A vila havia sido engolida por um clima cinza de apreensão. Desde de que as tropas marcharam com o Shodaime ela pareceu vazia, mais silenciosa que o normal.  O inverno deveria acabar em breve, mas nem os primeiros brotos do campo davam sinais de despontar.

Ao mesmo tempo, tinha voltado a ter aquele sonho.

Naquela semana, os céus caíram em raivosas tempestades invernais, rugindo no meio da noite, agarrei-me aos meus joelhos ao lembrar. O ar ainda estava úmido, as árvores pingavam ao toque do vento. Do topo da muralha da vila eu encarava o mar de árvores que abraça Konoha. A madrugada logo chegaria ao fim. Ativava e desativava o Byakugan, forçando a visão metro a metro e encontrando pequenas flores ou esquilos do lado de fora “10…18…23…”  foi quando um grande volume de chakra me chamou a atenção. Pessoas! As formas se aproximavam de Konoha, tornando-se mais nítidas no processo, uma se destacava.

"Hokage-sama!" — Só podia ser ele. Com aquele volume de chakra. "Eles voltaram!!!" Demorei ainda alguns segundos, até ter certeza e quando tive... Com um Shunshin percorria a vila na direção de casa, sem fazer questão de segredo por onde passasse, metendo a cara nas janelas onde quer que visse pessoas acordadas.

—Eles voltaram! O Hokage-sama voltou!

Chegando no clã, até os guardas da principal, prostrados na entrada da Mansão, a quem eu sempre evito fiz questão de dar aquela notícia. Ao virar na rua de casa batia de porta em porta, sabia cada um daqueles que estavam esperando notícias, respostas às suas cartas.

—Masuyo! Que estardalhaço é esse? Está acordando a rua inteira, baka! — Gritou Karen-san, com cansaço e raiva no olhar, segurando seu pequeno nos braços, deu de cara com o brilho em meus olhos —As tropas voltaram! Kaden-sama está chegando em Konoha, é verdade eu vi!

As pessoas saiam pelas ruas, ainda terminando de colocar seus agasalhos e os sapatos das crianças. Eu fazia o mesmo, carregando Hana ainda sonolenta nas costas. Quando retornei ao Portão de Konoha era como se a vila inteira tivesse chegado. Nomes eram sussurrados "Você o viu? É meu filho, está com vocês?" Outros desmanchavam-se em meio aos abraços, mas havia ainda os que… um grito ecoou, Hana assustada agarrou-se a mim, uma mulher foi ao chão, pendurada nas mãos dela uma bandana brilhava. Soube o que significava, segurei Hana mais forte. "Preciso encontrar Kotetsu-kun". Ativei o Byakugan.

—Kotetsu! – Gritei pulando no meio da multidão. Era ele! Tinha voltado! Fiz meu caminho por entre os presentes pulando no garoto e o envolvendo num abraço. —Você voltou! O que aconteceu? — A alegria, o alívio… não conseguiria descrever.

O rapaz sorriu ao me ver —Masu-chan! Hana! - ele arregalou os olhos reparando na bandana em minha cintura. —Masuyo, isso… — Ri, contente — Quando foi que…

—Uns dias depois que vocês saíram! Diz logo, o que aconteceu!?

Ele riu e bagunçou meu cabelo. —Acabou, Masu-chan, nós vencemos. — Declarou, com olhos firmes e confiantes focados no Hokage.

—Mas depois eu te conto tudo, e por aqui? Como estão todos? Aquela velhota continua pondo todo mundo na linha?

Ia responder quando a voz do Shodaime ecoou, se impondo, e a multidão emudeceu. Meus olhos se fixaram nele.

Não houve acordo, todos os shinobi que lá estavam fizeram uma escolha, um sacrifício. “Eles conseguiram… trouxeram a paz de volta.” Quando os vivas começaram, juntei-me aos demais, Hana, sentada em meus ombros, observava impressionada, sem entender o que acontecia a pequena só podia sentir aquele momento, lembraria? Daqui a alguns anos?

Por um instante, quando os shinobis prestavam continência, tive a impressão de Kaden-sama olhar em nossa direção, impossível dizer se me via, ou alguém ao meu lado, ou apenas a multidão, prestei ali minha continência. Nossos shinobi haviam voltado, e Konoha seguia de pé, forte.

Nos dias seguintes pairou sobre o clã um clima agridoce, famílias comemoravam timidamente a reunião, sem querer aumentar o sofrimento daquelas onde a sorte não havia sido tanta. Nos jornais “Amelie? Qual a pronúncia disso?” Uma estrangeira, e mulher, como Daimyo do País do Fogo. “Não devia ser um dos filhos do Kamata? O que aconteceu?”

Pela noite caiu a última neve da estação fazendo mais denso o silêncio da floresta. As veias ao redor de meus olhos indicavam o pleno funcionamento do doujutsu.






A lembrança me arrancou um sorriso, meus olhos já eram outros desde aquela época, treinada pelo hábito eu conhecia aquela floresta, com o Ki Nobori em mãos e pernas, me movia pela floresta sem revirar a neve, sem romper os galhos, e ainda assim, rápida, silenciosa.

Nem sempre era o bastante…

"Kuso…" Eu devia ter imaginado, tinha gastado muito tempo ali. Amarrei melhor os seis coelhos adultos que consegui, não iria perdê-los depois de tanto trabalho. “Afinal… já está chegando o Natal.” Concentrei chakra nas pernas. A primeira vértebra do pescoço… mesmo sabendo aquele pequeno segredo, não fácil utilizá-lo, não sem treinamento. “Dois então” Deixava-os se aproximar um pouco, precisava deles completamente em meu campo de visão, “Agora!” com um Shunshin bem posicionado me distanciava utilizando seus pontos cegos, imediatamente era obrigada a um novo shunshin, e de novo, sempre que ajustassem seu campo de visão e me encontrassem novamente, mas de 20 em 20 metros, o ângulo da abertura possibilitaria área o bastante para que me perdessem de vista. Até desaparecer na noite. "Hoje não!"

O retorno de Kotetsu aumentava minha carga de treinamentos, não só porque ele voltava a me ajudar nos treinos mas porque meu desejo de superá-lo me empurrava a treinar mais. Estava sentada ofegante na floresta, escorada numa árvore. Em outras delas, pequenos alvos de papel se encontravam cravados de shurikens e kunais, em três delas shurikens se enrolavam com um fio de aço onde estavam presas kibaku fuudas. Sorri, satisfeita. "Por hoje chega" Recolheria aquilo tudo antes de voltar para casa.



HP: 275/275     CH: 275/275      ST:  0/5

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