Alguns de meus antigos colegas se perguntavam de onde eu tirava dinheiro para sobreviver – bom, pelo menos aqueles que notavam minha existência. Afinal, não era nenhum segredo que eu era órfã e não era nativa de Kumo, e por este mesmo fato, fui vítima de diversas ações mal-intencionadas.

Como uma refugiada, a minha sobrevivência era minha própria responsabilidade, e apesar de não mais ser uma escrava, tinha novos problemas para me preocupar. As primeiras semanas foram as mais difíceis, e a cada dia que passava eu ficava ainda mais perdida, mas com as poucas habilidades e técnicas de sobrevivência que eu tinha adquirido no meu tempo como escrava eu consegui me manter de pé. Além das pequenas esmolas, eu batia carteiras, roubava dinheiro e alimentos, as vezes até de outras crianças em situações bem parecidas com a minha – pois é, eu não era uma pessoa muito legal.

Mas então foi em um fatídico dia que eu aprendi que você não precisava ameaçar os outros com violência ou roubar sem ser vista para se manter viva – você podia ganhar dinheiro com pequenas mentiras e um pouco de trabalho (des-)honesto, e ninguém nem iria perceber. Ao contrário, iriam te agradecer.

Um dos meus primeiros (e mais efetivos) empreendimentos foi usar as outras crianças como força de trabalho barata e bem agradecida – era algo bem fácil, realmente. Primeiro eu oferecia comida, pois não existe sequer uma criança órfã que não passa fome. Depois, eu ameaçava com um pouquinho de dor ou tortura – eu era pequena, mas acredito eu que também era bem assustadora, pelo menos pelos olhares que eram direcionados a mim. Neste momento eu já havia uma força de trabalho dedicada, agora só bastava coloca-las ao trabalho, e apesar de ser contratada para serviços como uma órfã suja vestida em trapos era algo bem difícil de se fazer, ter várias mãos para realizar as tarefas era mais do que um pouco efetivo. Pequenas entregas, serviços inanes pela vila, pintar cercas, limpar parques, juntar o lixo – nada era difícil, apenas trabalho que era ou extremamente monótono, ou requeria um pouco de esforço físico.

E foi assim que eu, Nora Kumori, fiz uma pequena fortuna. Delegava crianças para fazerem estes trabalhos – eu organizava um contrato ou ‘missão’ para fazer estres trabalhos insípidos, mandava uma das crianças fazer, recolhia o pagamento (que raramente passava de 1000 Ryous), usava metade do dinheiro para comprar comida para dar para as crianças, e a outra metade do dinheiro ficava comigo. Em alguns meses eu comia como uma pessoa normal, sem ter que passar fome, pagava o aluguel de meu apartamento, comprei roupas mais adequadas, paguei o preço de inscrição na academia ninja, e quando eu me vi, eu já havia chegado até aqui.

Dei uma pequena gargalhada enquanto contava um maço de dinheiro, dinheiro que pela primeira vez na vida poderia usar de qualquer maneira, sem me preocupar com a refeição do próximo dia.

Oportunidades sempre estão ao seu redor, você só tem que saber a quem explorar para poder lucrar delas.