Faz pelo menos treze anos que todas as noites, antes de dormir, Togyuu observava o sono de sua mãe por incontáveis horas. O jovem não sabia ao certo se ele era maluco por conta disso ou se era apenas medo de que seu bem mais precioso parasse de respirar de uma hora para outra. Ele precisava ter a certeza de que estaria tudo bem com ela, antes que ele próprio pudesse descansar.

Quanto finalmente decidiu ir para seu quarto, ouviu três batidas na porta de sua casa. “Essa hora?”, pensou. Lentamente, caminhou até ela e a abriu. Mas… não havia ninguém. Intrigado, o Yuki olhou em todas as direções e mesmo assim não conseguiu identificar a presença de nenhuma pessoa. “Só pode ser essas crianças idiotas fazendo brincadeira a essa hora da madrugada. Será que não sabem que há uma pessoa doente morando aqui? Se eu pego esses desgraçados, eu os entrego para os pais em um espeto de gelo”, irritou-se. Todavia, quando foi fechar a porta, percebeu que havia pisado em uma carta. “Uma missão?”, pensou, abrindo-a imediatamente.

Oiii, Togy! Quanto tempo né? Você anda sumido. Faz tempo que não vem me ver. Eu te fiz alguma coisa?

Estou de plantão no Hospital esta madrugada, não quer vir me fazer companhia? Soube através de outras pessoas que você está estudando para se tornar um ninja médico. Talvez eu possa te ensinar algumas coisas.

Beijos, Yu.

“Yuyuka? Assim, do nada? Eu deveria ir?”. Togyuu estava cansado, mal havia conseguido dormir na última noite e durante o dia não teve tempo sequer de comer direito. Porém, não via Yuyuka a muito tempo e a proposta de aprendizado era tão tentadora quanto a garota. Levando a mãos aos bolsos, o jovem encontrou uma moeda e rapidamente teve uma ideia. “Se der cara, eu vou dormir. Coroa, eu vou ao hospital”, pensou, jogando-a para cima. A prata quase chegou a encostar no teto e, ao cair sobre o chão, rodopiou mais algumas vezes, parando com o lado que indicava ‘cara’ para cima. “Obrigado sorte!”, agradeceu e correu para o banho.


O Hospital de Konoha estava mais revigorado que nunca. Após Kamata ser destituído do cargo de Senhor Feudal e a misteriosa Amelie ter assumido a posição, Konoha recebeu uma série de investimentos e prosperava como a anos não ocorria. Toda a instalação havia passado por uma reforma rigorosa e os aparelhos foram substituídos por outros mais atuais. Ao passo que caminhava pelo prédio à procura de Yuyuka, Togyuu podia notar a felicidade estampada no rosto de cada membro da equipe médica.

Não demorou muito para avistar uma jovem de cabelos castanhos-claro e de estatura mediana. Os olhos do rapaz ganharam um brilho incomparável e ele apertou andar, apressado. A medida que se aproximava, o encantador aroma de lilás e groselha o hipnotizava.

— Meu deus, Togyuu! — Ao ser surpreendida pelo rapaz, a garota levou a mão ao coração. — Que susto! Já disse mil vezes para não me abordar deste jeito. — Ela sorriu. — Sinceramente, cheguei a achar que você não viria. Fico contente que aceitou minha oferta.

— Você me ofereceu duas coisas que eu quero muito, não poderia recusar.

— Vem comigo, não podemos ficar papeando aqui. Se minha superior me encontra assim, eu estou perdida.

Enquanto caminhavam pelos corredores do Hospital, o Yuki prestava atenção em cada detalhe. As salas com pessoas enfermas, as salas de cirurgia, alguns pontos de atendimento rápido, entre outros. Nem mesmo a terrível cena da equipe médica tentando salvar a vida de um homem gravemente ferido, foi capaz de tirar o encanto no olhar do shinobi. Sem dúvidas, queria fazer parte daquilo.

— Chegamos. — A dupla chegou a uma sala em um dos últimos andares do prédio principal, bem afastado da área destinada ao atendimento de pacientes. Aparentava ser um laboratório utilizado para pesquisas, pela quantidade de equipamentos peculiares e pergaminhos espalhados. — É aqui que ficarei esta noite, bem mais calmo que a correria dos andares de baixo. — Disse, fechando a porta e acendendo a luz. Logo depois, em um rápido movimento, roubou um beijo de Togyuu. — Estava com saudades, mas você não veio aqui por mim não é?  

— Você sabe que eu tenho preocupações muito maiores, não é? Mas eu também queria te ver.

— Eu vou te ensinar o básico esta noite e o resto você terá que se virar sozinho. — Ela pegou um jaleco em um armário e jogou para o platinado. — Vista, um médico sem isso não é um médico. Enfim, vamos nos apressar. Eu ainda quero um pouco de atenção para mim quando acabarmos isso. — Yuyuka pegou um dos pergaminhos que estavam espalhados e colocou-o sobre a mesa. Após abri-lo, ela fez um selo de mão e invocou um peixe sem vida sobre ele. Abaixo do animal, havia uma espécie de círculo escrito à tinta preta e com vários kanjis desconhecidos. — Seu trabalho vai ser reviver este peixe. Mas já alerto que não será uma tarefa fácil. Você vai precisar de um nível de concentração ímpar, um exímio controle de chakra e todo o conhecimento que adquiriu até aqui. Apenas força de vontade não é o suficiente para você se tornar um médico. — Finalizou.

Antes que o shinobi iniciasse o procedimento, a garota o entregou um livro e sentou-se ao seu lado. Pacientemente, ela explicou o passo a passo que ele deveria seguir e até demonstrou como seria na prática. Assim que ela finalizou as instruções, se afastou e deixou o pobre animal sob a responsabilidade dele. Dessa forma, as horas se passaram e Togyuu acumulou um incontável número de tentativas falhas. A propósito, nem mesmo o famoso chakra esmeralda foi atingido.

— Se você está se distraindo com minha presença, imagina como seria em uma guerra. Seus companheiros estariam todos mortos já e a culpa seria sua. — A instrutora foi rude em suas palavras.

“Merda, ela percebeu? Mas a culpa é dela por ser tão gata”, justificava-se. Entretanto, sabia da necessidade de levar aquela oportunidade à sério. Pouco a pouco, o Yuki adquiria concentração e o resultado foi se tornando satisfatório. Todavia, por mais que o chakra canalizado ao redor de sua mão estivesse esverdeado, ainda era tímido e insuficiente para trazer o peixe de volta à vida. Passadas algumas horas, mesmo exausto, ele não havia desistido. Então, Yuyuka se aproximou, posicionando-se atrás do rapaz. Carinhosamente, abraçou-o e deslizou as mãos pelos seus braços, até que as mãos se encontrassem. Togyuu pode sentir suas mãos aquecendo e o chakra exalado receber cada vez mais vida. Em questão de instantes, o peixe começou a se debater.

— Viu, você conseguiu. Agora é hora de descansar, foi um bom começo. — A garota o elogiou, com um sorriso no rosto.

A partir daquele dia, o shinobi passou a frequentar periodicamente o hospital para realizar o mesmo treinamento. Em questão de três meses, já havia recebido a oportunidade de estagiar durante um período no local.

Era o início de sua jornada como médico.

considerações: