O sol começava a se por e as trevas se aproximavam da escuridão inerente ao coração dos homens. Anakin encontrava-se sentado em frente a sua casa, apenas olhando ao seu redor e compreendendo a complexidade da vida como ela é, em sua estrutura básica e até mesmo nos aspectos mais difíceis de se ver e sentir. Uma filosofia e pensamento rebuscado apenas para representar o pensamento avoado. Já haviam se passado alguns meses desde que a guerra havia terminado, e o jovem Yuki permaneceu em exílio próprio, trancado em sua morada, talvez próximo do fim.

Uma pequena ventania se aproximava dos cabelos brancos do jovem Yuki, que nem percebia o tempo passar ao seu redor, apenas se permitia sentir o que acontecia em sua volta. Quando menos se deu conta, já se tratava da noite que tomava o céu. Pondo-se a caminhar pelas ruas estreitas e cobertas pela névoa, o chunin olharia para cima, procurando pelo brilho da bela e singela lua:

- Irmã lua, ainda posso te ver, minha cara… Para qual caminho você me levará? - Seguindo o brilho do astro nos céus escuros, Anakin sairia pelos portões da vila discretamente, colocando-se a caminhar até algumas árvores ao redor. Em determinado momento, encontrou-se à beira daquele pequeno bosque em que treinava na sua juventude com Sayuri… Faziam tantos anos, mas o lugar continuava o mesmo. O pequeno lago, as árvores em volta e aquela brisa cintilante em seu rosto.

Sentando-se enquanto a névoa densa parecia deixar o local lentamente, pensaria consigo mesmo, olhando para cima, na direção da lua:

- Eu me perdi, depois de tanto tempo. Não consigo mais voltar ao que eu era antes… A guerra destruiu toda minha noção de esperança e de vida. Não consigo acreditar em mim mesmo, minha cara irmã lua. Preciso de uma luz, um esclarecimento… - Levantando-se, Anakin realizaria os selos de mão e colocaria a palma no chão, realizando uma invocação, com o objetivo de trazer Kiba, o grande lobo branco. Tendo feito sua invocação, o jovem Yuki olharia na face de seu antigo companheiro, abraçando-o em seguida:

- Irmão Kiba, há quanto tempo meu lobinho branco… - Acariciando e realizando afagos, aguardava a resposta do canino.

- Anakin, meu pequeno garoto. Venho te observando há tempos e percebi que você não está bem. Por que não nos chamou antes? - Kiba diria em tom de voz amigável.

- Eu me perdi na escuridão do meu coração. Não consegui honrar meus irmãos lobos e muito menos minha própria essência. Eu sinto muito… - Uma pequena lágrima cairia dos olhos vermelhos do Yuki, sendo afagado por uma das patas do lobo.

- Feche os olhos, doce criança. - Kiba diria, sendo obedecido em seguida por Anakin, que fecharia os olhos, abrindo após alguns segundos - Lembra desse lugar? - O Yuki se encontrava juntamente com o canino na montanha congelada dos lobos. Não sabia como havia chegado ali novamente, mas sabia que podia confiar em seu companheiro. Aquele lugar trazia lembranças de quando conseguiu absorver a energia natural e aprender senjutsu. Tempos melhores, em um mundo mais civilizado, assim pensava.

Sendo levado por Kiba até um penhasco, Anakin poderia vislumbrar a visão da cadeia de montanhas, mesmo à noite, iluminada pela luz do luar, que parecia mais próximo do que nunca:

- Você possui uma extrema ligação com a natureza, meu jovem Anakin, isso é perceptível. Seu corpo e mente se mantém ligados em uma força maior e invisível aos olhos nus, mas não para o coração dos bondosos e alinhados. Permanecerei contigo, mas a partir de agora, seu trabalho será apenas fruto de sua mente, não poderei influenciá-lo na decisão que você tomará. Sua continuidade nesse mundo depende exclusivamente de seus pensamentos.

Sendo tomado pelo frio extremo, o que restava era apenas a força de vontade para seguir em frente. Sentando-se na posição de Lótus, veria Kiba parado e com os olhos fechados:

- Irmã lua, está ai?- Olhando fundo com seus olhos para frente, continuaria - Eu desisti de ser um ninja. Quase joguei fora minha vida… Mas não sei o que eu faço. Se for possível, afasta de mim esse cálice, para que eu não tenha que tomar dessa bebida amarga e tragar a dor da vida… - Olhando fixamente para o céu, perceberia as nuvens e a névoa que tomava conta do local, impedindo a visão do luar e de tudo ao seu redor - Minha mãe, minha irmã lua, por que me abandonaste? - Fechando os olhos e movendo sua cabeça para baixo, começaria a dizer em voz baixa, quase como uma prece:

- Minha mãe… Dai-me forças para suportar toda essa dor que eu tenho em meu coração. Não me desampare nesse momento de sofrimento e angústia, pois não sei se sou capaz de suportar o peso de meus próprios pés… - Mesmo com o silêncio que tomava conta do local, Anakin recitaria pequenos e singelos versos:

“Minha mãe, minha cara irmã lua
Me faça um instrumento de paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde haja ofensa, que eu possa levar o perdão
E que haja união após a discórdia
Se eu errar, me conduza para a verdade
Se houver desespero, quero levar a esperança
Onde houver trevas, que eu leve a luz…”

Abrindo os olhos e focando sua visão no céu, perceberia a densa névoa que se afastava, assim como o luar que reaparecia… - Obrigado, minha mãe… - Olhando para Kiba, diria para o lobo branco - Vamos para casa, chegou minha hora. Agora eu finalmente pude entender meu destino… - Dito isso, Kiba diria para o Yuki se aproximar dele e tocá-lo, fazendo com que ambos retornassem para aquele bosque em que Anakin se encontrava anteriormente:

- Lembre-se, Anakin… - Nós nunca iremos lhe deixar. Se precisar de ajuda, nos chame. Seus irmãos lobos estarão prontos para você, jovem e doce criança… Até mais! - Kiba desaparecia em seguida, revertendo a invocação. Anakin agora sentia-se mais aliviado e tinha certeza do que iria fazer a partir de agora: retornar ao mundo shinobi, mesmo depois de meses preso em sua própria casa. Respirando profundamente, olharia a irmã lua, que apenas parecia lhe observar de longe, com seu esplendor e belo luar mágico…