidas pelo meu dōjutsu. É então que uma música começa a ressoar pelo ambiente. A princípio, aquilo me intriga, mas em um único instante, sou arremessado para o outro lado da sala, colidindo contra a parede e perdendo a consciência. Eu nem mesmo pude ver o ataque chegando.

Considerações:

Eu salto em direção a alguma superfície íngrime o suficiente para que eu possa usar de apoio e então, saltando diretamente em direção ao grupo, e usando o Raiton: Kage Bunshin no Jutsu enquanto no ar, ambos centralizamos um Raikiri, na tentativa de fazer um ataque cruzando, um em setido vertical, de cima para baixo, e o outro de baixo para cima, em um ângulo cujo qual os nukenins possam ser alvos do ataque em conjunto. Caso obtivesse êxito, ambos teríamos desferido um ataque em movimento de disparada em alta velocidade, e usando da liberação de relâmpago, os ataques seriam não somente capazes de paralisar, como também de causar um enorme dano contra a resistência daqueles nukenins, semelhante ao primeiro ataque. Sendo enfim bem sucedido, restavam somente quatro nukenins. Eles estavam próximos a figura central, o suposto líder da organização. As habilidades condedidas pela transformação de Saiken me proporcionava um aumento significativo em minhas técnicas, além do aprimoramento, minha velocidade e forçanunca estiveram tão elevadas: — Vocês... Vocês vão morrer... Eu vou destruir vocês. Vocês vão ser destruídos. Um por um, um a cada segundo. — Entoou. Eles permaneciam no mesmo lugar, e aquilo me enfurecia. Talvez eles estivessem preparando uma tática para me derrotar, ou talvez apenas não tenham ciência da diferença de habilidade entre mim e eles. De uma forma ou de outra, esse combate estava encerrado. Eles pagarão pelo que fizeram: — Saiken... Mais, agora.
— Já chega disso.

Considerações:

Desfazendo mais uma vez o clone imbuído com a liberação de relâmpago, eu estava de frente para os remanescentes do grupo nukenin. Como havia suspeitado, suas habilidades não excedem a de um Chūnin, e devido a minha presença aparentemente inexperada, além do chakra de Saiken, eles não puderam fazer nada além de me testemunhar ceifando suas vidas pífias. Os três cercavam o líder do grupo, que mantinha a postura, sem sequer esboçar algum compadecer pelos seus aliados mortos, ou se intimidar, considerando que faltava pouco para não somente o plano ser arruinado, como também, para que ele morra. Eu não pretendia recuar, e desejava mais poder, mas Saiken negou meu pedido: — "Já chega" o que caralho? — Questiono-o: — Meu chakra está te vencendo. Você talvez perceba, ou talvez tenha sucumbido por completo, mas você não está agindo como o normal. Você nem mesmo está tentando disfarçar.
— E o que isso importa? Quando essa porra toda acabar, eu já não ligo mais se você vai dominar o meu corpo ou o contrário. Pouco importa o que aconteça, eu só quero erradicar esses miseráveis e então, se você quiser, pode completar o trabalho matando o resto dos humanos vivos nesse mundo. Eu não me importo. Agora cala a merda da boca e me dê mais chakra.
— ... O que aconteceu com você? Você me disse que me mostraria o que tem de tão diferente entre você e todos esses malditos. Se você se rende tão facilmente a isso, como pretende me demonstrar algo diferente?
— Então essa é a explicação do milênio? Bom, deixa eu escalecer as coisas então. Se você me der mais poder, eu posso simplesmente matar todos esses desgraçados. Eu posso exterminar a raça humana desse lugar, posso fazê-los sofrerem por tudo que fizeram a nós. Eu posso te fazer dono desse corpo fraco por quanto tempo você quiser e então, me mate de uma vez.
— Você realmente está considerando entregar sua vida a mim?
— E DO QUE ISSO IMPORTA? O que eu poderia fazer de tão diferente no mundo? Eu já estive em malditas DUAS GUERRAS, e o resultado sempre foi o mesmo. Esses humanos não sabem fazer algo além de matarem uns aos outros ou simplesmente destruirem a vida dos mais fracos. O QUE ELES SABEM SOBRE OS MAIS FRACOS? Eles nunca tiveram que fazer esforço para sobreviverem, nunca tiveram que fazer nada, eles herdaram o poder, e foi assim que sempre aconteceu. — Prossigo: — Então eu quero que SE FODA, se um ou todos morrerem, tanto faz, tanto fez. Não importa, eu nunca vou conseguir fazer a diferença. Eu já tentei, tentei durante toda a minha vida. Mas a única coisa que eu sei fazer é fugir, me esconder e implorar para continuar vivo. E PARA QUE? Para no final eu ter que ver um bando de arrombados almejarem algo que tira tantas vidas como se a guerra fosse a droga de um brinquedo? Eu cansei dessa merda. EU SÓ QUERIA PODER FAZER A MERDA DA DIFERENÇA.

Considerações:

— QUE INFERNO! ARGHHHH! AHHHHH! — Vocifero, um brado ainda mais feral e gurutal que os anteriores. Uma nova cauda manifestou-se. Apesar da implicância de Saiken, ele continuava a liberar seu chakra. Restava apenas mais uma última cauda, e todo o poder da transformação estaria sobre meu controle. Não haveriam barreiras físicas que poderiam impedir uma supremacia bélica de tamanho poderio, uma Bijū no corpo de um Jinchūriki hábil o suficiente para contê-la. Naquele momento, os três nukenins pareciam finalmente relutarem, eles recuam alguns passos, e naquele momento, o nukenin principal eleva seu braço direito: — Achei que nunca em minha vida teria controle de tamanho poder. Kaonashi, eu sou grato, você completou o sinho de nosso clã, retornar o poder as mãos daqueles que realmente o merecem. Graças a você, agora, conseguiremos enfim trazer Saiken para nosso lado. Eu sou grato com minha vida. — Ele entoa. De seu braço, por através da pele, surgem selos, semelhantes a uma caligrafia única, uma fórmula especial de um Fūinjutsu único. Ele então retira sua máscara, revelando um rosto repleto de cicatrizes, com parte da mandíbula em carne viva, subindo até os lábios, onde termina em um corte que alcança a narina direita. Aquele rosto desfigurado poderia ter sido resultado de uma queimadura em níveis incomensuráveis. O Fūinjutsu então libera-se, na forma de correntes de chakra que alcançam algo a distância, bem atrás de mim. Quando me viro, por uma fração de segundo, e graças a habilidade natural do meu Dōjutsu, pude perceber uma massa de chakra quase alcançando-me, e antes que pudesse me atingir, na tentativa de esquivar-me daquele ataque, eu recuo e desloco-me para a direita com a continuidade do passo. Sou bem sucedido na esquiva, e então, assim que o ataque atravessa-me, é como se a sonoridade do ataque o acompanha-se. Eu escuto o som de uma flauta. O ataque era apenas uma presença inteiramente feita de chakra, invisível aos olhos nus. Ao mover meu rosto na direção do ataque, vejo um homem, portanto uma flauta e com os olhos agora púrpuros e a esclera negra. Era Takaya, esboçando agora uma feição demoníaca.

Considerações:

Takaya, aquele desgraçado havia me enganado esse tempo todo. Não, ele. Ele mentiu para mim. Ele não faria isso. Ele precisa morrer, assim como todos esses malditos. Não. Ele é como todos os outros humanos, um dissimulado, um avarento desleal, desgraçado, um merda do caralho, assim como os malditos todos. Ele. Ele é assim, e não há nada a se fazer a respeito além de enviá-lo diretamente ao inferno, fazê-lo ser punido pela eternidade por juntar-se a escória de todas as espécies: — JÁ CHEGA PORRA! — Eu digo. Por um momento, um fractal que estende-se por quanto tempo for necessário, eu me via num vazio, um espaço em branco, mas preenchido com incertezas. A minha mente estava em uma tormenta mais tempestuosa que a mais voraz das tempestades. Ela latejava, como se houvesse sido ferida em seu mais profundo âmago, cujo qual agora se entrelaça a minha existência. Todo aquele lugar era minha mente. Meus pés tocavam uma substância que se liquefazia, os toques geravam pequenas ondas, e o líquido era transparente, translúcido, mas não refletia nenhuma imagem. Ao fim disso, a alguns passos de distância de mim, havia ele, usando aquela máscara, aquela mesma máscara que eu jurei nunca mais colocar em meu rosto. Sua presença era mais assustadora do que qualquer criatura ou indivíduo que eu já enfrentei. Suas emoções eram indecifráveis, se é que ele ao menos sentia alguma. Ele vestia-se com um longo traje em tons de preto, e sua máscara, apesar de reconhecível para mim, estava diferente. Ele agora cobria todo o seu rosto, nada mais restava, ele era apenas uma mancha vazia, que respigou-se num quadro em branco, e agora expalhava-se em raízes que parasitavam a beleza de tudo que tocava. Ele matava a mim mesmo, dia após dia. Eu tentei virar o rosto durante muito tempo, mas ele sempre estava lá: — É difícil ver que você realmente decidiu me ver fodido. Achei que nunca mais iria olhar para mim. Bom, fazer o que, agora é pessoal né? A gente vai ter um papo bacana de homem pra homem.

Kaonashi (顔無し, Kaonashi, lit. "Faceless"), a Morte da Arte.

Ele diz. Aquele era Kaonashi, o verdadeiro e único Kaonashi, aquele cuja expressão é vazia como um quadro em branco. Aquele que não possuia um rosto. Aquele, que a muito tempo, fui eu. Ele respira profundamente, e sua respiração torna-se visível, é como se anseando pela minha completa devoração.

Considerações:

As palavras fugiram da minha boca, minha respiração é assíncrona, e ele me asfixiava enquanto me olha por através daquela máscara inexpressiva. Meu coração palpitava de forma acelerada, fruto do meu nervosismo, era a primeira vez que de fato me defrontava com o meu pior lado: — Sabe, desde muito tempo eu queria ter esse momento pra gente definir de fato os assuntos pendentes em nossos mundos. — Ele continua, me contornando a passos lentos: — Olha, eu pessoalmente não faço ideia do que isso tudo significa. Qual a explicação?
— Sei lá. Talvez eu seja fruto da tua mente perturbada, já que tu é quebradaço. Ou talvez essa seja a verdadeira forma o Saiken, uma versão malígna do seu receptáculo. Sacanagem. — Ele diz, enquanto cutuca minha nuca com um peteleco, ao sair do meu campo de visão, contornando-me até chegar em minhas costas: — Quando Saiken disse que ele seria sua pior maldição, ele não tava brincando. Você sabe como um Jinchūriki perde completamente o controle? Bom, ele se rende ao chakra. O chakra das Bijūs podem te consumir de dentro para fora, expor seu pior lado quando a água começa a subir até bater na tua bunda. Cá estamos, o seu pior lado contra o "lado bonzinho", e bota áspas nisso. — Prossegue Kaonashi. Ele avança, até sentar-se no chão com as pernas cruzadas, pegando um punhal de água com as mãos e deixando-a escorrer por entre seus dedos: — Sinceramente, eu não poderia estar mais puto. Você dormiu por semanas naquela cela, ficou lá até enfim acordar, e convenientemente todos tinham vazado, sobrou só você e o... Takaya, e agora você quer ser amigo do cara que te traiu ao vivo e a cores? Eu entendi seus lances morais de defender os fracos mas também, não é pra ser estúpido. Eu quero a nossa morte, mas não é pra tanto.
— Nossa morte? Semanas? Do que você pens-.
— Os nukenins nunca teriam força pra superar as forças regulares de Konoha. Os exércitos que você botou pra dormir não eram o objetivo, eram o método. Eles queriam ter a certeza de que o fūinjutsu funcionava. Quando você perdesse completamente o controle, bastaria aprisionar Saiken e então, boom, eles tem uma fodendo Bijū no fodendo controle deles, e o fodido principal dessa história é você.
— Bom, agora as últimas palavras daquele nukenin fazem sentido, ao menos. Mas porque Takay-
— Takaya não era conivente, ele era o gatilho para tudo isso. Aparentemente, foi ele quem te nocauteou naquele primeiro momento, quando você apagou e surgiu amarrado. Ele sempre esteve no controle deles, e o plano seria te forçar a usar do poder do Saiken para sobreviver, e assim, parabéns, você completou o plano deles.
— E qual a droga da sua parte nisso tudo vidente do caralho. Me deixa terminar a droga das minhas falas. — Continuo, cruzando os braços. A continuidade da conversação me acalmou o suficiente para questioná-lo: — Simples. Eu quero que isso tudo aconteça. Eu quero que Takaya te forçe a ser dominado por Saiken, e o porquê disso é ainda mais simples. Eu quero matar você. — Responde Kaonashi, levantando-se, ajeitando as mechas de seu cabelo preso: — Desde que eu existo, eu apenas desejei uma única coisa. Eu sonhava com o dia que eu poderia fechar meus olhos e enviar todos os seres humanos para o inferno. Matá-los com um piscar de olhos, e poder viver o resto da minha vida curta sabendo que há mais nada aqui. Eu quero a morte da nossa espécie, quero a devastação de tudo que o mundo ninja já construiu, porque o mundo ninja fodeu com a minha, a nossa vida. Eu quero acabar com essa merda, e a forma mais fácil é simples, te superar aqui e agora, pra você não ter mais condições de lutar contra e assim, Saiken te dominar. Ou tentar, falhar e nós dois morrermos para o Takaya, tanto fez, tanto importou. — Diz ele. Sua tonalidade vocal denotava a seriedade com a qual ele evocava tais palavras, e era nítida em sua vocalidade e expressões enigmáticas o quanto ele não repudiava ou sentia remorso por seus atos ou desejos perversos: — O mais engraçado é que eu estou lutando contra uma literal versão patética de mim mesmo. Você, que ostenta essas roupas ridículas, esse cabelo ridículo e esse rosto ridículo, não passa de uma versão cagada pra cacete de mim, o verdadeiro e único Kaonashi. Você se apossou daquilo que nos faz únicos, a ambiguidade. Você diz que a ambiguidade é a única forma de alcançar os corações das pessoas através da música, e advinha gênio. Eu fui a droga do criador dessa ideia, e o motivo é simples. Eu amava compor, mas não tinha saco para as emoções humanas, não tinha saco para agradar os outros, eu fazia pelo meu próprio bel prazer, então que se foda o significado da minha lírica. — Prossegue, aproximando-se, até tocar meu ombro e ser a única coisa que minha visão enxerga: — Tudo que você fez foi roubar isso, e brincar de sentimentalismo. Um romancista que vive das migalhas da aceitação. "Ai, eu quero fazer uma música que deixa todos os corações quentinhos", "Ai, a minha vida é tão mágica e bela", "Ai, eu quero ajudar as pessoas". Essa é a maior piada do milênio. Você, no fundo, não se importa, e não teria como se importar. Eu sou você, você é uma variação de mim, uma parte, um fragmento, e nunca vai fugir disso. Não importa quantas vezes você deixar suas peças para trás ou se destruir para fugir de mim, eu vou juntar cada pedaço de você, até eu estar tão maior, que você vai acabar sendo engolido por mim. Não. Há. Nada. Que. Você. Possa. Fazer.

Considerações:

— Cê é uma literal piada pronta. Seus discursos poderiam fazer maior estouro no Stand-Up de Kumogakure, confia na minha, "Kaonashi". Agora já chega desse papo, que tal a gente fazer uma viajem. — Ele diz, batendo os pés contra a água abaixo de nós. Ela distorce-se em forma de ondas que nos rodeiam de forma espirálica, até que enfim, o nível da água começa a abaixar como um vórtice, onde no centro, o redemoinho submerge ambos de nós. Eu viajo por através do vórtice, até que enfim, me vejo em um lugar onde apenas a lembrança me causa arrepios na espinha. O lugar era gélido, nevava, mas mesmo assim, o calor daquele ambiente me desnorteava. Estávamos em uma plantação, a alguns metros de uma grande mansão principal que sediava todo o terreno. Todo o lugar queimava em um fogo vivo, a mera aproximação causava-me uma dor que não me atingia fisicamente, mas atordoava-me mentalmente como um coice. Kaonashi alonga-se, movendo as articulações do ombro enquanto caminha em minha direção: — Não tem como esquecer daqui não é? Um lugar como esse é tipo um pesadelo vivo. Falta bem pouco para chegarmos a nossa última forma, como Saiken propôs. Aquele cara é realmente durão pra cacete, pra aguentar alguém como você por tanto tempo. — Ele termina. Gesticulando com sua mão direita, ele evoca sombras que assimilam-se a uma forma etérea. Elas assumem um corpo humanóide, e avançavam em minha direção. Eu só podia correr daquelas criaturas, pois naquele lugar, eu estava preso a ele.


— ARGHHH! Humf... YARRRGHHHH! — Kaonashi vocifera novamente. Ele estava prestes a alcançar o último nível de minha cauda, a sesta cauda, e assim, assumir minha transformação por completo. Ele havia perdido completamente o controle, um humano jamais suportaria o desafio que lhe propus, e fiz tal intencionalmente. Ele recusou-se a entender a gravidade da situação em que ele encontrava-se como meu receptáculo. Aquele homem, Takaya, seria um aquecimento interessante, eu poderia quebrá-lo, fraturar cada um das costelas de sua cavidade torácica. Em seguida seria aquele nukenin restante, que acreditava veementemente que um simples selo teria algum poder sobre mim. Humanos superestimam demais suas próprias capacidades.


As sombras avançam, seis silhuetas formadas pelo mais puro ódio a humanidade, o meu próprio ódio: — Você está certo. Infelizmente vou ter que dar o braço a torcer, você está certo. Eu, querendo ou não, não passo de um simples fragmento seu, uma parte sua, uma... versão pior sua. É engraçado, quando eu deixei a máscara de lado, eu queria ter afogado você, destruído você de vez, mas no final das contas, você só tem tanto poder porque eu escolhi acreditar que você ainda existe dentro de mim. — Digo. A primeira das sombras estava prestes a me atingir, ela rugia em um tom lacerante: — De uma forma ou de outra, tá realmente na hora da gente acertar as contas, e dessa vez, eu não vou tentar destruir você. O que eu sou e o que eu faço está somente nas minhas mãos e na de mais ninguém. Não existe ninguém que pode me mudar tanto quanto eu mesmo, e assim como você, você não pode influenciar quem eu sou. No final das contas, a gente apenas se dividiu porque você, Kaonashi, é uma versão falha de nós.

Considerações:

Se aquelas sombras forem o que eu realmente acho, então bastava abrir meus braços e manter-me, não recuando de forma nenhuma. Na tentativa de dissipá-las, eu coloco minhas mãos no meu samisém e então começo a tocar. A música em questão não poderia ser outra:

Eu não quero ser mais feliz que nenhum de vocês aqui.
Eles cortaram nossas asas.
Sou o vagalume com a chama mais fraca.
Mas quero ver vocês rirem da dor.
Eu vou voar para longe onde vocês não possam  me ver.
Mas ainda estarei aqui com vocês.
Vivam enquanto amarem viver.

Cantarolo, com minha voz uníssona a sonoridade do meu instrumento. Seis sombras como aquelas não poderiam ser outras. A primeira vez que os vi já fazem anos, eu mal consigo lembrar-me de seus rostos, ou sequer seus nomes, mas eles ainda vivem dentro de mim em formas espectrais, sussurando minhas falhas em meus ouvidos, dizendo-me que não importe para qual lado eu tente fugir, eles sempre estarão ali, representando as vidas que se sacrificaram pela minha, vidas que eu sei que jamais terei a capacidade de alcancar novamente. Minha tentativa fora bem sucedida. As sombras dissipam-se, uma após a outra, acompanhando a lírica, uma a cada verso. O último era para o próprio Kaonashi, que ajoelhou-se, enquanto sua máscara partiu-se em uma rachadura, mas ela era tudo que ele representava, não poderia ser destruída tão facilmente: — Tem poucas coisas que eu me lembro desse lugar, mas o nosso nome não veio daqui. (顔) Kao, (無し) Nashi, um garoto sem rosto, sem identidade, que compõe músicas sobre sua própria incapacidade de sentir. É isso que você é, e de fato, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda vivia na sua sombra. Ironicamente, eu não conseguia deixar você para trás, mesmo que eu não faça nem ideia de onde deixei aquela máscara horrorosa que eu não parava de usar. — Continuo. Kaonashi não possuia emoções, era uma própria representação da ausência de significado, mas se ele poderia sentir algo, nesse momento, era frustação, e eu nem precisava ter domínio sobre o psicológico humano para perceber, era visível mesmo por através da máscara: — Aqueles garotos salvaram a minha vida sem saber. Eles fizeram mais do que minha própria família, que eu sinceramente nem faço ideia de onde esteja no momento. Se eles me deixaram alguma coisa na herança era justamente o meu Akagan. Eu despertei eles pela primeira vez ouvindo uma música de uma geisha nos distritos de Kumogakure, um lugar repleto de vida e que eu era estranhamente fascinado e sempre atraído. Eu não sabia porque aquela múscia me deixava tão estonteado até perceber hoje que o rítimo daquela música foi o primeiro que ouvi na vida, e o que me fez decidir me tornar um musicista. É claro que quando eu era criança não tinha dinherio para comprar um instrumento, então eu roubei um, e hoje ele está aqui comigo, por mais de vinte anos. — Shakudō, uma liga metálica de ouro e cobre. Acredito que nem mesmo meu peso em barras de ouro valeriam tanto quanto o que eu busco atingir. Eu não quero mais viver através da ambiguidade. Quando eu morrer, eu não sei para onde eu vou, e sinceramente, não poderia me importar menos: — E se tem uma coisa que eu quero fazer antes de morrer, é deixar um legado para trás. Aqueles garotos, os garotos que eu não pude salvar, vivem dentro de mim, vivem através da minha música. Considere isso um renascimento, Kaonashi. Nós dois vamos deixar a ambiguidade de lado, e vamos escrever músicas com um significado real, e a partir de agora, precisamos experenciar tudo que pudermos para nossas músicas terem mais vida do que poderiamos representar. Eu quero criar múscias que toquem os corações das pessoas, não mais simplesmente por prazer, quero fazer isso pelo bem das pessoas, e claro, o primeiro coração a ser tocado terá que ser o meu. — Prossigo, enfim, aproximando-me, e agora, eu agarro sua máscara, a máscara dauqele que não possui um rosto: — Nós vamos começar a viver agora, Kaonashi. Vamos deixar um legado para a história. Esse, vai ser o nosso jeito ninja. — Entoou, puxando-a: — Mais alguns poucos segundos e a sexta cauda surgirá. Como dizem no velho oeste, "saque seu revólver e vamos ver quem consegue disparar mais rápido", se é o antigo Kaonashi, ou o novo Kaonashi.

Considerações:

— Não pense que essa porra acabou seu merdin-
— Olha, você mesmo já deixou bem claro nossa situação, eu to aqui preso contigo. Só existe uma forma de a gente sair dessa, que é colaborando. Eu não posso matar você, não propriamente, então vou simplesmente aceitá-lo e seguir em frente, entende?
— Mas nem fodendo eu vou me juntar a um bostinha arrogante pra cacet-
— Credo, quando eu era novinho tinha uma boca tão suja? Nem vai doer nada. Se liga, faltam dez segundos para a sexta cauda, acha que vai conseguir tomar controle do meu corpinho?
— Seu demônio do caralho, maldito filho de uma put-
— Seis segundos. — Digo, enquanto puxo a máscara de seu rosto simultâneamente. A máscara parece presa a ele, como se pertencesse a quem ele é, mas ambos sabíamos que isso não era verdade. Eu não posso destruí-lo, querendo ou não ele é parte de quem eu fui, e deve existir naquilo que eu me tornarei, afinal, do contrário, eu nunca vou descansar sabendo que pode existir um Kaonashi dentro de mim, me amaldiçoando, envenenando minha arte como afetando-a pelas raízes: — Eu não vou perder pra você cara. Cê tá contando vitória cedo pra caralho.
— Quatro segundos.
— MERDA. — Vocifera Kaonashi, degladiando contra minha vontade. Ele segura meu pulso, na tentativa de impedir-me de quebrar a máscara: — DE QUE MERDA ISSO ADIANTE? NO FINAL DO DIA, VAMOS SER NÓS DOIS, SOMENTE NÓS DOIS, CONTRA TODO ESSE MUNDO DE MERDA! TUDO QUE ESSE MUNDO TE OFERECEU FOI TRAGÉDIA.
— Um segundo.
— DESGRAÇADO!
— Está na hora de voltar a ser um só, carinha. — Termino, partindo-lhe o rosto, puxando a máscara violentamente. Ela fragmenta-se e seus pedaços se perdem no vazio, atravessando as águas translúcidas e submergindo no abismo da minha consciência. Finalmente vejo o rosto de Kaonashi, em lágrimas de frustação, por ter ciência de que perdeu. Ele abaixa a cabeça, enquanto se desfaz. Eu seguro-o pelos ombros e o puxo para um abraço, enquanto ambos começamos a desaparecer: — Escuta, eu sei que isso vai ser doloroso. Eu queria muito poder me esconder atrás de uma máscara também. Pra falar a verdade, eu ainda me pergunto se eu vou conseguir ser melhor do que... Não, se nós vamos nos tornar algo melhor. Eu também sou uma parte quebrada, e também acho que falhei muitas vezes, então... Que tal um último segundinho de existência? Sorri pelo menos uma vez, a gente vai ficar bem. O Kaonashi vai saber se virar. — Digo. Ele retona o abraço, esboçando certa indiferença, mas apenas camuflava sua angústia. Ele apenas estava assustado, com medo do mundo, e agora, estava na hora do verdadeiro Kaonashi surgir.


— Acabou. — Entoou. Takaya avança desferindo mais uma vez um ataque. Aparentemente, graças a aquele Dōjutsu, Kaonashi é capaz de ver a forma do chakra de seus ataques baseados inteiramente na manipulação sonora. Um ataque invisível aos olhos, mas de poder devastador, suficiente para fazê-lo desacordado por muito tempo. Finalmente chegamos ao último estágio, a sexta cauda, onde todo o poder da transformação concentraria-se em seu corpo, o receptáculo. Ele não suportaria tal, seria impossível controlá-lo em tão pouco tempo. Nenhum humano poderia: — Liberte-me, humano.
— ...
— ... Minha ordem não foi ouvida. Liberte-me, imediatamente.
— ...
— Mas o que? LIBERTE-ME, eu ordeno a minha liberação.
— ...
— KAONASHI!
— Achei que tinha esquecido meu nome, lesminha-minha~

Considerações:

— Sentiu saudade de mim?
— Você... Como diabos você... Você, você está no controle do seu corpo?
— Uhm... Dãh? É meu corpo, gênio.
— O que... O que diabos, você, como diabos voc- — Saiken prossegue, sendo interrompido após eu evadir-me do ataque realizado por Takaya. O Fūinjutsu parecia controlá-lo completamente, e a menos que eu descobrisse um jeito de desfazê-lo, em pouco tempo, teria que retaliar, e isso poderia custar-lhe a vida. Eu não quero acabar matando-o, e me recuso a fazer tal. Pensando com calma, o responsável talvez pudesse desfazê-lo involuntariamente caso fosse abatido, e com a neutralização do líder do grupo nukenin, não restariam mais nenhum do grupo. O sangue deles em minhas vestes me causava vertigem, e talvez me provocasse ânsia caso fosse sangue inocente. Apesar de preferir lidar com eles de outra forma, nem sempre minhas preferências são correspondidas. O ataque em questão apenas era percebível por mim por conta do meu dōjutsu de fato, e desviar minha atenção mesmo que por um único segundo poderia abrir uma brecha para um ataque de oportunidade, e eu não devo subestimar a força de suas técnicas. Uma demonstração anteriormente me fez entrar em um estado semelhante a um coma. Estando em alta velocidade por conta da transformação, decido usar da deficiência de Takaya como vantagem estratégica. Através do Meisaigakure no Jutsu, sua capacidade visual seria inútil contra a invisibilidade ótica da técnica. Na tentativa de usar disso e consequentemente ter a chance de derrotar o nukenin, executo a técnica, e na sequência, avanço contra o homem, visando acertar-lhe em um ponto de vulnerabilidade no pescoço. Eu uso do Shunshin no Jutsu para aumentar ainda mais minha velocidade, e assim, tento acertá-lo. Quando avanço, meus passos no solo rochoso são audíveis, mas isso não seria um problema considerando a surdez de Tayaka. Isso era o que eu acreditava. Ele inspira, e então: — Ototon: Chinmoku no shi (音発売 • 沈黙の死) — Entooa o mesmo, e de sua boca, uma gigantesca massa de som desloca-se a uma alta velocidade. A sonoridade tem poder destrutivo suficiente para destruir o solo rochoso por onde atravessa, e o som que ela emitia assemelhava-se a um chiar de extrema agudeza, quase fazendo meus tímpanos estourarem com a força. Por conseguir ver a técnica, consigo acompanhar sua trajetória e me desviar, mas o nukenin não tem a mesma sorte. Ele é acertado pelo ataque, e é arremessado contra um grande rochedo, rachando-o enquanto seu tórax explode em sangue e vísceras. Seus ouvidos se tornaram puro sangue.

Considerações:

Takaya parecia não sofrer mais dos efeitos de suas deficiências. Não somente ele foi capaz de falar, como ouviu meus passos e usou disso para identificar-me mesmo que invisível. No momento em que me esquivei do ataque, aproveitei a potencia destrutiva do ataque para permanecer imóvel e consequentemente, imperceptível. Takaya era esperto o suficiente para saber que no momento em que algo mover-se próximo do raio de alcance de sua técnica, seria minha posição, entretanto, eu poderia contornar tal habilidade usando o genjutsu do meu Akagan, os fantasmas de chakra. Eu crio dez réplicas, todas idênticas a mim, e numa distância de três metros entre cada uma, comigo na quarta posição e uma logo a minha frente, considerando todas em uma linha horizontal. Takaya parece perplexo por um momento, e então, ele novamente inspira, como se estivesse pronto para executar aquela técnica novamente. Nós avançamos, nos dividindo em grupos de cinco, comigo no grupo a direita, mas camuflando minha movimentação logo atrás de uma das réplicas. Ele direciona o ataque ao grupo da esquerda. O ataque apenas atravessa-os, sem dissipá-los ele percebe tratar-se de uma ilusão. Rapidamente ele direciona o ataque para a direita, mas sem o tempo necessário para utilizar da técnica novamente, ele abaixa-se, tocando o solo enquanto forma-se no contorno de seu palmo uma fórmula de um fūinjutsu. Ele mordisca a ponta do polegar, fazendo-o sangrar, até que enfim libera uma grande cortina de fumaça, e então, surge um grande demônio, portando uma grande maça de batalha e com seu rosto vendado. Ele avança, atravessando o ataque contra todos os fantasmas de uma vez, e se não fosse por um salto realizado por mim, o ataque teria me atravessado. Sua força desloca uma massa de ar que leva consigo alguns pedregulhos e gera uma fenda no solo com o impacto. Eu uso de sua própria massa como impulso para avançar contra Takaya, e então, seguro-o pelas suas vestes enquanto ambos começamos a rolar pela terra. Em um ponto, pela força proporcionada pela transformação, ambos acabamos caindo de um desfiladeiro, onde eu concentro o chakra em meus pés para me salvar, apenas para ver Takaya cair em quedra livre.

Considerações:

Eu desativo o Meisaigakure no Jutsu e então avanço em sua direção. Se eu conseguir segurá-lo, posso fazer com que ele evite a queda. Eu me propulsiono na direção de Takaya, que agia de forma praticamente instintiva. Mesmo com a morte do nukenin, o selo ainda não havia sido desfeito. Talvez fosse necessário alguma outra técnica, ou talvez eu pudesse fazer isso pessoalmente usando do Fūinjutsu: Kai, mesmo que eu não acredite nessa opção. De uma forma ou de outra, eu apenas precisava alcançá-lo e atordoá-lo com meus conhecimentos anatômicos. Alguns instantes antes de eu conseguir agarrá-lo, vejo ele inspirando profundamente: — Ototon: Chinmoku no shi. — Ele profere, exalando uma forte massa de chakra em minha direção. Estávamos a alguns metros de distância do solo, apesar de não conseguir medir com acurácia devido a situação e por ser uma precisão métrica impossível aos olhos. Desviar significaria deixá-lo cair voluntariamente, e ser atingido significaria a morte de ambos. Restava-me apenas uma única alternativa, atravessar a técnica. Eu elevo minha destra, e concentrando a liberação de relâmpagos em meu palmo, na tentativa de aparar a técnica, uso o Raikiri. Caso obtivesse êxito, poderia redirecionar a técnica e evitar a energia cinética da queda deslizando por entre as rochas até perder velocidade: — Lesminha, agora! — Digo. O corte relâmpago colide com a técnica sonora, e consegue diminuir seu poder até que finalmente a atravessa, como um verdadeiro corte relâmpago. Eu cesso a técnica e puxo Takaya pelas suas roupas, e então, vejo ele sacar algo de sua bolsa, uma kemuridama. Ele arremessa-a em meu rosto, e com a canhota, o máximo que pude fazer foi defender-me, enquanto a cortina de fumaça libera-se. Por cobrir meu rosto, meu Akagan é coberto por alguns segundos, e para tentar nos salvar, eu apenas me lanço para frente. Ambos novamente caímos, comigo colidindo contra alguns galhos até cair lateralmente sobre uma rocha. Eu consigo escutar minhas costelas fraturando-se. Eu me levanto, atordoado com a queda, caminhando vagarosamente a sua procura. Acabamos caindo entre alguns pinheiros próximos, e a neve não ajudava na busca. Sobre um rochedo, eu encontro o corpo de Takaya: — Ei... Qual é carinha, cê não tá ajudando muito na parte de te ajudar, sabia? Que saco. — Digo. Meus ânimos se encerram ao vê-lo cospir sangue. Eu esfrego os olhos para enfim ver seu corpo com melhor nitidez. Ele havia sido perfurado por um dos rochedos. Eu me aproximo rapidamente, retirando-o do local cutelosamente e analisando a ferida. Ela havia atravessado seus pulmões. O vilarejo mais próximo é Shimogakure no Sato, e mesmo em minha velocidade máxima, ele morreria asfixiado em seu próprio sangue, que adentrava em seus pulmões equanto ele lutava para continuar respirando. Não havia o que pudesse ser feito. Ao menos, era o que eu pensaria: — Um ferimento como esse... Mesmo que pudêssemos fazer algo no momento, você não é um médico. Uma ferida como essa não pode ser- — Saiken diz. Eu acerto um golpe no pescoço de Takaya na tentativa de nocauteá-lo, deixando-o inconsciente para o processo: — O que você. Ei, o que você pensa que está fazendo? — Prossegue. Eu precisava ser rápido, ele tinha mais alguns minutos de vida. Eu deixo seu corpo a disposição, e então, começo a liberar uma substância azulada, na tentativa de começar a assimilá-lo a mim: — Isso é... O que você pensa que está fazendo com ele?
— Ajudando-o como eu posso. — Respondo.

Considerações:

A massa inicia o processo de assimilação. O corpo começa a sofrer uma degradação orgânica, onde sua composição genética integra-se a minha, estruturando uma combinação sintética. A massa termina de dissolvê-lo por completo, e então, nenhum sinal do corpo é visto, até mesmo seu sangue integra-se a mim. A massa azulada dissolve-se, retornando a meu corpo. Takaya havia sido absorvido: — A muito tempo atrás, durante uma investigação, eu aprendi um Kinjutsu de Konohagakure. O quimerismo orgânico. Eu consigo usar essa extensão corporal para assimilar um corpo ao meu próprio, e assim, bom, tornar-me sinteticamente imortal. Seriam necessários mais três corpos para essa tal imortalidade. Eu vou ser bem sincero, não esperava um resultado tão direto.
— Um Kinjutsu você diz... Bom, então o corpo dele foi desintegrado e agora, ele faz parte de você.
— Precisamente. É como a própria quimera mesmo, uma criatura com o corpo de quatro outras em um mesmo corpo. Eu posso basicamente me tornar uma quimera.
— Mas porque você fez isso? Sim, eu não acredito que havia uma forma de salvá-lo, mas mesmo assim, eu esperava vê-lo ao menos tentar.
— Se ele tivesse morrido, então todos os nossos esforços teriam sido em vão. Eu apenas escolhi uma forma de fazê-lo continuar vivo através de mim. Eu não soube muito sobre ele, sobre seu passado ou sobre o selo amaldiçoado que ele portava, mas de uma forma ou de outra, eu sentia que ele não queria fazer aquilo. Agora, ele viverá dentro de mim, e eu tenho certeza que ele viu pelos meus olhos aqueles nukenins caírem um por um. Só queria poder fazê-los serem punidos do jeito certo. Eles se foram, mas não pagaram pelo que fizeram a vida de todas aquelas pessoas. — Digo. A sensação era distinta, não conseguia colocar em palavras, era como ter duas camadas epidérmicas sobre uma única, ligações neurais que mesclam-se, pensamentos assíncronos que interligam-se, era como, de fato, ter dois corpos em um só: — Eu não sei o que será daquele bando de gente, o Fūinjutsu não parece ser cancelado mesmo com a morte deles, mas talvez os efeitos eram só intensos daquele jeito no próprio Takaya. De uma forma ou de outra, acho que precisamos descançar. Você e eu, lesminha...
— ... Meus parabéns, Kaonashi.
— Eu não comemoro aniversário hoje não besta.
— ...
— To te zoando cara, manda a real, qual é a do parabéns.
— Por um momento, eu realmente acreditei que você não suportaria a influência do meu chakra. Parecia que você se perdia a cada instante. Eu já lhe disse, não me importo se você morrer agora ou mais tarde, mas você provou para mim que é diferente dos outros humanos.
— ... Olha, pra falar a verdade, até eu to impressionado. Não é do meu costume fazer esse tipo de coisa, impressionar tipo, pra valer. Quando você faz apresentações em Kumo inteira e é reconhecido no Bando de Kumogakure, meio que tudo que você recebe é atenção o tempo todo, mas ouvir isso de você me traz uma felicidade única. Valeu lesminha, não teria sido a mesma coisa sem você.
— ... Tanto faz.
— Não seja ingrato carinha. Vamo, se os ninjas me pegarem aqui sou executado. Vamos voltar para Kumo e aproveitar para tomar um café. Takaya vai adorar, tem uma cafeteria perto de casa que arrasa no drink, to falando a sinceridade. — Termino, partindo do local, desativamendo meu Akagan. Eu esperava que as forças de Kirigakure seriam mais competentes do que eu em lidar com esse assunto, e eu acho que já causei confusões demais: — Não acha também, Takaya?

Considerações: