ㅤㅤDois médicos e três enfermeiros observavam-no preso naquilo que parecia ser um avançado método curativo, entubado num tanque de líquido esbranquiçado. e viscoso. Kaguya Eru lutava por sua vida após sofrer sérios danos na batalha contra Moira O'Deorain. Ele ainda não sabia que havia sido derrotado, antes lutava por sua vida. Mais tarde um iryo-nin de Kirigakure, talvez um dos melhores que a vila possuía naquele momento, visitou-o para que acompanhasse o tratamento do menino e orientou os outros encarregados dos cuidados necessários que Eru exigia.

ㅤㅤO corpo de um membro do clã Kaguya era ainda um tremendo mistério para as grandes mentes médicas daquele tempo, pouquíssimo se sabia a respeito e um dos motivos era o número ínfimo de membros conhecidos, o que dificultava o acesso dos pesquisadores aos espécimes possuintes da shikotsumyaku.

ㅤㅤEru acordaria dias depois.

ㅤㅤO quarto em que estava era confortável, Kirigakure se mostrava complacente para com ele, era de uma patente elevada agora e seus superiores queriam que ele se sentisse exatamente desta forma. Contudo não era Kaguya Eru que estava sentado naquela cama, em seu lugar um espirito pesaroso dentro de um corpo moribunda ocupava aquele quarto. O fracasso contra Moira O'Deorain seria devastador e já podia ser visto já naquele momento, antes mesmo que sua ficha dos últimos acontecimentos tivesse caído completamente.

ㅤㅤEle era um peso.
ㅤㅤUma mácula.
ㅤㅤDesonrado.
ㅤㅤPerdedor.

Notas:

Armas Lendárias:

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ㅤㅤQuando a escuridão absoluta veio sobre ele não pôde com ela. Afogou-se. Sabia bem o que ela significava, era o fantasma da derrota, de sua própria derrota. Achou inocentemente que estava desgarrado desse sentimento tão pífio, tão humano, mas não estava. Perder sempre foi tudo o que Kaguya Eru não desejava, mas lá estava; derrotado, sozinho e a deriva.

ㅤㅤPensou ter ouvido uma voz vinda das profundezas. É loucura da minha cabeça. Estou sozinho. O rosto e a risada sádica do cientista vinham à sua memória como uma lembrança excruciante, e afundava. Cada vez mais fundo, cada vez mais frio, cada vez mais escuro. Nada podia tira-lo daquele limbo. Não havia tido poder para triunfar outrora e não o tinha também para que se salvasse. Morreria.

ㅤㅤNovamente pensou ter ouvido algo. Não tem nada aqui. Mesmo submerso conseguia respirar, contudo nada via. Cada braçada uma escuridão diferente, vinda de todos os lados. Sentiu Kala o chamar através do selo amaldiçoado. Há muito a presença maligna da entidade não se fazia presente nem reivindicava atenção. O que está acontecendo...? Instintivamente continuava a nadar, sem rumo pela imensidão indefinida daquele sonho. Isso é mesmo um sonho...? Mas não um sonho ordinário ele logo descobriria.

ㅤㅤDo oceano frio duas gotas mais quentes borraram-no de vermelho. Eram suas lágrimas, que escorreram quando do horizonte disforme enxergou o irmão. Prometi a você... prometi que conseguiria. A crise existencial foi acentuada, e ele afundou mais ainda sentindo a pressão avassaladora daquele abismo. Eu falhei... de novo. Todas elas vinham enfileiradas em suas lembranças. O amputamento de Teri, o rapto de Akemi, a morte de Alexius, a obliteração sofrida contra Hisui de Prata, a derrota na guerra de Otogakure, e a vingança fracassada contra Moira O'Deorain... era uma sequência lancinante.

ㅤㅤTamanho foi seu sofrimento que escolheu morrer ao ter que aguentar tudo aquilo. Sua destra tentou evocar sua kekkei genkai para que perfurasse seu coração e pusesse fim aquele ardor interminável. Falhou obviamente. Nem seu sangue o obedecia. O que restou...? Eu..? Achava que não.



ㅤㅤImaginou mais uma vez ter escutado algo, agora mais nítido. Primeiro na forma de um sussurro, e ao ouvi-lo o selo de Kala iluminou-se brilhando incandescente e se tornando a única com coisa que reluzia naquele universo. A luz pode cegar também...


ㅤㅤ– ...Todas essas derrotas só aconteceram por um único motivo... – É ele. Soube no ato. A besta, o demônio, Kala, falando com voz santificada mas era blasfemo, Eru sabia. O selo maldito tomo-o, cobrindo seu corpo por completo.


ㅤㅤMas aquilo não foi o mais estranho que aconteceu. Em outros momentos, ao ouvir o Dragão, o Kaguya o rechaçaria de imediato e tentaria afasta-lo com ímpeto. Não foi o que aconteceu, em vez disso apenas um semblante contrito e raivoso foi mantido no rosto do efebo, enquanto algo nadava de baixo para cima e começava a o circundar. Era como uma fera colossal que não podia ser vista mas facilmente sentida. Das pupilas de Eru lágrimas quentes mudavam a temperatura da água, deixando seu rosto enraivecido em direção a espirito gigante que nadava a seu derredor.

ㅤㅤ– Poder... – Completou a frase antes iniciada por Kala.
ㅤㅤ– E sabe onde pode conseguir...
ㅤㅤ– Matando você.
ㅤㅤ– Completando a metamorfose e se unindo a mim para sempre. – O Kaguya fechou os olhos e viu o topo de uma montanha desabando. Não entendeu a visão. – Tenho sonhado contigo... tenho te visto evoluir, cada vez mais pronto... cada vez mais perto... Vi também heróis com armaduras, ninjas pequenos e grandes, bons e maus, todos te cercando. O que eles querem? – Eru fechou os olhos novamente e um ser bestial do tamanho de um humano cruzou seu caminho. Tinha aparência medonha e exalava terror. De novo não entendeu. O que são essas visões? Perguntava-se. – ...Muitas coisas farei quando formos um, Kaguya Eru. Muito poder terá. A derrota será apenas um devaneio, uma mera ilusão depois de nos tornarmos o unigênito. – Mais uma visão; era Izuku Lee que vira agora, morto e vivo, e morto, e vivo de novo. Agora vinha até ele... "Por que está chorando Eru?" Ele indagou e mais uma vez tudo se fez trevas. – ... Sabe onde estou, a bruxa sabe também. Não a matei ainda. Ela me será útil... – O rosto da senhora decrépita veio claramente em sua mente. Para ele, ela já estava morta. – Há de haver um grande ritual de sangue dedicado a você. – A mim? – Um que será capaz de invocar deuses há muito esquecidos. Muito sangue na água atrairá o Insano. Cabe a tu mensurar tudo isto. Disse-lhe uma vez que o pendulo tilintaria oscilando seu destino e que o seu destino ressoaria em toda a criação. É chegado este momento... Este é só o princípio das dores.

ㅤㅤDesapareceu com o despertar de Eru.


ㅤㅤO relógio marcava vinte e três horas e vinte e três minutos, o céu escuro e levemente nublado da Névoa acobertava toda a cidade, que era silenciosa naquele momento. Mesmo sem estar cem porcento recuperado levantou-se e encontrou seus utensílios e itens guardadas em um dos armários. Foi até a janela e mediu trinta e cinco metros até o solo. Não pensou duas vezes.

ㅤㅤEm terra ergueu o sobretudo negro sobre os ombros e andou em direção a área residencial da aldeia. Tinha algo a resolver.

Notas:

Armas Lendárias:

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