Numa noite de sexta-feira eu fui chamado pelo mestre para uma missão especial. Um sujeito desprezível chamando Tanjo bateu na porta do meu quarto, quase como se quisesse a derrubar. Eu estava prestes a dormir, mas o recado daquele capanga parecia urgente. Tanjo me disse que Shishio solicitava a minha presença, e que eu teria que ir imediatamente.

Eu atendi ao caráter imediato daquela convocação e logo fui ao seu encontro. Chegando em sua sala, Shishio estava acompanhado de Aoki, um detetive particular que Shishio contratou após o sujeito ser expulso da polícia de Kumogakure. A missão parecia simples, em teoria, mas sua importância era tremenda dentro dos planos que Shishio almejava para o futuro.

Shishio foi breve ao dizer que suas fontes diziam que a situação do mundo ninja poderia tender ao caos no pós guerra, e que quem obtivesse uma rápida vantagem poderia alcançar patamares mais altos enquanto o mundo desaba. Assim, Shishio resolveu adiantar planos que antes ele planejava para um futuro mais distante, mas agora se tornaram urgentes. A ordem era conseguir poder, e quanto mais poder melhor.

Dessa forma, a missão designada a mim e Aoki era uma só: Obter informações sobre um dos parceiros de Tobirama Uchiha... seu nome? Isirus Senju. Uma lenda do mundo ninja. Eu cresci ouvindo histórias sobre seus feitos e suas estátuas gigantes, contos incríveis sobre um poder oculto que nem da para saber o quanto há de verdade nisso... mas o fato é: Isirus Senju pode ser o shinobi mais poderoso vivo, desde que Tobirama se foi.

Shishio queria saber mais sobre aquele homem, e principalmente desejava descobrir o que ele poderia roubar dele. Aoki conduziria a investigação, enquanto eu iria o acompanhar para cobrir os seus passos e ser útil com o meu Byakugan. Mas, claro, eu também aproveitaria a oportunidade para aprender um pouco com aquele maldito cão farejador.

Partimos na mesma noite e o meu aprendizado iniciou logo em nossa primeira conversa. Aoki me mostrou um cronograma investigativo e eu o li até entender a sua logica. Segundo o método daquele homem, primeiro visitaríamos uma cidade portuaria ao leste, frequentando bares e conversando com piratas e marinheiros que viajam por todas as vilas. Aoki acreditava que ambientes imersos em ilegalidade estavam repletos de informações. Homens como Isirus geralmente tem um preço por sua cabeça, mesmo não sendo nenhum criminoso... e certamente quem o quer morto possui informações valiosas sobre ele.

Viajamos por um dia e meio ate alcançar aquele fim de mundo, e logo começamos a nos misturar com os demais que ali se embriagavam e jogavam cartas entre fumaça e prostitutas. O ambiente era hostil, mas devo confessar que achei interessante. Aoki me mostrou que um Investigador deve saber como se adaptar aos ambientes, ser presente e ao mesmo tempo invisível de olhares curiosos. Uma mistura de atuação e malandragem, o processo de investigação exigia improvisos para se manter dentro de um roteiro que, segundo Aoki, poderia prover resultados surpreendentes.

Nas primeiras noites de estadia reservamos um quarto barato e passamos a maior parte do tempo entre os jogos de apostas. Perdemos algum dinheiro, bebemos além da conta, mas antes que eu pudesse desconfiar dos seus métodos, acabei por perceber que Aoki estava se tornando uma espécie de “referência” naquele meio. Os golpistas do lugar começaram a vê-lo como um alvo fácil para tirar dinheiro, pois Aoki frequentemente perdia suas apostas. Assim, muita gente se aproximava dele por acha-lo um idiota, e por isso não tomavam cuidado ao falar sobre qualquer assunto.

Aoki se fazia de bobo, e pedia frequentemente para que histórias fossem contadas repetidas vezes, demonstrando um falso interesse e prolongando assuntos para que as linguas se soltassem. Os malandros daquele lugar passaram a se sentir confortáveis com sua presença. Eu, no entanto, me mantive discreto apenas a observar.

Logo, o cão farejador desenvolveu uma quase amizade com um pirata chamado Ned, e através dele ouvimos o nome de Isirus Senju pela primeira vez.

Ned dizia ser testemunha ocular de um de seus feitos magníficos, dizendo ter visto as grandes estátuas ultrapassarem as montanhas e alcançarem as nuvens. Aquele pirata caolho parecia a fonte perfeita para chegarmos a detalhes importantes sobre nosso alvo.

Me perguntei naquela noite o porquê de Aoki não oferecer dinheiro ou simplesmente enche-lo de perguntas objetivas sobre Isirus, mas ao final da noite o sujeito se adiantou ao me explicar o seu modo de agir...

Segundo Aoki, um investigador não deve demonstrar que está no meio de uma investigação, mesmo estando tão distante do país de seu alvo... ele dizia que as tabernas e pocilgas são fontes maravilhosas de pistas, porém a contraparte também existe... da mesma forma que alguém poderia lhe vender informações sobre o Senju, esta mesma pessoa poderia espalhar por ai a notícia de que Isirus estaria sendo investigado, e isso atrairia uma atenção indesejada para nós. Por isso, Aoki era paciente, sorrateiro e liso, conseguindo aos poucos o que queria.

Por fim, com toda sua astúcia, Aoki conseguiu o inimaginável e provocou Ned a provar que estava presente na grande guerra, fazendo-o mostrar em um recorte de jornal uma entrevista sua sobre aqueles tempos sangrentos. O incrível é que lá estava o Ned, com seu depoimento estampado no artigo, e no canto direito do papel estava a foto de Isirus Senju, um pouco borrada e amassada... mas agora tinhamos uma boa ideia sobre a sua aparência. E que sujeito feio...

Eu não podia ficar ali apenas assistindo aquilo tudo. Comecei a me interessar cada vez mais, e consequentemente eu quis participar, usar o que aprendi com Aoki e também ser útil em coletar algumas informações.

Em uma outra noite, Aoki se perdeu um pouco além nas bebidas e encerrou mais cedo, subindo para dormir antes das dez. Então eu assumi o seu lugar, continuei no salão de jogos e me dispus a interagir com a malandragem.

Ao contrario do cão farejador, eu passei a ganhar os jogos aos quais eu disputava, atraindo uma atenção um tanto quanto negativa no meio de tanta gente apegada ao dinheiro. Aos poucos os adversários foram diminuindo, até que ninguém mais se atreveu a sentar na minha mesa... com exceção delas, é claro... um trio de prostitutas se aproximou de mim e começou a forçar alguma intimidade. Eu não tinha nenhum interesse nelas, mas pressenti que talvez tivessem alguma utilidade.

Comecei a pagar bebidas para aquelas moças e festejei junto com elas, até que logo o alcool subiu à cabeça da mais nova e a deixou em um estado mais vulnerável.

Dispensei as outras duas e me concentrei na bela embriagada, e fiz isso principalmente porquê ela acabou por me revelar a sua origem: Konoha.

Durante horas de conversa fiada, eu cuidei daquela mulher, lhe dei agua, a alimentei e atuei com um falso afeto que eliminou dela qualquer desconfiança sobre a minha pessoa. Eu ouvi sobre sua vida, sua familia, suas derrotas e sobre a saudade que ela sentia da sua antiga vida na folha. Chegar até o assunto principal não foi difícil, pois quando mencionei Isirus Senju, aquela donzela despejou informações que nem mesmo o pirata Ned possuía. Eu tinha ao meu dispor uma fonte magnífica de contos populares, opiniões sociais e até mesmo breves descrições sobre a atuação de Isirus Senju na grande guerra em ninja.

A moça estava tão bêbada, que deu pouca importância para o fato de que eu estava discretamente anotando tudo em um papel. Eu cuidava para mantê-la entretida e falando, e isso me rendeu um progresso muito maior do que o próprio Aoki havia conseguido durante esses dias. Encerramos a noite com um último drink e então eu me retirei aos meus aposentos.

No dia seguinte, entreguei para Aoki o compilado de informações que consegui, e me alegrei ao vê-lo impressionado com o meu avanço. Segundo o cão farejador, tais informações seriam valiosas para dar prosseguimento às investigações e me recomendou continuar me aprimorando nesta divertida profissão.

Por algumas semanas eu continuei tendo contato com Aoki no esconderijo de Shishio. Frequentemente ele me presenteava com livros sobre detetives e mistérios policiais. Alem disso, Aoki me dava dicas valiosas sobre metodologias e psicologia humana, entre tantos outros assuntos que seriam úteis para o caso de eu desejar continuar me aprofundando.

Infelizmente, Aoki foi morto na semana passada, vitma de um alvo no qual ele estava seguindo. Shishio perdeu o seu principal investigador, e talvez esta seja a chance perfeita para que eu possa ser mais útil ao meu mestre.