Havia um rumor de que os raios e trovões da grande montanha Fuji não eram obras da natureza. As montanhas vizinhas só recebiam raios em períodos tempestuosos, enquanto a grande Fuji trovejava por dias, mesmo sob um clima ensolarado. Dizem os mais velhos que no topo reside um homem solitário, um Eremita que guardava para si o segredo dos raios.

Foi numa tarde chuvosa que eu me peguei olhando para aquela bela montanha e seus trovões, e senti algo... algo que eu não podia explicar. Era como um chamado.

Por semanas fiquei com uma ideia na cabeça... subir aquela montanha e ver com meus próprios olhos o que tem la. Muitos não ousam, pois os perigos são muitos em seu trajeto. Mas eu não pude evitar, era como um pensamento recorrente que invadia o meu dia, o meu sono... e por isso aproveitei um recesso para seguir o meu instinto.

Num belo dia eu me preparei, escolhi diversos mantimentos e segui viagem, rumo ao topo da montanha.

O caminho era sim perigoso, repleto de criaturas que muitas vezes me obrigavam a me esconder, ou a lutar. Eu quase perdi a vida algumas vezes, perdi parte das minhas coisas e passei fome e frio. Mas eu persisti... aprendi que a natureza nos da o que precisamos, e usei os próprios recursos da montanha para me manter de pé até o topo.

Engraçado... por quê a natureza ajudaria um assassino como eu? Talvez porque a própria natureza é a maior assassina que eu conheço... a cada quilometro percorrido eu via um corpo morto, acidentado ou devorado por algum animal. Montanhistas que perderam a vida tentando subir a montanha, ou mesmo curiosos como eu que ousaram desafia-la.Seja qual for o motivo... para mim o sol se abriu, a relva estava verde e as frutas e pequenos animais eram abundantes. Eu não sinto o que é o bem ou o mal, mas sinto que todas as pessoas me consideram como um mal. Mas não... não aquela montanha. Ali eu era bem vindo.

Quando cheguei ao topo eu vi aquela pequena casinha de madeira, e da porta da frente saiu um velho maltrapilho.
Então era verdade...

O velho parecia já estar me esperando, como se já soubesse da minha vinda. Ele me encarava de longe, com um sorriso no rosto, segurando uma caneca de café e gesticulando para que eu me aproximasse. Confuso e cansado, eu apenas fiz o que o velho pediu... me aproximei, desconfiado, mas eu mal tive forças para questionar. Ajoelhei-me no chão e imaginei que não conseguiria mais ficar acordado, mas então algo inesperado aconteceu.

O velhote tocou em meu ombro e eu senti como se toda minha energia física se renovasse. Uma descarga elétrica invadiu o meu corpo e me devolveu o fôlego, renovou meus músculos e elevou o meu ânimo. Eu fiquei maravilhado e definitivamente confirmei que aquele senhor é o Eremita das lendas.

A partir daquele momento eu convivi com o eremita por semanas, e descobri que seus poderes iam muito além do que eu imaginava. O velho alimentava a montanha com os raios que ele próprio “capturava”. Talvez por isso que suas feras eram tao grandes, e sua mata tão exuberante. Eu queria um pouco daquele poder, mas o velho ria de mim quando eu insistia. Segundo ele, o Trovão pode até fazer parte de mim... mas não seria verdadeiramente forte enquanto eu não fosse exatamente livre. O velho parecia me conhecer melhor do que eu mesmo e sabia muito bem que a minha mente deturpada não conhecia o sentido da palavra “liberdade”.

Entretanto, eu me aproveitei de sua ausência quando o Eremita saiu para energizar a montanha mais uma vez. Em nossa convivência eu pude cronometrar que aquele processo levava aproximadamente 45 minutos. Era o tempo que eu precisava para descobrir alguma coisa. Usei o meu Byakugan e vasculhei a sua casa... até que um pergaminho incomum chamou a minha atenção. Os Kanjis diziam: Kuroi Kaminari. Notei também que em sua prateleira haviam diversos outros pergaminhos que remetiam a técnicas do estilo Raiton... mas escolhi para mim aquele documento em particular.


Estudei o seu conteúdo o máximo que o tempo me permitiu, e então segui cada passo da melhor forma que pude, mesmo sem saber o que aquilo faria a mim. Muito semelhante à um Fuinjutsu, uma marca negra surgiu em meu ombro esquerdo e logo eu descobri que fiz tudo errado... uma corrente elétrica começou a se formar em meus tenketsus e o que parecia um milagre se tornou um pesadelo. Meu chakra ficou negro como óleo, e os raios negros me queimavam de dentro para fora. Era insuportável. Meus gritos chamaram a atenção do velho eremita e logo ele correu ao meu socorro.

Quando ele entrou pela porta, eu já estava esticado ao chão, quase morto, os raios me consumiam aos poucos e os espasmos musculares retorciam o meu corpo ao ponto de quebrar alguns ossos. O velho olhou a marca negra e concluiu o obvio: o selamento feito estava uma bela porcaria! Aparentemente, o Fuinjutsu deveria ser perfeito, de modo a armazenar a energia do Kuroi Kaminari dentro do meu sistema de chakra. Caso contrário, os raios estariam livres para me destruir em meio a um caos energético.

A intervenção do velho me salvou, mas foi por pouco. Como um mestre em fuinjutsus, ele remodelou aquele selo, tornando-o perfeito. O chakra descontrolado tornou-se dócil, se misturando ao meu chakra e encontrando repouso naquela espécie de tatuagem canalizadora. A perfeição da técnica permitiu que os raios negros fossem suprimidos, mas sem deixar de existir. Agora eles eram meus.

O velho cuidou dos meus ferimentos com uma espécie de Iryo-nin elétrico, e com o passar dos dias me ensinou a domar o novo poder. Não me entendam mal, ele não estava feliz com o que eu fiz, mas a forma daquele homem lidar com os problemas era muito diferente... era como se o velho não quisesse desperdiçar energia em nenhum momento, nem mesmo com sentimentos de raiva ou rancor. Talvez ele fosse o que chamam de “homem iluminado”, ou buda, sei la. O fato é que, ao invés de me repreender, ele me ajudou a controlar aquela força.

O treinamento foi complexo, pois eu nunca tive a experiência  de utilizar jutsus ou manipulações por meio de um selo canalizador, mas estranhamente eu senti que meus Raitons estavam mais “soltos”, além de muito mais poderosos. Basicamente, o aprendizado consistia em reaprender a usar os jutsus que eu já conhecia... mas dessa vez integrando o seu uso à ativação do Kuroi Kaminari. Levou tempo, mas peguei o jeito.

Eu não entendia como aquele senhor podia ser tão cordial comigo, pois eu sabia muito bem que seus olhos viam tudo... nada ficava escondido, nenhum traço do meu caráter lhe surpreenderia. E eu também nunca fiz questão de esconder... eu era um assassino, sem remorso, sem nenhum sentimento bom em meu peito... e isso estava estampado na minha cara, impregnado no meu cheiro e audível em minha voz. O velho sabia disso, e mesmo assim me tratou como um filho seu. Por que?

Eu lhe fiz essa pergunta, e então o velho me respondeu:

- Eu também já odiei, e já carreguei toda carga negativa que você carrega. Já matei pessoas e me entreguei aos meus instintos bestiais... eu vejo que você caminha por um mundo obscuro,e que você nem mesmo sabe quem você é... Mas não sou eu quem vai repreende-lo ou guia-lo para a luz. Eu poderia sim, deixa-lo morrer... eu poderia também não ensina-lo como usar o Kuroi Kaminari... mas isso não lhe traria nenhuma mudança. As pessoas devem seguir o seu curso, e se você subiu essa montanha, algum motivo há de ter. Sei que você ainda fará coisas muito más, Ryoma... mas eu sei que em algum momento a força do Trovão irá te guiar para luz. Não existe elemento mais belo e mais próximo do divino... Nunca subestime o poder transformador dos raios que caem dos céus... Pois eles vem dos céus. –

Porra nenhuma, eu vou é matar muita gente com a minha nova "tatuagem".


Até a próxima.